"Eles querem transformar a internet em um tubo de mão única, com eles em cima, empurrando o lixo para baixo através do tubo para o resto de nós, consumidores obedientes." - do manifesto do The Pirate Bay, via Diário da Liberdade
Muitas coisas me intrigam nestes recentes episódios que têm sacudido a Internet nos últimos tempos, com a intragável S.O.P.A. (Stop Online Piracy Act) que a toda-poderosa da Indústria do Entretenimento quer fazer descer por nossas goelas abaixo. A primeira das coisas "intrigantes" é: como é que pode uma proposta que ainda não havia sido aprovada pelo Congresso americano, e que tem boas chances de jamais ser, ser posta em prática pelo FBI?
Os tiras yankees usaram como pretexto a ladainha de que o Megaupload é uma empresa "criminosa" cujos satânicos idealizadores e trabalhadores lesaram em U$500 milhões de dólares o ofendidinho do conglomerado corporativo composto por Disney, Warner e o caralho-a-quatro. Quão intrigante é pensar sobre a gênese desse número, sobre os raciocínios que estão por trás desta péssima matemática saída dos cérebros distorcidos desses empresários gananciosos.
Façamos uma reflexão com um exemplo bastante concreto: Avatar, o mega blockbuster de James Cameron, maior bilheteria da história da sétima arte, rendeu nada menos que U$2,782,275,172 (no mundo todo) segundo dados do IMDB (Internet Movie Database). É vero que esta super-produção da 20th Century Fox teve um dos custos de produção mais astronômicos já registrados em Hollywood: estima-se que Avatar tenha custado para fazer uns "meros" 300 milhões. Mas isso equivale a uma merreca, diz aí! Sim: uma baita duma merreca para um filme cujo lucro estrondoso beira os 2 BILHÕES E MEIO DE DÓLARES!
Agora imaginem os acionistas e CEOs da FOX, no alto de seus arranha-céus chiquérrimos na Califórnia, trocando sussurros conspiratórios dentro de seus Porches blindados e helicópteros, querendo aumentar ainda mais as margens de lucro para que possam dar aquele turbo naquela conta bancária meio "paradona" lá na Suíça... E aí partem para o seguinte raciocínio: há muita gente baixando Avatar de graça na Internet... esses malditos desses sites tipo Rapidshare, The Pirate Bay, Mediafire, Megaupload, tornam possível a aquisição gratuita de nosso produto! Ladrões! Criminosos! Vândalos! Comunistas! Lancemos sobre eles os bulldogs!
Como soltar os cachorros para cima destes sites sem antes "demonstrar" que há um ato criminoso cometido por eles? E assim prosseguem "raciocinando": "hmmm... vejamos... se 100.000 pessoas baixaram Avatar pelo Megaupload, isto significa que estes criminosos são culpados por 100.000 DVDs ou ingressos-de-cinema que deixamos de vender! 100.000 vezes 20 dólares... 2 milhões de prejú!" Ah, sim! Agora entendemos vossa sofística satânica, cara Fox e cia! O que vocês apelidam de prejuízo não passa de... um lucro presumido que não foi ganho! Situação bizarra: uma empresa que lucra 2 BILHÕES e MEIO com um único filme passa a perseguir aqueles que teoricamente a impedem de GANHAR MAIS e MAIS!
É a perversidade do capitalismo americano mostrando seus dentes sem disfarce. É uma ganância cega que não enxerga um palmo diante do nariz - feito a criança na capa de Nevermind, fisgada pelo dólar que um invisível pescador lhe agita na frente dos olhos. Eles agora querem atacar a própria estrutura da Internet, instaurar uma censura global dos conteúdos de que se julgam "donos", sempre com o mesmo batido argumento chatonildo: "lucros, lucros, lucros!" Como se isso fosse argumento e não um papaguear enjoativo duns babacas endinheirados, money junkies do caralho.
O que mais causa revolta e indignação neste ataque ao Megaupload é o seguinte: não é verdade que o conteúdo ali hospedado era essencialmente "posse" das mega-corporações globais. Num site tão rico em conteúdo diversificado, compartilham-se filmes independentes; mini-séries educativas; PDFs de poesia, filosofia, sociologia; documentários de ativismo político; música composta e gravada sem a mínima intrusão de mecanismos comerciais etc. O conteúdo alternativo ali hospedado era imenso - talvez maior até do que o conteúdo mainstream. Como mensurar o dano causado por esta DELETAÇÃO MASSIVA de dados?
