domingo, 28 de dezembro de 2008

:: Fucked Up ::

:: HARDCORE IS ALIVE AND KICKING! ::
por LuxPonja

Fucked Up são uns malucos canadenses, cachorros raivosos e perigosos, que desde 2002 vem nos ensinando como chutar o balde bem pro alto: o hardcore vive! Se você está cansado do chororô emo, do jeitinho blasé do roquinho moderno e do mofo dos grandes dinossauros, dê um mosh para dentro deste mundo cheio de som e fúria - muita, muita fúria! - que esses fodidos criaram em dois álbuns estupendamente ofensivos e instigantes.

Eu não queria ter que apelar para este rótulo altamente ridículo de Hardcore Inteligente (blergh!). Até porque, ao contrário do que pensam os preconceituosos, que julgam este estilo mera berração descerebrada de desmiolados jovens suburbanos iletrados, há carradas de sagacidade e filosofia de prima em clássicas bandas como os Dead Kennedys, o Rancid e o Fugazi (para ficar só na Santíssima Trindade). Mas vá lá, se for para seduzir os hesitantes a cairem dentro, cêdo à tentação de dizer: Fucked Up é isso... "hardcore inteligente". Sem perder um grama de fúria por isso.

Esta não é uma banda de hardcore tradicional, porém. O primeiro álbum dos caras, por exemplo (Hidden World, de 2006), é um Leviatã do tamanho de um disco do Dream Theather. Parece um pouco com um álbum de crianças hardcore que gostavam muito de ouvir Slayer e Napalm Death, que estão muito putas da vida com muita coisa e provavelmente acham muito bonita a enunciação de William Blake: "o caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria". Eis uma banda de excessos.

Você esperaria que um álbum de hardcore com 13 músicas teria, no máximo, uns 26 minutos de duração, certo? A estréia do Fucked Up tem nada menos que 70 (SETENTA!) - e tem música com mais de 9 minutos de podreira e nada menos que NOVE faixas que ultrapassam os 4 minutos e meio. Mark Deming comenta:

"The group strays far from the standard template of four-four punk stomp, incorporating extended instrumental workouts, unusual arrangements, and lengthy experimental passages along with the furious guitars and ranting vocals. While Fucked Up have paid homage on record to pioneering anarchist movements and creative and political troublemakers of all stripes, they've also flirted with fascist images and obscure mysticism in a bid to puzzle and confront their audiences."

Os membros da banda possuem codinomes que ainda não decidi se são ridículos, ironicamente bacanas ou completamente insanos. O vocalista se chama Olhos Cor-de-Rosa, um dos guitarristas se chama Campo de Concentração e o baixista é conhecido como Gás de Mostarda. Só pra dar uma idéia.

Em 2008, a banda causou estrago: adicionou um TERCEIRO GUITARRISTA ao line-up, um tal de Jovem Governador, como se quisessem vencer o Iron Maiden em termos de potência guitarrística concentrada, e lançaram via Matador o elogiadíssimo The Chemistry Of Common Life, tido como um dos 20 melhores discos do ano pelas respeitadíssimas revistas eletrônicas Pitchfork e Pop Matters. Tornaram-se ainda a primeira banda de hardcore a aparecer na capa do NME (New Musical Express), o semanário musical mais pimpão da terra dos Beatles.

Jason Lymangrover comenta: "The Chemistry of Common Life is a lush, expansive masterpiece that dismisses the theory that punkers have to follow a concrete formula of short and fast songs with raw-edged production. (...) It's a unique mash of styles, and iconoclastic as always. Of course, this shouldn't be a surprise to anyone who has followed their haphazard career." Já Adrien Begrand dá o veredito: "One of hardcore punk’s most admirable characteristics is its unwavering dedication to the music’s formula, but at times, the limitations of the genre’s self-imposed parameters can make for a hell of a lot of repetition, so the fact that Fucked Up has come along in the last couple years and blown the sound wide open is the best, not to mention most polarizing thing to happen to hardcore in a long, long time."

Depredando, pois, presta este lindo desserviço à civilização estabelecida e disponibiliza aqui a discografia do Fucked Up. It's time to kick out the jams, motherfuckers!


DOWNLOADS:

2006 - "HIDDEN WORLD" (98 MB)
http://www.mediafire.com/?jyqvlmn1kml



2008 - "THE CHEMISTRY OF COMMON LIFE" (80 MB)
http://www.mediafire.com/?mfm00nrmj2m

metacritic :: pitchfork :: myspace


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

:: vox populi elege as bolachas dos 70 ::


Resultado da 1a Enquete Depredando:

QUAIS OS MELHORES ÁLBUNS DOS ANOS 70?

