domingo, 31 de agosto de 2008

:: look who's back in town... ::


Barbudão como de praxe e esbanjando o já tão reconhecido talento, Marcelo Camelo está de volta, cantando pra nos encantar. Enquanto os Los Hermanos ficam no limbo destas férias por tempo indeterminado, matando de saudade os milhares de órfãos da mais cultuada banda brasileira da década, os dois cabeças da banda carioca se embrenham em projetos paralelos. Amarante assumiu uma persona festeira, sacana e prá-lá-de-cool junto à Orquestra Imperial e Camelo partiu para vôos solos. "Sóu", o primeiro disco do parente-do-dromedário, chega às lojas no comecinho de Setembro, mas já caíram na rede as 10 primeiras faixas do álbum - que Depredando disponibiliza aqui num zipão. Com participações especialíssimas da banda paulista de post-rock Hurtmold e da musa do indie-folk Mallu Magalhães (que canta lindamente em "Janta"), o álbum traz um Camelo que funde buarquismos emepebísticos com elementos gringos num disco que soa um pouco Jack Johnson, um pouco Devendra Banhart, um pouco Chico Buarque, um pouco Baden Powell e um pouco Los Hermanos fase IV. "Copabacana", maravilha carnavalesca e cheia de deliciosas sacanagens, tem tudo para ser um hitzão nacional, de tão irresistível que é. Já "Liberdade" é de tirar lágrimas dos olhos e faria bonito se tivesse entrado no último álbum da banda. Mesmo sem ter ouvido as 4 faixas que ainda permanecem secretas, já arrisco dizer: taí um dos melhores álbuns nacionais do ano, fácil fácil...

DOWNLOAD (64 MB):
http://www.mediafire.com/?rmupdpgwt2a

sábado, 30 de agosto de 2008

:: da série PÃO QUENTINHO ::

THE WALKMEN - You & Me (69 MB)
http://www.mediafire.com/?rjxwdlzibmm


MOP TOP - Como Se Comportar (85 MB)
http://www.mediafire.com/?xytxtmtwzyt



AIMEE MANN - @#%&! SMILERS (56 MB)
http://www.mediafire.com/?ufuur5vxzhy



CONSTANTINES - Kensington Heights (66 MB)
http://www.mediafire.com/?fhdcrwhfp3z



SIGUR RÒS - Með suð í eyrum við spilum endalaust (53 MB)
http://www.mediafire.com/?t5lunoup49f

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

:: suçeço! ::


Aê! Depredando tá mó hype: mais de 20 mil visitas! Somando todos os loucos que já passaram por aqui, daria pra encher um Canindé. É ou não é de se comemorar? Para celebrar tamanha popularidade, além dos autógrafos que estamos distribuindo pelas ruas, inclusive da Nova Zelândia e Paris, estamos organizando a PRIMEIRA FESTA PÃNQUE do Depredando. Ela provavelmente vai acontecer no Espaço Impróprio, nas proximidades da Rua Augusta, dia 27 de Setembro, com a presença confirmada das mais sensacionais bandas de róque da maior cidade da América Latina: o Milhouse e a Liga das Senhoras Católicas. Paulistanos, anotem em suas agendas! Voltaremos a anunciar esta festança mais pra frente.

p.s.: como não temos grana para pagar propaganda em lugar nenhum, viva a auto-propaganda! Ó só as estatísticas de visita da semana passada: 6 dias a mais de 100! Aêêê! Desculpem o entusiasmo desse "paizão orgulhoso"... =)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

:: eu confesso! ::


MixwitMixwit make a mixtapeMixwit mixtapes


Eis aí um antigo presente virtual que bolei para uma amiga e que ficou no fundo da gaveta cibernética por meses e meses, acumulando poeira. Foi agora pouco que lembrei que existia o MixWit, perdição que foi uma grande mania minha, tempos atrás. Revisitei o treco como quem abre uma caixinha de sapato infanto-juvenil onde largou todas as fitinhas que gravava direto do rádio quando era pivete. Como eu adorava toda a cultura do K7! Sou do tempo do walkman na rede, debaixo dos coqueiros, na chácara da minha vó, olhando a paisagem - ainda não aderi a esse lance do iPod no busão ou na Paulista - coisa sem romantismo! :P As velhas fitinhas davam mó trampo para fazer e adquiriam, por isso, um alto valor sentimental. Quando estragavam dava pra fazer um cházinho de fita que é um alucinógeno barato bem bacana e recomendável. Não acreditem nas objeções feitas a isso pelo Ministério da Saúde. Divagações psicodélico-nostálgicas à parte, decidi retirar do limbo esse trocinho aí em cima: arranquei a K7zinha digital do fundo do baú, assoprando forte para tirar o pó e as teias de aranha, e agora compartilho alguns dos meus mais inconfessáveis guilty pleasures - ou, para falar a Linguagem da Liga, algumas das minhas mais queridas XÁNÁNÁS... =)

sábado, 23 de agosto de 2008

:: os 10 melhores dos anos 70 - #10 ::

[ #10 ]


ELVIS COSTELLO,
My Aim Is True (1977)

por EDUARDO CARLI DE MORAES


"É um nerd ou é um punk?" Uma dúvida dessas deve ter surgido na mente de muita gente que viu nascer Elvis Costello em plena ebulição punk em 77 . Na capa do disco, a nerdice era estratosférica: um rapazinho com jeitão de desenho animado, vestido com um terno vermelho berrante, com as perninhas abertas de um jeito desengonçado e óculos de dimensão avantajada, segura uma guitarra que parece de brinquedo. Se o título do álbum fosse The Geeks Can Rock! seria o complemento perfeito. Mas, nas prateleiras das lojas de disco, esse estranho espécime acaba por ir parar na recém-inaugurada seção de um estilo musical juvenil então em seu início, e jaz ali bem ao lado dos Ramones e dos Sex Pistols em meio aos discos punk. What the hell?!

Hoje, quando o imaginário coletivo já aprendeu a associar a palavra "punk" com podreira, barulheira, baderna, imoralidade e imundície, essa cena parece uma piada. Como é que este comprovado nerd e hopeless romantic, Elvis Costello, conseguiu ser classificado em categoria tão inadequada para uma criatura tão sutil e high-class quanto ele? Isso só pode se dever mesmo a um curioso e hilário equívoco histórico.

Mas peralá! Certamente Elvis Costello não é o tipo de diabinho anti-cristão e apologista da anarquia como Johnny Rotten. Nem é um feioso e desengonçado porta-voz da sensibilidade suburbana como Joey Ramone. E também não aprecia picos de heroína como Johnny Thunders. Mas algo nele cheira a punk. Não o punk tradicional pintado pelo senso comum: algo como um adolescente suburbano radical, rebelado contra a família e o poder, que desejaria que o mundo inteiro se explodisse junto com sua chatice num pandemônio niilista. Não o punk ostensivo que carrega na cabeça penteados excêntricos e quebra ossos em rodas de pogo. Mas um punk no sentido primitivo, na acepção original.

Mas o que significava, no começo de tudo, ser um punk? Se confiarmos em Mate-me Por Favor, ser um punk um dia tinha a ver somente com autenticidade, espontaneidade e criatividade. Lá atrás, no começo dos anos 70, nos EUA que via nascer os Velvets, os Dolls, o MC5, os Stooges e Patti Smith, quando começou-se a pensar em uma espécie de movimento informal de modificação musical e comportamental, o punk significava basicamente isso: a liberdade para ser quem se era. Contra os posers. Contra os exibicionistas. Contra o mundo adulto de trabalho assalariado e missa aos domingos. Contra a chatice imensa da "vida séria" e seus simulacros.

O punk colocava fogo nas máscaras, abandonava a esperança, mandava parar o teatro e botava pra rolar uma máquina de eletricidade bruta e diversão. Não mais a submissão aos pais, à escolinha, à preparação tranquila para pastar em escritórios fechados ou sofás à frente da TV. O punk era o fuck off da juventude para a chatice do mundo adulto, do straight world e do showbizz carola e alienante. Um levante contra o terror que era ser "um homem sério e comprometido com o futuro e com os interesses da comunidade". O punk era o rock and roll reinventado por gente que cansara das poses de herói dos rock-stars, e das punhetices dos progressivos, e que desejava se mostrar publicamente como era: sem retoques e sem maquiagem.


