segunda-feira, 30 de março de 2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

:: radiohead no brasil! ::


por DIOGO SOARES


Saí do show do Radiohead com isso na cabeça: "Você não conhece de verdade uma banda se você somente ouviu o que tem num CD".

Não sei se outros colunistas aqui irão tecer comentários sobre o show do Radiohead, acontecido no último dia 22 de março de 2009 em Sampa. Eu não esgotarei o evento com este post, nem acho que conseguiria, mas tentarei remexer nesta coisa delicada que é a distensão entre bandas e álbuns novamente.

Ao ouvir uma dezena de músicas que passearam em meus playlists durante mais de uma década (éééé, The Bends completa 14 anos) tive a nítida sensação de que era outra banda que estava escutando. Era como se as letras viessem em minha mente, mas ao cantar houvesse um estranhamento. Não eram mais aquele grupo que ouvia deitado em minha cama, que sempre foram um assunto pessoal pra mim. Sessões de discussão ou mesmo de audição nunca foram atrativas quando se falava de Radiohead. Me incomodava por que ninguém parecia entender o que eles queriam dizer. Depois do show eu é que fiquei sem entender.

Não sei se vocês sabem, mas o In Rainbows não contava com músicas inéditas. Apesar de não contarem com uma gravação excelente era só percorrer os fóruns de discussão na internet que rapidamente vocês encontravam diversas versões destas músicas ainda com nomes provisórios.

O único paralelo que faço é com bandas em seu primeiro trabalho oficial. O grupo chega pra gravar uma série de músicas já experimentadas, seguras de si mesmas e selecionadas pelos shows da vida. E é por isso que se chama o 2º álbum de encrenca. O grupo volta de uma grande turnê, e se mete a compor músicas de uma maneira totalmente nova. E é por isso que se chama o 3º álbum de maduro. Pois já está adaptado ao novo formato de composição. E é assim que vamos distanciando o álbum do trabalho real da banda.

É certo que à partir da década de 90 o número de álbuns "ao vivo" aumentou muito nas prateleiras. Era uma forma de tentar diminuir o abismo que se formava a olhos vistos. O "ao vivo" serve para fazer releituras de músicas que em estúdio não "funcionam" e também dar uma aquecida na pegada das músicas com o som ambiente dos fãs, mais instrumentos etc.

A brincadeira que o Radiohead propôs para o In Rainbows foi bem pensada: afinal foi lançado em 2007 ou em 2008 o álbum? Nas lojas, fisicamente, chegou somente em 2008, no site saiu em 2007. Um álbum feito de músicas "ao vivo" terminadas em estúdio. Terminadas? Será que tô escrevendo isso mesmo? No show a sensação é de que In Rainbows funciona mais do que um álbum, mais do que esta coisa finalizada.

Mas não é somente isso. O In Rainbows consegue a façanha de iluminar os outros álbuns. Consegue dar garra e calor para o Ok Computer, dar batidas pop ao Kid A, e tornar o The Bends menos fácil. Meu chute é que ao realizarem suas músicas ao vivo o amálgama de In Rainbows com os outros álbuns pareceu a única maneira de realizar o projeto. Não foi um retorno ou uma releitura. Foi um passo pra frente.

As câmeras de vigilância que "perseguem" o Radiohead durante o show são uma forma deles de brincar com esta hipervisibilidade que um artista tem hoje. Apesar de tudo isso não conseguem desvendar o passe de mágica que o público descrente vê a banda realizar na nossa frente.

* * * * * *

Aproveitamos a ocasião para compartilhar a primeira parte do ESPECIAL RADIOHEAD - com um monte de raridades da banda - EPs, singles, álbuns ao vivo e coletas de lados-B. Devorem!



"DRILL" EP [1992 - 4 faixas]
http://www.mediafire.com/?tmidmmyg2zw


"ITCH" EP [1994 - 8 faixas]
http://www.mediafire.com/?eynznuo4mmm



"LOST TREASURES" [1993-1997, 2 CDs]
CD 01: http://www.mediafire.com/?zzczkwjxoqm
CD 02: http://www.mediafire.com/?zj5ux2j5imz


"AIRBAG / HOW AM I DRIVING" EP [1998 - 7 faixas]
http://www.mediafire.com/?2uznmvvumty



"I MIGHT BE WRONG" [2001 - AO VIVO oficial]
http://www.mediafire.com/?dy2t5zzyyii