01. PINK FLOYD, Dark Side Of The Moon (37 votos)
02. THE CLASH, London Calling (34 votos)
03. LED ZEPPELIN, IV (33 votos)
04. MUTANTES, A Divina C0média
..... ROLLING STONES, Exile On Main Street
..... DAVID BOWIE, Ziggy Stardust (18 votos)
07. RAMONES, Rocket to Russia (15 votos)
08. CHICO BUARQUE, Construção (14 votos)
09. STOOGES, Fun House (13 votos)
..... RAMONES, 1 (13 votos)

TOTAL: 68 eleitores.

domingo, 21 de dezembro de 2008

:: Seaweed ::



:: SEAWEED ::

Taí uma banda que me deixou fissurado ultimamente. O que a molecada emo vem tentando fazer hoje em dia, quase sempre com resultados desastrosos, o Seaweed faz com muito mais energia e ferocidade desde o fim dos anos 80: punk rock flamejante tocado com muita emoção, garra e melodias grudentas. Num dá pra não gostar! Este quinteto de Washington, ativo por todos os anos 90, foi uma das bandas menores veiculadas pela Sub Pop no começo da década do grunge, sendo uma das bandas mais queridas do rock underground capitaneado pela grande gravadora de Seattle. Enquanto Pearl Jam, Nirvana, Alice in Chains e Soundgarden faziam estragos nas paradas, debaixo da superfície bandas menores também faziam fervilhar a cena com doses cavalares de bom rock and roll - ao lado de Mudhoney, Melvins, Screaming Trees, Green River e The Gits, estava lá o grande Seaweed, que o Depredando agora apresenta em 4 discos essenciais:

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

:: natal em marte ::



"The film essentially encompasses everything Wayne Coyne has ever sung about-- the future, outer space, stressed-out scientists, heroism, insanity, the inevitability of death, hope in the face of disaster, the perseverance of the human spirit, mankind's miniscule standing in the universe at large, and, yes, Christmas. And as ridiculous as the idea of Coyne making a sci-fi film in his backyard may be, it was a logical step for a band that's historically found its stage-show inspiration in the local hardware store. But compared to the orgiastic circus of balloons, confetti, and dancing mascots that has come to define the the Flaming Lips' live set-up, Christmas on Mars is a starkly rendered, sometimes ponderous, rather bleak affair. The film plays like a 2001 that looks like it cost $2,001 to make."

PITCHFORK


THE FEARLESS FREAKS STRIKE AGAIN!
- por Eduardo Carli de Moraes -

Eu sempre soube que o Wayne Coyne não era terráqueo. Agora que o enrustido tirou sua máscara e saiu do armário, desvelando sua verdadeira face (que é esverdeada e contêm um bigode azul e um par de antenas), eu posso afirmar orgulhoso, como o Chapolim Colorado: "Suspeitei desde o princípio!" O próprio capitão da nave-mãe diz a Wayne quando o encontra pela primeira vez: "You're a peculiar son of a bitch! You're a green silent piece of shit!"

O negócio é que o filme dos Flaming Lips acaba de sair. Sim, o FILME dos Flaming Lips! Em gestação faz um bocado de anos (uns 7), Christmas On Mars é um sensacional FREAKOUT que mostra uma das bandas de rock mais sensacionais dos últimos 20 anos invadindo a telona com muito estilo e provando que são mesmo um bando de desequilibrados. Loucura pouca é bobagem.

É meio que uma versão cyberpunk tosca de 2001 - Uma Odisséia no Espaço, com uma obsessão com bebês espaciais que remete frequentemente ao clássico do Kubrick e uma tosqueira proposital que fez a Pitchfork zoar: "parece um 2001 que custou 2001 dólares pra fazer". Espírito DYI total. É também uma espécie de Monty Phyton Viaja Pelas Galáxias, um David Lynch Filma Em Marte em Avançado Estado de Esquizofrenia ou um Tim Burton brincando de Ed Wood num filme B de sci-fi. Douglas Adams adoraria assistir essa pérola (ainda mais bizarra que a versão pro cinema do Guia dos Mochileiros) e Ray Bradbury poderia ter escrito este roteiro pensando especialmente nos Lips.

É também o conto de Natal mais insano da história da humanidade. E certamente não vai estrear num cinema perto de você.


Todos os quatro membros da banda atuam neste clássico instantâneo do cinema cult. Wayne ainda assume a direção e o papel de marciano que se fantasia de Papai Noel e viaja pelas galáxias dentro de uma bolha incandescente que ele guarda, miniaturizada, dentro de sua própria boca (!). Verdade. O guitarrista da banda, Steven Drozd, mostra-se um excelente ator no papel principal de um nêgo pirando e alucinando com o espetáculo espacial. Steven, que já protagonizou uma das cenas mais incríveis da história dos rockumentaries usando heroína na frente das câmeras em Fearless Freaks, prova aqui ser de um talento descomunal, além de possuidor de um rosto altamente plástico. É a alma do filme, deixando o Papai Noel esverdeado de Coyne soando como um mero coadjuvante.

A trilha sonora, que os Lips compuseram em parceria com o produtor Dave Friedmann, é só loucuras instrumentais um tanto intragáveis, que nos lembram do tempo em que a banda estava mais interessada em nos chocar e endoidecer do que em nos agradar. Back to Zaireeka!

Christmas On Mars é um filme sobre a loucura. Todo mundo nesta nave pousada em Marte está ficando doidão. Como se estar no espaço fosse como ter uma bad trip de LSD constante. É um contágio desenfreado. "Freaks around me freak me out!", diz um personagem. E todos ali estão virando freaks. O Papai Noel original sai correndo da espaçonave e se mata na atmosfera gélida, e aí olham pro Wayne Coyne e dizem, claro: "he can be our Santa!". Esse mais ou menos o enredo. Já as alucinações, impagáveis, são outra bela atração. Mas são de conteúdo altamente obsceno: tipo bandas militares nazistas, onde cada soldado tem na cabeça uma imensa vagina, marchando e pisando na cabeça de bebês que explodem como melancias.

