quarta-feira, 30 de maio de 2012

15 anos sem Jeff Buckley (1966-1997)




15 anos atrás, Jeff Buckley desaparecia para sempre debaixo das águas numa morte digna de um bluesman: cheia de mistério, melancolia e tragicidade. O fim abrupto e inesperado de um dos artistas mais expressivos (e mais promissores) dos anos 90 continua a lançar uma luz meio nublada sobre sua música tão comovente: sugiro que ouçam “Grace” lembrando-se de que aquela é a voz de um morto (“nevermore!”, sussurra o corvo de Poe) e tentem não sentir calafrios na espinha ou marejamentos nos olhos… Relembremos!

domingo, 27 de maio de 2012

Coleta de Música Brasileira (Volume VI)

01. Raul Seixas, "Sociedade Alternativa"; 02. Os Mutantes, "Tecnicolor"; 03. A Banda Tropicalista do Rogério Duprat, "Chega de Saudade"; 04. Gilberto Gil, "Back in Bahia"; 05. Marcelo D2, "A Maldição do Samba"; 06. Fino Coletivo, "Uma Raiz, Uma Flor" (Wado); 07. Graveola e o Lixo Polifônico, "Desdenha"; 08. Siba, "Cantando Ciranda na Beira do Mar"; 09. Cambriana, "The Sad Facts"; 10. Sérgio Sampaio, "Brasília"; 11. Jorge Mautner, "Maracatu Atômico"; 12. Raul Seixas, "Metamorfose Ambulante".

VOLUMES ANTERIORES: CINCO - QUATRO - TRÊS - DOIS - UM


Documentário (curta-metragem) "Um Sampaio Teimoso"

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Raul Seixas - Discografia Selecionada (para Download)

Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Edy Star e Míriam Batucada – Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez (1971) download


Krig-Ha, Bandolo! (1973) download


Gita (1974) - Download


 Raul Seixas e Paulo Coelho - Trilha Sonora Original O Rebu (1974) download


"Há Dez Mil Anos Atrás" (1976) download


 "Novo Aeon" (1975) download


Raul Seixas e Marcelo Nova - "A Panela do Diabo" download


agradecimentos e saudações ao providencial baú-de-tesouros do Um Que Tenha!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Raul Seixas - Maluco Beleza em Metamorfose Ambulante (um retrato)

Documentário de Walter Carvalho (2012)

"...um espírito versado na serpentina arte de mudar de pele. [...] E feliz em não abrigar em si uma alma imortal, mas muitas almas mortais."
NIETZSCHE
(Humano Demasiado Humano II - Prólogo #2 e #17).



O nome escrito no RG perdura do nascimento à morte, quiçá modificado, vez ou outra, por casório, mudança-de-sexo ou ida-pro-estrangeiro. Já a criatura que este nome batiza decerto é bem mais fluida e líquida do que sugere a fixidez dos documentos. Somos seres mutantes! As barbas sucederam aos meus dentes-de-leite do mesmo modo como os cabelos alvos da velhice hão de esbranquiçar estas madeixas temporariamente cheias de cor. E não será melhor aquiescer à roda-viva dos tempos ao invés de aspirar por impossíveis imutabilidades?

Não se entra duas vezes no mesmo rio”, dizia Heráclito uns 2.500 anos atrás. A ancestralidade do dito, seu caráter de “clássico” da filosofia, não significa que o rio de que ele falava – o rio cósmico, o rio universal, o rio de Tudo o que escorre... - cessou de correr. Prosseguem as marés em sua dança com a Lua. Prosseguem as águas a responderem aos chamados invisíveis das gravitações planetares, eternamente fluentes, e sempre aos humanos  indiferentes, por mais embasbacados que fiquem estes diante de mares e luares!