E foi assim que Elvis Costello apareceu: como esse anti-herói desmascarado, que resgata a espontaneidade dos primórdios do rock e que cospe uma música tão desengonçada, tão livre, tão indiferente ao que possam pensar os eruditos, tão pouco envergonhada quanto a suas imperfeições, que não há jeito: é punk. Pelo menos em espírito, pelo menos em atitude. "De todos os debuts clássicos do punk, esse permanece aquele que é provavelmente o mais idiossincrático: por não ser catártico em som, somente em espírito", escreveu Stephen Thomas Erlewine.

My Aim Is True, primeiro disco de Costello, caiu no mundo em 1977, ano chave para a popularização punk, apresentando ao mundo um dos compositores mais espertos a surgir na música pop no último quarto do século 20. Costello era capaz de viajar em um amplo espectro musical, tinha um ótimo senso melódico e uma voz anasalada mas afinada. Além disso, escrevia letras de sagacidade poucas vezes antes vista. Tanto que não seria absurdo chamá-lo de Woody Allen do rock.

Único disco de Costello com o Clover como banda de apoio (daí pra frente se iniciaria uma longa e prolífica carreira junto aos Attractions), My Aim Is True é o mais rocker dos álbuns do homem, o que exala mais urgência, mais visceralidade. Os Attractions eram uma banda de apoio mais rítmica, que adicionava ao som mais texturas, que trazia teclados e fazia com que baixo e bateria ficassem mais discretos no background. Com os Attractions, Elvis Costello iria gradativamente se movendo para um campo mais de pop sofisticado e ambicioso e iria parir outros álbuns clássicos do quilate de This Year's Girl, Armed Forces e Imperial Bedroom.

A maioria das músicas é puro pop-soul clássico dos anos 50 e 60, reinventados sob uma perspectiva mais punk - ou mais nerd. "Sneaky Feelings", "Red Shoes", "No Dancing", "Radio Sweetheart" são músicas punk-pop chicletudas, bubblegums, bem na tradição de melodias cativantes e refrão simples e colante. Grande parte do disco, porém, não soava exatamente como algo que se enquadrava em algum categoria musical preexistente, e foi em grande parte por causa de My Aim Is True que foi preciso se inventar um novo termo para se referir a essa reinvenção punk do pop clássico: a NEW WAVE.

O punk, aliás, era musicalmente um movimento retroativo, que ia buscar lá nas raízes perdidas do rock dos anos 50 e 60 a visceralidade e a espontaneidade que o Led Zeppelin e os progressivos haviam destruído - abaixo as maçantes viagens sonoras e o exibicionismo instrumental! "Mystery Dance", por exemplo, é uma música que poderia muito bem ter sido lançada por Little Richards ou Chuck Berry. É como o ponto de encontro entre os dois Elvises: Presley e Costello. Já a bela "Alison" aponta para o futuro de Costello, onde se encontrariam abundantes amostras de baladaria sofisticada e sensível.

Vocês todos sabem: os nerds também amam. O problema é que, normalmente, o amor para eles nunca se concretiza, oscilando entre o reino do platonismo bobão e do desastre ridículo no mundo objetivo. Eis porque My Aim Is True não é exatamente um álbum sobre o Amor e suas delícias, mas sim sobre esse maldito-sentimento-que-nos-estraçalha que é o amor e todas as suas catástrofes. O tema de Costello, mais precisamente, é o amor que fracassa, que rasga os corações, que faz sofrer e que talvez não seja mais que um sonho, sempre pronto a ser dilacerado pela dureza da realidade.

Várias músicas são compostas com duas das matérias-primas mais utilizadas na história da humanidade na composição de canções populares: a dor de corno e o ciúme ("Alison", "I'm Not Angry", "Red Shoes"). Os sentimentos em que ele se afoga normalmente são de rejeição, de ser passado pra trás, de não ser bom o bastante. "Por que você tem que dizer que sempre há alguém que pode fazer melhor que eu?", pergunta ele em "Miracle Man". O que impede que ele caia no lodaçal do EMO é que no reino de My Aim Is True uma auto-ironia reina suprema. Elvis Costello não se leva a sério: as próprias desilusões amorosas são motivo de piada e ele tem a manha de zoar consigo mesmo. E que sutileza utiliza ele para tratar do assunto, que sublimes eufemismos, que deliciosos jogos de palavras faz para pintar o quadro das desgraças amorosas!

Quando um brutalhão punk, posando de rebeldão, iria fazer uma música onde "batia uma punheta com a foto da namorada", nosso Elvis diz estar "admirando ritmicamente" uma fotografia. Quando um melodramático cantor de baladas iria declarar amor às qualidades interiores e ao "coração" da amada, Elvis é sincero o bastante para dizer: "Poderia dizer que gosto da sua sensibilidade, mas você sabe que é o jeitinho como você anda".
Alguns posariam de PhDs em assuntos sentimentais, garanhões profundos conhecedores da natureza feminina, mas Costello sabe que não é nada disso. Admite que é imperfeito, muitas vezes boboca, às vezes demasiado sentimental, outras vezes ranzinza. Num mundo lotado de compositores gabarolas, é ótimo achar um cara que não está querendo se vender como um gênio. No reino das canções de amor que fedem a sentimentalismo barato e melodrama, Costello chega para dizer algumas verdades pouco lisonjeiras sobre as relações amorosas.

A ambiguidade de seus sentimentos em relação ao amor é simbolizado perfeitamente pelo "My aim is true", refrão de "Alison" e título do álbum. A expressão significa, em tradução literal, algo como "Minha mira é certeira". Mas pode simbolizar (sigo a interpretação de Matt Le May) duas coisas: ou o desejo de reconquistar a garota amada, ou uma mira certeira para destruir a garota odiada. Sendo que a garota amada e a odiada podem ser a mesma pessoa: o mesmo objeto é ora alvo de ódio, ora de amor, segundo a perpétua inconstância dos sentimentos humanos. Costello não mente sobre isso, sem medo de soar "incoerente" e ambíguo.

Também está longe de ser o babaca paparicador que só elogia as garotas. Mais do que um bajulador, ele é um rabugento, que se revolta contra certas futilidades femininas, como a consumista compulsiva de "Miracle Man", que compra artigos dos mais supérfluos ("ten-inch bamboo cigarette holder and black patent leather gloves") . Já em "Welcome To The Working Week", critica o otimismo da garota burguesa que acha que "tudo na cidade está bem" mas que nunca saiu de casa pra checar se estava mesmo:

I hear you sayin', "Hey, the city's all right"
when you only read about it in books.
Spend all your money gettin' so convinced
that you never even bother to look.


(Eu ouço você dizer, 'Hey, a cidade tá na boa' / Quando você só leu sobre isso nos livros./ Gastou toda sua grana pra conseguir se convencer / Que você nunca se importa em ir dar uma olhada...)

A guerra dos sexos fica mais virulenta ainda na deliciosa B-side "Wave A White Flag", uma das músicas mais engraçadas de todos os tempos e uma boa amostra do porquê Elvis Costello é um dos caras mais legais da história da música pop. "Espanque-me na cozinha, e te espancarei no hall / Não há nada que eu goste mais do que um vale-tudo / Pegar seu belo pescoço e ver para que lado ele se entorta / Mas quando tudo estiver acabado ainda seremos amigos". No refrão da música, vem o delicioso "Hope you don't murder me" ("Espero que você não me assassine"), fechando uma obra-prima do humor negro sobre o amor.


