segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

:: Chris Cornell



:: CHRIS CORNELL - "Euphoria Morning"

Me desculpem se isso vai soar como excesso de fanatismo, mas eu, que passei a adolescência inteira headbanging com os discos do Soundgarden e que já cheguei a dar ao Superunkown a honra de estar entre os 10 melhores discos de rock de todos os tempos (!), numa listinha ingênua que fiz quando tinha uns 17 aninhos de idade e as cordas vocais estragadas de tanto berrar "Outshined" e "The Day I Tried To Live" e "Blow Up The Outside World", acho que Euphoria Morning é um dos discos mais subestimados da história do rock. Esse disco é fodaço, fodaço, fodaço.

Comprei esse álbum, original, logo que saiu, nem botando tanta fé assim que o Chris Cornell sozinho faria algo que chegasse aos pés do que fez frente ao Soundgarden e ao Temple Of The Dog, e hoje, um 5 anos depois, continuo achando Euphoria Morning uma obra-prima. Acho que é a melhor coisa que o mestre Cornell fez depois do fim do Soundgarden e que dá um pau em qualquer disco do Audioslave - e olha que eu não sou dos que maltrata com tomates o supergrupo que reuniu 3/4 do Rage Against The Machine tendo à frente o mais potente dos vocalistas do grunge. Gosto do Audioslave, bastante até (e "Original Fire" deve ser um dos sons de rock pesado mais empolgantes desta década!) - mas gosto muito mais de Euphoria Morning do que de qualquer disco do Audioslave e bem mais do que o segundo e desapontador álbum solo.

Que Cornell é um dos vocalistas de voz mais espantosamente poderosa e performance mais cheia de garra de sua geração não é segredo - e os clássicos álbuns em que deixou a marca de sua voz continuam fudidos de bom até hoje: especialmente Badmotorfinger e Superunkown do Soundgarden, e o Temple Of The Dog da banda-projeto de mesmo nome, que tinha em seu cast de estrelas vários músicos Pearl Jam...

Em Euphoria Morning, os anos de Soundgarden ressuscitam em músicas mais porrada como "Pillow of Your Bones" e "Mission" (que não fariam feio se estivessem em Superunkown ou Down On The Upside) ou na sombria e dolorida "Steel Rain" (quase um follow-up para o clássico das trevas "Black Hole Sun"). Já a faceta romântica e catártica de Cornell explode na lindíssima balada "When I'm Down", com um refrão inesquecível ("só te amo quando estou pra baixo / só estou perto de ti quando você está longe / mas uma coisa pra você manter em mente: estou pra baixo todo o tempo"). O cantor folk recluso e melancólico surge em "Sweet Euphoria", uma das coisas mais tocantes que já se fez com apenas um violão e um microfone. Já sua homenagem ao finado Jeff Buckley, "Wave Goodbye", que tem certos trechos em que o vocal de Cornell arrisca uns falsetes buckleyanos muito bem cantados, ultrapassa o mero status de música tributo e se transforma em algo universal sobre a saudade e a culpa. A letra inteira é linda e muito bem construída, mas alguns versos se destacam:

"Words get tangled on your tongue
and you stumble on your feet
when you miss somebody
And every hurtful thing you ever said is ringing in your ears
when you miss somebody"

Mas nada supera "Preaching The End Of The World", uma das músicas mais lindas e doloridas dentre todas que já ouvi. Nela, onde Cornell inicia com uma cantoria mansa, que beira o Thom Yorke, a fantasia do fim do mundo gera um anseio por um amor fatalmente efêmero. A performance apaixonada-desesperada de Cornell declamanado essa poesia sobre o amor em tempos de apocalipse prova o talento imensurável dele como cantor, compositor e artista. Certas pérolas poéticas chegam ao nível dum Dylan ou dum Leonard Cohen, como o lindo verso "we can share in every moment as it breaks" ou a estrofe:

"There'll be no commitment and no confessions
and no little secrets to keep
No little children nor houses with roses
Just the end of the world with me..."

Se antes desse álbum Chris Cornell já tinha lugar garantido no panteão dos mais idiossincráticos e vulcânicos dos vocalistas de rock das últimas duas décadas, ou mesmo de toda a história do rock pesado, depois de Euphoria Morning provou ser ainda mais: um compositor, um músico e um poeta que conseguiu, em vários momentos desse inspiradíssimo álbum, beirar a genialidade. Esse disco, apaixonante, arrepiante, aventureiro, poético e doloroso é Chris Cornell em plena forma. Um dos melhores álbuns solo já lançados por um vocalista de uma banda de grande porte.

DOWNLOAD (mp3 de 192kps, 74 MB, 14 músicas):

Um comentário:

Anônimo disse...

Minha trilha do Carnaval de 2005, sozinho em casa... Procurei demais por esse disco, até lembro da resenha na Showbizz em 1999.
Chris Cornell é um dos melhores vocalistas do rock contemporâneo. Só precisa recuperar o timing pra soltar coisas boas... "Follow my way" é algo que muita gente devia ouvir...
Acompanho esse blog constantemente. Parabéns pelo trabalho, pela dedicação em trazer o bom som.
Até.