sexta-feira, 29 de outubro de 2010

:: Descontrole Podcast #009 ::


SHOWS DESCONTROLADOS

É isso aí galera, deeeescontrole no ar!!!

A partir de agora, depois de muitas negociações, contratos assinados, lavrados, carimbados, protocolados (em 4 vias - azul, amarela, roxa e carmim), o Descontrole Podcast invade os domínios do Depredando para trazer comodidade para seus ouvintes descontrolados e curiosidade para os leitores depredadores.

A idéia desse crossover blogosférico é postar aqui no Depredando o setlist com as músicas de cada capítulo do podcast, sendo assim: se preparem porque o Descontrole vai invadir sua praia! (só com a vitrolinha) E nada mais sincronizado do que inaugurar essa parceria com um tema que com certeza, todos depredadores vão curtir: SHOW.

Nesse capítulo do Descontrole Podcast, Joh - o Chickeniples, Almoph, Barão (Excambau!) e Ciba (Cibalena) vão conversar sobre o momento épico para qual o Rock & Roll foi feito: O SHOW! E ai? Pra você? Qual que é do show? Porque ir num show? Quais os prazeres de sairmos do conforto dos nossos fones de ouvido para a selvageria e perreios do "ao vivo"?

Ainda empolgadassos com o Rage Against The Machine no SWU, vamos conversar sobre velhas e novas histórias de encontros e reencontros, desgraças, risos e ressacas morais na roda de pogo. É só acessar clicando aqui.

Aguardamos seus feedbacks!

DESCONTROLE 009 - SETLIST

O setlist desse capitulo do cast foi meio que dividido em duas partes, as músicas da seção de feedbacks - que foram escolhidas para contrastar com o róóóck que o tema inevitavelmente puxou. Como sempre, descobri coisas novas como All Stars Jazz Band - uma grata surpresa que caiu no meu colo algumas semanas atrás, vindas diretamente da filha do baterista. Mais um exemplo da competência do cenário independente. Totalmente influenciados pelo Jazz bem-humorado de New Orleans a ASJB toca e a gente segue atrás (batendo pezinho e tudo mais). Escute.

Esse cast também foi uma viagem musical aos anos 90. Re-visitei Dr Sin e me surpreendi com "Scream and Shout" e "Valley of Dreams", músicas com nomes bem manjados, mas com uma vibe que me lembrou coisas que adoro. Fora isso, clássicos, clássicos e mais clássicos!

Aproveitem ai e continuemos essa conversa aqui nos comentários ou pelo twitter: @descontrolepod

All Stars Jazz Band - C. Jam Blues (Jazzmen At Work, 2001)
Kiss - Do You Love Me (Unplugged [Live], 1996)
The JB's - desconhecida
MC Hammer - U Can't Touch This
The Doors - Touch Me
The Blues Brothers 2000 - Down the Lousiana
Desconhecido - Rock In Rio
AC/DC - Back In Black (Live)
Dr Sin - Scream And Shout
Dr Sin - Valley Of Dreams
Kiss - Nothin' To Lose (Unplugged [Live], 1996)
Michael Jackson - Black Or White
Iron Maiden - The Trooper
Iron Maiden - The Number Of The Beast
Roupa Nova - Eu te Amo e vou gritar
Roupa Nova - Whisky a go-go
Simply Red - Stars

Download - 79 MB

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

<<< XVI Goiânia Noise, Novembro de 2010 >>>


Investindo pesado no ecletismo (Otto abrindo pro Krisiun? Nina Becker espremida entre Chalks e Walverdes?), aproxima-se a 16ª edição do Goiânia Noise, festival que já vai atingindo a idade de um adolescente turbulento. Serão 5 dias em que o coração geográfico do Brasil vai se tornar também um centro de efervescência da cultura independente nacional e gringa. São mais de 45 atrações, incluindo os insanos garage-punks de filme B do The Mummies, o experimentalismo guitarrento dos argentinos do El Mató A Um Polícia Motorizado, a esquisitice charmosa da ex-The Slits Viv Albertine, sem falar na nata do indie-rock brasileiro atual: Macaco Bong, Black Drawing Chalks, Superguidis, Violins, Cólera, Mechanics, Ecos Falsos, Vespas Mandarinas, dentre muitos outros. Confira ae a programação completa:

16º GOIÂNIA NOISE FESTIVAL
de 17 a 21 de Novembro/2010
realização: Monstro Discos e Petrobras
local: Centro Cultural Martin Cererê



17/11 (QUARTA)
01h00 - Macaco Bong (MT) e convidados: Vitor Araújo (PE) + naipe de metais dos Móveis Coliniais de Acaju (DF) + Jack do Porcas Borboletas (MG)
00h00 - Lucy and The Popsonics (DF) + John do Pato Fu (MG)
23h00 - Superguidis (RS) + Felipe Seabra – Plebe Rude (DF)
22h00 - Gloom (GO) + Diego de Moraes e O Sindicato (GO)





18/11 (QUINTA)
01h00 - Violins (GO)
00h20 - Mugo (GO)
23h40 - Johnny Suxxx and The Fucking Boys (GO)
23h00 - Hellbenders (GO)
22h20 - Dyskreto (GO)
21h40 - Space Monkeys (GO)
21h00 - Hot & Hard Co. (GO)



19/11 (SEXTA)
02h00 - Krisiun (RS)
01h10 - Otto (PE)
00h30 - Black Drawing Chalks (GO)
00h00 - Nina Becker (RJ)
23h30 - Walverdes (RS)
23h00 - Viv Albertine (The Slits) (Reino Unido)
22h30 - Volantes (SP)
22h00 - El Mató A Un Policia Motorizado (Argentina)
21h30 - Spiritual Carnage (GO)
21h00 - Bang Bang Babies (GO)
20h30 - Fígado Killer (GO)
20h00 - Banda selecionada pelo Toque No Brasil
19h30 - Trivoltz (GO)
19h00 - Folk Heart (GO)





20/NOV (SÁBADO)
02h00 - Musica Diablo (SP)
01h10 - The Mummies (EUA)
00h30 - Cólera (SP)
00h00 - Mechanics (GO)
23h30 - 3 Hombres (SP)
23h00 - Do Amor (RJ)
22h30 - Vespas Mandarinas (SP)
22h00 - Ecos Falsos (SP)
21h30 - Bandanos (SP)
21h00 - Dizzy Queen (ES)
20h30 - Cuartro Invitados (Argentina)
20h00 - Banda selecionada pelo Toque No Brasil
19h30 - Ímpeto (GO)
19h00 - Posthuman Tantra (GO)





21/NOV (DOMINGO)
19h00 - Galinha Preta (DF)
18h15 - WxCxM (GO)
17h30 - Ultravespa (GO)
16h45 - Radiocarbono (GO)
16h00 - Black Queen (GO) 

p.s.: na AMBIENTE SKATE SHOP.

E pra encerrar: GILBERTO GIL + MACACO BONG
Domingo 22.11, 20h /// no Centro de Cultura e Eventos da UFG
(ignorem o 14.11 do cartaz acima pq se refere ao show em SP)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

<<< Dois Japão e Uma Japona >>>


B Ó Ó Ó Ó R I S !
Lock'n'Loll.

Desde pivete que eu acho que os japas tem uma certa "quedinha" pelo excesso. O Seya soltando o "meteoro de Pégasus" era excessivamente luminoso e histérico, além de mais destrutivo que qualquer terremoto (eu, com meus 8 aninhos, vibrava!). As cores do Pokémon eram tão exageradas e piscantes que deu até epilepsia na criançada. E a Tóquio moderna, a crer nas fotos e em Encontros e Desencontros, parece pra lá de empanturrada de néon, como se quisesse matar Las Vegas de humilhação.

Sem falar que o vídeo-clipe com o maior grau de fritação psicodélica que eu já vi não é de nenhum prog americano ou psicodelia inglesa: é "Vision Creation Newsun", piração absoluta dos Boredoms, banda japonesa das mais dignas de ir parar no hospício.

O Boris não é diferente: o power-trio de zóinhos puxados é excessivo em tudo o que faz, inclusive na chatura de seus discos "drone" realmente soporíferos. Mas quando esse trio desce a mão e fica furioso, que maravilha! Heavy Rocks e Pink, os discos mais pesados e virulentos da carreira deles, trazem punkão garageiro e stoner metal de prima. Sons que ficam socando o ouvinte contra a parede com uma fúria um tanto... excessiva.

Eu, confesso, e talvez seja meu masoquismo enrustido, curto. É uma pancadaria dos diabos, mais insana às vezes que a dos conterrâneos dos Boredoms e do Guitar Wolf.