Mais que um mero freakout, esse é um filme de idéias, que às vezes beira o cabecismo de um Tarkovsky em Solaris. No comecinho do filme, um astronauta olha bestificado para uma parede, como se fosse uma estátua, paralisado da cabeça aos pés, really freakin' out. Um personagem explica seu estado: "The doctor says it's caused by a confrontation with the cosmic reality. Cosmic reality: it's a real motherfucker! It's the realization that our lifes, altough very important to us, are really meaningless, nothing, just spects of dust floating through a black sea of infinity..."

Ele chega à conclusão de que os seres humanos não foram feitos para viver no espaço - que é frio, insensível e sem sentido. Christmas on Mars é, pois, uma sombria meditação sobre o nosso status de minúsculas criaturas insignificantes em meio a um imenso cosmos completamente gélido e morto, procurando pelas vias mais absurdas (como as bestas alegrias proporcionadas por um Papai Noel inventado) e mais sensatas (a perpetuação da espécie ou a invenção da Criança Estelar) encontrar um pequena dose de aconchego e de alegre delírio enquanto dure essa nossa estranhíssima, miraculosa e incompreensível passagem pelo Universo.

A impressão que dá? Que se você abrir os olhos para olhar direto para o Cosmos - COSMIC REALITY, IT'S A REAL MOTHERFUCKER! - não, não tem jeito de não endoidecer...

DOWNLOADS:

FILME EM DIVX (1.5 GB, torrent, excelente qualidade d som e img)http://thepiratebay.org/torrent/4524814/Christmas_on_Mars_(2008)_AC3_(5_1)-ZARCK

TRILHA SONORA (mp3):
http://www.mediafire.com/?mmh3zmmy1yn

domingo, 14 de dezembro de 2008

:: a mallu deles ::


:: LAURA MARLING, Alas I Cannot Swim (2008)

Com 16, essa inglesinha botou umas musiquinhas no MySpace e ganhou fama virtual; com 17 assinou contrato com a Virgin; com 18, solta seu álbum de estréia, repleto de um indie-folk bonitinho e com pitadas de melancolia que tem tudo para ser sensação. Os paralelos com a nossa menina prodígio do folk-se Mallu Magalhães são muitas. Tanto que parece uma bizarra coincidência que duas moçoilas de proposta tão parecida e de tamanha precocidade tenham surgido praticamente ao mesmo tempo. Mas as diferenças são grandes, também. A Mall me parece um pouco mais lúdica, brincalhona, meiga e infantil. Laura Marling já soa mais adulta, um tanto mais amarga, com um som que não faz feio se comparado com a obra de Feist, Karen Ann e Cat Power. Na verdade, ela cita como maior influência o sombrio e soturno Bonnie 'Prince'Billy, referência incomum para uma compositora tão nova. A moça do blog Give My Sweets falou sobre o álbum assim:

Laura Marling soa como ar puro nos dias de hoje. Você gosta dela - se tiver que gostar dela - não por causa de um timing musical incomum, por causa do contraste entre melodia doce e letras ácidas, por causa do seu sotaque ou por escrever músicas como quem escreve uma carta íntima e poética para uma amiga. Uma das coisas mais incríveis em Laura Marling é, de fato, sua voz, que consegue ter força e carregar emoção ao mesmo tempo que é suave, pecando apenas pela vulnerabilidade mostrada em "Ghosts", por exemplo, na qual sua voz mostra algo de infantil.

Outro ponto importante no que diz respeito a Laura Marling é o curioso fato de que se, daqui a alguns anos, algum desavisado pegar Alas I Cannot Swim nas mãos, ele não terá que pesquisar em livros sobre o estranho povo que viveu na nossa época. As histórias contadas por Laura Marling em suas músicas tratam de assuntos atemporais de uma maneira também atemporal, que é a construção de imagens poéticas, o que não tem sido o hábito de seus contemporâneos. Em "Alas I Cannot Swim", música que dá nome ao álbum, o fato de não saber nadar é seu obstáculo, pois tudo está do outro lado do rio: “There’s a life across the river that is meant for me/Instead I live my life in constant misery.”


Algo inovador em tempos de Regina Spektor - que canta bem, compõe como poucos, mas tem um timing exótico que eu adoro - Kate Nash e Lily Allen (mesmo eu amando de paixão a primeira, gostando muito da segunda e “curtindo” a terceira). Não é que Laura Marling esteja desvencilhada de tudo o que elas trouxeram. Na verdade, os melhores momentos de Laura Marling são os mais carregados dessa influência, como o refrão de "The Captain And The Hourglass" e "Cross Your Fingers", uma das mais pops do CD.

É empolgante pegar um CD como Alas I Cannot Swim nas mãos. A principal diferença talvez seja que, com essas características atemporais, Laura Marling dá a impressão de que, embora já seja muito talentosa, ainda vai amadurecer e nos impressionar muito, enquanto Kate Nash e Lily Allen deixam transparecer que nos conquistam somente pela juventude. A maturidade pode ser linda, gente! Basta pensar da regravação que Joni Mitchell fez de "Both Sides Now".


