quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

<<< MUGO: Go to The Next Floor... and Play It Louder! >>>

Design: Bicicleta Sem Freio
 

"A gente precisa destruir esse paradigma de que Goiânia é só sertanejo, ou  só rock alternativo e de garagem, e mostrar que aqui tem banda pra caralho fazendo metal de qualidade", afirma Pedro, vocalista do Mugo, frisando a considerável cena headbanger que fervilha, ainda que sorrateira, na capital goiana.

Se não faltam à Goiânia artistas de firmes raízes na cultura nacional, com um som impregnado de brasilidade (caso de Umbando, Cega Machado, Diego e o Sindicato, Grace Carvalho...), a capital goiana também têm se celebrizado, de uns anos para cá, pelo tremendo vigor de suas bandas do bom e velho "rock pauleira" e que já nasceram sob o signo da globalização.

Alguns vergam mais para o lado stoner (Black Drawing Chalks, Hellbenders), outros são mais garageiros (Bang Bang Babies, Space Monkeys, Ultravespa, Black Queen...), com espaço ainda pro hard-rock de inclinações glam (Johnny Suxxx & The Fucking Boys) e para a quebradeira sabbáthica dos veteranos da cena (Mechanics e MQN). O extremismo death-metal e congêneres também marca truculenta presença com Necropsy Room, Ressonância Mórfica e outras de nome tão meigo quanto.


O Mugo, representante ilustre das vertentes mais extremas do rock'n'roll em Goiânia, e que teve como precursores os insanos do Punch e do Desastre, sintetiza várias vertentes da música pesada, do thrash metal ao hardcore, do grind ao grunge. “Brutal” e “extremo” são os adjetivos mais precisos para descrever tanto o som quanto os intensos shows da banda, que já estremeceu os alicerces de grandes festivais brazucas (como Porão do Rock, Calango, Do Sol, Goiânia Noise, Vaca Amarela, dentre outros). Eles são o exato oposto das anoréxicas esqueléticas que obcecam com emagrecer: o Mugo quer sempre ganhar mais e mais peso.

Dentre as bandas brasileiras pesadas da nova geração, eles são uma das que apresenta maior potencial de exportação. O inglês sem sombra de sotaque caipira e a produção impecavelmente profissa tornam altamente plausível que a banda conquiste cada vez mais fãs no mercado gringo, em especial entre a molecada fã de Lamb Of God e Slipknot e entre os headbangers mais rodados, que já quebraram muito pescoço com o Pantera e o Slayer.

Go To The Next Floor (2009), álbum de estréia do Mugo, lançado pela Fósforo Cultural no Brasil e pelo selo Siksigma nos EUA, é um exemplar responsa do novo metal brasileiro. Deu repercussão considerável no exterior, a julgar por alguns reviews em revistas gringas e pelos mais de 73 mil amigos e 1 milhão de plays no MySpace.

Na sequência, compartilhamos os melhores momentos do papo que batemos com o vocalista Pedro nos headquarters da Fósforo, no Centro de Goiânia, no começo de 2011, ano que, com o lançamento do segundo álbum da banda, promete ser cheio de correrias e conquistas.

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O nome Mugo, lido de trás pra frente, dá "Ogum". O que representa pra vocês a mitologia em torno deste orixá que serviu para batizar a banda e é tido como intenso, violento, guerreiro...?
Pedro: Esta mitologia foi algo que nos chamou muito a atenção: Ogum é um orixá da guerra, com uma brutalidade que é de sua essência, e que tinha também uma musicalidade muito forte. Pensamos que isto tinha muito a ver com o que queremos fazer com nosso som, uma coisa bem explosiva mesmo. Mas aí ficamos meio encanados de ficar meio estereotipado, ou das pessoas se perguntarem “pô, mas será que essa galera é macumbeira?” (rs) Então preferimos manter este significado como uma coisa interna, que nos desse força, e preferimos adotar Ogum ao contrário --- e ficou Mugo, que não tem nenhum significado em si, mas quem se interessar pode pesquisar e descobrir esta história que está por trás.