"COM LAG" [2004 - 10 faixas]
http://www.mediafire.com/?nygzmxy2dfx



"THOM YORKE ACÚSTICO": aqui!

segunda-feira, 23 de março de 2009

sexta-feira, 20 de março de 2009

:: Nina Simone ::

Viagem Bipolar
- Por Bernardo Santana -


Nina Simone era o nome artístico da cantora, compositora, pianista e arranjadora norte-americana Eunice Kathleen Waymon, nascida em 1933 e, por um azar dos diabos, morta setenta anos depois, em 21 de abril de 2003. Influente como poucas cantoras populares no mundo da música, Nina (o apelido vem da palavra espanhola “niña”, pequena) fez a cabeça de gente como John Lennon, Peter Gabriel, Jeff Buckley, Alicia Keys, David Bowie, Muse, Cat Power e até mesmo de divas muito mais conhecidas que ela, como Aretha Franklin.

Talento precoce revelada no maior revelador de talentos precoces do mundo, as igrejas cristãs do sul dos Estados Unidos, Nina alcançou logo no início de sua longa carreira, um status de respeitabilidade e influência impressionante, não só por seu talento musical, mas também pela personalidade forte e ativismo social raivoso.

I Put Spell On You é um dos clássicos discos que a moça pôs na praça durante o auge de sua carreira, que durou até meados dos anos 1970. “Clássico”, aliás, é até um adjetivo fraco. Spell deveria é ser ensinado nas escolas ou aparecer sobre o verbete “interpretação musical” nas enciclopédias por aí, se é que elas ainda existem.

Se Nina Simone é conhecida por sua busca constante por expressar em música as emoções, este disco, lançado em 1965, periga ser o maior exemplo dessa atitude. Indo da melancolia frágil à alegria sacana, passando por tristeza trágica e deboche safado, o disco não só mostra como a voz é um instrumento perfeito de manipulação sensorial (quer dizer, pelo menos pra ela…) como também expõe o lado arranjadora genial da High Priestess of Soul.

Com Ne Me Quitte Pás você chora sem entender a letra. Em seguida, Marriage Is For Old Folks faz pensar: “cara, como eu sou estúpido por ter chorado na música anterior. Que se dane o amor!”. Aí vem July Tree e a montanha-russa te joga lá embaixo de novo… E assim o disco inteiro age como uma amostra grátis de transtorno bipolar do bem. Tente ouvir a penúltima canção, You’ve Got To Learn, sem sentir que, puxa vida, você tem mesmo muita coisa a aprender…

A carreira de Nina Simone tem muito mais que só I Put A Spell On You, com certeza. Mas como nós aqui do Depredando gostaríamos de ter logo mais colegas viciados, prescrevemos uma dose que cause dependência imediata de uma vez. Não diga que não avisamos. E não precisa agradecer.

terça-feira, 17 de março de 2009

:: just chicks! ::

ROLÊ DE METRÔ - VOLUME II
- seleção por Eduardo Carli de Moraes -

"vc é tudo o que come e o que consome.
consome tudo e só aumenta a tua fome!
do quê vc tem raiva e o que te deixa insone?
peito de silicone, lipo no abdomen.
se a situação tá crítica,
só te resta fazer plástica.
e de comer tanta titica
vai precisar de soda cáustica.
estética pura chula é tão patética!
astetica, estica e puxa,
da xuxa faz uma réplica.
por fora até parece mágica
mas por dentro fica a mesma lástima..."

DONA ZICA


Em homenagem tardia mas merecida ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no último 08 de Março, Depredando disponibiliza uma coletinha de 1h hora com algumas notáveis musiquetas brazucas só com vocal feminino. O privilégio é para letras em português, mas abrimos uma ou outra exceção (The Hats e Bluebell). Por razões de homogeneidade, separamos também os sons mais sussa dos mais púnque (e nos permitimos repetir algumas bandas, como o Luxúria, que tem pepitas notáveis tanto no ramo das baladas quanto na das porradas). Então não se assustem: o disco começa devargarzinho, mas vai ganhando pique. Ia botar uns riot grrrl loucos no meio (tipo Bulimia, Anti-Corpos e TPM - Trabalhar Para Morrer), mas as gravações são tão zuadas e cheias de ruído que iam bagunçar o disquinho... Sugestões de outras bandas indie que merecem estar nas próximas coletas, berrem nos comments. Curtam ae!