E o melhor de tudo: não entender porcaria nenhuma de japonês faz minha imaginação delirar. Ouço Heavy Rocks (e tenham certeza que a palavra "heavy" aqui não é usada em vão...) e fico imaginando quais podem ser as causas de tamanha indignação: se eles são uns anarco-punks que querem derrubar um governo totalitário ou se só estão reclamando contra o preço do video-game. 

Quem sabe as letras não sejam todas um bando de nomes de golpe de karatê, vomitados na sequência numa espécie de "fatality" verbal que quer fazer miséria com qualquer tímpano impressionável...


E pra você que não suporta banda que não tenha nomes de música ridiculamente clichezentos, farofões, mezzo-Whitesnake mezzo-Poison, não se preocupe: o Boris também tem suas "Rattlesnakes" e suas "Death Valley".

Nestes álbuns tudo parece bombado no talo: o volume, o ritmo, os gritos, a batera, os solos. O produtor dos caras num deve receber ordem algum senão essa: "bota tudo no máximo, maestro!" Ah, a sabedoria da simplicidade!

E tem como não gostar de uma banda que é rotulada com belezinhas como "Drone Doom Metal", "Noisecore" e "Japanese Hardcore"? E tem como não simpatizar com gente que tá tão pouco se fudendo pras capas de seus discos?

Enfim, vá por mim: taí uma pá de rocks-japa cabulosos da gloriosa terra que já nos deu Kurosawa, Mishima, Jaspion e, claro, o bom e velho miojo...

* * * * *

<<< d >>>

"Morphing temporarily into a classic power trio, Heavy Rocks finds Boris’ Disraeli Gears firing on all cylinders, melding Blue Cheer with Kyuss’ desert Blues for the Red Sun, particularly during the raucous instrumental “Rattlesnake,” Stooges rave-up “1970,” and sludge-feast “Death Valley.” Easily the band’s most consistent and accessible work to date." --- AUSTIN CHRONICLE.



  
<<< d >>>

"Fuzzed out, ripped and torn and shredded riffs and propeller kit work take Boris to an entirely new level of "heavy." The rootsy metallic thrash of the band outdoes anything they've done before -- "Woman on the Screen" sounds like Iggy Pop fronting the MC5 of Kick Out the Jams in the Sunn 0))) era -- all in two-minutes-and-thirty-eight seconds. (...) Pink is easily the most cohesive, adventurous, and straight-ahead rocking recording of their 12-year career. If indeed the set was consciously made with Americanski audiences in mind, good; then more power to them. Boris are the kings who have set the metal bar very high on Pink. It's an album to be reckoned with." AMG 



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

<<< Alarde (entrevista exclusiva) >>>

A L A R D E


 por Eduardo Carli              

Estou convicto de que uma das funções primordiais da cultura independente (ou da chamada "contra-cultura) é "destoar o coro dos contentes", para citar o célebre verso de Torquato Neto. Temos urgência de artistas que "façam água e ameacem afundar a nau dos bem-adaptados ao século da velocidade, da euforia prêt-à-porter, do exibicionismo e do consumo generalizado", para usar as palavras de Maria Rita Kehl. É um pouco o que faz a banda paulista Alarde, na ativa desde 2006, e que é capaz de articular a angústia e a revolta, o desconforto e a fúria, a incomunicabilidade e a catarse, numa música que merece aquele adjetivo ao mesmo tempo estranho e bombástico: idiossincrática.

Nascida em São José dos Campos/SP, a banda depois migrou para a maior metrópole da América Latina lá pelo meio da década, onde lançou em 2008, via Pisces, seu intenso e tenso debut 8-80 (gravado no Norcal com co-produção de Brendan Duffey). Certas similaridades são notáveis com a lírica dominante em bandas como o Violins e o Ludovic, mas o som do Alarde tem uma cara própria e que não é tão fácil de rotular.

Eu diria que me soa como um Gang Of Four misturado com o primeiro Joy Division, ou com um pós-hardcore que cruzasse o Fugazi com acentos grunge, ou ainda uma banda de classic rock influenciada por pitadas de free-jazz e arte performática. Mas o melhor mesmo é não levar a sério as descrições idiotas de jornalistas (até porque escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura...), e conferir por si mesmo: no fim deste post, o álbum de estréia dos caras está disponível na íntegra, com autorização da banda, para que vocês peguem e disseminem à vontade. Sem mais delongas, passamos para o papo que batemos com o vocalista e guitarrista Luiz (completam a trupe o batera Rodrigo, o guita Goiano e o baixista Gabriel).