DOWNLOAD (mp3 de 160kps - 55MB):
http://www.mediafire.com/?mhm4wwztmm2

MYSPACE:
http://www.myspace.com/lauramarling

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

:: a nova imperatriz do blues? te cuida, janis! ::




SUSAN TEDESCHI
"Just Won't Burn"

(1998)



Just Won't Burn foi um dos discos que eu mais ouvi na vida. E mesmo tão repetidas audições não diminuiu em nada o charme irresistível que ele tem pra mim e o impacto emocional que o clássico da pequena Susan Tedeschi me causou. Foi a primeira vez que eu me apaixonei pelo blues - ou melhor: por esta loiraça de voz deliciosa que o revitalizou de modo vibrante. Eu achava "It Hurt So Bad" melhor que qualquer música da Janis Joplin. Achava que "Looking For Answers" era o tipo de pungente balada que Jeff Buckley faria se fosse uma mina. Achava que "Rock Me Right" poderia ser um rock and roll enfezado do Led Zeppelin e que essa menina bem poderia se candidatar a substituta de Robert Plant numa turnê revival. E achava estupendamente empolgantes as releituras de standards de blues que ela nos entregava em "Little By Little" ou "Mama, He Treats Your Daughter Mean".

A aparência dócil e infantil da mocinha na capa pode ser enganadora: quem já ouviu o tipo de furacão que Susan consegue criar com seu abençoado gogó sabe que aquela garotinha que parece tão meiga esconde uma fera dentro de si. Surgida na segunda metade dos anos 90 como um dos novos talentos que procuravam ressuscitar o blues, estilo jurássico muitas vezes considerado como um morto vivo em relação a seu mais famoso filhinho, o rock and roll, Susan Tedeschi vem se transformando num das forças mais explosivas do estilo na atualidade. Transpirando uma paixão inegável pelas formas mais básicas e consagradas de bluezera, a moça juntou uma boa dose de rockão clássico e de sensibilidade baladeira na receita, empunhou sua guitarra com uma competência poucas vezes antes vista numa mulher, tacou por cima sua bela voz capaz de estourar vidraças e saiu-se com um resultado que - apesar de pouco original e despretensioso - enche os ouvidos de prazer e a vida de excitação.

Principalmente por ser mulher e branquela, ela chega derrubando alguns dos estereótipos sempre vinculados ao blues. Grande parte dos maiores nomes da história do estilo - B.B. King, John Lee Hooker, Muddy Waters, Albert King, Howlin Wolf, Buddy Guy, Robert Johnson, Skip James, Junior Wells etc. - tinham em comum a pele negra. As mitologias (sempre abundantes no reino do blues) diziam que era preciso, para ser um verdadeiro bluesman, ter sentido nos ossos o sofrimento e a humilhação, que seriam depois expiados e transfigurados através da expressão musical. Não é à toa que em inglês a palavra "blues" é gíria pra designar estados melancólicos e depressivos. A "alma africana", vítima da tortura de séculos, seria então o lugar privilegiado para que vicejasse a semente dessa música básica e dolorida que transforma o sofrimento em ascensão.

Uma nova geração de artistas surgidos na década de 90 tentou questionar esse axioma que dizia que bom blues só sai da garganta de um negão. Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan e Janis já haviam inserido seus nomes na história do estilo e eram branquelos de exceção que demonstravam qualidades comparáveis àquelas dos grandes mestres. Já a nova geração tinha como principais nomes Johnny Lang, Kenny Wayne Sheperd e a própria Susan Tedeschi, figuras importantes do revival de blues-rock na última década. Muito inspirada por Janis Joplin e Bonnie Raitt (mas também por Bob Dylan, Muddy Waters, velharias gospel e R&B, entre outras coisas), Tedeschi chegou pra mostrar que pra mandar bem não era necessário exatamente ser um bluesMAN (por que não uma bluesWOMAN?) e nem tampouco ser negão.



Susan (nascida em 1970, na região de Boston), começou a fazer-se notar após o lançamento de seu segundo álbum de estúdio, esse Just Won't Burn, de 1998. O álbum, lançado por uma pequena gravadora local (Tone Cool), transformou-se num surpreendente sucesso comercial à base de publicidade boca-a-boca e vendas nas saídas dos shows. Com pouco respaldo da mídia e da MTV, o álbum teve uma vendagem estimada em 600.000 cópias, quantia bastante considerável para uma nova artista de blues.

Em 2000, Susan foi indicada pela primeira vez ao Grammy ("o Oscar da Música") como artista revelação, tendo como competidores Britney Spears, Macy Gray, Kid Rock e Christina Aguilera. Não levou o troféu, mas a indicação foi o bastante para chamar a atenção da imprensa especializada. A Rolling Stone, por exemplo, declarou que sua música representava "uma vitória para qualquer um procurando por um oásis rock and roll em meio ao árido território perdido do pop-teen". Mais duas indicações ao prêmio se seguiriam nos anos subsequentes: o de Melhor Performance Vocal Feminina em 2003 e Melhor Álbum Contemporâneo de Blues, por Wait For Me, em 2004. Abrindo shows pra gente de peso (como Rolling Stones, Bob Dylan, B.B. King e Allman Brothers), a moça já vai lentamente se consolidando como uma diva do blues.

Just Won't Burn, segundo álbum dela (o primeiro se chama Better Days e saiu em 95), traz uma série de releituras de clássicos do blues ("Little By Little" de Junior Wells, "Angel Of Montgomery" de John Prine, e o "standard" "Mama, He Treats Your Daughter Mean") lado a lado com composições originais (algumas da própria Susan, outras de seu colega de banda Tom Hambridge). Entre estas últimas, destacam-se "Rock Me Right" (blues-rock contagiante, que se tornou um improvável semi-hit nas rádios paulistanas anos atrás [principalmente na Brasil 2000]), "It Hurt So Bad" (um exercício jopliano de catarse, numa performance vocal lotada de berros e gemidos impressionantes) e a balada "Looking For Answers" (uma espécie de diálogo metafísico de Susan com o Todo-Poderoso, onde ela diz: "Lord, I love you in so many ways / Lord, I love you each and every day / But now's the time I must ask you why / Why must we live and why must we die? / I'm looking for answers / Looking for answers and nobody knows / Looking for answers from above, not from below...").