PLAYLIST:

MAIS SURSSA
01. tiê, "passarinho"
02. bluebell, "la vie en chose"
03. luxúria, "lama"
04. dona zica, "nua e crua (psico samba)" [feat. b negão]
05. nina becker, "o bom veneno"
06. transmissor, "janela"
07. os the dárma lovers, "sr. da dança"
08. mallu magalhães, "vanguart"
09. plano próximo, "eu só queria conhecer seu cachorro"
10. érika machado, "alguém da minha família"
11. casino, "samba dada"
12. stela campos, "questão de prioridade"
13. karine alexandrino, "ando jururu"

UM TANTINHO MAIS PÚNQUE
14. luxúria, "frankenstein do subúrbio"
15. dominatrix, "vá lá"
16. biônica, "aventuras da berne biônica no país tropical de atabaques"
17. plano próximo, "vou capotar"
18. the hats, "little rocker"
19. leela, "ver o que faço"
20. bluebell, "who's the freak"

DOWNLOAD (68 MB): http://www.mediafire.com/?ymec4tokzti

domingo, 15 de março de 2009

:: Grito Rock ABC ::


- Por Joh Excambau -


Pela primeira vez, fui compelido pelo destino a comparecer ao Grito Rock, festival de música independente que ocorre em diversas cidades no Brasil durante o período do Carnaval. Neste caso, especialmente à edição ABC do festival, que é abrigado já há dois anos sob o teto do Cidadão do Mundo


O Grito Rock ABC 2009 aconteceu e ponto: Aconteceu! Só isso já o faz exceção à regra. Contra todas as adversidades, mas a favor da expressão cultural, o Grito Rock segue desde 2003, mostrando o que é possível ser feito com vontade, parceria e organização.



MÚSICO IGUAL PEDREIRO

Foi numa manhã, bem manhã mesmo, que passei pela ponte que liga meus caminhos a São Caetano do Sul, SP – o "C" do famoso ABC paulista, que me lembra indústrias, o movimento punk e a efervescência sindical dos anos 80, começo do final da ditadura no Brasil. O tempo passou, os ditadores foram depostos (foram?), mas a chama se mantém acesa nos diversos projetos que o Cidadão do Mundo toca pra frente, sempre em frente.


Naquele dia, quando entrei na sede, os caras estavam em obras. A toque de caixa. Se preparando como loucos para o Grito Rock, que estava marcado para 2 ou 3 semanas a partir dali. Era escada pra um lado, lata de tinta pra outro, cursos rolando, alunos, palestrantes, todos ali estavam completamente contaminados e se organizando, tomados pela vibe da batalha que estava por vir. Isso às 8 da matina de um sabadão nublado! 


MISSÃO DADA É MISSÃO CUMPRIDA

E foi em outro sábado, 07 de março, que tivemos a honra e o privilégio de comparecer e contemplar o trabalho feito. A missão fora cumprida e com louvor. A sede estava pronta, as pessoas felizes, o som acertadíssimo e a web-rádio estava propagando os shows que se seguiam de forma crescente em sua intensidade.


Estava entretido com a verdadeira festa que tomou a rua Rio Grande do Sul – muita coisa aconteceu – e único show que pude apreciar, com mais calma, foi o do Lenzi Brothers, que mandou o verdadeiro e puro rock and roll. E mandou com vontade!


"NÁNÁNÁ É O DIABO!"

Uma apresentação com energia. E ela fluía dos solos, era visível na expressão do batera - Matheus, e alcançou um pico legal quando Márcio Lenzi exibiu o velho e sempre eficaz truque do solo com a guitarra nas costas (manobra também conhecida como Back Flip in Flames Solo). Deus salve a pentatônica e a música do sul do Estados Unidos!


Apesar de pesado e maciço, o som que saía do trio deixava claro as melodias nas bases e nos backing vocals-na-hora-certa. Era o específico-necessário para a sonoridade que te faz bater o pé, balançar a mão ou entrar no pogo. Um som sem frescura e contagiante.


Depois, rolou uma entrevista com os caras do Lenzi Brothers, Cidadão do Mundo e alguém do Circuito Fora do Eixo. Bem legal. Ver essa estrutura montada era emocionante!


Penosos, abandonamos o barco ainda cedo (faltava ver Macaco Bong e Thunderbird), mas certos de que aquele momento era admiravelmente memorável – o que nos dá a certeza de que o ânimo de quem trabalhou para o Grito Rock ABC acontecer se encheu de energia para as próximas edições, e para tocar pra frente o barco independente.