 D:  Começando pelo tema clássico das "influências": que artistas vocês citariam, não somente musicais, que serviram como inspiração ou modelo pra arte do Alarde? Quais bandas, filmes, escritores, poetas, artistas plásticos entraram no "caldo de influências" de vocês?

Luiz: A gente nasce em um caldeirão de influências e informação. Com o passar dos anos, cabe a nós decidir ou aceitar o quê e o quanto absorver desse caldo. E principalmente estar atento como tudo se conecta de alguma forma e como isso interfere na sua atitude e personalidade.

Na música posso citar os clássicos Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Beatles, Doors, Stooges, Miles Davis, Pink Floyd, Frank Zappa, entre outros cujos discos são nossa eterna trilha sonora. Dos anos 80 e 90, vêm Sonic Youth, Pixies e o grunge subseqüente, Jon Spencer Blues Explosion, PJ Harvey, Portishead, John Frusciante... Na música brasileira os Mutantes, a Tropicália, Raul Seixas, o rock nacional dos anos 80 e até o samba de raiz e o rap podem entrar nesse caldeirão que influencia nossa música.

Numa esfera artística mais ampla, posso citar os filmes The Doors e The Wall como influência direta, pra seguir o caminho da música, principalmente pela época em que os assisti. O trabalho da artista performática Marina Abramovic também sempre me atraiu pelo desafio e pelas possibilidades ilimitadas. E por fim, toda a filosofia, questionamentos existenciais e as bobagens da condição humana no livro Bhagavad Gita.

D: "Fugir é fácil, viver é que é difícil". Apesar de toda a angústia que impregna o álbum de vocês (e que em momentos me lembra de Cobain ou Ian Curtis), o Alarde não me parece uma banda "mórbida", mas sim afirmativa-da-vida, apesar de tudo. A tentação do suicídio e da auto-destruição são retratados, e também as bebedeiras que nos deixam "embriagados e na lama", mas no fim das contas o que parece prevalecer é este espírito de "vamos-encarar-o-tranco". Em que medida o próprio fato de possuir uma banda, e se expressar através ela, é um "auxílio vital" para não deixar-se dominar pelo que "puxa pra baixo"?

Luiz: A música é tudo.

A catarse, no sentido amplo da palavra, de libertação daquilo que o corrompe e oprime, é o sentimento constante que envolve todo o processo pela busca. É o único sentido. É urgente. E justamente pelo fato de estarmos hoje aqui, a mensagem teria que ser esta. Eu sou o sobrevivente de mim mesmo e a música é a principal responsável por me manter vivo e com tesão de querer dialogar com as pessoas as idéias que surgem. Do contrário, não valeria a pena gastar a saliva. Somente a música me põe no rumo certo que as coisas aparecem pra mim. Estar atento e receptivo às influências do mundo e como você se comporta diante delas é o que me alimenta. Eu acredito na antena que somos, capazes de absorver e reprocessar aquilo que vem e a gente devolve pro mundo. Pois, na verdade, a gente não faz nada, não temos a mínima consciência de que até o livre-arbítrio está corrompido desde a essência e que a nossa vontade não existe, ou não faz diferença, pois muda conforme o clima lá fora.

A alegria e o prazer são parte do processo também e vem e vão como tudo na vida... Pode se emanar o fogo de esperança no meio da miséria ou uma alma ferida vai sofrer até na praia... Os bons sentimentos estão ai, porém as circunstâncias podem não ser tão favoráveis.

A angústia, solidão, felicidade, insegurança, fracasso são formas diferentes de falar de amor sem falar nele, pois tudo está contido nele. Da interminável busca.


D: Stress, pressa, arritmia, raiva, presídio, patrão, um-meio-de-arranjar-um-troco... É só somar aí trânsito e poluição e tem-se uma boa lista das "desgraças da metrópole" (rs). O quanto a vida em São Paulo marca a lírica de vocês? A cidade pode ser "culpabilizada" por todos os sofrimentos que parecem estar sendo "purgados" no som de vocês?