Se a própria Natureza ao nosso redor é dinâmica eterna e imparável mobilidade, seríamos loucos se quiséssemos, apegando-nos a dogmas e nos engessando em ortodoxias, sermos fixos como as “pedras que choram sozinhas no mesmo lugar”. Raul, como canta-nos em "Medo da Chuva", "aprendeu o segredo da vida vendo essas pedras que choram sozinhas no mesmo lugar". Conheço poucos versos mais lindos na história da poesia e da música brasileira. Raul Seixas nos comove e nos encanta tanto, me parece, pois não quis ter um destino de pedra, estagnada em sua solidez, e preferiu ser rio. "Eu preferiu ser uma metamorfose ambulante do que “ter aquela velha opinião formada sobre tudo...”.

E isso, pra mim, é rock'n'roll até o osso. Pedras que rolam não criam limo. Mas melhor que ser pedra que rola é ser homem-rio. Não é à toa que Walter Carvalho inicia seu filme com um dos símbolos-mor da contracultura hippie sessentista: os dois motoqueiros de Easy Rider, encarnados por Dennis Hopper e Peter Honda. Raul Seixas, seguindo essa metáfora, teria sido um easy rider tupiniquim, um que põe o pé-na-estrada ao invés de ser samambaia, um maluco beleza sem medo de ver o misticismo misturado com a lucidez, nem o rock com o baião, Jimi Hendrix com Luiz Gonzaga, Satanás com Cristo, Crowley com Shiva... A ousadia das mesclas, a leveza desse saltar eclético em várias “ilhas” da cultura, faz de Raul um desbravador de novas sendas para a liberdade!... “Faze o que tu queres... há de ser tudo da lei!”

Que esse anarquismo estético todo seja altamente subversivo eu não duvido. E é ótimo que seja. Raul Seixas permanece um remédio necessário contra o caretismo. Longe de mim bancar aqui o bully dos caretas, ainda mais considerando que tenho, com certeza, minhas próprias caretices, como todos. O problema é que o caretismo não é tão inofensivo como parece: estou convencido de que muitos “homens de poder”, muitas altíssimas autoridades políticas-militares-religiosas-policiais, muitos destes que são responsáveis por criar as nossas leis e vigiar nossos comportamentos e nossas interações sociais, são caretas dogmáticos.

Um exemplo: a sangrenta Guerra às Drogas, baseada em ortodoxias proibicionistas, por exemplo, já deixou 50.000 mil mortos no México nos últimos 5 ou 6 anos... A mesma guerra absurda, levada a cabo faz algumas décadas pelo DEA norte-americano, que segue seguindo à risca a cartilha do czar Anslinger, causou trilhões e trilhões de desperdício de verba pública e o encarceramento em massa de um imenso contingente populacional: 25% dos presos do planeta estão nos Estados Unidos da América, o maior Estado policial e militar do mundo. Quanto aos assassinados no Rio de Janeiro ou na Colômbia, bem... quem é que está contando? E como não perder a conta diante de um genocídio tamanho? 

Aliás, não haveria um certo eufemismo no próprio termo “Guerra às Drogas”? Como se as perseguidas fossem só as substâncias, e não... as pessoas que as utilizam e comercializam! Esta guerra contra pessoas, movida por preconceitos que se agarram com a obstinação de sanguessugas às nossas legislações, tem a ver – e me arrisco agora em psicologia social raul-seixista! - com o caretismo institucionalizado dos fanáticos pela ordem. E Raul Seixas é um providencial antídoto.


O que eu quero dizer é que acho ótimo que tenha existido uma figura como Raul para ser uma mosca na sopa de tudo quanto é discursinho pró DOPS, Opus Dei, Caveirão do BOPE... Raul foi, de fato, uma das maiores figuras da contracultura brasileira na segunda metade do século passado, um artista de criatividade exuberante, e que nos mostrou a beleza da ousadia, da quebra de paradigmas, do comportamento distoante. Ouvir Raul é uma cura contra a normopatia, termo que empresto do psicanalista José Ângelo Gaiarsa, talvez o mais brilhante e mais célebre dos nossos reichianos.