Complementada por uma banda competente (com os tradicionais baixo-batera-e-harmônica), Susan dá um show na guitarra, sem precisar da ajuda de pedaleiras ou grandes efeitos de produção, e surpreende principalmente pela potência de sua voz. Ela berra de excitação, geme de dor e urra "com suficiente estrondo sensual para quebrar garrafas de uísque e despregar as folhas das árvores", como disse Timothy White. O tipo de cantoria que condena todos que se aventurarem a um singalong a perder o gás e abandonar a empreitada. Susan não é apenas uma cantora: sua vocalização é uma PERFORMANCE apaixonada, cheia de groove, sensualidade e oscilações entre leveza e explosões. É como se dissesse que não basta um bom pulmão e uma garganta sadia para bem cantar: é preciso que o pulsar do coração faça correr no sangue um combustível essencial para a manufatura do blues: o tesão.

Discaço!



OUÇA NA ÍNTEGRA A PÉROLA!
http://www.mediafire.com/?8c422wikxi799jy

DISCOGRAFIA COMPLETA DE ÁLBUNS DE ESTÚDIO 
[DOWNLOAD GRATUITO]
Better Days (1997) [baixar]
Wait for Me (2002) [baixar]
Hope and Desire (2005) [baixar]
Back to the River (2008) [baixar]

SITE OFICIAL:
http://www.susantedeschi.com/

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

::excambau! ::


E X C A M B A U !
[entrevista exclusiva]

- por
Lux Ponja e Marco Souza -


A banda paulistana Excambau! já possui quase 10 anos de história, mas agora é a hora em que chegam ao seu auge: o novo disco Então se Explica! está saindo do forno, com excelente produção (a cargo de um gringo, Brendan Duffey), e promete torná-los cada vez mais fortes no underground rocker nacional. O som dos caras mescla peso, groove e ataque frontal, com influências fortes de Rage Against The Machine, Faith no More, Sevendust, Suicidal Tendencies, Body Count, Pantera, Beastie Boys, entre outros. Com letras em português repletas de provocação política e raiva bem canalizada, o Excambau quer meter o dedo nas feridas e tem orgulho de se dizer uma banda totalmente movida a ideologia.

Como eles mesmos dizem: "acreditando que a música, e principalmente o rock, possa ser o combustível da atitude contra a mesmice e o conformismo que impera não só na nossa maneira de pensar, como no cenário musical atual, o EXCAMBAU! traz um álbum repleto de peso, riffs marcados, vozes urgentes, poesia questionadora e ritmo empolgante. O álbum conta com 12 faixas e temas variados: desde inspirados no filme Apocalypse Now (Coppola, 1979) em "Charlie Don't Surf" passando pela ditadura brasileira em "AI-5" ...".

O vocalista Joh, junto com dois camaradas dele, topou bater papo com o
Depredando o Orelhão num boteco de Sampa e explicar a quantas anda os escambaus que eles têm causado. Ele chega num fusquinha amarelo, que estaciona com classe num espacinho miúdo, e vem se sentar na mesa do boteco em Moema pr'um longo papo regado a cerveja. A esposa Lili chega perto da meia-noite, depois de colocar as duas filhas do casal para dormir, e entra no papo também. Em meio às garrafas de Serra Malte que se acumulam, o vocalista fala sobre a história da banda, o disco novo, influências e perspectivas. Elucida também os trampos extra-musicais em que estão envolvidos, como o Projeto Caixa Preta, e comenta um pouco da relação efervescente que possuem com a internet e a cibercultura. Abaixo, os melhores momentos da conversa... com a palavra, Joh!


MÚSICA TURBINADA COM IDÉIA. "Uma coisa que nós tínhamos conversado antes de começar este disco novo foi que música sem idéia é peido, arroto... não faz sentido! A nossa banda existe por causa da idéia; não é que a banda teve uma idéia... Num país onde tem tanta coisa errada, numa sociedade que está cada vez pior, para nós fazer música sem idéia não tem porquê. E me fala uma banda hoje em dia que tem idéia, cara! É B Negão e olhe lá... Eu não lembro de várias. Se você for pegar o maior evento de música jovem no Brasil, o VMB, foi pífio de idéia! A única idéia que teve foi a do Excambau!, que apareceu lá com as caixas pretas. E o legal de conversar sobre isso, com vocês do blog ou com camaradas, é que dá pra deixar muito claro que a gente quer expandir o pensamento para além da música."

"música sem idéia é peido, arroto..."

BAND OF BROTHERS. "A banda pra gente é uma válvula de escape. Até bolei uma teoria ultimamente que diz tem dois tipos de banda: aquele de gente que 'gosta' de ter banda e de música, e aquela pra quem a banda é quase uma necessidade física. A gente do Excambau! tem banda porque a gente precisa! Se você fica sem ensaiar, sem fazer música, sem tocar, bate um desespero, uma vontade extrema de divulgar o som, a idéia...