Luiz: A  vida em São Paulo é a relação constante de amor e ódio, altos e baixos, de fato o "oito ou oitenta". Quem não é daqui, na verdade, não se acostuma nunca por completo. É preciso estar sempre no controle senão a cidade te engole. Você anda na rua e está suscetível aos fantasmas que a alimentam. Os contrastes, a indiferença e a imensidão do problema de se sobreviver em uma metrópole. Esse mesmo amargo que repele também atrai pelo choque diário de realidade e pelas possibilidades que se oferecem.

Porém, mesmo assim, não classifico a vida na cidade grande como “culpada” pelos sentimentos contidos nas músicas, sinto uma parceria entre o caos da multidão e o que vive em cada pessoa que dela faz parte. Entendo que o papel da metrópole na arte é o de canalizar as mazelas que nela habitam. E quando você tem contato com isso, é sofrido. Assim, tudo depende de como você se afeta. Quando você vê, já está no olho do furacão. É muito mais seguro cada um viver com sua máscara, pois se você experimentar o caos e gostar, o caminho é longo pra voltar.  É mais fácil fingir que não é com você.
D: Um dos livros mais interessantes que li neste ano é "O Tempo e O Cão", da psicanalista Maria Rita Kehl, onde ela faz uma análise da epidemia de depressão que assola o mundo, inclusive nos países mais ricos e industrializados. Noto que o Alarde, em várias canções, tematiza isso: em "Ritalina", por exemplo, em que os comprimidos anti-depressivos já não funcionam mais... Dá pra arriscar alguma reflexão sobre a relação entre depressão e o modo-de-vida na metrópole? Que tipo de "tretas" na vida pessoal ou social vocês diriam que acabam causando depressão, niilismo, ímpetos auto-destrutivos etc.?

Luiz: As fobias, síndromes de pânico e outras doenças relacionadas à depressão não se restringem apenas à vida na metrópole ou a certo grupo de pessoas de classe A ou B, essa “epidemia” do mundo moderno é fruto da forma como vivemos, da forma fria e superficial como nos relacionamos, da competição, da inversão de valores. Pois o homem sempre conviveu com suas dificuldades e peculiaridades, mas de tempos pra cá a pressão pra se afirmar como pessoa bem sucedida e feliz gera um ciclo vicioso ao qual você acaba sucumbindo se não estiver absolutamente no controle e sabendo lidar com os obstáculos que a vida impõe. Essas fraquezas, a insegurança, a sensação de não conseguir ver um passo à frente, e ter que ser desonesto consigo pra sobreviver nesse meio, acumula uma quantidade de fantasmas que quando você cai na real, a coisa já desandou há muito tempo...

Assim, vêm as muletas pra você suportar o baque de conviver com isso, como os remédios, as drogas, o consumismo, a ostentação... E a bola de neve vai aumentando e a pessoa anestesiada nem percebe o quão fundo é o buraco. E vai se auto-sabotando, os relacionamentos são auto-destrutivos, as feridas respingam em quem está por perto. Alguns vivem a vida toda assim, dopados de hipocrisia, anestesiados. Outros caem feio e a subida de volta é dolorosa e as vezes não dá mais tempo pra voltar. Todos estão suscetíveis. Ou você é forte e se mantém no controle ou você se engana e vai se consumindo até onde der. A queda é livre.

D: Sabemos que é uma utopia quase irrealizável conseguir viver de música neste país quando se faz um som que não é feito para agradar ao mercado e que não faz concessões ao comercialismo. Como o Alarde lida com este embate entre a expressão artística e a inserção no mercado? Como ganham seu troco?

Luiz: Não fazer concessões ao comercialismo, à nova moda do momento, vai desde a escolha ou não de uma nota, do timbre batido, dos clichês do rock e principalmente pela honestidade do dialogo entre a música e você. Eu acredito que somos a música que ouvimos e que passamos pra frente à nossa maneira. Não se trata de inovar no rock, apenas ser um pouco mais verdadeiro...

Assim como na vida, as escolhas que você faz definem a velocidade com que seu trabalho ganha visibilidade e reconhecimento no mercado independente. O cachê razoável é escasso e imprevisto, a concorrência enorme é diretamente proporcional ao tamanho da falta de critério para as oportunidades. Mas é o preço que se paga.