“Normopata” é aquele tipo de neurótico, comuníssimo aliás, que deseja, acima de tudo, ser normal. Somos todos um pouco normopatas: em situações sociais, especialmente, modelamos nosso comportamento de acordo com o que nos foi ensinado sobre o que é normal e o que é patológico, o que aceito e o que é ilícito. Ah, esses sininhos de Pavlov que não cessam de bater, infernais e aporrinhantes, dentro de nossos cérebros! 

A normopatia, neurose de massa, talvez ajude a explicar fenômenos tão atuais, e tão justamente combatidos por tantos movimentos sociais, como a homofobia, o racismo, o bullying. Pessoas que possuem uma “imagem ideal” do que seja a normalidade – por exemplo, normal é quem é branco, católico, heterossexual e “democrata” – tendem a soltar seus anátemas (e às vezes seus cachorros e sua polícia...) pra cima de quem destoa desse ideal do “Normal”. E dá-lhe pauladas e preconceitos pra cima de comunistas, negros, homossexuais, ateus, anarquistas, índios, “hippies” e tantos outros “desviantes” (na perspectiva dos fanáticos pelo normal, claro...).


No Brasil, como prova a onipresença e onirecorrência do "Toca Rauuul!" em qualquer show, boteco, pub, roda-de-samba ou concerto de música clássica, Raul Seixas virou uma espécie de mito nacional, neo-Macunaíma, objeto de um culto equivalente em terras de Pindorama àquele prestado à Che Guevara em outras plagas (cubanas ou argentinas, por exemplo). Raul é muito mais que música: é um "modelo" de comportamento, um ideal de personalidade, alguém que muita gente se põe a imitar e reverenciar como se se tratasse de um novo Cristo - e bem peculiar, aliás, dadas as propensões de Raul para o satanismo e seu amor muito maior pelo Baghavad-Gita dos indianos do que pela Bíblia dos romanos...

O pivete baiano que se encantou com Elvis Presley e Litte Richard, que puxou a gola pra cima e começou a rosnar e uivar com "Tutti Frutti" ou "Be-Bop-A-Lula", acabou sendo, junto com os Mutantes, um dos principais agentes da mistura entre a música brasileira e o que estava na crista da onda no panorama musical internacional. Raul não tinha medo de "importar" - e sem pagar direitos autorais ou ter que responder processos por plágio - o que havia de melhor no rock gringo. Ele não copiava - ele expropriava. Quer dizer: apropriava-se de modo muito próprio do que suas espertas antenas incorporavam e acabava por realizar uma síntese absolutamente original e inaudita de elementos antes considerados imisturáveis. Um antropófago!

Com Raul, acontece na cultura brasileira um dos mais poderosos fenômenos do que eu chamaria de idolatria secular. O pop star, afinal de contas, é uma espécie de ídolo a vagar fora das igrejas. Cultuado, como outrora Dionísio e Baco, nos locais de dança e carnaval, nos agrupamentos clandestinos de entusiastas, nos locais onde emergem zonas autônomas temporárias e os sujeitos experimentam as "delícias do deslimite" (Rüdiger Safranki). Como quantificar o impacto de uma figura carismática dessas nos sonhos de milhares de homens e mulheres? Como calcular quantas personalidades são moldadas, ao menos em parte, tendo o raul-seixismo como modelo e ideal? Quando John Lennon soltou aquela que deixou de cabelos em pé os fundamentalistas religiosos ("Os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo"), estava só dando amostras de seu apuradíssimo senso social. Pois de fato, em nossas sociedades do espetáculo, pra usar a expressão consagrada por Guy Debord, os pop-stars talvez tenham mais impacto social do que alguns mofados símbolos religiosos de milênios atrás. 