A vontade é citar mais uma dezena de versos deliciosos que Elvis espalha pelo disco, mas ler essas palavras no papel não é tão divertido quanto ouvi-las cantadas. Há todo um universo de referências dentro das letras de Costello, todo um paraíso a ser desvendado, toda uma série de piadas deliciosas e joguinhos de palavras. Há letras-historinhas, como "Waiting For The End Of The World", que relata um acidente que faz com que um trem fique preso em túnel escuro, onde as garotas começam a ser bolinadas e todos esperam pelo fim do mundo; há letras mais políticas, como "Less Than Zero", sobre um fascista inglês; há singelos retratos do terror da vida familiar em "Stranger In The House", onde Costello diz se sentir um estranho em sua própria casa, que "se parece mais com um hotel a cada dia"; há raivosas promessas de vingança em "Pay It Back", onde Costello parece se revoltar por ter sido iludido com as falácias da eternidade do amor e da segurança da vida, cantando: "Eu te amo mais que qualquer coisa no mundo / Mas não acho que isso vá durar / Alguém me disse que tudo era garantido / Alguém em algum lugar deve ter mentido pra mim...". E assim por diante.

My Aim Is True, esse delicioso mosaico pop, desfile de sublimes nerdices, é um dos discos capazes de fazer com que alguns se apaixonem eternamente pela música pop. É um álbum de fundamental importância histórica: o disco que inaugura a new wave, o cartão de visitas que dá um pontapé inicial numa carreira que já se estende por mais de 25 anos (e contando), uma inspiração fundamental para todo o indie-rock "sensível e sincero", para grande parte do punk-pop das duas décadas seguintes e um paradigma fundamental para uma série de compositores desencanados e bem-humorados.

Como escreveu Matt Le May, "com My Aim Is True Costello explodiu para dentro da cena punk/new-wave como um mutante híbrido de Buddy Holly e Johnny Rotten". Tinha "inteligência transparente, sensibilidade e senso melódico que o tornaram muito mais interessante do que muitos de que seus contemporâneos". Ficar discutindo se Costello é ou não um punk talvez seja até desimportante. Preocupar-se em enquadrá-lo dentro de um certo estereótipo (nerd, punk, geek, new-waver) parece então tolice: Costello é só Costello. Contra todos os rótulos, cintila um fato simples: estamos claramente frente a frente com um dos discos mais divertidos e libertários de todos os tempos.


EDIÇÃO DE 30 ANOS - ULTRA DELUXE!

DISCO 01 - My Aim Is True [versão original de 1977]
http://www.mediafire.com/?7k2iedgm1mi2n4a (75 MB - 320kps)

DISCO 02 - Lados-B e remixes
http://www.mediafire.com/?kcrwence8dy (64 MB - 160kps)

DISCO 03 - My Aim Is True AO VIVO
http://www.mediafire.com/?ld50eynyb5y (80 MB - 160kps)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

:: Nina Simone ::

NINA SIMONE
por CLARAH AVERBUCK
(escritora e blogueira)


"The blues are the roots; everything else is the fruits."
WILLIE DIXON

O blues é a raiz. Todo o resto são os frutos. Por que algumas frases perdem a poesia quando traduzidas? Bom, perdem a poesia mas não o significado. O blues é a raiz de tudo. De todo o rock que escuto hoje. Quando os brancos tentaram tocar blues, saiu o rock. E cá estamos nós hoje no mundo do rock, tão longe da simplicidade e da singeleza e da tosqueira do blues. Tosqueira no melhor dos sentidos, porque eu sou a favor do tosco. O tosco é bom. O tosco é verdadeiro. Seja tosco você também.

A Nina Simone, pra mim, era uma blueswoman. Ela lançou milhares de discos, muitos com big bands, muitos com orquestras e firulas. Mas a essência da Nina é ela e o piano. Só. Espancando e acariciando, doçura e fúria, revolta e candura, rebeldia e inocência. Simplicidade. A Nina blueswoman é quem eu levaria para uma ilha deserta se soubesse fazer uma vitrola de folha de bananeira e espinha de peixe.

Ela me mata. Ela me toca e me mata e me torce e me faz ouvir discos inteiros incessantemente por dias a dio, me faz cantar de olhos fechados e os punhos cerrados deitada no escuro do meu quarto, me faz aprender uma língua que não sei só para poder cantar "Ne Me Quitte Pas" direito, me faz escrever por noites e noites e noites só por causa de uma frase. A frase pode nem ser dela, mas parece que tudo que vem dela, é dela. (...) Ela rouba as músicas e ninguém nunca consegue pegar de volta.

Tem uns discos ao vivo onde ela fica conversando com o público e rindo, e obrigando-os a cantar e tendo total controle sobre aquela gente. É impossível dizer "não" à Nina Simone. Dra. Nina Simone. E quando ela ri muito porque esqueceu um pedaço da letra, também fico rindo aqui, porque eu amo aquela mulher e a risada dela me deixa feliz. E quando ela chora cantando "Why? (The King Of Love Is Dead)", em homenagem a Martin Luther King, eu choro junto, porque é muito real, muito fodido, muito forte. Como tudo que ela canta. A voz dela tem a densidade de uma bofetada, não dá para ficar impassível. (...) Pelo amor de deus. Quantas vezes já rebolei sozinha em casa de salto ouvindo essas músicas, quantas vezes já fui uma negra em um palquinho esfumaçado cantando essas músicas só para mim, quantas vezes já chorei sozinha, só eu e ela.

O jeito que a Nina tocava piano era único. Um acorde e já dava para saber quem era. Um jeito que só quem sentiu muita dor consegue, só quem tem um tornado por dentro consegue, só que tem o blues consegue. Nina, Nina. Que vontade de abraçá-la. Abraçá-la por tudo que ela fez e foi. Vi a Nina em 99, em um lugar cheio de brancos ricos que estavam lá para ver um show de jazz, daqueles que os ricos gostam, bem asséptico, bem sem emoção, sem cor como eles. Coitados. Mal sabiam eles que era a Nina, a Nina bêbada e acabada, sofrida, velha, mal-humorada e sem saco. Ninguém entendeu nada. Uns poucos ali sabiam que a Nina era só a cantora e a pinista de jazz (blues!) mais foda de todos os tempos. Só queria abraçá-la naquele dia. Abraçá-la, dizer obrigada e eu te amo. Fiquei com medo de levar um coice, achei melhor ficar na minha quando ela passou no meu ladinho nos bastidores, bem pertinho de mim, sem nem saber quantas vezes dormiu comigo.


A Nina era minha amiga. Uma grande companheira de momentos fodidos e solitários onde ninguém estava lá, ninguém escutava, ninguém entendia, estava a Nina do meu lado, cantando você tem que aprender, minha nêga, a sofrer e quebrar essa sua carinha bonita. Você tem que aprender e baixar a cabeça às vezes e se resignar e conviver com um coração partido. Me mostrando que mesmo não tendo casa, nem amor, nem diploma, carro ou um aparelho de som, nem roupas de inverno, nem pilhas no discman, nem comida ou um corte de cabelo, nem cheque, dinheiro ou cartão, nem perfume, nem meias sem furos, nem giletes, nem chuveiro quente, nem gás na cozinha, eu ainda tinha a minha vida e sangue correndo nas minhas veias. Me fazendo dizer "vai, faz o que você tem que fazer, mesmo que eu nunca mais possa te beijar, vai viver a sua vida." E ele foi. E eu fiquei, eu e a NIna e os meus blues. Melhor assim. Porque segundo o Son House, a única maneira de ter os azuis (ai) é sofrendo por amor, é quando o coração dói. Eu e a Nina sofremos. Eu e a Nina temos os blues.

Eu nunca colhi algodão. Eu nunca sofri porque um líder da minha causa foi assassinado. Eu nunca vou saber o que era ter que entrar pela porta dos fundos e usar um banheiro diferente. Eu sou branca. Translúcida, para ser mais exata. Apesar de ter certeza que sou uma negra cantora de 111kg, nascida no Mississipi, sacudindo os quadris no calor, apontando o dedo com uma unha de quinze centímetros e falando alto enquanto mexo o pescoço, não, não: eu sou branca. Não adianta, não vou cantar como uma negra, nem sentir na pele o que todos os negros sentiram e ainda sentem. Nunca. Mas tudo bem, porque mesmo sendo desbotada, eu tenho os azuis. E quem me ensinou isso foi a Nina Simone, que agora está lá em cima, na grande jam session do céu, com uma garrafa de Bourbon e um sorriso no rosto, cantando pra sempre no meu coração.


