quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Grito da Liberdade: Rio, 31 de Outubro de 2013


GRITO DA LIBERDADE
Rio de Janeiro - 31 de Outubro - 15h
Página do evento

MANIFESTO

"O Grito da Liberdade é um ato pela liberdade dos GRITOS!

O ato é uma convocação popular às ruas pelo fim do momento de exceção ao qual o Rio de Janeiro tem sido submetido por seus governantes. Nosso grito é contra a aplicação das leis de Segurança Nacional e de Crime Organizado contra manifestantes, pela libertação imediata dos presos políticos e pelo direito amplo e irrestrito de livre manifestação, garantido na Constituição de 1988, e que tem sido sistematicamente violado pelo Estado em nome dos megaeventos.

Que possamos ter o DIREITO de GRITAR nossas pautas com LIBERDADE!

Nos últimos meses, a barbárie que sempre existiu nas favelas, em especial contra a juventude negra, chegou às ruas para tentar calar as vozes daqueles que exercem sua liberdade de expressão na luta por direitos. Nesse contexto, todos os movimentos sociais e cidadãos têm sido criminalizados com a ajuda das grandes corporações de comunicação.

Estamos aqui para DENUNCIAR os crimes cometidos pelo Estado e comunicar que vamos ficar nas ruas até que os nossos direitos fundamentais sejam respeitados e nossas pautas atendidas, sendo elas:

(1) Fim das prisões políticas
Ninguém deve ser detido sem que haja mandado de prisão ou flagrante delito, nem nas favelas, nem nas manifestações. Contra a arbitrariedade dos mandados de prisão. Repugnamos o uso da Lei de Segurança Nacional e da Lei 12.850 contra os manifestantes.

(2) Anistia aos processados e aos presos políticos
Todos os procedimentos policiais (Registros de Ocorrência, VPIs e inquéritos) e judiciais (processos), abertos arbitrariamente contra manifestantes, devem ser extintos.

(3) Garantia do direito à livre manifestação
Liberdade irrestrita de expressões artísticas, culturais, sociais e políticas nas ruas, praças e espaços públicos.

(4) Fim da violência policial
As polícias abusam de seus poderes a mando do Estado, executando negros, pobres e moradores de favela, e perseguindo violentamente os manifestantes que estão nas ruas. Exigimos o fim dos desaparecimentos forçados, do uso de armas letais em manifestações, do uso abusivo de armamentos “não letais” e dos autos de resistência.

(5) Desmilitarização da PM
Queremos o fim da Polícia Militar e a reestruturação da política de segurança do Estado.

(6) Fim da “pacificação” armada
Não acreditamos na pacificação armada das comunidades. Exigimos a revisão das práticas arbitrárias e reprodutoras de violência utilizadas pelas UPPs. Revisão da atual política de combate às drogas, visto que é uma questão de saúde e não de polícia.

(7) Investigação dos crimes cometidos pelas polícias Militar e Civil através de Corregedorias independentes dos governos dos quais elas fazem parte.
O Estado não deve investigar a si mesmo. Queremos uma investigação efetiva.

(8) Democratização dos meios de comunicação
Repúdio à conivência da grande mídia corporativa com a violência do Estado e a distorção de fatos na tentativa de criminalização dos movimentos sociais. Faz-se urgente o fim do monopólio da mídia, representado principalmente pelas Organizações Globo.

(9) Marco Civil da Internet
Queremos a aprovação integral do Marco Civil da Internet, com exclusão do parágrafo 2º do Artigo 15, que garanta a liberdade de expressão, a privacidade e a neutralidade na rede.

(10) Abertura de diálogo entre Estado e sociedade civil
Todas as pautas das ruas e formas de expressão da revolta popular devem ser escutadas e discutidas. Lembramos que: “Todo o poder emana do povo” (Constituição da República Federativa do Brasil).

Lutamos, ainda, pelas pautas que estão nas ruas e alimentam o movimento há meses:

Pelos direitos dos profissionais da educação e por melhorias nas condições de ensino público; pela valorização da cultura como eixo fundamental da educação do povo; por uma saúde pública melhor, universal, com mais médicos e equipamentos nos hospitais; contra as remoções; pelo direito à mobilidade urbana, com uma CPI dos ônibus idônea, por melhorias nos serviços explorados por Supervia, Barcas S.A. e Metrô, e a favor da catraca livre.

