sábado, 30 de janeiro de 2010

:: Perucas Afegãs? ::


:: AFGHAN WHIGS ::
"1965"

"Evolving from a garage punk band in the vein of the Replacements, Dinosaur Jr, and Mudhoney to a literate, pretentious, soul-inflected post-punk quartet, the Afghan Whigs were one of the most critically acclaimed alternative bands of the early '90s. Although the band never broke into the mainstream, they developed a dedicated cult following, primarily because of lead singer/songwriter Greg Dulli's tortured, angst-ridden tales of broken relationships and self-loathing. The Afghan Whigs were one of the few alternative bands around in the late '90s to acknowledge R&B, attempting to create a fusion of soul and post-punk." -- ALL MUSIC GUIDE

Unindo o sinistro som de Seattle com o sabor sexy do soul sessentista, o Afghan Whigs criou neste 1965 (seu magnum opus) um dos álbuns mais luxuriantes a surgir na 2a metade dos anos 90. Ainda subestimado e menos cultuado do que merecia, 1965 é como uma atormentada viagem noctívaga, uma one-night-stand bêbada repleta de delícias e de traumas, meio Irreversível e meio Boogie Nights. É um disco tão libidinoso que daria pra dizer que inaugura um novo sub-estilo: o grunge pornô.


Apesar de ser uma legítima e barulhenta banda de rock'n'roll noventista, que integrou o cast da Sub Pop no ápice do selo, lançando o petardo Congregation (91) em meio à efervescência grunge, os Whigs eram também uma banda amante da soul music. Volta e meia faziam a gracinha de gravar um hit das Supremes ou tocar um clássico da Motown num show --- claro que em volume ensurdecedor. Greg Dulli, o vocalista e principal compositor, queria cantar como Al Green, Sam Cooke, Otis Redding ou Jimi Hendrix, mas ao mesmo tempo não temia assumir a gravidade dum Lanegan ou a fúria dum Cobain.

Já era 1998 quando saiu 1965 e a poeira do grunge já começava a baixar. Como o astronauta da capa do disco, o Afghan Whigs parece com um quarteto de soulmen que foi posto num foguete, aos fim dos anos 60, que ficou em órbita por quase trinta anos, só ouvindo LPs antigos de rhythm & blues e filmes da blaxpotation, e quando retorna do espaço pra Terra cai direto no era do trip-hop e do pós-grunge. Eles tentam soar tão sombrios quanto o Portishead e barulhentos feito o Soundgarden, ao mesmo tempo que mantêm viva toda a sacanagem libertina tão bem simbolizada pelo slogan sexual de Marvin Gaye, "let's get it on" (que ressurge no álbum berrado como se fosse um refrão de rock and roll).

Greg Dulli, em algumas das maiores performances vocais de sua carreira (e do rock dos 90), canta em 1965 mais ou menos como se estivesse sufocando no interior de um escafandro, ao mesmo tempo que anseia por tocar nas inacessíveis borboletas que vê esvoaçarem lá fora, do outro lado do vidro. Ou então como se estivesse usando, e em doses imoderadas, os mesmos psicotrópicos que o Tricky (um nêgo que, a julgar por seus inebriantes discos solo, não pegava leve...).

O climão que emana de 1965 nos dá a sensação de estarmos acompanhando um midnight cowboy, um perdido navegante noturno, que ainda que procure no hedonismo e numa transa fácil a anestesia para suas angústias, sempre prossegue com a mente transtornada e assombrada. E sempre desperta, na ressaca do dia-seguinte, ainda com seu coração sanguessuga e vampiresco intacto ("this vampire only wants a little love", canta Dulli).

A sensação é de que este é um disco de canções de amor e tesão escritas por um bêbado melancólico, amante do soul e da poesia, que está largado na sarjeta com suas memórias e seus fantasmas, suas polaróides e seu uísque. Como se fosse full-time aquele personagem de Tom Waits que diz "I hope that I don't fall in love with you / Cause falling in love only makes me blue".