(Uma conexão que não me parece inteiramente despropositada me ocorre entre este episódio e um outro, ocorrido muitíssimo tempo atrás (391 d.C.), quando a Biblioteca de Alexandria foi dizimada pelos cristãos. Sobre este assunto, aliás, vale muito a pena conferir o Ágora, o filmaço de Alejandro Amenábar, com Rachel Weisz arrasando!)
Ali nos servidores do Megaupload havia muito conteúdo digníssimo de ser conhecido, interpretado, estudado... havia a discografia do Fugazi e do The Clash, as palestras de Noam Chomsky e Slavoj Zizek, os documentários da Naomi Klein ou do Michael Moore, os livros de Marshall McLuhan e Terence McKenna... O Megaupload, abatido em pleno vôo, não causou o súbito colapso apenas de "toneladas" de conteúdo que a Indústria julga-se "possuidora"; também perdeu-se muito do conteúdo contra-cultural, subversivo, iconoclasta, questionador, rebelde, transformador, revolucionário que ali havia! Qual será a percentagem de conteúdo realmente copyrighted que fluía entre os servidores do Megaupload e seus usuários diariamente? E esta percentagem justifica o extermínio completo do serviço?
O FBI, é claro, não conhece essas "sutilezas": pensa e age com uma truculência de gente inculta que odeia a idéia de que as pessoas estão se informando, se cultivando, intercambiando idéias e criações artísticas sem a intermediação de empresas com fins lucrativos. Os dinossauros ficam apavorados com o mundo que a cibercultura está ajudando a parir: um mundo no qual, como a Primavera Árabe provou, as pessoas utilizarão a Internet para escaparem às cegueiras impostas pela mídia, para trocarem informações preciosas sobre os horrores cometidos pelos homens de poder, para se conscientizarem politicamente com um "cosmopolitismo" que só a Aldeia Global possibilita, ou mesmo para organizarem levantes, protestos, passeatas, revoluções...
Tudo isso é um sinal preocupante de que o arrogante Império Americano, que cometeu os escândalos mais grotestos no Iraque e no Afeganistão nos últimos anos, que agora salta sobre o petróleo da Líbia, que tanto apóia Israel contra os palestinos, que tanto perseguiu a Revolução Cubana e tentou gorar os avanços sociais dos rebeldes da Sierra Maestra ("hoje 200 milhões de crianças dormirão nas ruas - nenhuma delas é cubana!"), que fecha o Megaupload mas não se importa se Guantánamo Bay e Abu Ghraib funcionam direitinho, que... enfim, que já está passando dos limites em seu imperialismo autoritário e sua Guerra Contra o Terror, sua Guerra Contra as Drogas, sua Guerra em Prol do Petróleo árabe, sua Guerra contra a Pirataria... Papagaios que só sabem falar em "guerra, guerra, guerra!", "dinheiro, dinheiro, dinheiro!"
Esta guerra, como não podia deixar de ser num país acostumado à ela, chega à Internet. É bom irmos nos acostumando, pois parece ter começado de vez a repressão autoritária dos ianques contra a Internet livre. O compartilhamento de filmes e músicas vai sofrer alguns dos abalos mais sérios de toda a história da Cibercultura, pelo jeito, caso uma grande onda de oposição popular não barre esses planos dos defensores do SOPA e do Protect IP. O Megaupload já foi pro saco, fechado pelo FBI, e é de se suspeitar que Rapidshare, Mediafire e sites similares sejam as próximas vítimas. Qual é o próximo passo: numa nova Inquisição, grandes fogueiras de Servidores "piratas" sendo reduzidos a cinza?!? É a volta do Farenheit 451 de Ray Bradbury - mas agora não são só os livros que eles pretendem incendiar, mas uma vastíssima biblioteca multimídia cujo acesso, segundo eles, só é permitido caso engordemos ainda mais as contas bancárias transbordantes das mega-corporações. Triste!
A minha preocupação é grande: os meus uploads somam 53.64 GIGABITES, num total de 789 arquivos, que já foram downloadados... 715.852 vezes. As autoridades, claro, não dão a mínima para a TRABALHEIRA que foi disponibilizar este conteúdo na Internet nestes últimos 4 ANOS, não tem consciência do trampo de CURADORIA envolvido nisso, e estão pouco se fodendo se estes atos de "Incineração da Pirataria" não atacam um direito fundamental de qualquer cidadão civilizado: o acesso à Cultura, no máximo da diversidade e do baixo custo possível. Se o Mediafire morrer... Depredando is wavin' bye bye. :-(
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2 comentários:
Pô velho mais uma vez....comentando para parabenizar ae certo por todo o trabalho e pela qualidade do blog !
Valeu Badal! Massa saber que 'cê tá curtindo, siga ligado e acompanhando!
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