Raul Seixas, arauto da contracultura brasileira, padroeiro de todas as lutas anti-manicomiais e anti-dogmáticas, sátiro e palhaço de uma sociedade gerida por elites doentes, é também aquele que nos ensinou que para desafinar o coro dos contentes não é necessário ser soturnamente triste. Com que contentamento e com que jovial audácia Raul não encarnava a ovelha negra! Esta é uma mosca risonha pousando nas intragáveis sopas dos dogmáticos, dos fanáticos, dos caretas. Como a Mafalda de Quino, Raul é um quixotesco protestador contra as sopas azedas deste mundo. E, nos antípodas do inseto nauseante e repugnante no qual o Gregor Samsa de Kafka se viu transformado, Raul Seixas é uma mosca feliz e saltitante. Provoca e alfineta, introduz a dissonância no coro dos normais, questiona as autoridades autoritárias, abre novas vias de interpretação do mundo e da vida, escancarando portas e janelas com pontapés de poeta... O estrago que causou, a influência que gerou e os encantamentos que despertou prosseguem agindo e ecoando, anos e anos depois que os primeiros vermes roeram as frias carnes de seu cadáver alcóolatra e de pâncreas mutilado. E hoje em dia, fantasma entre nós, que frequenta nossos pesadelos e sonhos, que anima nossas festas e nossos cinemas, que é semente nos solos de nossa cultura e inspiração para o desabrochar de nossa criatividade, Raul parece uma figura que saiu da vida só para gozar, altaneiro, da notável sobrevida dos mitos.





quinta-feira, 10 de maio de 2012

Chestov, Rauuul & Vedder em 3 lições de sabedoria




“É realmente indispensável para o homem possuir desde sua primeira infância certas convicções imutáveis, preparadas de antemão e que devem valer por toda a sua existência? Na minha opinião, isso não tem nada de indispensável. O homem vive e a vida lhe ensina um bocado de coisas. Aquele que atinge sua velhice sem nada ter aprendido de novo não conquistará nosso respeito, mas muito mais nosso assombro por sua insensibilidade. [...] As convicções recebidas de outrem, já prontas, têm menos valor do que aquelas que elaboramos nós mesmos sob a ação de nossa própria experiência e dos desafios enfrentados.”
— León CHESTOV (1866-1938)
A Filosofia da Tragédia: Dostoiévski e Nietzsche
(Paris, Editions de la Pléiade, 1926)

Como cantava Rauuul: "eu prefiro seeeeeeeer... essa metamorfose ambulante... do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo..."



Eddie Vedder (do Pearl Jam) - "Into the Wild" [Trilha Sonora Original]
Click para ouvir na íntegra (13 músicas)
(Baita disco lindo...)

Punk Rock Anthems (Coleta em 3 volumes e 36 pauladas)



Punk Rock Anthems (Vol. #03)
01. BLACK FLAG, "Rise Above" 
02. HÜSKER DÜ, "Turn on the News" 
03. THE REPLACEMENTS, "Bastards of Young" 
04. SLEATER-KINNEY, "You're No Rock'n'roll Fun" 
05. THE MUFFS, "Kids in America" 
06. THE GITS, "Absynthe" 
07. GREEN DAY, "Basket Case" 
08. THE DT'S, "Freedom" 
09. THE HIVES, "Die All Right!" 
10. BLONDIE, "11:59" 
11. JOE STRUMMER & THE MESCALEROS, "Arms Aloft" 
12. RAGE AGAINST THE MACHINE, "Killing in the Name Of"





Punk Rock Anthems (Vol. #02)

 01. THE UNDERTONES, “Teenage Kicks”
 02. THE DISTILLERS, “City of Angels”
03. THE DEAD BOYS, “Sonic Reducer”
04. PEARL JAM, “Do The Evolution”
 05. RICHARD HELL & THE VOIDOIDS, “Blank Generation”
 06. MC5, “Kick Out The Jams”
07. PATTI SMITH, “Rock’n’roll Nigger”
08. BIKINI KILL, “Rebel Girl”
09. G.B.H., “Cadilac One”
10. X, “Your Phone’s Off The Hook”
11. MUDHONEY, “Pump It Up”
12. THE MAKERS, “Too Many Fuckers On The Streets”




Punk Rock Anthems (Vol. #01) 

01. IGGY & THE STOOGES, “Search & Destroy” 
02. RAMONES, “Sheena Is a Punk Rocker” 
03. SEX PISTOLS, “God Save The Queen” 
04. DEAD KENNEDYS, “California Übber Alles” 
05. THE CLASH, “Clampdown” 
06. RANCID, “Bloodclot” 
07. RADIO BIRDMAN, “Murder City Nights” 
08. FUGAZI, “Waiting Room” 
09. JOHNNY THUNDERS, “Born To Lose” 
10. THE SAINTS, “I’m Stranded” 
11. THE SONICS, “Shot Down” 
12. NIRVANA, “Breed”

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Um Mestre Cirandeiro Nos Balés da Tormenta







S I B A



"Uma serpente que não troca de pele morre.
O mesmo acontece com um espírito que se impede de mudar de opinião."

