quarta-feira, 13 de outubro de 2010

<<< S.W.U. (parte II) >>>


WHERE IS MY MIND?
por Ana Alice Gallo

Foi mais por uma questão monetária que estratégica, mas foi bom não ter ido ao segundo dia do evento – e quem me acompanha aqui há tempos sabe como sou fascinada pela voz de Joss Stone e pelo pop fusion da Dave Matthews Band. Mas recompor o organismo foi fundamental pra que suportássemos o dia 3. A mochila, que no primeiro dia foi leve em termos de comida, ganhou reforço de lanches e bolachas pra evitarmos a praça de alimentação do local; e nem mesmo as duas revistas a que ela foi submetida foi capaz de retirar um pacote de Trakinas e dois sandubas de salame da bolsa dessa farofeira que vos fala.

Chegamos cedo a ponto de ouvir uma das primeiras bandas, o Gloria, tocar enquanto fazíamos a costumeira diáspora até o local. “Anemia” tinha acabado de ser anunciada quando nos deparamos com um aglomerado gigante de pessoas na entrada. Decidiram reforçar as revistas e, por isso, perdemos das 15h40 às 17h20 para ENTRAR no local. Nada andava, nada se movia, a não ser pacotes de bolacha e bandejas de comida que, barradas na revista, eram atiradas pra trás e pro alto – e retribuídas com comida que voava dos fundos da fila pra frente. Quem pegasse o pacote de bolacha no ar era saudado com palmas.


Conseguimos ver metade do divertido show dos Autoramas, com guitarra absolutamente no talo e uma platéia em delírio, com direito a dancinha do batera Bacalhau e o animado frontman Gabriel. Assisti calmamente sentada na minha digna canga de Porto Seguro ao Cavalera Conspiracy, que não foi capaz de me emocionar nem mesmo com “Attitude” ou “Roots Bloody Roots”. O som da bateria embolado não dava margem para a metralhadora que saía dos pés de Iggor, e Max não alcança mais os agudos. Surpreendi-me mesmo com o Avenged Sevenfold, com uma apresentação de responsa e o batera Mike Portnoy que não nos faz sentir saudade do Dream Theater.

Creio que essa apresentação tirou o A7X, como é carinhosamente chamado pelo gigantesco fã-clube que tem, do mundo dos iniciados para a grande massa metaleira do Brasil. A definição “metal melódico” usada por muitos jornais pode ter assustado a princípio alguns camisas pretas que, se forem espertos, depois desse show vão correr atrás da banda. Mais espertos, espero, que uma garota que se aproximou da gente perguntando quem era.

- Aven o quê?

-Avenged Sevenfold.

(cara de interrogação)

-Nossa, nunca ouvi falar.

Dessa vez, deu tempo até de ir ao banheiro – e, pasmem, ele estava limpo, e tinha papel higiênico.

O Incubus novamente serviu de estratégia para esperar pelo Queens. Espera gigante, amassada, de mais de uma hora. Mas bem recompensada. É, Josh Homme, fazia muito tempo mesmo, não? De cara, fomos presenteados com as faixas iniciais do antológico “Rated R”: “Feel Good Hit of the Summer” e “The Lost Art of Keeping a Secret”. E lá se foram petardos ladeira abaixo: “Sick Sick Sick”, “I think I Lost my Headache”, “Go With the Flow”, “No One Knows”, “A Song for the Dead”. Alguns enlouqueciam; outros gritavam “essa eu sei”. Guitarra impecável, banda escaldada, baixo e batera com caldo de sobra. Se não era uma platéia dominada, tornou-se uma platéia rendida.


E não sobrou tempo pra respirar. Sem perder um segundo, o Pixies iniciou o show em seguida com “Bone Machine”. Dessa vez, com o palco à esquerda (Água), foi possível se afastar e ver o show pela lateral. Tinha gente até em cima de árvore. O clima, no entanto, estava mais para “festa do Peão de Itu”, com muita gente circulando, sem saber direito o que fazer. “Wave of Mutilation” comia solta e a ala dos fundos do SWU parecia estranhar nós, que dançávamos e cantávamos ao som dos tiozinhos, e de uma Kim Deal morena e bem fofinha, com cara de parente distante. Não faltaram “Debaser”, “Monkey Gone to Heaven”, “Here Comes Your Man”, “Allison” e todos os outros biscoitos que o Pixies reservou para os fãs de meia-idade. Uma emocionada “Where is my Mind”, já no bis, foi cantada pelas bocas esfumaçadas pelo vento frio e os menos de 10 graus.

“O Linkin Park já cantou?”, perguntava o tio do estacionamento. Não, eles estavam apenas começando. “Vocês não gostam de Linkin Park, é?”, questionava o bom senhor.

Eu queria, com todo respeito, que Mike Shinoda e seus amigos fossem pra qualquer lugar do mundo àquela altura. Eu estava indo embora daquilo pra sempre, sem trânsito, e isso era a única coisa que importava naquele momento.