"Eu não tenho banda porque eu 'gosto'. Você gostaria de deixar suas filhas em casa chorando pra ir ensaiar? Gostaria de brigar com a sua esposa porque precisa tirar um pouco do seu orçamento mensal pra pagar num-sei-quê-lá da banda? Gostaria de ter que fazer uns trampos frilas pra bancar algo da banda? Gostaria de arranjar uma treta com um brother seu de infância por causa de uma idéia? Ninguém gosta disso, velho!

"Só que a questão é que eu PRECISO desses caras. É um bagulho que a gente escolheu. Não é uma gravidez indesejada. Às vezes falo pra mim mesmo: 'Caralho, eu sou louco, como é que eu posso me foder tanto por uma coisa que eu escolhi fazer?' É que não tenho outra escolha! É tipo Call Of Duty, você é obrigado a fazer aquilo. É tipo Band of Brothers: os caras se voluntariaram a ir pra guerra; chegou lá, se fode, num tem jeito... Tá no inferno, abraça o diabo..."



VIDEOCLIPE NO MEIO DA RUA: "Surgiu a idéia de fazer o clipe na faixa de pedestres, e aí criamos a história de um menino que antes vendia balas e depois decide fazer malabares no farol. Tivemos a idéia de fazer um flash mob... Na gravação, teve uma pá de gente pra montar o bagulho. A gente ficou lá no cruzamento da Avenida Rebouças com a Avenida Brasil das 9 da manhã até as 9 da noite, sem parar o trânsito um segundo! A chance de chover, a polícia parar, qualquer merda acontecer e o clipe não sair, era grande. E deu certo pra caralho, foi bem louco, velho! A polícia parava, olhava, num tinha o que fazer... Veio a CET, helicóptero da Record! Aí veio a reportagem da Record, 'a gente quer falar com a banda!' Aí foram conversar comigo: 'o que vocês vieram fazer aqui hoje?' Aí eu fiz um puta discurso, falei poucas e boas pra repórter, sem palavrões nem nada, aí chegou na hora de sair no telejornal, numa materiazinha sobre artistas de rua: 'Os artistas tentando divulgar o seu som, em busca do grande público, tomaram conta da faixa de pedestres...' E aí aparece o Joh falando: 'É, artista é exibido!' (gargalhadas gerais) Ah nããão! Puta que o pariu! Foi uma experiência muito louca."

CRÍTICA SOCIAL E CHAMADO AO DESPERTAR. "Tem nêgo que faz disco temático, tipo 'As Nove Noivas do Rei Arthur' (risos), de quatro, cinco horas de duração. Já nós do Excambau!... 'qual o assunto que a gente está tratando?' Falar que é 'crítica social' é pouco. Não é só isso! As nossas letras falam de um jeito muito pessoal: o que você faz? o que você vê com os olhos fechados? Acreditamos que ao invés de você tentar atingir a massa, que é um negócio disforme, burro e chato, é muito mais interessante você tentar atingir o indivíduo. Se você não atingir o indivíduo, você não transforma a massa. É muito mais realista, no meio dessa utopia toda, que você consiga fazer uma pessoa despertar do que milhares despertarem."

"Se você não atingir o indivíduo,
você não transforma a massa."

APOCALIPSE OU UTOPIA? "Eu não diria que o Excambau é uma banda apocalíptica; é uma banda utópica, com uma atitude 'positivista'. Porque o que estamos propondo pras pessoas é uma mudança individual. Ninguém está dizendo pra você sair mudando o mundo. Muda a tua rotina! Um mudando sua rotina é uma coisa; mas quando mil caras mudam suas rotinas, aí já começa a ficar relevante. Mas minha visão pessoal é mesmo um pouco apocalíptica.

"E sabe como você percebe essas coisas? Quando pode comparar. Já estive em lugares que eram paraísos naturais, porque eu gostava de acampar em lugares bem selvagens, e quando você volta e vê casas em volta, pessoas jogando lixo no riozinho onde você pegou água para fazer almoço, aí você começa a pensar assim, velho: daqui cinco anos tem uma empresa aqui do lado, um bairro aqui do lado que não vai ser planejado... E assim o ser humano avança como um câncer sobre a terra.

"Se você ver uma mancha demográfica no Google Earth, velho, é tipo uma casca duma ferida! O ser humano é podre, tá ligado? Mas isso é uma visão particular minha. Isso não transparece na música do Excambau! porque a gente tenta passar uma mensagem positiva, de que existe esperança no indivíduo."

DISCO NOVO. "Neste novo disco, Então se Explica, a gente botou tudo: força, grana, tempo, criatividade, tudo no extremo. É a conseqüência de 10 anos de trabalho. O produtor gringo, o Brendan Duffey, foi tipo jogar na mega-sena, só que a gente não jogou: foi só achar o bilhete; a coisa caiu no nosso colo. O Lagarto (baterista) já conhecia o gringo enquanto ele trampava no Midas, até o dia que o Brendan nos fez a proposta. Ele trampa com estúdio e já fez trabalhos com uma pá de gente, desde Black Eyed Peas até Machine Head e gravou diversos artistas da cena do rock. O cara quis abrir um estúdio no Brasil, armou um bunker de 3 andares, o melhor estúdio que eu já toquei! Aí fomos convidados pra ser a 'cobaia' desse estúdio. Ele podia ter escolhido qualquer banda da cena underground, então pra nós foi um puta orgulho ele ter escolhido a gente. Foi muito bom lidar com um cara que manja de música, que decidiu trampar com a gente, que dividiu as idéias... foi do caralho.