Atualmente, a única razão para nos manter em São Paulo é pela certeza abstrata de que este é o lugar pra gente produzir e viabilizar nossa música, caso contrário o custo/benefício não vale a pena. Enquanto isso não acontece na velocidade e do jeito que precisa, a gente vai tentando um meio de arranjar um troco com trabalhos temporários, informais, qualquer coisa que adie a necessidade de se mudar. Dois integrantes ainda cursam faculdade.

Alarde, Live in Goiânia (Grito! Rock @ Circo Lahetô)

D: No show no Grito! Goiânia, rolou uma sensacional "jam" de 10 minutos (registrada pelas lentes do Depredando) com a presença de um saxofonista. Quem é o cara e como vocês o conheceram? Há algum tipo de influência de free-jazz ou jazz-hardcore (John Zorn e coisas deste naipe) no som de vocês?

Luiz: Foi sensacional ter rolado o registro desta jam com a participação de dois grandes músicos e amigos, Rodolfo Sproesser no teclado e Evaldo Tocantins no saxofone. Evaldo, que já tocou com Tim Maia e outros grandes nomes da música brasileira, deve estar quebrando tudo na Europa atualmente. Nos conhecemos na lisergia no cerrado... Esse lance do improviso é algo que a gente curte explorar e que se encaixa em algumas músicas. O Goiano na guitarra deu várias direções nessa onda e entre os climas a coisa flui naturalmente. É influência Frank Zappa, Miles Davis, Hovercraft...

D: Como você avalia a importância dos festivais independentes para uma banda como o Alarde e outras de caráter semelhante? Como foi a experiência de tocar no Grito! Rock de Goiânia? Que outros estados e capitais já puderam visitar? E a "cena" do estado de SP, em matéria de lugares para tocar e "união" (ou falta dela) entre as bandas?

Luiz:  Vejo os festivais independentes como uma possibilidade sensacional de poder circular a produção musical do Brasil, que não tem o apoio de grande mídia, produtores e gravadoras. Participar do Grito Rock Goiânia foi um lance bem legal pra gente: poder divulgar nossa música na chamada capital do rock independente atual, onde temos vários amigos que já conheciam nosso som e realmente ir formando aos poucos um público que acompanha nosso trabalho. Estamos no aguardo de mais convites e oportunidades que tornem viável a nossa participação, em outras capitais do Brasil, nesses festivais independentes.

O circuito para shows no estado de São Paulo é vasto, porém pode ser muito limitado também por não pagar um cachê decente, por falta de divulgação e falta de projetos que privilegiem músicas autorais. Por outro lado, existem várias casas de show por todo o estado com muito boa estrutura de som e público, descentralizando da capital, que já se tornou saturada. Isto, pois na cidade que abriga gente do país todo, todo mundo quer tocar e ter seu espaço ao mesmo tempo. A coisa demora mais e pra uma banda se diferenciar de verdade do enorme caldo tem que ser de fato diferenciada. Ou ter aquele amigo na revista que dê uma força...

Algumas dessas bandas que realmente têm um som autêntico e bem gravado são o pessoal com quem a gente divide o palco algumas vezes, como o Capim Maluco, Orgânica, Seamus, Hierofante Púrpura, Quarto Negro, Detetives, e outras cujos trabalhos merecem atenção.

D: Cite 5 discos prediletos que você levaria para a mítica ilha deserta.

Caetano Veloso – Araçá Azul
Pink Floyd – Dark Side of the Moon
Jimi Hendrix – Axis: Bold as Love
Portishead – Portishead
Miles Davis – On the Corner



D: Faça uma lista de coisas, no Brasil ou no mundo, que te deixam indignado.

A soberba de quem vive em São Paulo e acha que está em Londres.
O espírito Jacu do bairrismo Brasil adentro.
A essência corrupta do Brasileiro, a “malandragem” desvirtuada, a desonestidade.
A falta de vergonha na cara de Jabazeiros, Propineiros e “Artistas Estelionatários” em geral.
O preço da cerveja.

* * * * *

<<< d >>>
[ autorizado pela banda ]

myspace . trama

sábado, 23 de outubro de 2010

<<< o filho pródigo >>>


Mais um cartaz fodaço da galera do Bicicleta Sem Freio!