Vida longa ao Cidadão do Mundo!


Vida longa ao Grito Rock ABC!


Myspace da banda:

Músicas para download:

quinta-feira, 12 de março de 2009

:: THE NAME - ASSONANCE ::



HERE, THERE AND EVERYWHERE
- Banda de Sorocaba prova que Londres cabe no Brasil, e que a vanguarda sonora brazuca está em qualquer canto além da capital de São Paulo -

por Ana Alice Gallo


Apenas 10 minutos de permanência no Milo e a fumaça do local já entupia minhas narinas. Pegar uma breja foi um pouco de consolo, mas nada tirava meu mau humor de uma sexta-feira esfolada. Olhei de relance para os caras que, segundo me mostravam, tocariam naquela noite. Nada de grandes produções de figurino, três sujeitos aparentemente normais confundiam-se com os espectadores e alguns gatos pingados que sacolejavam na (pseudo) pista do local. Suspirei e desejei minha cama.

O cuspe caiu na testa quando os rapazes da The Name empunharam instrumentos e notebook e eu fui obrigada a segurar o queixo. Mal podia acreditar que aquele som era brasileiro. Rapidamente fui transportada para algum pub londrino, daqueles em que você não sabe ao certo se é 1980 ou 2080. O ano, na real, era 2007, eles já haviam lançado um primeiro EP, “Gone”, e eu gravei o nome da banda na minha discoteca particular.

Meu queixo voltou a cair há poucas semanas, quando ouvi o segundo EP do grupo, “Assonance”. Produzido pelo grupo em parceria com Eduardo Ramos e Sergio Ugeda, o projeto traz guitarras mais encorpadas, porções generosas de experimentalismo não-orgânico e uma banda calejada da estrada que dá gosto. O álbum me levou ao mesmo sentimento estrangeiro – algo como um jogo de poker entre Robert Smith, Alex Kapranos e Alex Turner – mas, ao mesmo tempo, mostra a capacidade das bandas brazucas de todas as partes do país de produzirem um som com linguagem sem fronteiras.

O Depredando bateu um papo assonante com o grupo por e-mail a respeito do novo EP e traz o link fresquinho do álbum pra você conferir se a gente tá mentindo. Bom apetite.

Do primeiro EP Gone, de 2006, para o Assonance, é possível perceber de cara um timbre mais encorpado de guitarras e mais elementos eletrônicos. Isso foi fruto da estrada ou tem a ver com a inclusão de mais gente na produção além da banda?
Achamos que são as duas coisas, para dizer bem a verdade. Além da produção do Du e do Ugeda, tivemos a oportunidade de fazer bastante durante o processo de composição e gravação, contando com a turnê que fizemos junto com o Macaco Bong. Inclusive, das cinco músicas gravadas inicialmente, apenas "Come Out Tonite" ficou no EP final, as outras foram descartadas.

Como foi o processo de compor e gravar? Rolou tudo de uma vez ou as músicas foram surgindo ao longo do tempo?
A gente começou a gravação com músicas que já estavam compostas. Depois do começo das gravações e a possibilidade de testar essas músicas na estrada, repensamos timbres, arranjos e compusemos músicas novas, que acabaram entrando no EP. A música "Assonance", por exemplo, foi gravada exatamente como foi composta, pela primeira vez, em uma jam de estúdio.

Algumas influências de vocês ficam um tanto nítidas (e por favor me digam se foi impressão, please), como grandes bandas da nova safra, tipo Arctic Monkeys e Franz Ferdinand, até todo o caldo sonoro dos anos 80, incluindo The Cure. Isso ainda vale? As influências mudaram, ficaram mais fortes ou menores nesse segundo álbum?
Legal! Inesperada a citação destas bandas! The Cure e Franz a gente curte, mas não foram influências diretas durante as gravações e durante o trabalho de arranj
os e composições. Podemos citar Liquid Liquid, Chic e Pil, por exemplo, como bandas que tiveram relevância nas influências do EP. Além de serem bandas que ouvimos com bastante frequência hoje em dia!

Vocês são do interior de SP. Pela sonoridade urbana-contemporânea da banda, vocês enfrentam muito problema para conseguir um espaço longe da capital, ou até mesmo em outros estados?
É engraçado, mas, em quase 3 anos de existência, fizemos apenas quatro shows aqui. O intercâmbio entre produtores e bandas, além do incentivo da imprensa independente, ajuda muito na hora de ir pra outros estados e outras cidades. A gente acha que Sorocaba está caminhando para se tornar, como foi no final dos anos oitenta e durante os anos noventa, mais um pólo do circuito independente do estado. Ainda tem muito trabalho pela frente, mas logo esperamos que isso se torne real.