"No primeiro disco tinha uma música chamada 'Jesus te Ama, Mas eu Te Odeio' e uma que chamava 'Ajoelhou Tem Que Rezar', que era sobre um boquete – ou seja, puta coisa de moleque, condizente com a idade que a gente tinha. No primeiro álbum, a influência era muito Rage Against The Machine. Agora gravamos um material um pouco mais maduro, o que é inevitável. No primeiro eu não era casado. Agora já sou, tenho duas filhas, sei como funciona o sistema, o que é botar óleo nele, ter que pagar as contas..."


CAIXA PRETA. "Eu percebi, em alguns shows, que entre cada música eu queria falar tudo que eu tinha pra falar nos últimos dois anos. E a gente inventou a caixa preta para isso: por essa necessidade de expandir nossa atividade para além do som. A idéia surgiu quando terminamos o disco, pegamos a master às 3 da manhã e aí falei: 'vou ouvir essa porra inteira!' Fui e fiquei dando rolê na Marginal, com o som no talo, pegando um monte de ponte. Ficava pensando: como a gente consegue atingir as pessoas sem ser um lance marqueteiro, sem ser um 'ouça meu som! Ouça meu som!'?

"Surgiu a viagem de que a gente deveria interferir na vida das pessoas: vamos colocar uma coisa que as pessoas digam: 'que porra é essa? O que isso significa?' É pelo tesão de ir lá e cutucar. Isso mobilizou muito a banda e os amigos que nos rodeiam. E pra pintar as caixas foi um épico, velho! Fizemos uma pá de reuniões, com oito pessoas, lá em casa, pintando as caixas uma por uma, quase 300 caixas! Até minha irmã foi uma pessoa que abraçou a parada, tava lá no dia que botamos 100 caixas na Avenida Paulista...

"A HQ
V de Vingança influenciou muito a idéia, também. Sem falar que ela surgiu depois da efervescência que eu tive depois de assistir o novo filme do Batman, Cavaleiro das Trevas. Aquele Coringa, aquele terrorismo ideológico que ele propôs, eu achei que fez tanto sentido, velho! Pra mim ele é o herói do filme, tá ligado?! Tem umas frases dele que são foda! Aquela parada da barca, de botar as pessoas em xeque daquela maneira, é bem louco. Nem sei se a conclusão daquela cena é a conclusão que eu gostaria de ver. Se fosse no quadrinho talvez não fosse daquela maneira."

INTERNET, BLOGOSFERA E CIBERCULTURA. "A gente só prensou 500 CDs porque rola um trabalho forte de divulgação na internet. E essas paradas com a Internet sempre existiu: a gente tinha um site em Flash numa época que que banda nenhuma tinha site. Depois que ajeitamos nossa página no Myspace, pulamos de repente de 70 pra 900 amigos. Achei muito massa que calhou de vocês do Depredando mostrarem interesse em falar com a gente, porque era justamente o que a gente tava procurando: blogs legais onde divulgar nosso som e o que a gente pensa. Dei uma lida, falei 'o blog dos caras tem uma profundidade que é legal'. Queremos fazer mais disso: entrar em blogs, ler com cuidado, entender o que o cara curte, entrar em contato, até pra não colocar seu som em qualquer lugar. Somos a favor de divulgar o som na net. Fazer o bagulho e guardar no bolso, guardar na meia, num tem porquê!

"O blog chega e fala,
pau no cu da gravadora.
Fala tudo na lata, como tem que ser!"

"E esse lance de blog é muito democrático. Tem muito blog que tem o trampo de uma revista, se pá até melhor! Porque revista tem que fazer concessão, tem que ser político, o blog não! O blog chega e fala, pau no cu da gravadora. Fala tudo na lata, como tem que ser! Às vezes o cara nem é jornalista, nem é profissional, mas é apaixonado por música, gosta de propagar o que ele curte, meter o pau no que acha ruim... Não tem público de divulgação melhor que esse! A Internet é uma criança: fala o que quer, sem filtro nenhum."


DOWNLOAD DO ÁLBUM "ENTÃO SE EXPLICA":
http://mediafire.com/?jt1yzzif2li


BLOG AÇÃO CAIXA PRETA

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

:: John Zorn ::


Zorn(oise)
- por Marco Souza -

A primeira vez que fiquei chocado ao ouvir um disco foi quando comprei (promoção de 3 CDs por 10 reais!) o CD do Mr. Bungle, Disco Volante. Final de 90. Esquisitice das boas, mas na época achei apenas esquisito. Uma mistureba de estilos sonoros e a doidera vocálica de Mike Patton (ex-Faith No More). Há algumas semanas atrás o Mr. Patton e o baixista Trevor Dunn, resquícios de Mr. Bungle, me chocam de novo, mas dessa vez em um grupo comandado por John Zorn.

O grupo em questão é Moonchild (Patton, Dunn e Joey Baron na bateria), até ai tudo bem, um som sujo, hardcore (mais no significado da palavra do que no estilo musical), denso, pesado, como vocês podem conferir no myspace da banda. Baixo distorcido, bateria quebrada e vocal... bem, pra dizer tudo: Mike Patton. O mesmo grupo do álbum Astronome. Ambos tem como compositor John Zorn.

Em Six Litanies to Heliogabalus a coisa chega num grau diferente. Zorn pega seu sax alto, se junta a Moonchild, chama Ikue Mori, compositora e performer de sons eletrônicos, e Jamie Saft, tecladista que já tocou com Beastie Boys, B-52's, além de outros que desconheço, mistura com um trio de vocal lírico composto por Abby Fischer, Martha Cluver, Kirsten Soller (de quem não consegui foto) e resolve compor coisas absurdas.