Contra os gastos abusivos com a Copa e as Olimpíadas; contra as privatizações; contra a corrupção, desvio de verbas públicas e altos impostos; por reformas políticas que possam integrar o povo às decisões políticas; pelos direitos indígenas, demarcação de terras e em apoio a Aldeia Maracanã; contra a homofobia e a violência contra a mulher; contra a venda do pré-sal e a privatização do setor petrolífero.”




Movimentos e coletivos envolvidos: 

- A Nova Democracia
- Alalaô
- Aldeia Maracanã
- Assembléia Nacional de Estudantes Livres (ANEL)
- Assembléia Popular
- BeijATO ***
- CEP 20.000
- Central de Videativismo
- Centro Academico de Serviço Social José Paulo Netto / UFRJ
- Coletivo Calisto
- Comitê Popular de Defesa de Direitos Fundamentais dos Manifestantes
- Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas
- Coletivo Projetação
- Coletivo Q-Politica?
- Coletivo Mariach
- Coletivo Vinhetando
- CSP Conlutas / PSTU
- CurtaCinema - FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURTAS DO RIO
- DCE/UFRJ
- ECO/UFRJ
- Escola Estadual Deodoro da Fonseca
- etnohaus
- FIP
- Fora do Eixo
- Frente Nacional Quilombola
- IFHEO - Instituto de Formaçnao Humana e Educação Popular
- Linha de Frente Audiovisual
- Meu cu é laico
- MIC - Mídia Independente Coletiva
- Mídia-Q
- Mídia NINJA
- MLM - Movimento pela Legalização da Maconha
- Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe
- MUP/RJ - Movimento por uma Universidade Popular
- Nada Deve Parecer Impossível de Mudar
- Nossa Japeri
- Nucleo Socialista de Campo Grande
- O Cidadão
- Ocupa Câmara Rio
- Ocupa Lapa
- Ocupa Cabral
- Ocupa Alemão
- Pink Bloc
- Presença dos Presos Políticos
- Profissionais da Educação Pública Municipal Independente
- Reage Artista
- RDIDH (Rede de Defensores Independente dos Direitos Humanos)
- Rede Alternativa
- Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência
- Rio na Rua
- Tropa de Prof
- UJS - União da Juventude Comunista
- Videoposter Livre
- Voz das Ruas

domingo, 27 de outubro de 2013

R.I.P. Lou Reed (1942 - 2013)

(2 de Março de 1942 - 27 de outubro de 2013)

Morreu hoje, aos 71 anos de idade, o ícone Lou Reed (que faz companhia, na foto acima, a seus "trutas" David Bowie e Iggy Pop). Leia o necrológio da Rolling Stone gringa [http://rol.st/1g51ym2] e aproveite para relembrar alguns dos álbuns mais importantes de sua carreira-solo e com o Velvet Underground. Descanse em paz, Lou, enquanto nós seguimos embarcando em suas criações e curtindo caminhadas pelo lado selvagem...

SOLO 


VELVET UNDERGROUND

Download da discografia completa

DOCUMENTÁRIO COMPLETO:

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

The Doors - Discografia completa de álbuns de estúdio para download

Abra as portas da percepção e embarque nesta viagem pelos seis álbuns de estúdio do The Doors. Os discos, que disponibilizamos abaixo para download ou audição, foram relançados no BOX Infinite (2013), da Analogue Productions. Aprecie sem moderação!




THE DOORS

Jim Morrison - vocal
Ray Manzarek - teclados 
John Densmore - batera 
Robby Krieger - guitarra 

sábado, 19 de outubro de 2013

Manifesto pela Libertação dos Animais + "Terráqueos" (documentário completo e legendado)

MANIFESTO PELA LIBERTAÇÃO DOS ANIMAIS

Bilhões de seres vivos são confinados, torturados e sacrificados a cada ano por nossa espécie. Este massacre desumanizador pode ser perfeitamente evitado – desde que se deixe de rebaixar os animais ao status de propriedade


* * * * *

Segundo o ministério norte-americano da Agricultura, só os Estados Unidos abatem mais de oito bilhões de animais por ano, para alimentação. A cada dia, mais de 22 milhões são sacrificados nos abatedouros dos EUA, isto é: mais de 950 mil por hora, 16 mil por minuto! Apesar dos progressos efetuados nos últimos anos, continuam a ser mantidos em condições de criação intensiva apavorantes, mutilados de diversas maneiras, sem anestésicos, transportados por longas distâncias em compartimentos exíguos e insalubres, para serem finalmente executados aos gritos, no ambiente fétido e imundo de um abatedouro.