(Não à toa, após o fim dos Whigs, Greg uniu forças com Mark Lanegan, ex-Screaming Trees e Queens Of The Stone Age, criando o muito bem batizado Gêmeos da Sarjeta - The Gutter Twins.)

Em "Neglekted", diz o eu-lírico, frente à mulher tentadora e irresistível que lhe sugere que façam algo "pouco higiênico": "You can fuck my body, baby / But please don't fuck my mind". Pois para ele é como se a transa dos corpos não deixasse jamais de deixar suas cicatrizes na mente após a passagem das delícias. Ainda que estas não sejam poucas (e talvez justamente por serem tão intensas!).

Não encontro adjetivo melhor para descrever o solo de sax que finaliza a catártica "John the Baptist" a não ser "orgástico" - e parece ser na direção deste alvo que os Afghan Whigs apontam suas armas. Tanto que os backing vocals femininos, que adornam lindamente canções como "Somethin' Hot", podem até ser chamados pelos desavisados de "gospel", mas são na verdade bem pouco católicos, simulando gemidos e gritos de prazer (e dor) que fariam qualquer freirinha ruborizar...

This music is a hell of a mindfuck!

Cena de balada em "A Última Noite", de Spike Lee

Pra mim, desde 11:11, o debut do Come (a melhor banda-grunge-que-ninguém-conhece), não se realizava no rock independente americano uma obra tão atormentada e intensa, tão azul-escura e com cheiro de madrugada. E ouso dizer que na música dos anos 90 este 1965 encontra poucos rivais à altura - talvez Cure For Pain do Morphine, ou algo do Massive Attack - na batalha pelo troféu de "Álbum Mais Sexy da Década".

É apertar o 'play' e embarcar numa noitada de arromba - e de ressaca.


Para degustá-lo, dê um pulo nos comments!


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Castanhas de Ésquilo

Acredito que todos temos o direito primordial de falar mal das coisas que não conhecemos. Que filme é esse? Não faço idéia, mas pra mim é uma grande merda por enquanto. Aí é que está o cerne, na verdade. Posso em momentos futuros, passar a adorar a coisa que antes me era repugnante. Eu não gosto de Midnight Oil. Minto: Eu não CONHEÇO Midnight Oil, portanto escolhi não gostar. Enfim, ouvi de um amigo: “Baixei tudo de Midnight Oil”. Manifestações de ojeriza á parte, até aí tudo bem. Eis que este mesmo amigo me contou sobre outra banda. Esses tais “Squirrel Nut Zippers” eram pra mim, na exatidão dos termos e no desconhecimento de causa, australianos chatos, assim como os supracitados oleosos. Enfim, ouvi.

Meio jazz, será? Não, é “new swing”. Anote: a mesma pessoa que traduz – ou pelo menos tenta, com insucesso - os nomes dos filmes estrangeiros que aqui chegam, também usa do mesmo tino cultural pra nomear as vertentes musicais. “Hot jazz” é o que dizem também fazer parte das influências do grupo de Chapel Hill, Carolina do Norte, mas de maneira um pouco mais atravessada, quase na diagonal. Squirrel Nut Zippers, tocando as músicas de seu álbum “Hot”, de 1997, parecem estar atrás das câmeras que filmavam Tom perseguindo Jerry pela casa de imensos corredores e baixíssima densidade demográfica.

É, não são australianos chatos – mas ainda não gosto de Midnight Oil.