Um dos fatores que mais impressiona o ouvinte de Go To The Next Floor é o fato da banda ter alto "potencial de exportação", ou seja, as gravações estão "tinindo" para estourar na gringa. O Mugo sempre teve essa ambição de que o som transcendesse as fronteiras do país?
Pedro: Cara, com certeza, desde o início tivemos essa vontade de chegar lá fora, especialmente nos EUA e Inglaterra, onde esse movimento de música pesada é tão forte. Até pelo fato das letras serem em inglês, o pessoal lá de fora tem boas chances de entender muito bem a nossa proposta e a nossa mensagem. O primeiro álbum já foi lançado nos EUA (pelo selo Siksigma) e com nosso segundo CD a gente pretende agilizar uma turnê e concretizar esta nossa ida para fora do país.

O bacana é que várias bandas de metal brasileiras já trilharam esse caminho lá fora, mostrando que é bastante viável, caso de Sepultura, Angra, Krisiun...
Pedro: Com certeza. O Krisiun é uma banda respeitadíssima fora, que toca em todos os festivais de metal destes gigantes, tipo Wachen (Alemanha), With Full Force (Alemanha) e Hellfest (França). E tem uma outra galera que já foi tocar lá fora: Claustrofobia (SP), Confronto (SP), Uganga (MG)... São todas bandas que a gente curte pra caralho e se espelha de alguma forma. Acreditamos no nosso potencial e queremos ter a nossa chance de mostrar nosso som lá fora também. Estamos batalhando pra isso, mas é preciso ter muitos contatos, descolar uns bookers (agentes confiáveis que agendem shows), para viabilizar a ida.

Design: Bicicleta sem Freio
Há aquela velha controvérsia sobre bandas brazucas que cantam em inglês: a vontade de ser reconhecido no exterior foi o que motivou, no caso do Mugo, esta escolha?
Pedro: Sempre que me questionam sobre o lance das letras serem em inglês eu falo que, porra, não é porque eu moro aqui que não posso mandar uma mensagem pra quem mora na Nova Zelândia, sacou? A escolha pelo inglês é pelo desejo de alcançar o maior público possível, afinal é a língua mais falada no mundo, só atrás do mandarim, né? (rs) A gente quer passar uma mensagem que seja mundial, globalizada. É a nossa vontade. Mas nem por isso a gente deixa de contar histórias do que acontece com a gente aqui em Goiânia, na terra do pé-rachado e do pequi. Faz parte da nossa cultura: todo mundo tem o “R” puxado... (rs)

Outra coisa que impressiona é o trampo altamente profissa que vocês realizam com divulgação na Internet. Qual o papel da WWW para a disseminação do som do Mugo?
Pedro: Sem a internet, nossa ferramenta principal, praticamente não teria repercussão lá fora. Prensar os discos é caro pra burro, o frete também é uma facada. Por isso, tem uns 3 ou 4 anos que o MySpace é levado super a sério pela banda. Conseguir 70 mil pessoas adicionadas foi o resultado de um trabalho árduo. A gente recebe muitas mensagens de uma galera bem diversificada, da Indonésia à Finlândia, de Los Angeles a Anápolis, de todo canto do mundo. E a gente faz questão de responder a todo mundo e sempre agradecer o apoio quando alguém nos diz “pô, muito foda o som de vocês!” A gente precisa que o nosso som seja ouvido lá longe até para que surja uma demanda, para que a galera que curte nosso som cobre o show e chame para tocar. 


