quarta-feira, 20 de outubro de 2010

<<< Hippie'n'roll Lives On! >>>


O CORVO HIPPIE VOANDO SOLO

por Eduardo Carli                          

Outro dia tomei um susto. Vi uma foto recente do Chris Robinson em que ele mais parece um discípulo do Alan Moore: algo como um aprendiz de shaman, bebedor de ayahuasca, barbudo feito um profeta... Outras fotos confirmaram que o cara assumiu de vez um visu meio Lennon na fase Yokólatra, meio Jesus Cristo andando de chinelos pela Palestina, meio a "Era de Aquarius ainda está vindo!".

Não estou sendo desdenhoso... acho saudável. Acho bacana que venha uma nova onda hipponga-maconheira-xamanística do que a gente permanecer com este mainstream emofílico que está aí. Xorôrô, sentimentalismo e maquiagem que se explodam; eu quero é Woodstock, psicodelia, flower power e comunitarismo anti-imperialista e anti-consumista de novo!

Enfim: não tenho vergonha de escancarar que prossigo fiel a ídolos hoje tidos por alguns como "ultrapassados": e fiel à afeição sincera que sinto por figuras como o Chris Robinson, por mais hippongão e retrô que ele hoje pareça. Pra mim, o cara prossegue sendo um dos frontmans mais entusiasmantes do rock and roll nos últimos 20 anos, e um dos cantores mais cheios de feeling com quem meus tímpanos já tiveram o prazer de conviver. Foi ele o Elvis The Pelvis da Geração Grunge!


E que vida invejável teve (e tem) esse puto. Foi casado com uma das mulheres mais sexy do planeta, a embasbacante Kate Hudson (que encarnou uma das mais adoráveis groupies da história do cinema: a Penny Lane de Quase Famosos). Já teve o privilégio de gravar e tocar com um mito da guitarra, Jimmy Page (o que ficou registrado no magistral Live At The Greek). Sem falar do principal: que ele fez parte da turma que legou-nos aquele punhado de discos maravilhosos (gosto de todos, até dos subestimados Amorica e 3 Snakes And One Charm) que me fazem afirmar, sem medo, que os Black Crowes foram a grande banda de rock and roll clássico dos anos 90 (que só não fez mais história pois o grunge de Seattle roubou a cena e impactou o mercado de um modo que os Crowes não fizeram). E Robinson o equivalente, para a nossa geração, do que foi Jagger ou Plant para a juventude setentista. Exagero de fã? Talvez. Mas taí o que acho, sem firula.



O que me surpreende é que os dois álbuns solo de Chris sejam tão obscuros, desconhecidos, ignorados. Mesmo eu, um black-crowista de carteirinha, só fui descobrir que eles existiam muito recentemente. Suspeitei, antes de ouvi-los, que pudessem ser toscos e mau gravados, que Chris pudesse não funcionar tão bem sem a companhia do irmão Rich, que talvez fossem experimentais ou inacessíveis demais...

Tudo lorota. Os dois álbuns são perfeitamente curtíveis não só por quem já curte os Black Crowes, mas por quem aprecia rock and roll de prima e roots --- algo à la Led, Stones, Faces ou Skynyrd. Não sinto nenhuma ruptura radical entre a sonoridade de Chris Robinson solo em comparação com sua banda principal: New Earth Mud e This Magnificent Distance poderiam muito bem ser álbuns dos Crowes, e não fariam feio na discografia dos corvos. São álbuns um tanto mais "baladeiros", é verdade, quiçá mais "maduros", mas ainda assim cheios do groove e do soul que tanto nos encanta nos clássicos noventistas Listen Now! Shake Your Money Maker (1990) e Listen Now! The Southern Harmony and Musical Companion (1992) Listen Now! By Your Side (1999).

O hippie'n'roll ainda vive! E eu acho ótimo.


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 aproveitando a deixa, tão ae os injustiçados...

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e os crááássicos:

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2 comentários:

Thaís disse...

É, Edu... Impressionante como não canso de me surpreender com suas colunas. Toda vez que digo que sou fã do Black Crowes, quem conhece olha pra mim com aquela cara de bolinho solado. É óbvio que vc não seria um desses! Porque eles são geniais e o Chris é O cara! Conheci numa época em que rádio ainda era boa fonte de informação. Voltava da UnB e uma estação local (que já não existe) transmitia todo o Live at Greek. E eu pensava: "será Jimmy Page?". Tolinha... Quando descobri que não, entrei numa viagem apaixonante e sem volta! E por isso mesmo fiquei tão feliz de encontrá-los aqui no Depredando, que já considero minha casa.

Beijão!

Unknown disse...

Cara Thaís,

Valeu ae pela visita e pelo comentário que muito me alegrou; afinal de contas, um dos prazeres maiores de ter um blog é "trombar" com gente com gosto parecido, que se entusiasma e anima pelas mesmas coisas... Tb me lembro do prazer que era ouvir "Remedy" ou "Hard To Handle" na FM, o que não era tão incomum assim em rádios de Sampa como a Brasil 2000. O Live At The Greek, então: parecia uma nova encarnação do Led Zeppelin, sem tirar nem pôr!

Até hoje não entendo pq certas canções altamente "grudentas" dos Crowes não estouraram tanto qto mereciam (tem pelo menos uma meia-dúzia dessas no "By Your Side", talvez meu disco predileto deles...). O que eu acho é que eles deveriam ser 10 vezes maiores do que o Guns'N'Roses. Mas aí talvez perdessem um pouco do "hippismo" de que tanto gosto... Enfim...

Um beijo, e cole sempre por aqui! :)