DOWNLOAD
Squirrel Nut Zippers - "Hot"

:: Billy e Woody ::


Hey galera! No Depredando o Cinema, pus dois artigos sobre duas comédias clássicas que eu adoro: Zelig, do Woody Allen (incluindo uma galeria de snapshots com mais de 20 "encarnações" do herói!) e A Primeira Página, de Billy Wilder. Confiram e comentem por lá! Estou ansioso por opiniões, críticas, conselhos e dicas sobre o novo blog camarada do Orelhão --- um recém-nascido que vai dando seus primeiros passos. Será que engrena?

sábado, 23 de janeiro de 2010

:: a primeira fornada do ano... ::

SPOON - Transference


VAMPIRE WEEKEND - Contra



OWEN PALLETT - Heartland



OK GO - Of The Blue Colour Of The Sky



CHARLOTTE GAINSBOURG - IRM

Para degustá-los, abra o forno dos milagres
que é o comments abaixo...

domingo, 17 de janeiro de 2010

:: Expansão da Depredação! ::


Hey depredadores! Pra começar bem este 2010, anunciamos a criação de um blog paralelo que vem para se somar à Família Depredando Corleone. Agora há mais um navio singrando os mares da blogosfera com uma orgulhosa bandeira pirata hasteada: é o Depredando o Cinema, blog irmão e camarada do Orelhão, onde trataremos de assuntos cinematográficos em geral. Pra começar, postamos um especialzão sobre Robert Crumb, com destaque para o documentário de Terry Zwigoff, disponibilizando os scans do livro Blues e o disco "Heroes of Blues, Jazz & Country". Além disso, matéria minuciosa sobre o clássico M.A.S.H., de Robert Altman; Garapa, o instigante documentário de José Padilha; e Marat/Sade, uma das pepitas mais incríveis do cinema de vanguarda sessentista. Para os próximos dias, prometemos posts compartilhando nossas impressões sobre Avatar e Lula - Filho do Brasil, dois dos filmes mais comentados deste início de ano. Confiram, opinem e depredem!

Abraços --- Luxponja.

Fácil fácil de decorar:

depredando o cinema PONTO blogspot PONTO com
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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

:: Big Time Orchestra em... "Guitar Freakout!" [LIVE in Goiânia!] ::

Vídeozin exclusivo para o Depredando: Big Time Orchestra agitando o pós-Reveillon, no Bolshoi de Goiânia, dia 02/01/2010. Com um medley matador, chefiado pelo Satrianinho sacana e seus Saxofonetes, a banda leva o público ao delírio. Começa AC/DC, cai no Chuck Berry, vira solo com guita nas costas à la Hendrix, arranca prum Lédão das antiga, desce prum Kiss deslavado e tudo vai parar lá no Ramones... Depredador!!!

O cinematografista, pra lá de amador, pede desculpas pelos tremeliques e inconstâncias de foco: no meio da muvuca é foda gravar sem ficar parecendo um velhinho com Parkinson. Sem falar que este jornalista sempre pôs o alcoolismo acima do profissionalismo... =)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

:: TONY SHERIDAN::


O Tony Tornado da backbeat
por Ana Alice Gallo


“Todos os possíveis companheiros de palco de Tony Sheridan sempre sentiam certo receio quando tinham que abrir o show para ele – ou de acompanhá-lo. Mas os Beatles aguardavam ansiosamente por isso: as apresentações de Sheridan eram desenfreadamente soltas, como as deles, além de ter mais energia e propiciar mais integração que as dos outros conjuntos da zona. Ele era incansável e imprevisível, é certo, mas estava sempre progredindo ao seu estilo, fazendo força para quebrar a monotonia dos padrões estabelecidos onde quer que tocasse”
Bob Spitz, The Beatles – A Biografia

Tocar nos inferninhos da Augusta é brincadeira de criança perto do que o inglês Tony Sheridan e um embriônico Beatles, ainda com Pete Best na bateria, passaram na Alemanha no início da década de 60. Puteiros eram até artigos de luxo perto dos lugares onde os artistas passavam das sete da noite às cinco da manhã tocando ininterruptamente para platéias tão bêbadas quanto eles, que eram levadas pra fora do bar a pauladas pelos garçons caso rolasse uma briga – e sempre rolava.