(in: Noite Passada um Disco Salvou Minha Vida
- org: Alexandre Petillo. Ed. Geração Editorial)


DOWNLOAD:

NINA SIMONE ANTHOLOGY (THE COLPIX YEARS)

Disco 01
: http://www.mediafire.com/?evab2m5k1qs (76 MB- 160kps)
Disco 02: http://www.mediafire.com/?hwagokrecla (82 MB - 160kps)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

:: It's business time, baby ::

*por Francine Micheli

Se tem uma coisa boa nessa vida é gente que sabe fazer os outros rirem. Não os que tentam, porque esses são os mais malas e geralmente acabam no limbo do esquecimento com o imperdoável passar dos anos. Fazer rir é talento, ninguém aprende a ser engraçado.

E, foi pensando nisso que eu resolvi citar (porque muitos já devem ser fã) uma dupla kiwi que já é famosa por todo-quase-mundo - já que eles têm um seriado homônimo na HBO e ganharam inúmeros prêmios pelo choubiznes afora.


Flight of the Conchords é uma dulpa formada pelos ex-flatmates Bret McKenzie e Jemaine Clement que se conheceram enquanto cursavam Cinema e Teatro na Victoria University em Wellington - a capital neozelandesa. Assim que os dois juntaram suas escovas de dente, também juntaram suas idéias non-sense com um tanto de poder de observação, criatividade, bom gosto musical e mais um punhado de falta de propósito na vida.

Foi que foi que, por entre os perrengues da vida de estudante, surgiu a dupla como uma brincadeira de faculdade e desde 1998 eles se dedicam a rir da cara dos outros e, por consequência, fazem os outros rirem (deliciosamente) também.

No entanto, como não conheço o seriado e tampouco a extensa lista de premiações dos moços - sei que ganharam o Grammy esse ano por melhor álbum de comédia - vou me restringir a indicar o último cd dos caras, que leva o mesmo nome da banda.

Primeiro, não foi fácil achar essa porra pra download. Segundo, valeu a pena quase um mês procurando. Eu poderia dizer que é um daqueles discos que você escuta por semanas seguidas e consegue soltar gargalhadas em todas as faixas, seja pelas frases de efeito (oh my God/ she's so hot/ she's like a curry), pela sensualidade de cantores de churrascaria presente em todos os vocais, pelas ótimas tentativas de agudos-a-la-Mariah-Carrey ou pelas impagáveis paródias do mundo artístico.

Por um lado, se as letras fazem sua barriga doer de tanto rir, os arranjos vão fazer seu queixo cair e vão te lembrar coisas como Jamiroquai, Jack Johnson, Neil Young ou Trio Los Del Rio, dependendo da música.

É o tipo de coisa que só ouvindo mesmo. E, cuidado, Flight of the Conchords é extremamente viciante, gruda na cabeça e é certo que você vai começar a rezar todas as noites para que o novo cd da dupla saia logo. E vai rezar pra santo que você nem conhece.

No mais, McKenzie e Clement são caras bacanas, apesar de sexualmente repelentes - e fazerem disso um ponto mais que positivo - são originalmente talentosos e muito, muito bons artistas.
E eu duvido que eles aprenderam tudo isso na faculdade.




1. "Foux du Fafa"
2. "Inner City Pressure"
3."Hiphopopotamus vs. Rhymenoceros"
4."Think About It"
5."Ladies of the World"
6. "Mutha'uckas"
7."The Prince of Parties"
8. "Leggy Blonde (feat. Rhys Darby)"
9."Robots"
10. "Boom"
11. "A Kiss Is Not a Contract"
12. "The Most Beautiful Girl (in the Room)"
13. "Business Time"
14. "Bowie"
15. "Au Revoir" - 0:22

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

:: da série PÃO QUENTINHO - discos de 2008 ::

THE VERVE - Forth
DOWNLOAD * * * * SAIBA MAIS



JAKOB DYLAN (do Wallflowers) - Seeing Things
DOWNLOAD * * * SAIBA MAIS



CONOR OBERST (do BRIGHT EYES) - Self-titled (80 MB)
DOWNLOAD * * * SAIBA MAIS



ESPERANZA SPALDING - Esperanza (93 MB)



CANSEI DE SER SEXY - Donkey
DOWNLOAD * * * SAIBA MAIS

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

:: Motormama ::

MOTORMAMA
(de Ribeirão Preto/SP)

Aê povo! Hoje destacamos uma das bandas mais bacanas do interior de São Paulo, nossos amigos do Motormama, que quebraram tudo num dos melhores shows do Groselha Fuzz do ano passado (longa matéria-gonzo sobre o festival AQUI). Postamos aí embaixo os 2 álbuns oficiais deles - "A Legítima Companhia Fantasma" e "Carne de Pescoço" - com permissão da banda. O Régis Martins, guitarra e voz, ainda nos concedeu uma !!!entrevista excrusiva!!! e topou participar do projeto "Sons de Estimação", mandando bem na seleção das 15 musiquetas que marcaram seu percurso musical. O texto abaixo saiu originalmente no midsummer madness.

O Motormama nasceu das cinzas do Motorcycle Mama, banda das primeiras gerações do independente brasileiro pós Juntatribo, contemporânea de Raimundos, Paulo Francis Vai Pro Céu, Maskavo Roots e tantas outras que pipocaram no cenário brasileiro no início dos anos 90, mantendo os radicalismos intrumentais e acrescentando português às letras. O MM adicionava country ao garage rock descendente de Man or Astroman?! que faziam, inserindo violas em letras sobre trekkers. O grupo chegou a participar em 1996 da coletânea Brasil Compacto (Rock It!). Deu em nada…

Do power trio original ficaram Régis Martins e Joca, que depois de uma parada estratégica, resolveram retomar os trabalhos no final de 1999. O som da nova empreitada, o Motormama, pode ser considerado um cruzamento entre Mutantes, Neil Young e altas doses de caipiragem e psicodelia. Um CD demo lançado em 2000 Mestiço Rock ‘n’Roll (mm55 midsummer madness) ganhou destaque na mídia especializada e foi relançado em 2001 pelo mm. Em 2002 a banda fez vários shows pelo país, como Belo Horizonte, Brasília e São Paulo, com destaque no festival Bananada de Goiânia.

Em 2003 a banda lançou o CD Carne de Pescoço com treze músicas. O disco, gravado entre 2001 e 2002 em Ribeirão Preto, foi lançado pelo selo da banda Kaskavel Musik e distribuído pelo midsummer madness.

Na ocasião do lançamento, a revista Zero escreveu: “Banda sensacional de Ribeirão Preto (SP), o Motormama não tem medo dos agrobóis e destila o fino do rock, com instrumental contundente e letras certeiras. (…) Logo na abertura “Adeus Maluco”, o vocal hipnotizante de Gisele Z. é matador, assim como o solo cortante de guitarra que pega de surpresa. As programações eletrônicas colocadas sob medida deixam a faixa ainda mais irresistível. Um teclado de churrascaria dita o ritmo em “Rota Caipira (Anhanguera Folk Song)” e uma guitarra contida e imersa em distorção aparece em “Cosmorama”. Destacam-se ainda a folk “Sujeito Honesto”, o bluegrass “Mercado de Pulgas”, o power pop de “Me enterrem em Assunción” e o rockabilly “Saliva Quente”. Dos infernos.”

Em 2006 o Motormama lança seu 2º disco, A Legítima Cia Fantasma, um lançamento conjunto da banda, do selo midsummer madness e do selo Pisces Records, de Bauru. Régis Martins (guitarra, violão e voz), Joca (baixo, programação e voz), Gustavo Acrani (teclados), Gisele Z. (vocais) e Ricardo Noryo (bateria) trazem mais 14 músicas unindo o country à la Stills, Nash & Young com a barulheira de um Pixies.

Em março de 2007 o tecladista Gustavo Acrani lançou um livro de bang-bang intitulado Bandida! para provar que o faoreste corre nas veias do Motormama.