* Ana Alice Gallo é jornalista rata-de-palco, escreve no Credencial Tosca e é mó truta do Depredas (valeu ae por liberar a crônica para republicação por aqui, Ana!) Ela também toca bateria na banda paulistana Milhouse, que sobe ao palco do Hangar 110 nesta Sexta (15/10, 19h, R$10) no Festival Zona Punk Teenage Riot. Colem lá!

4 comentários:

Anônimo disse...

Não sei se eu tive muito sorte ou o quê. Vi o caos do show do Rage na TV na 6a e li que tava super desorganizado o local.

Fui preparado (com o dinheiro vivo certinho que pretendia gastar lá e almoçado), com o busão do Anhembi e mais 8 pessoas (9 no total).

Nossa entrada na fazenda foi tranquila (chegamos lá +- 14h e pouco e entramos todos em +- 10 minutos). Até meu amigo que tava de mochila entrou rápido. Não encontrei fila pra comprar ficha e sempre que peguei comida e bebida fui atendido rápido.

Os banheiros tavam foda e os lugares eram longe. Mas o lugar era enorme inhe ta muita gente. Até imaginei que o banheiro estaria pior. Lógico que nossas amigas falaram que o banheiro feminino tava mais foda (fila grande, sem papel, etc). Achei que a distância foi boa pra não amontoar a galera toda em um local só.

Queria ver Yo La Tengo, Queens e Pixies. Yo La Tengo vi de perto, Queens não (mas achei melhor ver de longe mesmo) e Pixies de perto.

Vi e ainda vejo muita gente reclamando. Eu fui e voltei (com mais 8 pessoas e ninguém sumiu) de boa, como tinha planejado. Não encontramos zica nem confusão. A reclamação seria os preços (tanto do ingresso quanto das comidas/bebidas) e o atraso do Queens com a pane dos telões.

Do resto curti bastante. Eu do razão pra quem pagou uma grana e só sofreu lá. Mas me parece estranho pq pra mim o negócio foi muito diferente.

Anônimo disse...

É Anna acho q vc tá velha pra festivais, ou sei lá...
Fui numa turma de 6 amigos, de van, a nossa entrada foi tranquila, apesar de estarmos com mochilas e tudo mais pra revistar.
Não vi nenhuma confusão, brigas...
O preço dos ingressos são altos mesmo, mas se tá dificil vender CD's, é nos show que a indústria da música e os artistas vão ganhar, o Depredando que o diga né ?
Quanto ao cambistas isso não é um mérito apenas do festival SWU, em qqlr show, jogo de futebol ele estão lá, seria ótimo mudar o brasil e a cabecinha de alguns brasileiros qto á isso.
Vi mtos tiozinhos se acabando no show do Pixies recheado de hits, mas a banda já não tem AQUELA empolgação, enfim a banda não era nenhuma grande novidade lá.
Em festival tem pessoas de gosto musical mto variado, e é lógico q nemt todo mundo conhecia Pixies, da mesma forma que eu não conhecia algumas atrações.
Em outras palavras, vc reclamou, reclamou, mas o único ponto negativo da noite foram os problemas técnicos no show do QOTSA e NEM assim o Josh Homme decepcionou.

Anônimo disse...

Bem, eu discordo sobre o preço do ingresso. O preço tava caro. Eu paguei 110 reais mais ou menos (meia comum + taxa de conveniência) que para mim não foi pesado, mas quem pagou inteira ou VIP (que não deveria ter) merecia uma estrutura muito melhor do que aquela.

Eu encarei o festival como uma experiência mesmo. Tentar fazer dar certo. Mas para isso, ou os preços deveriam ser diferentes ou eles tinham que ter planejado tudo com mais cuidado.

Como disse, eu me dei bem (e sei que outras pessoas também), mas a quantidade de reclamações é muito grande para achar que é tudo má vontade de quem reclama.

Não reclamo da comida porque já tinha lido que a comida tava foda (apesar de ter lido que havia algumas barracas em que a comida era boa) e fui almoçado. Peguei uns pedaços de lanches/pizzas de amigos meus. Mas acho que as praças de alimentação deveriam ser repensadas.

Ana Alice disse...

Anônimos (rs), também encarei o festival como uma experiência. E exatamente por ser grande e diferente de tudo o que vivenciamos em outros shows que acho que cada um vai ter uma história completamente diferente pra contar. Daí também a pluralidade de versões nos veículos de comunicação, e por isso também decidi contar a minha versão. Eu trabalho com eventos, frequento shows dos mais diferentes tipos e sou uma grande fã de festivais. Os shows do Rage e do Queens foram pra mim inesquecíveis, mas nem por isso deixei de passar por problemas que podem, sim, melhorar e muito a experiência de quem decide se aventurar (e há que ter espírito de aventura, sim, mesmo com toda a estrutura possível) como todos nós fizemos. Valeu por dividirem as histórias de vocês aqui no Depredas :)