É possível seguir na cena independente sem um grande padrinho "celebrindie" por trás? Como vocês buscaram o espaço de vocês?
A gente começou sem conhecer ninguém. Achamos que a postura, o profissionalismo e a persistência contam muito antes de pensar em um padrinho ou algo do gênero. No início, gravamos e começamos a mandar material pra quem a gente pesquisava na internet, como blogs, revistas, outras bandas e aos poucos o pessoal começou a conhecer e abrir portas para shows, resenhas e matérias. A primeira aparição nossa em um veículo independente foi na TramaVirtual e isso nos deu muito acesso na época. Depois, com o passar do tempo você começa a conhecer algumas pessoas que podem te ajudar e a coisa caminha para que você tenha uma parceria com uma produtora (no nosso caso a Tronco Produções) e um produtor musical e artístico (trabalhamos com o Eduardo Ramos, também da Tronco), que ajuda muito na hora de colocar seu trabalho no meio, continuando sempre a ser independente.

DOWNLOAD: Baixe o EP “Assonance” aqui

sábado, 7 de março de 2009

:: The Gits - Discografia Completa ::


A SEREIA RADIOATIVA DO GRUNGE
- Apesar de sua vida breve, Mia Zapata construiu com o Gits um monumento punk na Seattle efervescente do começo dos 90 -

Mia Zapata é mais uma prova viva - ou melhor: prova morta - dos poderes sombrios de um dos números mais assombrados na mitologia do rock and roll: 27. Com esta idade amaldiçoada, perdemos Hendrix, Janis, Cobain e Jim Morrison, só para ficar nos mitos. Os últimos momentos de Mia, outra que se foi aos 27, dariam um belo filme, bem mais punk e pungente do que o retrato moroso e deprezão que Van Sant filmou em Last Days como réquiem para outro roqueiro de Seattle que se foi cedo. Em uma das últimas frases registradas em seu diário, Mia escreveu: "um dia eu serei velha e ficarei devastada por ter conseguido viver tanto". Esse curioso devastated que ela utiliza só reflete uma atitude tão difundida na cena grunge e punk: o lema live fast, die young, que fez com que Kurt também dissesse que preferia morrer antes de virar Pete Townshend. Mia e os Gits também eram pura catarse, urgência e explosão: jovens fazendo punk-rock como se o mundo fosse acabar amanhã com um cogumelo atômico.

Os Gits, apesar dos 3/4 de machos que compunham a banda, acabou, pela intensidade descomunal da personalidade de Mia Zapata, "a santa padroeira do riot grrll", entrando para a história como um dos grupos mais fundamentais da história do "punk de menina". Foi fundamental influência para dúzias de bandas que se seguiriam: 7 Year Bitch, Babes in Toyland, The Distillers, Donnas, Bellrays, Team Dresch, Sleater-Kinney, etc. Formada em 1986 em Ohio, o foguete decolou mesmo em Seattle, num momento em que a cidade estava no epicentro de uma revolução sonora que, estourando os limites do Noroeste Americano, ganhava as paradas e os holofotes do mundo todo. O álbum de estréia da banda, Frenching The Bully, sai quando Nevermind já havia sugado todas as atenções para aquele canto da América onde uma nova juventude perdida e fodida bolava um novo punk.

O álbum é simplesmente um dos mais excitantes, intensos e estupendos álbuns de punk rock nos anos 90. Nenhum álbum do Hole, do L7 ou do Elastica, bandas chefiadas por minas que causaram frisson na mesma época, me parece chegar perto de ser um vulcão tão explosivo quanto o debut dos Gits. A banda tinha tudo para seguir no rastro aberto por Cobain e companhia, tornando-se uma banda grunge adorada por todo o território americano e além. Mas o primeiro álbum acabou tornando-se o último. Mia Zapata, em Julho de 1993, foi estuprada e assassinada ao voltar de um boteco em Seattle para casa.

(Conta a lenda que, no último diálogo com seu pai, Mia ouviu um mimo paterno bonitinho: "Ainda que você não venda um mísero disco, será para sempre minha superstar". Conta-se que pai e filha se separaram aos carinhos, trocando juras de amor e gratidão. À noite, a polícia ligava para o orgulhoso paizão para informar que o vôo em direção a estratosfera que o foguete Mia ensaiava tinha sido para sempre cancelado.)