* * * * *

ENTREVISTA EXCLUSIVA
por Bernardo Santana

- Apresente o Motormama pra quem nunca ouviu vocês.
Grupo representante do melhor rock psicodélico caipira já feito no país nascido em 1999 em Ribeirão Preto e com dois CDs gravados: “Carne de Pescoço” e “A Legítima Cia. Fantasma”. Além de dois Eps: “Mestiço” e “Rua Aurora”, este último lançado este ano de forma virtual.

- Agora reapresente o Motormama pra quem já ouviu no começo e perdeu contato com o som da banda.
Meus amigos, continuamos fiéis aos nossos princípios de fazer uma música autoral, divertida e 100% brazuca. Pobres, porém honestos.

- Quais suas influências hoje? Elas mudaram muito desde que começaram a tocar?
Nossas influências não mudam nunca. Gostamos de velharias como Beatles, Mutantes, Led Zeppelin, Odair José, Kraftwerk e Tião Carreiro. E os clássicos, vocês sabem, são eternos.

- O que é ser uma banda independente no interior?
É o equivalente a ser um leproso num baile de debutantes.

- O que mudou desde o tempo que vocês começaram no cenário independente?
É muito melhor ter uma banda hoje do que há dez anos por causa da internet e de várias ferramentas tecnológicas que facilitam o contato direto com o ouvinte. Mas o circuito independente de shows continua deficiente e volátil. São Paulo ainda é o centro de tudo e no interior a atividade de “produtor” é rara e amadora. Profissionalização já.

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DOWNLOADS:
(álbuns completos)

"A Legítima Companhia Fantasma" (57 MB)
http://www.mediafire.com/?zkzaypeujog

"Carne de Pescoço" (54 MB)
http://www.mediafire.com/?i5zuvbr05rn

site oficial *** myspace

sábado, 9 de agosto de 2008

:: PET SOUNDS PROJECT - III ::

SONS DE ESTIMAÇÃO - VOL 3

por RÉGIS MARTINS,
vocal e guitarra do MOTORMAMA


1 – Hank Willians – "Cold, Cold Heart". Um dos grandes mestres da música country americana.Influenciou todo mundo: de Elvis a White Stripes e era um tremendo cachaceiro

2 – Screaming Jay Hawkins – "I Put A Spell On You". Adoro este cara. Era uma mistura de Little Richard com Zé do Caixão. Esta música foi regravada pelo Creedence Clearwater Revival, mas esta versão original é demoníaca.

3 – Leadbelly – "Where Did You Sleep Last Night". Ouvi esta música pela primeira vez no acústico do Nirvana. Mas com todo respeito ao saudoso Kurt Cobain, a versão original é muito melhor.

4 – Bo Didley – "Hey, Bo Didley". Este também influenciou todo mundo. Inventou o rock tribal. Acho ele melhor que o Chuck Berry.

5 – Link Wray – "The Shadow Knows". Um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Diz a lenda que inventou a distorção ao furar um alto falante com um lápis. Genial.

6 – Them – "Please Don't Go". Esta música tem um dos maiores riffs de guitarra da história. E eu adoro a voz do Van Morrison.

7 – Demônios da Garoa – "Saudosa Maloca". Pra mim, Adoniran Barbosa é o maior sambista de todos os tempos e os Demônios foram os maiores intérpretes das músicas dele.

8 – Roberto Carlos – "Nasci para Chorar". Robertão no auge da Jovem Guarda. Nesta época ele ainda gritava, acreditem.

9 – Donovan – "The Season of the Witches". Donovan era o Bob Dylan psicodélico, o que já diz muito.

10 – Buffalo Springfield – "Broken Arrow". Primeira banda de Neil Young que, na minha opinião, inventou o tal “alt-country”

11 – Mutantes – "Genghis Kan". A banda que me fez escrever rock em português. O engraçado é que esta música é instrumental.

12 – Sá, Rodrix e Guarabira – "Mestre Jonas". Só ouvi falar de Sá e Guarabira quando era moleque por causa da novela “Roque Santeiro” e detestava aquilo. Mas então descobri que os caras já fizeram música decente muito antes.

13 – X – "Los Angeles". Minha banda punk predileta. O lance de unir os vocais masculinos e femininos foi uma grande influência para o Motormama.

14 – Patife Band – "Chapeuzinho Vermelho". Uma das grandes bandas do rock dos anos 80 no Brasil. Infelizmente nunca fez sucesso. Talvez porque era bom demais. Essa música é uma versão de um hit da Jovem Guarda.

15 – Fellini – "Zum Zazoeira". Outra banda injustiçada dos anos 80 que eu adoro. As letras malucas do Cadão Volpato me influenciaram muito. Foi graças ao Fellini que conheci Mutantes. Se não bastasse, o Chico Science adorava os caras.

DOWNLOAD (58 MB): http://www.mediafire.com/?s8gyiljwgyj

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

:: eleição ::

Findo o ciclo das melhores bolachinhas dos '60s, agora vamos à década seguinte: dentro em breve começa o COUNTDOWN com os melhores álbuns dos anos 70. Desta vez, o público Depredando terá direito de opinar: já está rolando aí no menu lateral direito (lá embaixão...) uma ENQUETE, onde vocês podem dar pitacos sobre quais são os mais fodásticos discos daquela década. Todo mundo pra urna! =)

p.s.: quem quiser votar em um disco que não está na lista, favor solicitar sua inclusão pelos comentários abaixo.

:: os 10 melhores dos anos 60... #01 ::

[01]

BOB DYLAN
"Highway 61 Revisited"

(1966)


por EDUARDO CARLI DE MORAES
Numa de suas frases mais famosas (e saborosas), Wittgenstein disse: “Revolucionário é quem consegue se auto-revolucionar”. Se o lema do filósofo for verdadeiro, Bob Dylan, entre os compositores de música popular do século 20, certamente merece a medalha incontestável de revolucionário. E foi justamente no meio dos anos 60 que ocorreu o rasgo, a ruptura, a mais radical reinvenção de si mesmo. Com o disco Bringing It All Back Home, em 1965, o jovem cantor-compositor, já cultuadíssimo pela juventude sessentista como um ícone da música de protesto e quase um porta-voz de sua geração, tinha rasgado sem dó a velha imagem que o mundo tinha feito de Bob Dylan e se recriado de um modo quase inédito na história da música popular americana.

Pois seus quatro primeiros álbuns estavam repletos de um folk puríssimo e destilado, fidelíssimo aos cânones do gênero, em que o cantor-compositor parecia ter o olhar mais voltado para o passado do que para a vanguarda. Bob Dylan, na primeira fase de sua carreira, tinha rapidamente se constituído como uma força política de respeito, que metia o dedo nas feridas sociais com suas canções de protesto e que compunha algumas das músicas mais evocativas do estado de espírito da América. Ele, um poeta cultíssimo e arrojado, parecia levar adiante o que artistas americanos como John Steinbeck, Walt Whitman e Woody Guthrie haviam começado.

O mundo começou a prestar atenção na obra do jovem Dylan quando saiu do forno The Freewheelin’, seu segundo álbum - quando o cantor tinha apenas 22 anos de idade. Na capa do álbum, Bob Dylan caminha ao lado de sua namorada pelas ruas do Greenwich Village, em Nova York, para onde havia se mudado no começo de 1961, intentando entrar na cena bôemia e musical efervescente que ali existia. Este é o primeiro dos clássicos da carreira de Dylan, símbolo supremo de sua fase marcada pelas canções de protesto e pela ênfase em temáticas sociais, como fica evidente pelo raivoso manifesto anti-belicista de “Masters of War” ou por seu primeiro hit de vasto sucesso junto ao público, “Blowin’ In The Wind” (depois regravada por Peter, Paul & Mary). Porém não faltam as baladas folk mais românticas, inclusive a lindíssima "Don't Think Twice (It's All Right)".

Lançado em 1963, The Freewheelin' foi o primeiro álbum de Dylan a produzir um impacto no cenário cultural, surgindo num momento histórico em o temor de uma hecatombe nuclear estava no ar dos tempos. Na época de extremo perigo que foi a Crise dos Mísseis de Cuba durante a Guerra Fria, quando a 3a Guerra Mundial parecia prestes a estourar, Dylan compôs músicas clássicas que são um retrato fiel do zeitgeist - como "A Hard Rain's A Gonna Fall".