Os animais silvestres não estão em situação melhor. Nos EUA, cerca de 200 milhões são vítimas da caça, todos os anos. Milhões são também utilizados para a pesquisa biomédica e o teste de novos produtos. Medem-se neles o efeito de toxinas, de doenças raras, de moléculas experimentais, das radiações, dos tiros de armas de fogo e são submetidos a múltiplas formas de privações físicas ou psicológicas. Se sobrevivem aos experimentos, são quase sempre mortos logo em seguida ou reciclados para outras experiências, que dessa vez porão fim à sua resistência. Circos, zoológicos, desfiles, parques, espetáculos de golfinhos e outros utilizam os animais com o único fim de divertir. Mais de 40 milhões de bichos de pelo são abatidos, a cada ano, pela moda…

Antes do século 19, os animais eram considerados objetos. Mesmo para Descartes, um gemido de cão era semelhante ao rangido de um mecanismo que precisasse de óleo. Falar de nossas obrigações morais para com os animais, “máquinas criadas por Deus”, não tinha, para o autor do Discurso do Método, mais sentido do que falar de nossas obrigações morais para com os relógios, máquinas criadas pelos homens.

O princípio humanista do tratamento médico dos bichos doentes e a aplicação de leis sobre o bem-estar animal que dele resulte supõe que aceitemos perguntar a nós mesmos se o sofrimento animal é indispensável. Se o fato de não utilizar os animais para nosso conforto causaria a nós mais prejuízo do que o sofrimento causa aos animais. Em geral, o interesse humano prevalece, e o sofrimento animal é considerado “um mal necessário”. Por exemplo, a lei britânica que regula a utilização de animais de laboratório exige, antes que um experimento comece, uma avaliação dos “possíveis efeitos nocivos sobre os animais envolvidos, em relação ao benefício que possa resultar do experimento”.

Para que uma proibição do sofrimento animal tenha algum alcance, é preciso que condene qualquer dor infligida unicamente por prazer, diversão ou conveniência. Usar um casaco de pele, impor às cobaias múltiplos testes para os produtos domésticos ou novas marcas de batom não tem relação com nenhum interesse vital para o ser humano. Comer carne é considerado nocivo à saúde pela maior parte dos nutricionistas. Aliás, especialistas em ecologia apontaram os danos que a criação intensiva causa ao nosso ambiente. Para cada quilograma de proteínas animais fornecidas, o animal deve consumir cerca de 6 quilogramas de proteínas vegetais e de forragem. Além disso, produzir um quilo de carne exige mais de 100 mil litros de água, enquanto a produção de um quilo de trigo não chega a exigir 900 litros…

* * * * 

II. Propriedade, base para a escravidão

A incoerência entre nossos atos e nossos pensamentos a respeito dos animais vem do seu estatuto de propriedade. Segundo a lei, “os animais são propriedades, do mesmo modo que objetos inanimados como os carros ou os móveis”. Os animais são considerados pertencentes ao patrimônio do Estado, que os põe à disposição do povo; mas eles podem tornar-se propriedade de indivíduos por meio da caça, do amestramento ou confinamento. O "sofrimento" dos proprietários, por não poder usufruir de sua "propriedade" a seu bel-prazer, conta mais do que a dor do animal. A partir do momento em que se trata de interesses econômicos, não existe mais limite para a utilização ou para o tratamento abusivo dos bichos.