Nascido da Inglaterra, Sheridan fez longa carreira na Alemanha tocando em bares, sempre com bandas de acompanhamento. Os Beatles, que foram para Hamburgo ainda sem saber como preencher o repertório de sete exaustos dias por semana em cima de um palco, ganharam a simpatia de Sheridan pela energia transgressora que transmitiam ao vivo. E Sheridan ensinou aos rapazes como levar a música a noite toda na palma das mãos em um buraco chamado Top Ten. A musicalidade do guitarrista também foi fundamental para que a hoje considerada melhor banda do mundo ganhasse algo importante para sua sobrevivência: mojo, a famosa cancha.


Apesar de já terem gravado em um fundo de quintal em Liverpool, Sheridan foi o responsável pelas primeiras gravinas de respeito dos quatro. E como “Beatles” tem quase a mesma pronúncia que “pidels”, gíria germânica que significa pau pequeno, os meninos toparam assinar como The Beat Brothers e só usaram o nome verdadeiro posteriormente, quando já tinha alcançado certa fama.

Nessa época, nada de canções Lennon/McCartney rolavam, apenas releituras explosivas de faixas já consagradas eram escolhidas de set list para palcos e estúdio. E é isso o que se ouve na compilação “The Early Tapes”: basicamente uma banda cover, formada por um já consagrado crooner e uma banda iniciante, que queriam viver de música, seja ela de quem fosse.

Sheridan segue carreira até hoje e, inclusive, se apresenta no Brasil nesse findes, em Vitória. Do restante do grupo, é melhor nem tentar falar nada. Arraste as cadeiras da sala e just dance.


http://www.megaupload.com/?d=NRJBBJKH

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

:: The Bad Plus ::


Numa pegada mais adulta
(Ainda assim Smell[ing] Like Teen Spirit)
- Marco Souza -

Como imaginar um trio jazzístico com pegada rock (ou vice versa)? Esqueça qualquer palhaçada fusion, The Bad Plus é a resposta. Nascida em meados de 2000 a banda tem como formação o baixista Reid Anderson, Ethan Iverson no piano e o baterista Dave King.

Legal, mas então você me pergunta qual o diferencial dessa rapaziada. Bom, além das composições próprias deles serem ótimas, o que falarei a seguir, eles fazem versões sensacionais de músicas de estilos variados, indo desde o músico de jazz dos anos 60 Ornette Coleman até músicas do Nirvana (em outros álbuns como These Are The Vistas e For All I Care). Mas o destaque desse álbum fica para uma das melhores versões que já ouvi, Velouria dos Pixies nas mãos do The Bad Plus. Quem é fã de Pixies não pode deixar de ouvir, apenas essa música já vale o disco. Fora Street Woman do Coleman e Velouria, temos Iron Man do Black Sabbath mais soturna do que nunca.

Acabou sendo essas "covers" que me levaram a conhecer a a banda e no começo essas eram as faixas que eu mais escutava em Give, o LP em questão. Depois de um tempo passei a reparar nos sons próprios e, após passar o estranhamento inicial da anarquia sonora causada pelos músicos, comecei a admirar mais o trabalho autoral deles. E o que mais me chamou a atenção é a força de uma bateria agressiva, típico do rock, contrastando com a bela melodia do piano. Isso é evidenciado em And Here We Test Our Powers Of Observation de Anderson, numa das mais vigorosas canções que ouvi esses últimos tempos. Vale destacar também 1979 Semi-Finalist e Dirty Blonde.

Creio que The Bad Plus perde um pouco de mérito ao manter um estilo que não agrada os ouvintes mais conservadores de jazz, tampouco os rockeiros mais fechados a experimentações sonoras. Mas eles se matêm autênticos ao soar como garotos fãs de rock'n'roll tocando jazz, o que talvez seja o mais honesto que eles possam soar.


DOWNLOAD - 11 faixas - 60 mb