Dotado de um virtuosismo poético poucas vezes antes vista num compositor, Dylan tornou-se um dos primeiros cantores populares a ter suas letras levadas a sério e consideradas como literatura de primeira qualidade - há até quem o julge um sério candidato a levar um Nobel de Literatura! Seguindo na trilha de cantores dos cantores de folk, blues e country que ele tanto admirava, ao mesmo tempo que se engajava em ebulições políticas do urgente presente, The Freewheelin’ teve um sucesso tão estrondoso e repentino que a partir do ano seguinte, 1964, Dylan estava fazendo 200 shows ao ano.

Os discos seguintes, The Times They Are A-Changin' e Another Side, tinham sedimentado seu status como um compositor que dava sequência ao legado de Woody Guthrie, Leadbelly e Hank Williams, engajado na luta social e defensor dos oprimidos e desapossados. Parecia que Bob Dylan estava destinado a permanecer por toda a sua carreira um solitário trovador, declamando sua poesia militante sobre o acompanhamento simples do violão e da harmônica. E era de se esperar que o jovem e progressivamente respeitado Dylan prosseguisse na mesma toada.

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Imaginem vocês a surpresa que foi para tantos milhares de fãs e críticos ao darem seu primeiro play em Bringing It All Back Home e descobrir, logo na primeira faixa, “Subterranean Homesick Blues”, a explosão das guitarras elétricas saindo dos amplificadores, a letra despirocada e surreal, composta num fluxo de consciência e cantada com uma pressa frenética, tudo com uma eletrizante banda de rock and roll fazendo um barulho da porra lá atrás... Em 2 minutos, o mundo ficava sabendo que tudo havia mudado e que uma revolução brusca havia sido instaurada na carreira de Bob Dylan. Ele havia abraçado o rock and roll, as drogas psicodélicas e a poesia lúdica e a-política. Que heresia!

Foi uma escolha polêmica, mas Bob nunca pôde ser acusado de ser pouco ousado. Muitos fãs que adoravam o Dylan cantor folk, aqueles que o veneravam como um visionário político e que tinham aprendido a aceitar o enfoque pessoal do seu trabalho durante o período de transição, ficaram pasmos com os instrumentos elétricos. Para a maioria dos seguidores das tradicionais músicas folclóricas e de protesto, o rock and roll ainda era considerado uma música simplista, romântica e voltada para adolescentes” – comenta Paul Friedlander em seu Rock and Roll – Uma História Social.

Houve quem se tenha levantado no meio de shows para, em altos brados, xingá-lo de Judas. Ele nem se importou e fez o singelo ato iconoclasta de pedir para sua banda tocar ainda mais alto e com maior selvageria. Seu “play it fucking loud!” para a The Band tornou-se emblemático dessa sua fase de rock star rebelado. Prova de que, no meio dos anos 60, Bob Dylan foi o primeiro punk revoltado e irreverente, o primeiro poeta beat a chefiar uma banda de rock (o próprio Allen Ginsberg caiu de amores...), o primeiro dos grandes iconoclastas da música pop.

Apesar da cisão de opiniões que a novidade causou, criando um grupo de puristas folk que odiou a reviravolta no som e na atitude dylanesca, e um outro grupo que viu com bons olhos o híbrido entre o rock e o folk que ele acabara de inventar, a História acabou por redimir Bob Dylan. Sua “Trilogia Elétrica” dos anos 60 acabou recebendo de quase todos os críticos de música um perfeito aval – Bringing’ It All Back Home, Highway 61 Revisited e Blonde On Blonde viraram três clássicos olhados com um respeito quase unânime por todos os entendidos. Martin Scorsese, recentemente, esmiuçou em mais de 3 horas e meia de documentário essa espetacular história de Dylan nos 60, deixando para a posteridade esse riquíssimo documento que é o No Direction Home.

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Que Bob Dylan é o nome mais importante da música popular mundial nos anos 60 pode soar como uma afirmação exagerada, mas os próprios Beatles e Rolling Stones reconheciam a excelência da obra dylanesca e pareciam olhar para cima quando falavam de Bob - como se contemplassem um modelo, um ícone, um semi-deus. Não é nada absurdo, portanto, colocar nele a coroa de figura mais emblemática daquela década ímpar. E é dele, também, o álbum mais completo, genial e rico daquela era tão pródiga em obras-primas. Mas qual escolher, entre tantos álbuns brilhantes?

Highway 61 Revisited talvez seja a melhor pedida: é o álbum que consolida o som elétrico que havia sido apresentado ao mundo em Bringing It All Back Home, representando o ápice da fase folk-rock de Dylan. O disco já abre com “Like a Rolling Stone”, uma das maiores canções da história do rock e a mais imortal composição de Dylan, reconhecida à primeira audição até pelos leigos que nunca ouviram nenhum de seus discos. O clichê "dispensa apresentações" se aplica perfeitamente a esse hino amargo e vingativo que Dylan cravou na cultura pop como uma faca. Quatro décadas de vida não tiraram um pingo do poder e do frescor dessa obra-prima.

O álbum traz ainda como destaques a poesia extremamente ousada de "Ballad Of A Thin Man", que parecia uma mistura de arte dadaísta e surrealista realizada por um cara que parecia estar tomando drogas em excesso - mas as drogas certas. Na faixa-título, Dylan zoava legal com parábolas bíblicas e fazia o próprio Bom Deus falar como se fosse um gângster, ao se dirigir a Abrãao ("Next time you see me comin' you'd better run!"). Já na longa faixa de despedida, "Desolation Row", uma narrativa repleta de referências e minúcias cria uma das geringonças poéticas mais inebriantes que um compositor já conseguiu cometer.

Highway 61 Revisited é um imenso mosaico de referências, alusões e conexões. Como uma gigantesca árvore, daquelas que parecem imortais, dotada não só tem uma complexíssima gama de raízes no subsolo, mas também de centenas de galhos que se espalham nas alturas. Há por aqui miríades de referências literárias (T.S. Eliot, Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald...), cinematográficas (Cecil B. De Mille, Bette Davis...), musicais (Beethoven, Bo Didley...), sem falar em vários personagens famosos do imaginário popular (Cinderela, Jack o Estripador, Casanova, Robin Hood, o Corcunda-de-Notre-Dame de Victor Hugo, a Ofélia de Shakespeare...).
Tudo isso faz esse álbum ser o lugar onde o maior gênio dos anos 60 atinge o ápice. E até hoje ouvimos Highway 61 pasmos de encontrar uma obra-de-arte com uma riqueza musical, lírica, poética e iconoclástica que parece inesgotável.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

:: da série PÃO QUENTINHO - discos de 2008 BRASIL ::

Aê galera! Aí vão alguns dos mais importantes lançamentos do rock brazuca neste ano de 2008. Depredando recomenda entusiasticamente o novo Curumin (que fez um show fodástico no SESC Av Paulista dias atrás, deliciando o público com um groove-da-porra, de chaqualhar o esqueleto) e o debut do Macaco Bong, um dos melhores álbuns de rock instrumental já lançados no Brasil. O Cansei de Ser Sexy fica pra próxima leva de pães quentinhos...

CURUMIN, Japan Pop Show
http://www.mediafire.com/?ehhw7m2xdd2

por Rômulo Fróes, cantor e compositor.
texto na íntegra disponível no Música Social


“Japan Pop Show”, programa de TV exibido nas manhãs de domingo nos anos de 1980, era um karaokê produzido e protagonizado por imigrantes japoneses e seus descendentes no Brasil. Curumin, neto de japoneses e nesta época ainda criança, se encantava com as performances um tanto cômicas dos anônimos candidatos a cantores de sucesso. (...) “Japan Pop Show” é o nome do segundo disco de Curumin e se o título faz referência à sua descendência, o som do disco traz no seu DNA, o que já conhecíamos de “Achados e Perdidos”, primeiro álbum de Curumin, uma profusão de ritmos e influências, com matriz fundamentalmente na música negra. Mas há muito mais caldo nesse mocotó."