(Nietzsche)


Nos Balés da Tormenta


Dançar um balé em meio à tormenta: esta imagem poética me parece encapsular Siba em uma pílula. Pensa-se, de modo geral, que dançar é coisa a se fazer em tempos de alegria, em dias de festa, em meio ao colorido das bexigas ou o alvoroço dos fogotórios. Siba parece querer nos dizer que isto é limitar a dança a um modelo muito estreito. É tentar inserir um quadro vasto numa moldura muito apertada. Pois dançar em meio à tristeza pode ser tão ou mais vital do que todo bailar jovial. 

Samuel Beckett
A expressão "balés da tormenta" me trouxe à mente a arte de dançar na beira do abismo que filmes como Dançando no Escuro (Lars Von Trier),  Cisne Negro (Darren Aronofsky) e Pina (Wim Wenders) nos pintaram no cinema. Nessas obras leio um ímpeto de não se deixar enrijecer pelas desgraças, não perder o frescor com a maturação, não cessar de cantar mesmo em meio à tormenta. Não perder o ritmo e a melodia mesmo quando a coisa 'tá preta, mesmo com o pé na forca. Afinal, como bem disse Samuel Beckett, numa frase que Manoel de Barros apreciava tanto que a mandou imprimir num de seus caderninhos, "quando se está com merda até o pescoço... o melhor a fazer é CANTAR!"

Nos Balés da Tormenta, filme que documenta a trajetória e as metamorfoses do artista pernambucano Siba, é um acompanhamento audio-visual ao disco mais recente daquele que um dia foi rotulado como  "cirandeiro", mangueboy, repentista e o caralho a quatro. Siba explora em Avante (2012) um novo território: abandona o climão carnaval-de-rua que dava o tom à Fuloresta e investe num novo formato, agora com guitarra elétrica, tuba (!) e uma poesia menos folclórica e mais confessional. "Se o tempo fosse parado, nada existia no mundo", cantava Siba junto aos metais da Fuloresta no álbum Toda Vez Que eu Dou Um Passo, O Mundo Sai do Lugar. Siba não crê em tempos parados, mas sim na afirmação da mudança. 

O filme acaba sendo uma celebração desta capacidade humana que alguns artistas desenvolvem ao extremo: a de auto-transformação, auto-reinvenção, bowiezação. Uma tentativa de encarnar a "metamorfose ambulante" um dia celebrada por Raul. Siba fala às câmeras, em vários momentos, da necessidade de quebrar com os padrões repetitivos, de ousar o novo para fugir da monotonia, da sensação de que ser papagaio não é destino digno de homens. O que me fez pensar no que dizia Wittgenstein sobre os revolucionários - “Será revolucionário quem a si próprio conseguir revolucionar-se.” 


Claro que chamar de "revolucionário" qualquer dos trabalho de Siba, tão calcados nas tradições musicais nordestinas, tão enraizados em solo fertilizado com mitos afro-brasileiros ancestrais e costumes legados por antigas gerações, talvez seja exagero. O Siba não me parece um artista que quer "renovar por renovar" - não é como esses artísticas plásticos contemporâneos que veneram a originalidade acima de todo o resto e por isso pensam que realizaram obras-primas ao construir algo estranhíssimo e nunca dantes visto na história deste planeta. Siba parece pôr a poesia acima da própria música em seu próprio modelo hierárquico, apesar de sua postura, no geral, anti-hierárquica. Ao invés de colocar o rock "acima" dos ritmos mais "folclóricos", ao invés de louvar a guitarra elétrica como um deus diante do qual os pandeiros e chocalhos nas ruas seriam pouca porcaria, Siba afirma que estes estilos estão em pé de igualdade e são meios igualmente possíveis para atingir um fim poético, estético, encantatório...