A criação intensiva, por exemplo, é autorizada porque se trata de uma exploração institucionalizada e aceita. Os industriais da carne avaliam que as práticas de mutilar animais, sejam quais forem a dor e o sofrimento suportados por eles, são normais e necessários. Os tribunais presumem que os proprietários não infligirão intencionalmente atos de crueldade inútil, que diminuiriam o valor monetário do animal. As leis de bem-estar animal visam proteger os animais enquanto bens comerciáveis. Os avanços da indústria agro-alimentar em seu favor obedecem, em geral, a critérios de rendimento econômico, tendo os animais um valor mercantil.

Se queremos de fato fazer avançar o estatuto do animal em nossa sociedade, devemos aplicar o “princípio de igualdade de consideração” (regra segundo a qual devemos tratar de modo igual os casos semelhantes), uma noção essencial a qualquer teoria moral. Mesmo que exista um grande número de diferenças entre os humanos e os animais, pelo menos uma coisa fundamental nos aproxima: nossa capacidade de sofrer.

Se nosso desejo de não fazer os animais sofrerem inutilmente reveste-se de alguma significação, deveríamos então conceder-lhes a igualdade de consideração. O problema é que a aplicação desse princípio já fracassou no tempo da escravidão, que autorizava pessoas a exercer um direito de propriedade sobre seus semelhantes. A instituição da escravidão humana era estruturalmente idêntica à da possessão de um animal. O escravo era considerado um bem, seu proprietário podia não levar em conta seus interesses se isto não lhe fosse economicamente proveitoso.

Admitia-se, certamente, que o escravo podia experimentar sofrimento. Todavia, as leis para o respeito de seu bem-estar fracassaram pelas mesmas razões que as leis pelo respeito ao bem-estar animal fracassam em nossos dias: nenhum limite real é fixado para o nosso direito de propriedade. Os interesses dos escravos só eram preservados quando geravam lucro para os proprietários ou atendiam a seus caprichos.

Atualmente, o interesse de um ser humano em não ser considerado propriedade é protegido como um direito. Ter o direito fundamental de não ser tratado como uma propriedade é uma condição mínima para existir como pessoa. Se quisermos modificar a condição dos animais, devemos estender a eles este direito que decidimos aplicar a todos os humanos, sejam quais forem suas particularidades. Isto não erradicaria todas as formas de sofrimento, mas significaria que os animais não poderiam mais ser utilizados como fonte de lucro. Por que julgamos aceitável caçar animais, aprisioná-los, exibi-los em circos e zoológicos, utilizá-los em experimentações e comê-los – em outras palavras, tratá-los como nunca ousaríamos tratar ser humano algum?

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III. Libertar o animal, objetivo humanista

A tese segundo a qual os seres humanos são dotados de características mentais completamente ausentes nos animais é contraditória com a teoria da evolução. Darwin afirmava que não existem características exclusivamente humanas: “A diferença de inteligência entre o humano e o animal mais evoluído é uma questão de grau e não de espécie.” 

Mesmo se não somos capazes de avaliar a natureza precisa da consciência animal, parece evidente que todo ser dotado de percepção é consciente e possui uma existência mental contínua. O professor Antonio Damasio, um neurologista que trabalha com pessoas atingidas por infartos cerebrais e graves danos ao cérebro, atesta que estes doentes possuem o que ele chama de «núcleo de consciência». Os humanos que sofrem de amnésia transitória, por exemplo, não têm noção alguma do passado ou do futuro, mas conservam uma consciência de seus corpos em relação aos objetos e aos acontecimentos presentes. Damasio afirma que numerosas espécies animais detêm esse mesmo núcleo de consciência.

O fato de eles não terem noção autobiográfica de suas vidas (pelo menos que seja do nosso conhecimento) não significa que não tenham uma existência mental contínua, ou que não experimentem interesse algum por viver, ou que o matador lhes seja indiferente. Os animais possuem uma inteligência considerável e são capazes de tratar uma informação de modo sofisticado. Como os humanos, comunicam-se com membros de sua própria espécie. Está provado, por exemplo, que os grandes macacos utilizam uma linguagem simbólica.