O vídeo-clipe de "Screams" também bombou na net, com mais de 50.000 views no YouTube. Conta um pouco como foi a produção, gravação e divulgação deste vídeo.
Pedro: O "Screams" foi nosso primeiro clipe, dirigido pelo Antonio Guerino numa co-produção Sertão Filmes e 111. Conseguimos permissão para gravar lá no Centro Cultural Oscar Niemeyer, que na época ainda não tava embargado, e foram 24 horas de gravação, uma correria tremenda, muita aparelhagem, muita gente envolvida... A gente convidou todos os amigos e fãs, no dia de gravar tinha umas 300 pessoas lá e a galera se empenhou mesmo pra ficar um material bem legal. Foi um investimento da banda: a gente pôs uma grana nisso, só conseguiu pagar com cachê de show, venda de Cds e camisetas. É algo que vai estar sempre no nosso currículo e que a gente pode divulgar em qualquer lugar porque a qualidade ficou bem profissa.


Rolou de levar o clipe também para a TV ou as redes televisivas ainda são "caretas" demais para veicular um material mais brutal?
Pedro: Cara, quase não passou por aí, na MTV ou na Multishow. Mas se para conseguir o apoio das mídias convencionais a gente tiver que mudar uma vírgula do som, a gente tá fora. A gente não quer isso. Queremos ser extremos no nosso som, como sempre fomos, agradar a quem tem que agradar, nada de mudar para conseguir mais espaço. Mesmo que a gente tenha que focar mais fora do Brasil a divulgação, vamos continuar fazendo o lance do nosso jeito. Queremos continuar arrebentando com tudo, quanto mais pesado melhor!

Quem já viu o Mugo ao vivo sabe como é impressionante a reação do público, que "quebra tudo" numa sessão descarrego... A piração da galera na platéia é algo intensamente desejado e buscado pelo Mugo em cima do palco, não é?
Pedro: Num show de metal, neguinho ficar parado é meio brochante. Você tá lá em cima do palco que nem um louco, quase quebrando a coluna, e você olha e tem gente de braço cruzado olhando pra você, porra, é brochante! A gente respeita quem quer ficar assim, mas a gente convida quem quer quebrar tudo... a quebrar tudo! Fazer o teto cair. A nossa proposta é essa e a gente fica feliz pra caralho quando a galera compra a ideia e quebra tudo, literalmente.

Curtimos fazer o famoso Hall Of Death, ou Corredor da Morte, que se num foi o Pantera ou o Slayer quem inventou, eu não sei dizer que foi... Tem bandas como o Lamb of God que não existe show deles que não ocorra isso. É uma quebradeira muito louca, é uma forma de desperdiçar uma energia ruim, saca? Mas a gente sempre fala pra galera, “pô, se ver alguém caindo, ajuda a levantar, num faz questão de pisar em cima não...” Se alguém cai, logo tem 3 ou 4 ajudando a reerguer, rola muita camaradagem. 

E nunca dá merda, ninguém quebra osso?
Pedro: O (guitarrista) Augusto, no Vaca Amarela, quebrou o pé.  Também, ficou pulando igual um macaco lá! (rs) Aí ficou andando com bota ortopédica por dois meses (rs). A coisa mais brutal foi a gente em Cuiabá, no Calango. Neguinho subia no palco, pegava impulso lá da bateria e pulava de volta como se estivesse mergulhando no mar... Comecei a ficar com medo de alguém esborrachar a cabeça!

Quando você vai num show de música pesada, com certeza toda aquela vibração é a melhor forma de você conhecer o estilo. A maioria dos metaleiros que existem hoje se tornou metaleiro porque foi num show muito brutal, que neguinho entrou na roda de hardcore e se acabou, gritou pra caralho, soltou todos os demônios... E aí você acaba ficando dependente disso, saca? Sem falar que quem gosta de música vê que é uma coisa técnica, que não é fácil de tocar.... 'cê olha e tem um pedal duplo na bateria “comendo”, e você pira no quanto é difícil tocar aquilo...