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"...uma estranha e interessante junção de engajamento e diversão. Em canções dançantes, impossível de serem ouvidas sem se mexer, Curumin manda textos contundentes, encharcados de indignação, sobre temas que acredita que precisam ser discutidos. Sob camadas de grooves arrasadores, a agressão ao meio ambiente, a ganância humana, a má distribuição de renda, a corrupção, tudo o que lhe perturba é dito nestas canções. Ainda que o som poderoso de Curumin nos quer balançando as cadeiras, não quer que nossas cabeças parem de funcionar..."

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Japan Pop Show” é lançado no ano em que se comemoram cem anos da imigração japonesa no Brasil, uma feliz coincidência que nos leva a pensar sobre quanta riqueza provocou nossa miscigenacão, e no caso de nossa música, o quanto essa característica a tornou numa das mais reconhecidas no mundo. No disco de Curumin, essa miscigenação é levada a outro patamar. O brasileiro, nascido na cosmopolita e globalizada São Paulo, o baterista profundamente influenciado por nossas raízes africanas, reencontra seus antepassados vindos do oriente, de uma cultura tão diferente da nossa e de uma música diametralmente oposta, se relaciona com tudo isto à sua maneira, antenado com o modo de produção atual, com a tecnologia existente nestes primeiros anos do século XXI e cria uma nova coisa, a sua música. É curioso, que mesmo depois de todas estas transformações, podemos ainda chamá-la: Música Brasileira. Se a vaga de síndico do condomínio Brasil ainda está vaga, Curumin, eis aqui um forte candidato. Tenho certeza que mestre Tim Maia aprovaria a indicação."

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SEYCHELLES, NanaNenen
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por EDGARD SCANDURRA,
guitarrista do IRA!

Já faz muito tempo que venho sonhando com o surgimento de uma banda que não trouxesse em seus planos a mediocridade apelativa na busca pelo sucesso fácil. Acho que meu sonho se realizou…

Não vejo no Seychelles, de jeito nenhum, as famigeradas mãozinhas para cima, os gritos de “aí, gente!” e outras atitudes que me afastam cada vez mais do que as rádios insistem em chamar de pop-rock. Ao ouvir o álbum nananenen, um público com certa inteligência e inapto às armadilhas populistas (que reúnem rock, axé, pagode e sertanejo no mesmo saco de gatos, feitos sob encomenda aos jabás, shows de rádio e especiais de TV) descobrirá uma intensa fonte de criatividade e personalidade.

Logo na primeira faixa, “Funcionário Padrão”, ouvimos um ótimo rock com belos overdrives da guitarra perfeita, mas nunca exibicionista, de Fernando Coelho, a voz de Gustavo Garde com um delicioso sotaque paulistano a lá anos 70 e afinação perfeita, o baixo extremamente atuante, autêntico e corajoso de Renato Cortez e a bateria de Paulo Chapolin, que às vezes simplesmente conduz, mas às vezes também se expressa como um instrumento de frente, como se os tambores cantassem ou solassem.

Todos esses elementos estão integrados a partir de um sutil senso de humor e uma narrativa apurada. Em sua composição “No caminho de Shangri-la”, Gustavo cria uma interessante harmonia entre rock e língua portuguesa, tarefa nada fácil. As letras também chamam a atenção – que bom uma banda de jovens nos levar ao dicionário para descobrir o significado de palavras como tégula, diáspora e outras.

Já a canção “Poperô “, pulsante em um belíssimo 4×4, mostra o que a música eletrônica trouxe de volta ao rock: a característica de ser dançante. Aqui, o baixo passeia como um sintetizador subvertendo as intenções. É um dos momentos do disco em que a música realmente “dá barato”.

Para finalizar, amarrando todas as outras faixas, o Seychelles traz em nananenen algo de retrô, quase inconsciente, que ajuda a manter acesa a chama metropolitana, urbana e underground do rock.

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MACACO BONG, Artista Igual Pedreiro
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Por Hugo Montarroyos, da Revista O Grito!
texto na íntegra disponível aqui

"Uma hora e sete minutos de trabalho braçal. De demolição de pedras. Mas também de uma certa delicadeza em meio à brutalidade. Em Artista Igual Pedreiro, álbum de estréia do trio cuiabano Macaco Bong, eles carregam e destroem tijolos da mesma forma que lapidam algumas pedras raras. É um trabalho impregnado de detalhes, prova de que a música instrumental (ao contrário do que julga o senso comum) não é um terreno tedioso e limitado. (...)

Artista Igual Pedreiro não é um disco fácil. Apesar da maçaroca sonora que promovem nos poucos mais de três minutos de “Shifit” indicar que estamos diante de um álbum de metal, é bom saber que o trio jamais entrega o jogo fácil. De metal passa para uma espécie de punk mais elaborado. Depois para camadas de jazz, e logo em seguida um quê de surf music. Até não termos mais noção de onde estamos e o que ouvimos exatamente. Não é exagero, de agora em diante, usar o termo “Macaco Bong” para designar uma obra de difícil rotulação. Ou seja, eles conseguiram o que muitos artistas buscam em vão: fogem de todos os rótulos e imprimem uma marca personalíssima.

"...a estratégia de lançar o disco gratuitamente pela Trama Virtual, através do projeto Álbum Virtual foi mais do que acertada. Artista Igual Pedreiro é daquelas obras que, esteticamente, estão bem distante do diálogo popular e do consumo fácil. É uma jornada de mais de uma hora pelos caminhos obscuros da música instrumental, pouco acessível e de concessão zero para o ouvinte. Este é exigido na audição de cada segundo, instigado, provocado, e por vezes levado até à vontade de desligar o som e contemplar o silêncio. Mas, por algum mistério da natureza musical do trio, acaba não o fazendo."

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ROCK ROCKET, idem
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Mais porradas em favor de um roquenrou mais alcóolatra e inconsequente.

sábado, 2 de agosto de 2008

'Tamos com comuna no Orkut, entrem lá!

:: SONS DE ESTIMAÇÃO - Vol 2 ::


:: SONS DE ESTIMAÇÃO, Vol. 2. ::
por NICK HORNBY

Um convidado ilustríssimo dá as caras e os tímpanos hoje no Depredando! Ele mesmo, Nick Hornby, amigo íntimo deste blog (que é famoso em todo Reino Unido e mais lido que a NME). Hornby, o autor do crássico da literatura pop Alta Fidelidade, é a estrela do dia em nosso firmamento e compartilha convosco seus sons de estimação!

Nada mais justo do que fazer o cara figurar no início deste Projeto Depredístico de Listinhas, já que ele é incontestavelmente um dos maiores responsáveis por esta mania de listar álbuns, músicas e artistas queridos. Ao ter criado, com Rob Flemming e seus amigos, verdadeiros aficionados por esta arte, Hornby foi um dos que espalhou a febre mundo afora.

Alguns anos atrás, seguindo no rastro do sucesso de sua pérola de literatura pop (depois adaptada pro cinema com competência e boas performances de John Cusack e Jack Black), Hornby fez um livro inteiro que era uma grande lista de musiquetas por ele adoradas. 31 Songs trazia comentários do escritor sobre esse punhado de canções que ele considerava as mais significativas de sua vida - e são estas pepitas que agora compartilhamos com vocês aqui, no 2º Volume da série Sons de Estimação. Para mais detalhes sobre os porquês emocionais dessas escolhas, já sabem: corram pra livraria!