Depois de tocarem na S.W.U., os Black Drawing Chalks (que estão lançando seu Live In Goiânia) retornam à terra natal para um punhado de shows nervosos na companhia do MQN. Tocam também, como não podia deixar de ser, no 16º Goiânia Noise, que acontece agora em Novembro. Fica aí a dica: todas as quintas-feiras até 2 de Dezembro, lá no El Club (22h, sempre $15 pilas), vão rolar apetitosos shows com bandas do primeiro escalão de Goiânia Rock City. Glue there!

21 de outubro: MQN + Black Drawing Chalks
28 de outubro: Gloom + Diego de Moraes & O Sindicato
04 de novembro: Hellbenders + MQN
11 de novembro: Ultra Vespa + Gloom
18 de novembro: Break - Goiânia Noise
25 de novembro: Hellbenders + Black Drawing Chalks
02 de dezembro: Ultra Vespa + Diego de Moraes & Os Sindicato

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

<<< Hippie'n'roll Lives On! >>>


O CORVO HIPPIE VOANDO SOLO

por Eduardo Carli                          

Outro dia tomei um susto. Vi uma foto recente do Chris Robinson em que ele mais parece um discípulo do Alan Moore: algo como um aprendiz de shaman, bebedor de ayahuasca, barbudo feito um profeta... Outras fotos confirmaram que o cara assumiu de vez um visu meio Lennon na fase Yokólatra, meio Jesus Cristo andando de chinelos pela Palestina, meio a "Era de Aquarius ainda está vindo!".

Não estou sendo desdenhoso... acho saudável. Acho bacana que venha uma nova onda hipponga-maconheira-xamanística do que a gente permanecer com este mainstream emofílico que está aí. Xorôrô, sentimentalismo e maquiagem que se explodam; eu quero é Woodstock, psicodelia, flower power e comunitarismo anti-imperialista e anti-consumista de novo!

Enfim: não tenho vergonha de escancarar que prossigo fiel a ídolos hoje tidos por alguns como "ultrapassados": e fiel à afeição sincera que sinto por figuras como o Chris Robinson, por mais hippongão e retrô que ele hoje pareça. Pra mim, o cara prossegue sendo um dos frontmans mais entusiasmantes do rock and roll nos últimos 20 anos, e um dos cantores mais cheios de feeling com quem meus tímpanos já tiveram o prazer de conviver. Foi ele o Elvis The Pelvis da Geração Grunge!


E que vida invejável teve (e tem) esse puto. Foi casado com uma das mulheres mais sexy do planeta, a embasbacante Kate Hudson (que encarnou uma das mais adoráveis groupies da história do cinema: a Penny Lane de Quase Famosos). Já teve o privilégio de gravar e tocar com um mito da guitarra, Jimmy Page (o que ficou registrado no magistral Live At The Greek). Sem falar do principal: que ele fez parte da turma que legou-nos aquele punhado de discos maravilhosos (gosto de todos, até dos subestimados Amorica e 3 Snakes And One Charm) que me fazem afirmar, sem medo, que os Black Crowes foram a grande banda de rock and roll clássico dos anos 90 (que só não fez mais história pois o grunge de Seattle roubou a cena e impactou o mercado de um modo que os Crowes não fizeram). E Robinson o equivalente, para a nossa geração, do que foi Jagger ou Plant para a juventude setentista. Exagero de fã? Talvez. Mas taí o que acho, sem firula.



O que me surpreende é que os dois álbuns solo de Chris sejam tão obscuros, desconhecidos, ignorados. Mesmo eu, um black-crowista de carteirinha, só fui descobrir que eles existiam muito recentemente. Suspeitei, antes de ouvi-los, que pudessem ser toscos e mau gravados, que Chris pudesse não funcionar tão bem sem a companhia do irmão Rich, que talvez fossem experimentais ou inacessíveis demais...

Tudo lorota. Os dois álbuns são perfeitamente curtíveis não só por quem já curte os Black Crowes, mas por quem aprecia rock and roll de prima e roots --- algo à la Led, Stones, Faces ou Skynyrd. Não sinto nenhuma ruptura radical entre a sonoridade de Chris Robinson solo em comparação com sua banda principal: New Earth Mud e This Magnificent Distance poderiam muito bem ser álbuns dos Crowes, e não fariam feio na discografia dos corvos. São álbuns um tanto mais "baladeiros", é verdade, quiçá mais "maduros", mas ainda assim cheios do groove e do soul que tanto nos encanta nos clássicos noventistas Listen Now! Shake Your Money Maker (1990) e Listen Now! The Southern Harmony and Musical Companion (1992) Listen Now! By Your Side (1999).