O metal em Goiânia já tem uma certa história, com precursores importantes como o Punch, o Desastre ou o próprio Mechanics. Como é que você avalia o cenário atual, não só em termos de bandas, mas da articulação entre elas, dos festivais específicos para o segmento e da galera que é ativa no sentido de contribuir para o crescimento da cena?
Pedro: Eu já tô na música como vocalista tem mais de 10 anos. Quando eu comecei o Punch tava indo pros EUA, foi uma banda em que eu sempre me espelhei... e o vocalista Ícaro é um grande amigo meu. A gente precisa destruir esse paradigma de que Goiânia é só sertanejo, só rock alternativo e de garagem, e mostrar que aqui tem banda pra caralho fazendo metal de qualidade: Spiritual Carnage, Necropsy Room, Desastre, Ressonância Mórfica, Deadly Curse, Hypnotica, All Torment... 

O que tá faltando é unificação, começar a falar a mesma língua e correr atrás ao invés de ficar simplesmente falando. Ao invés de entrar na porra do Goiânia Rock City e reclamar que não tem show, junta com outra galera e faz o show! Tem gente fica reclamando que não tem show... ora, corre atrás de fazer o show! E quando tiver o show, motiva a galera a ir pro show! 


Tem galera que tá representando e é uma força que vale muito: o Adriano do UnderMetal, que tá sempre propondo pra galera se unir e discutir formas de viabilizar pra se começar a se viver de banda, o que é muito difícil, especialmente neste estilo. Tem o Pedro, que organiza eventos como o Go! Mosh e o Brutal Fest. Tem um pessoal montando o selo Sangre, que vai dar uma movimentada na cena. Tem o Rodolfo da One Voice também, que sempre lutou pelo hardcore e pelo metal. 

Tem muitas bandas que eu gostaria de trazer pra cá pra tocarmos junto, tipo o Confronto, o Forca (de São Paulo), o Uganga (de Uberlândia), na prerrogativa de depois ir também pra cidade deles, fazer disso um movimento, pra todo mundo poder circular legal. Os caras do Rinoceronte (RS) também são nossos brothers.

Pra arrematar, quais são as perspectivas do Mugo para este 2011?
Estamos extremamente focados na preparação das 11 músicas novas para o nosso próximo CD. Queremos que este material reflita a evolução da banda, que já está com 4 anos de estrada. Além disso, os novos sons trarão uma sonoridade ainda mais densa e pesada como um reflexo da nova formação: o Mugo agora está com duas guitarras. O Augusto e o Lucas (os dois novos guitarristas) se prepararam muito, tiraram todas as músicas e arranjos, a integração deles à banda foi muito fácil. O Augusto chegou dando um “tapa na cara” de todo mundo... o moleque tem só 18 anos e tá chegando com umas músicas brutais, fazendo todo mundo ficar parecendo um vovôzinho perto dele (rs). Um gás e uma energia brutal! A nova sonoridade trará também mais espaço para solos, uma sonoridade mais refinada. A gente pretende gravar em março e sair para tocar um monte, especialmente fora do nosso Estado, em lugares em que nunca tocamos. 

 
MUGO Go To The Next Floor (2009, Fósforo Cultural)
<<< download (autorizado e incentivado pela banda) >>>


p.s: as duas classudas ilustras da matéria, mais um trampo lindo do Bicicleta Sem Freio, vão ser oficialmente lançados no show do Mugo no Grito! Rock Goiânia 2011. O festival rola no Martim Cerêrê, no sábado de carnaval, dia 06 de Março. Mais info em breve!

2 comentários:

Incêndio Clothing disse...

Do caralho!
O Mugo é uma banda muito foda e merece o destaque que vem conseguindo! Tamos juntos rapaziada!

Paulo Noronha disse...

Porra, Pedrão falou tudo, grande músico, grande cabeça e parceragem da hora.
Somos brothers sim e na verdade o que queremos é que a MUGO destrua cada vez mais e seja cada vez mais a banda genuinamente pesada, original e altamente criativa que tivemos a honra de conheçer e dividir palco no Calango e no Goiânia Noise, ambos de 2009.
Vida longa ao MUGO e preparem-se pro frio do sul brothers.

Abraço
Paulo Noronha
RINOCERONTE
Santa Maria/RS