"O húngaro é a única língua que o diabo respeita."
CHICO BUARQUE DE HOLLANDA
A Hungria é punk. Pelo menos é com essa impressão que fiquei depois de ler no romance de Chico as desventuras do ghostwriter pelos pubs podreira de Budapeste. Lá, junkies brincam de roleta russa com revólveres realmente carregados, enquanto tomam homéricos porres de vermute ouvindo grindcore... Se Costa não encontrasse em Kriska seu anjo salvador, que teria sido dele? Mais um corpo boiando no Danúbio?
O fato é que eu nunca imaginei que um dia eu veria um psychobilly húngaro num pub goiano (maravilhas da globalização!) numa noite digna de encerrar uma Mostra Trash ou Zombie Walk. Vindos direto de Budapeste, a maior cidade da Hungria e a sexta maior metrópole União Européia, o power-trio The Silver Shine, em sua primeira turnê pelo Brasil, desembarcou no Bolshoi Pub para nos dar uma pitada da efervescente "cena" rockabilly do país de Pulitzer, Lúkacs e Bela Lugosi.
O guitarrista Ati Edge (leia-se "At The Edge"), com jaquetona do Motörhead, bordada também com o mote "kick-ass psychobilly", já chegou arregaçando quando revelou sua proveniência: com voz de Lemmy Kilmister, berrou "from motherfuckin' Budapest, Huuungary!" E aí começou o esporro. Empolgados e à vontade frente a um público benevolente, os caras brindaram Goiânia com uma madrugada de quinta-feira bem horrorshow (para usar um termo caro a Alex e seus drugues).
Não se nota no Silver Shine nada muito retrô: não é o tipo de banda que presta tributo escancarado a Jerry Lee Lewis, Chuck Berry ou ao jovem Elvis em ritmo acelerado. Me soou mais como uma cruza entre Cramps e X, com destaque para a bela baixista (e eventual vocalista) Krista Kat, que estapeou seu belo baixo acústico como se ele fosse um pivete peralta e esbanjou simpatia.
O Silver Shine tocou desencanado como se estivesse numa festa de lançamento de um filme de Ed Wood. Ati Edge foi até passear com sua guitarra no meio do público em uma das músicas, enquanto a ruiva húngara e o batera Furo (que só num "furou" um de seus tambores por sorte...) seguravam o groove. Duas covers "pop" relidas em ritmo psycho ajudaram a empolgar e fazer pogar o povo: "Tainted Love" (Soft Cell) e "Are You Gonna Be My Girl" (Jet). O show acabou, e nada de frescura: ao invés de ir pro backstage, os caras ficaram zanzando ali pelo Bolshoi. Ati Edge vendendo discos, camisetas e tentando conversar com o público num inglês macarrônico; e Krista ouvindo alguns xavecos-tosqueira de caras que tinham bebido demais (e faltado demais nas aulas do CCAA).
A abertura ficou a cargo do Graboids, uma espécie de Misfits sertanoise extremamente tosqueira. Devidamente fantasiados de zumbi e tocando um esporrento psychobilly de filme-B, que ficaria bem como trilha dum curta de Peter Baiesdorf, os caras ajudaram a preparar o terreno para uma verdadeira Noite Dos Mortos Vivos. Eles se dizem influenciados por bandas que eu nunca ouvi falar, mas cujos simpáticos nomes já apontam quais as preferências destes malucos: Frantic Flintstones, Batmobile, Coffin Nails, Os Catalépticos. Me deu a impressão de uma banda formada por caras cuja formação intelectual principal consiste em filmes de sangueira e mulher pelada e que gostam só de bandas de rock dignas de figurarem em filmes de serial killer e outras matanças.
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Os caras do Silver Shine tocam ainda na 16ª Psychobilly Fest, em Curitiba (PR), festival que ocorre desde 1996, e nas seguintes cidades:
- São Paulo (SP): 14/10, no C.B.
- Piracicaba (SP): 15/10, no Madhouse Bar
- Londrina (PR): 16/10, no Demo Sul Fest
- Marília (SP): 17/10, no Cao Perere Bar
----- myspace - entrevista ----
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Um comentário:
Thanks :)
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