01 - teenage fanclub - your love is the place where i come from (3:27)
02 - bruce springsteen - thunder road (4:48)
03 - nelly furtado - im like a bird (4:06)
04 - led zeppelin - heartbreaker (5:16)
05 - rufus wainwright - one man guy (3:30)
06 - santana - samba pa ti (4:32)
07 - rod stewart - mama you been on my mind (4:27)
08 - bob dylan - can you please crawl out your window (3:34)
09 - the beatles - rain (3:02)
10 - ani difranco - you had time (5:48)
11 - aimee mann - i've had it (4:42)
12 - paul westerberg - born for me (4:01)
13 - suicide - frankie teardrop (10:26)
14 - teenage fanclub-aint that enough (3:44)
15 - the j. geils band - first i look at the purse (4:08)
16 - ben folds five - smoke (4:52)
17 - badly drawn boy - a minor incident (3:44)
18 - the bible - glorybound (4:10)
19 - van morrison - caravan (5:02)
20 - butch hancock & marce lacouture - so i'll run (3:46)
21 - gregory isaacs - puff the magic dragon (2:39)
22 - ian dury + the blockheads - reasons to be cheerful, pt. 3 (4:46)
23 - richard and linda thompson - the calvary cross (3:53)
24 - jackson browne - late for the sky (5:41)
25 - mark mulcahy - hey self defeater (4:21)
26 - the velvelettes - needle in a haystack (2:30)
27 - o.v. wright - let's straighten it out (3:43)
28 - röyksopp - royksopp's night out (7:30)
29 - frontier psychiatrist [radio edit]-the avalanches (4:50)
30 - soulwax - push it - no fun (2:19)
31 - patti smith - pissing in a river (4:51)

DOWNLOAD (31 arquivos WMA, 65 MB, 2h18min):
http://www.mediafire.com/?vmgkcqagwqz

:: sacando qualé a do... DUB ::

:: 5 CLÁSSICOS PARA VOCÊ ENTENDER O DUB ::

- conheça a vertente psicodélica do reggae, na qual a base rítmica é reforçada e camadas e mais camadas de efeitos completam a viagem -


O Ministério da Saúde não adverte, mas deveria: ouvir muito dub causa desorientação total e absoluta na mente. O impacto é tanto que periga fazer com que você, chapadíssimo, tenha vontade de ligar para uma Nasa imaginária e dizer: "Kingston, nós temos um problema". A vertente psicodélica do reggae é assim: faz com que qualquer um se sinta perdido no espaço. A culpa é de alguns cientistas loucos disfarçados de engenheiros de som e produtores, pioneiros como King Tubby, Coxsone Dodd, Lee Perry e Prince Jammy, entre outros, que pegaram uma tradição jamaicana - o lado B de um compacto quase sempre vinha com a versão instrumental da música, para que o público ou o MC pudesse cantar por cima - e viajaram até onde homem algum jamais tinha estado. Usando o estúdio como um instrumento e geralmente contando com a ajuda de uma certa fumaça mágica, eles começaram a subverter a ordem natural das músicas, reforçando a base rítmica (baixo e bateria) e tirando e botando as partes consideradas secundárias (teclados, guitarras etc.) ao seu bel-prazer. A isso, acrescentaram um arsenal de efeitos (principalmente ecos), que só fez aumentar o aspecto hipnótico desse som. Nasceu assim o dub, que acabou se tornando um dos subgêneros mais populares do reggae, um som tão viajante que acabou indo parar muito além da Jamaica, influenciando boa parte da música pop e, principalmente, a cultura dance. Afinal, foi graças aos experimentos dub que surgiram os remixes, tão populares hoje em dia. Para não se perder no universo em movimento do estilo, é bom você se guiar por alguns discos fundamentais. E encará-los como estrelas que brilham e desaparecem num céu... Ops, Kingston, nós continuamos com problemas.

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LEE 'SCRATCH' PERRY, Arkology (1997) - BOX de 3 CDs :: Caixa com 3 CDs que traz a obra de Lee 'Scratch' Perry, o Dalí do dub reggae, capaz de botar tintas surreais em qualquer ritmo, usando sons como sirentes, gritos de elefantes e barulho de tiros. Mas seu estilo não se limitava a isso. No estúdio Black Ark, ele explorou cada detalhe do universo minimalista do dub, dando cores novas ao trabalho de gente como The Wailers, Heptones, Max Romeo, Junior Murvin e muitos outros - além de fazer seu nome como um dos visionários que descobriu que o estúdio podia ser um instumento. Só que um dia, num acesso de loucura, Perry botou fogo no Black Ark, queimando tudo até a última ponta. Seu trabalho, porém, não virou cinza e até hoje é cultuado: os Beastie Boys fizeram uma edição especial de sua revista, Grand Royal, dedicada a ele. -- DOWNLOAD: DISCO 1 - http://tinyurl.com/6a8dra, DISCO 2 - http://tinyurl.com/67onom, DISCO 3 - http://tinyurl.com/58b567.

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BURNING SPEAR, Marcus Garvey + Garvey's Ghost (1975) - Garvey's Ghost é o lado escuro e enfumaçado do disco Marcus Garvey, lançado em 1975 pelo Burning Spear, um dos mais respeitados nomes do reggae. Nele, o discurso místico e militante do original - que sempre marcou ou trabalho do artista - é substituído por camadas de efeito, cortesia do produtor Jack Ruby. O sucesso de Garvey's Ghost foi tanto que ele passou a ser mais cultuado (e muitas vezes mais vendido) do que o próprio Marcus Garvey. Um feito, pois, ao lado de Catch a Fire (dos Wailers), este foi um dos discos que marcaram a história do reggae por serem álbuns completos, concebidos assim por um mesmo artista, e não um punhado de singles reunidos por razões comerciais. Há uma versão em CD que reúne os dois discos. Ou seja, imperdível. -- DOWNLOADS: Marcus Garvey (http://tinyurl.com/5qpb7x) e Garvey's Ghost (http://tinyurl.com/62pjz4).

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ASWAD, Hulet (1979) - O mais completo grupo de reggae de todos os tempos, o inglês Aswad flexiona os músculos neste disco que não é exclusivamente de dub (como A New Chapter Of Dub, outro monumento especial da sua discografia), mas que usa as sutilezas e ambiências do estilo para criar uma obra de inspiração soul. Quando Hulet foi lançado, o Aswad não tinha o formato que o consagrou - o trio Brinsley Forde, Drummie Zeb e Tony Gad - e ainda era um quinteto, completado pelo baixista Ras Lev e o guitarrista Donald Benjamin. A qualidade da assinatura Aswad, porém, é mantida de qualquer forma. O disco é uma ponte imaginária ligando Londres, Kingston e Detroit, terra da Motown e da soul music. Ouça a bela "Can't Walk The Streets" e confirme: Hulet é uma obra-prima do dub melódico. Show! - DOWNLOAD: http://tinyurl.com/5qey6m.

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AUGUSTUS PABLO, King Tubby Meets Rockers Uptown (1976) - Um clássico, por tudo e por todos. Pela banda, formada por Robbie Shakespeare, China Smith e Aston 'Family Man' Barret; pela mixagem mágica do mestre King Tubby, um dos pais do dub; e, claro, pelo órgão e timbre encantador da melócida (um teclado tocado por sopro) do genial rasta Augustus Pablo, falecido recentemente. Para sentir o poder do tirmo junto à massa jamaicana: a música que abre o disco, "Baby I Love You So", virou hit e superou o original de Jacob Miller, que tinha vocais e formato "normais". Lento como os movimentos numa noite de verão e sedutor como um sonho bom, este disco é peça fundamental em qualquer discoteca dub. - DOWNLOAD: http://tinyurl.com/5oyn9c.

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MASSIVE ATTACK VS. MAD PROFESSOR, No Protection (1995) - Sempre foi nítida a influência do dub no som chapante do Massive Attack e no trip-hop em geral - basta ouvir o que fazem Portishead e Tricky. Mas em No Protection, o grupo de Bristol leva tudo às últimas consequências, graças à dobradinha com Mad Professor, craque do dub feito na Inglaterra. No disco, o "Professor" vira ao avesso as músicas de Protection, o segundo trabalho do Massive Attack, que se transforma num rolo compressor de efeitos que, ei, não estavam aqui antes. Para completar a festa, ainda há os vocais de Tricky, Nicollete, Horace Andy e Tracey Horn (do Everything But The Girl) flutuando por toda a parte e que servem para lembrar como eram as canções originais. - DOWNLOAD: http://tinyurl.com/58dtf4


(por CARLOS ALBUQUERQUE, na Showbizz de julho de 2000)