Talvez nenhum animal – exceto o ser humano – seja capaz de se reconhecer em um espelho, mas nenhum humano é capaz de voar ou de respirar debaixo d’água sem ajuda. Por que a capacidade de se reconhecer no espelho ou de utilizar a linguagem articulada seria superior, no sentido moral do termo, ao poder de voar ou de respirar debaixo d’água? A resposta, bem entendido, é que nós o proclamamos. Mas não existe razão alguma para concluir que as características pretensamente exclusivas do ser humano justifiquem o fato de que tratemos o animal como uma propriedade mercantil. Alguns seres humanos são privados destas características, e no entanto nós não os consideramos objetos. Por conseguinte, a questão central não é: os animais podem raciocinar? Ou: podem falar? Mas, precisamente: eles podem sofrer?

Se queremos que seus interesses sejam respeitados, temos que conceder-lhes apenas um direito: o de não serem mais equiparados a uma simples mercadoria."

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"TERRÁQUEOS" (EARTHLINGS)
DOWNLOAD DO DOCUMENTÁRIO COMPLETO

"A desobediência civil não é nosso problema..." - Por Howard Zinn (1922-2010)


"A desobediência civil não é o nosso problema. Nosso problema é a obediência civil. Nosso problema é que muitas pessoas ao redor do mundo obedeceram às ordens dos líderes de seus governos e foram a guerra, e milhões foram mortos por causa dessa obediência... nosso problema é que as pessoas são obedientes por todo o mundo diante da pobreza, da fome, da estupidez, da guerra e da crueldade. Nosso problema é que as pessoas são obedientes diante de cadeias que estão cheias de batedores de carteira, enquanto grandes bandidos governam a nação. Eis aí o nosso problema." - Howard Zinn, historiador e cientista político

"You Can't Be Neutral on a Moving Train"
Entrevista completa (60 min)

* * * * *
Bate-papo de Zinn com Woody Harrelson em 2003,
época da invasão do Iraque (64 min)


Faça o dowload do clássico estudo de Zinn [e-book completp]
Faça o download do clássico livro de Zinn [e-book completo]
ou leia a obra on-line

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Dizzy Gillespie, um dos músicos mais geniais do Jazz, tocando Música Brasileira

Pintura de Leonid Afremov

“New Wave” (1963) – Faça o download: http://bit.ly/1fESr9H



O Brasil segundo o escritor Luiz Ruffato - "Nascemos sob a égide do genocídio..."



Discurso do escritor Luiz Ruffato na abertura da Feira do Livro de Frankfurt 2013:

“O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora? Para mim, escrever é compromisso. Não há como renunciar ao fato de habitar os limiares do século 21, de escrever em português, de viver em um território chamado Brasil. Fala-se em globalização, mas as fronteiras caíram para as mercadorias, não para o trânsito das pessoas. Proclamar nossa singularidade é uma forma de resistir à tentativa autoritária de aplainar as diferenças.

O maior dilema do ser humano em todos os tempos tem sido exatamente esse, o de lidar com a dicotomia eu-outro. Porque, embora a afirmação de nossa subjetividade se verifique através do reconhecimento do outro – é a alteridade que nos confere o sentido de existir -, o outro é também aquele que pode nos aniquilar… E se a Humanidade se edifica neste movimento pendular entre agregação e dispersão, a história do Brasil vem sendo alicerçada quase que exclusivamente na negação explícita do outro, por meio da violência e da indiferença.

Nascemos sob a égide do genocídio. Dos quatro milhões de índios que existiam em 1500, restam hoje cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades. Avoca-se sempre, como signo da tolerância nacional, a chamada democracia racial brasileira, mito corrente de que não teria havido dizimação, mas assimilação dos autóctones. Esse eufemismo, no entanto, serve apenas para acobertar um fato indiscutível: se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas – ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.

Até meados do século XIX, cinco milhões de africanos negros foram aprisionados e levados à força para o Brasil. Quando, em 1888, foi abolida a escravatura, não houve qualquer esforço no sentido de possibilitar condições dignas aos ex-cativos. Assim, até hoje, 125 anos depois, a grande maioria dos afrodescendentes continua confinada à base da pirâmide social: raramente são vistos entre médicos, dentistas, advogados, engenheiros, executivos, artistas plásticos, cineastas, jornalistas, escritores.