O hippie'n'roll ainda vive! E eu acho ótimo.


<<< d >>>


<<< d >>>

 aproveitando a deixa, tão ae os injustiçados...

 <<< d >>>

 <<< d >>>


<<< d >>>

<<< d >>>


e os crááássicos:

<<< d >>>



 <<< d >>>


<<< d >>>

 <<< d1 d2 >>>

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

<<< Get Stoned! >>>


NEBULOSOS GROOVES


"They’ll stone ya when you’re at the breakfast table
They’ll stone ya when you are young and able
They’ll stone ya when you’re tryin’ to make a buck
They’ll stone ya and then they’ll say, “good luck”
Tell ya what, I would not feel so all alone
Everybody must get stoned."

  BOB DYLAN
, "Rainy Day Women #12 e #35         


Sigam o conselho do sábio poeta: "everybody must get stoned!". Calma que não é masoquismo: ninguém está sugerindo que ser apedrejado seja mó balada. Eu suspeito que Dylan se refira mais ao consumo de substâncias de expansão da consciência, daquelas conducentes a intensos júbilos psicodélicos; não está convidando a molecada a brincar com pedra. "Get high!" E é neste "estado" de embriaguez, que lá fora conhece-se como stoned, que o ouvinte esperto adentrará os portais desta belíssima obra-de-arte chamada Blonde on Blonde...

Lembrei desta dylanesca conclamação ("get stoned!") pois hoje só tô aqui para fazer um convite bem parecido. Embarquem todos (bangers, garageiros, grunjões, motoqueiros e outros malucos...) na nebulosa sônica do Stoner! Ponto do universo onde a matéria é densa (e os graves, cabulosos). Campos gravitacionais impressionantes. Cores intensas. Sóis nascendo e morrendo num piscar de olhos. Não há buraco negro que aguente sugar tanto barulho: eles arregam. E como o bagulho brilha e pesa!

Muito tempo atrás, fiz aqui no Depredas um especial Stoner, com um texto massa do Marcos Bragatto arranjado numa velha Rock Press da minha mítica gaveta. Lá conta-se um pouco da história do gênero e analisam-se alguns álbuns clássicos dos seminais Kyuss, Soundgarden, Nebula e Spiritual Beggars. O fato é que faço questão de fazer um atrasadérrimo post II sobre o "tema", já que nesses últimos tempos tenho voltado a me expor a "apedrejamentos" de prima, alguns dos quais são digníssimos de compartilhamento. ("Ter navio pirata e não silgrar os mares trocando riquezas não tem sentido."; in: Manual do Bom Pirata Cibernético, editora Depredas, página 5, artigo segundo). 

Aí vão, pois, um punhado de bons discos stoner, que largo aí na base da "pirataria gratuita". E querendo boas sugestões de outras bolachas que vocês tiverem aí pra compartilhar conosco!

Mas...

"Whaddahell?", pergunta-se o desavisado perante este post, sem saber que perebas é "stoner rock". Tentarei dar uma rápida luz, mas ainda hoje sofro para definir a "stoneidade" para os leigos que ainda não tiveram a felicidade de estragar seus tímpanos nestas lamas. Me arrisco: é como o Cream anfetaminado ou um Led Zeppelin ainda mais denso e pesado; ou o filho bastardo que o metal teve com o grunge; ou talvez o resultado duma metaleirada que desceu pra garagem depois de ouvir os álbuns do Stooges; ou talvez duns punks querendo mostrar pros cabeludos como é que se faz heavy metal de verdade depois de terem enchido o saco dos discos do Dio...

Desisto.

Pegue a vontade, stoneie-se como for possível, e faz o favor de alçar o volume até, no mínimo, o nível suficiente para acarretar a enxaqueca do vizinho.

Cheers!


UNIDA - Coping With The Urban Coyote (1999)
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MONSTER MAGNET - Spine of God (1999)
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ETERNAL ELYSIUM - Spiritualized D (2000)
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ATOMIC BITCHWAX - I (1999)
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CLUTCH - Blast Tyrant (2004)
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NEBULA - Apollo (2006)
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ATOMIC BISHWAX - II
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NEBULA - Atomic Ritual (2003)
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COLOUR HAZE - Los Sounds de Krauts
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