Siba foi uma das forças criativas que, na Recife de fim-de-século, quando a Internet nascia e a imagem da parabólica fincada na lama sinalizava para novos tempos em aurora, ajudou a pôr lenha na efesvescência do manguebeat. Naquela época, enquanto Chico Sciente e a Nação Zumbi, Mundo Livre S.A. e Sheik Tosado, dentre outros, capturavam a atenção de todo o Brasil com o ineditismo daquela mescla, Siba - junto ao Mestre Ambrósio - já tratava de quebrar os moldes e sugerir que, sim, não há contradição entre rock e rabeca, entre cibercultura e festas folclóricas, entre balés e tormentas.

Hoje em dia, "veterano" daquela cena, Siba soma forças com Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, e prossegue seu poetizar num percurso muito próprio. É um percurso onde parecem coexistir, numa  relação cada vez mais serena, um desejo de enraizamento (de resistência à perda das "auras" que a urbanização vai acarretando) e um outro desejo de renovação, de experimentação, de quebra de paradigmas e busca de vias inéditas. Nos Balés da Tormenta tem a grande virtude de permitir ao espectador conhecer todo o "contexto" no qual Siba compõe e cria: é um retrato de um artista em suas inquietações, suas dúvidas, seus tateios, que rascunha para si mesmo um caminho de serpente - bicho que, se não trocar de pele, morre. Abandonar-se à aventura de uma estrada nova parece ser a mania deste cantador que às vezes pode até nem saber pra onde vai, mas que concebe como destino ir sempre avante.



Versão em curta-metragem do documentário dirigido por Caio Jobim e Pablo Francischelli. 
O filme está sendo exibido pelo projeto Conexão Vivo Movida, uma mostra de videoclipes e documentários musicais que passa em 2012 por 5 capitais: Goiânia [programação completa], São Paulo, João Pessoa, Belo Horizonte e Salvador. 


download (via Hominis Canidae)
download (via Hominis Canidae)
1996 - download (via Hominis Canidae)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Grooooovy!



Groovy Sharks

Some deliciously dangerous grooves. Funk, r&B, soul, rock'n'roll and much more. Includes music by Sly & The Family Stone, Funkadelic and Etta James. - CHECK IT OUT: 16 MIXTAPES ON DEPREDANDO’S 8TRACKS
TABLE OF CONTENTS (tradução simultânea: A MESA DOS CONTENTES) >>> 01) T REX - “Bang a Gong (Get It On)”; 02) FUNKADELIC - “One Nation Under a Groove”; 03) BELLRAYS - “Infection”; 04) SLY & THE FAMILY STONE - “I Wanna Take You Higher”; 05) MARVIN GAYE - “Keep Gettin’ It On”; 06) ETTA JAMES - “I Just Want to Make Love To You”; 07) BEN HARPER - “Brown Eyed Blues”; 08) PRIMAL SCREAM, “Swastika Eyes”; 09) BECK, “Sexxx Laws”; 10) THE BLACK KEYS, “Lonely Boy”; 11) TALKING HEADS, “Life During Wartime”; 12) GRAND FUNK RAILROAD, “We’re an American Band”.

Jeff Buckley: Amazing Grace (documentário, 2004, 58 min)


"This hour-long independent documentary investigates the power behind Jeff Buckley’s musical legacy and finds revelation at its heart–the fans. The film includes rare performances, exclusive video footage and interviews with all four Jeff Buckley Band members, friends, family and colleagues, as well as artists (composers, painters, dancer sand singers) who pay tribute to how Jeff inspired them. Produced and directed by first-time filmmakers, the documentary screened at 25 film festivals worldwide (Seattle International Film Festival, Cinequest, CMJ, etc.) and won four awards, including best music documentary and best film."

Confira na íntegra >>>