Invisível, acuada por baixos salários e destituída das prerrogativas primárias da cidadania – moradia, transporte, lazer, educação e saúde de qualidade –, a maior parte dos brasileiros sempre foi peça descartável na engrenagem que movimenta a economia: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país. Historicamente habituados a termos apenas deveres, nunca direitos, sucumbimos numa estranha sensação de não pertencimento: no Brasil, o que é de todos não é de ninguém…

Convivendo com uma terrível sensação de impunidade, já que a cadeia só funciona para quem não tem dinheiro para pagar bons advogados, a intolerância emerge. Aquele que, no desamparo de uma vida à margem, não tem o estatuto de ser humano reconhecido pela sociedade, reage com relação ao outro recusando-lhe também esse estatuto. Como não enxergamos o outro, o outro não nos vê. E assim acumulamos nossos ódios – o semelhante torna-se o inimigo.

A taxa de homicídios no Brasil chega a 20 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, o que equivale a 37 mil pessoas mortas por ano, número três vezes maior que a média mundial. E quem mais está exposto à violência não são os ricos que se enclausuram atrás dos muros altos de condomínios fechados, protegidos por cercas elétricas, segurança privada e vigilância eletrônica, mas os pobres confinados em favelas e bairros de periferia, à mercê de narcotraficantes e policiais corruptos.

Machistas, ocupamos o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas. Covardes, em 2012 acumulamos mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. E é sabido que, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, esses números são sempre subestimados.

Hipócritas, os casos de intolerância em relação à orientação sexual revelam, exemplarmente, a nossa natureza. O local onde se realiza a mais importante parada gay do mundo, que chega a reunir mais de três milhões de participantes, a Avenida Paulista, em São Paulo, é o mesmo que concentra o maior número de ataques homofóbicos da cidade.

E aqui tocamos num ponto nevrálgico: não é coincidência que a população carcerária brasileira, cerca de 550 mil pessoas, seja formada primordialmente por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa instrução.

O sistema de ensino vem sendo ao longo da história um dos mecanismos mais eficazes de manutenção do abismo entre ricos e pobres. Ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo: cerca de 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais – ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.

A perpetuação da ignorância como instrumento de dominação, marca registrada da elite que permaneceu no poder até muito recentemente, pode ser mensurada. O mercado editorial brasileiro movimenta anualmente em torno de 2,2 bilhões de dólares, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas a alimentar bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.

Mas, temos avançado.

A maior vitória da minha geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos, pouco, é verdade, mas trata-se do período mais extenso de vigência do estado de direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. Inegável, ainda, a importância da implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas.

Infelizmente, no entanto, apesar de todos os esforços, é imenso o peso do nosso legado de 500 anos de desmandos. Continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.

Nós somos um país paradoxal.

Ora o Brasil surge como uma região exótica, de praias paradisíacas, florestas edênicas, carnaval, capoeira e futebol; ora como um lugar execrável, de violência urbana, exploração da prostituição infantil, desrespeito aos direitos humanos e desdém pela natureza. Ora festejado como um dos países mais bem preparados para ocupar o lugar de protagonista no mundo –amplos recursos naturais, agricultura, pecuária e indústria diversificadas, enorme potencial de crescimento de produção e consumo; ora destinado a um eterno papel acessório, de fornecedor de matéria-prima e produtos fabricados com mão de obra barata, por falta de competência para gerir a própria riqueza.

Agora, somos a sétima economia do planeta. E permanecemos em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos…

Volto, então, à pergunta inicial: o que significa habitar essa região situada na periferia do mundo, escrever em português para leitores quase inexistentes, lutar, enfim, todos os dias, para construir, em meio a adversidades, um sentido para a vida?

Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade. Em nossos tempos, de exacerbado apego ao narcisismo e extremado culto ao individualismo, aquele que nos é estranho, e que por isso deveria nos despertar o fascínio pelo reconhecimento mútuo, mais que nunca tem sido visto como o que nos ameaça. Voltamos as costas ao outro –seja ele o imigrante, o pobre, o negro, o indígena, a mulher, o homossexual– como tentativa de nos preservar, esquecendo que assim implodimos a nossa própria condição de existir. Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias. Porque penso que o destino último de todo ser humano deveria ser unicamente esse, o de alcançar a felicidade na Terra. Aqui e agora.”

Luiz Ruffato