O resultado é uma barulhenta loucura sonora, uma banda de grindcore tentado jazz em um hospício. Suas ladainhas são o extremo do experimentalismo atual. Há faixas que fogem do rótulo de música, Litany IV por exemplo é um gigante solo (no sentido musical e solitário da palavra) de vocal de Mike Patton, algo que se eu for explicar através de palavras ficaria assim: "TÁ tuctaqdoqtada TÁ tuctaqdoqtada Tá tá schá AAAhhhhhhhhhhhhhhh". No meio disso existem riffs interessantes, mas tudo que foge à menor lembrança em meio a complexidade e textura sonora geral. Litany V parece que terá um padrão quando o vocal lírico a interrrompe e o Sax estridente já desestrutura o padrão musical que montavamos em nossas cabeças. O excelente começo de Litany I parece um dos mais pesados e violentos trash metal existentes, e se completa pela calma induzida pelo vocal lírico, que acaba massacrado pelo baixo monstruoso de Dunn e os teclados de Saft. A maior parte do álbum é assim, algazarras alternadas com pausas e insanidades.

Orações para o Imperador Romano (ou o deus?) Heliogabalos é o conceito do álbum. Há um tom profano e de ironia no som, mesclando a pureza e aura sacral do coro lírico com a frieza dos instrumentos metálicos/eletrônicos e a gritaria sarcástica de Patton.

Six Litanies to Heliogabalus é uma experiência sonora de difícil assimilação. A primeira vez que ouvi achei genial, a segunda não aguentei dois minutos, ouvi pela terceira vez e resolvi apresentar aqui pois sei de pessoas que irão adorar o álbum. A maioria irá odiar.

Recomendado para fãs incondicionais de Mike Patton, pessoas que procuram os sons mais pesados e/ou experimentais possíveis e para aqueles que queiram se chocar. Típico som que dá medo de escutar sozinho.

Download (6 músicas - 68 MB)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

:: Tokyo Ska Paradise Orchestra ::

"Tokyo Ska Paradise Orchestra are legendary, essential, and flawless. They don't make mistakes. They are a robot of skank sent from the future to teach us how to get down. Ten lions, one god. Ska music."

Taylor Morris


Tokyo Ska é foda. Não botava fé em japoneses tocando ska, até que o Hugo (ex-trompetista das extintas bandas, de Bauru-SP, Egg's Best Friend e Comida Skazera) me apresentou essa banda única, que mistura ska, jazz, blues e rock desde o fim dos anos 80. O som que eles fazem é simplesmente o que há de melhor no gênero. E o melhor álbum para apresentar a banda talvez seja Answer de 2005.


O álbum se destaca por canções únicas como Left With The Dog, que começa com um riff blues e tem uma das mais empolgantes introduções de metais da história, e Suna No Oka (Shadow On The Hill), um perfeito ska para rodinhas de pogo. Possui faixas mais lentas como Kanashimi No Mukou Gawa (Hello Happiness), clima de praia com uma bela (bela pra caralho) melodia executada pelos metais, e músicas cantadas em inglês e japonês, mas a maior parte é instrumental. O início com Tongues Of Fire já dá o tom da quebradeira que está por vir.


Uma Big Band japonesa com excelentes músicos, muito groove, solos e ska. Se você gosta de jazz, som instrumental ou música de qualidade não pode deixar de conhecer Tokyo Ska Paradise Orchestra. Tae a chance:



Download (14 músicas - 92 MB)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

:: dj lux lúcio na grand irish party ::


Nesta trimmassa festança irlandesa - mas com muita pinga mineira (e da marvada!) - DJ Lux Lúcio estreou colocando som na Funhouse, pub paulistano firmezura. Achei uma dilícia ouvir essas canções que curto tanto com o som no talo (eu que estou acostumado a ouvir música nas minhas míseras caixinhas do PC...) e no meio de uma festa cheia de amigos e conhecidos - e com apresença até de espantosas criaturas que já foram em 3 shows dos Ramones e viram Nirvana no Brasil (!). Pra quem perdeu a Grand Irish Party, posto aqui a maioria dos sons que rolei por lá. O meu setlist - tirando o monte de punkaiada ramônica e cráshica que pus no meio (e que deixo de fora do zip pois são sons que todo mundo conhece) - foi mais ou menos assim...

01. sly and the family stone - i want to take you higher
02. stone roses - driving south
03. ben harper - black rain
04. big star - in the street
05. bob dylan - highway 61 revisited
06. delta 72 - i feel fine
07. the gits - another shot of whiskey
08. murder city devils - i drink the wine
09. graham coxon - spectacular
10. radio 4 - calling all enthusiasts
11. johnny thunders - born to lose
12. primal scream - medication
13. hot hot heat - you owe me an iou

DOWNLOAD PT 1: http://www.mediafire.com/?tqmq3j2j3gl

14. international noise conspiracy - capitalism stole my virginity
15. new pornographers - mass romantic
16. supergrass - rush hour soul
17. big star - don't lie to me
18. rancid - fall back down
19. dirtbombs - chains of love
20. the stooges - fun house
21. johnny thunders - do you love me?
22. the sonics - maintaining my cool

DOWNLOAD PT 2: http://www.mediafire.com/?vzlxqznnjmv