O caso chocou toda a comunidade cultural na cidade e além: gerou discursos de inflamada indignação de várias personalidades da cena, uniu dúzias de artistas numa álbum tributo de protesto (The Art Of Self Defense) e trouxe como consequência a criação de uma ONG em Seattle, a Home Alive. Mais três álbuns dos Gits foram lançados postumamente, reunindo gravações ao vivo, raridades, lados B e aquilo que a banda já havia registrado em estúdio para o que seria o 2o álbum. Como acontece tão frequentemente, uma morte precoce, ao invés de destruir o legado de um artista, torna-o ainda mais mitológico: no caso de Mia Zapata, ela não precisou de mais de 27 anos para ser canonizada a diabinha mais brilhante do Riot Grlll e uma das maiores vozes punk da década.


Vincent Jeffries escreve: "This event sensitized many female artists (especially musicians in Seattle, the West Coast, and all of America) to the paradoxical twists inherent in their expressions of this new philosophy and lifestyle of empowerment. Unfortunately, no amount of rage, street smarts, or outwardly "unfeminine" physicality could dissuade evil men from imposing their will upon even the strongest women within their own ranks. Living a nightlife, working as equals with men, sharing and being rewarded for their alternative ideas about sexual politics and gender roles, it is no doubt that a large group of young female musicians and artists became emboldened (possibly to a degree dangerous to their own safety). While emotionally empowering, this riot grrrl ethos carried no exemption from the physical dangers women have tragically encountered and endured throughout history. The loss of Zapata was symbolic in that it reminded many just how far they still had to go before their own gender would cease to be a weapon, with ultimate potential, that could be used against their own invaluable personage.

Realizing this, friends of Zapata, including 7 Year Bitch drummer Valerie Agnew and visual artist Stacey Westcott, founded Home Alive, an organization created to educate and fund self-defense. Among their efforts, Home Alive released a CD, The Art of Self Defense, that featured recordings of Zapata, Joan Jett, Pearl Jam, Nirvana, and many others. The organization has also held benefit concerts, using all profits to conduct and fund self-defense classes and seminars. Inspired by Zapata's music (and tragic death) Jett didn't stop with her contribution to the Home Alive release, she also made a critically acclaimed music video in which she portrays a stalking victim not unlike Zapata and in 1996, Jett released a record with the surviving Gits under the moniker Evil Stig ("Gits live" spelled backwards).

Although there is no doubt about the tragic scope of the Gits and Mia Zapata, it is comforting to know that the deceased singer's talent and personality inspired something positive. The result of her death was not just suffering, but awareness, and at least a call to action. It's not been specifically documented whether that call has saved any lives, but it's comforting to think that it is possible. Zapata's energy, charisma, and strength helped create an identity — an artistic, feminine, urban quintessence, to be cherished and fought for — that is sadly lacking in so many faceless statistics."

* * * *

DOWNLOADS:

"FRENCHING THE BULLY" (1992)
http://www.mediafire.com/?qn2gy3jyjmo


"ENTER: THE CONQUERING CHICKEN" (1993)
pt1: http://www.mediafire.com/?jyynetwimzo
pt2: http://www.mediafire.com/?cm1mtgmu3jw


"KINGS AND QUEENS" (1995)
http://www.mediafire.com/?5gmn0yymtzm


"SEAFISH LOUISVILLE" (2000)
http://www.mediafire.com/?32nid4znoiy

sexta-feira, 6 de março de 2009

quarta-feira, 4 de março de 2009

:: Pitchfork 500 ::


Um dos "livros de rrróque" mais bacanudos lançados na gringa no ano passado foi esse guia, The Pitchfork 500, que eu curtiria horrores ganhar de aniversário de alguma alma caridosa (doce ilusão!). Nele, os nêgobão lá da Pitchfork, talvez a mais conceituada revista de música alternativa na Internet, elegeram 5 centenas de músicas, do Punk até agora, que fizeram história, recriaram estilos, inauguraram tendências ou são simplesmente boas pra caralho. Na falta da gaita para adquirir o livreto ilustrado importado, inda mais em tempos de crise, contentem-se em baixar as 500 danadas, em 3 gigabaites e pouco, neste torrent aqui. Seguindo o link, também se acha a listinha de todas as canções selecionadas. Bela travessia!