:: GAROTOS PODRES ::
“Mais Podres do que Nunca” (1985)
- Fred Di Giacomo -

Aqui não há nada que lembre o punk cheiroso de NX Zero e Good Charlotte. A produção é suja e os instrumentos, amadores. A gravação era pra ser uma demo, mas acabou virando disco independente "devido ao resultado surpreendente" pra época. Três faixas gravadas nunca foram lançadas devido à péssima qualidade, as 11 que ficaram trazem a marca dos Garotos Podres; punk simples, mais lento e candenciado que o feito por seus contemporâneos (Ratos de Porão, Olho Seco, Cólera...) e letras críticas/ sarcásticas carregadas de humor negro.
Afinal, quem nos dias de hoje teria a manha de fazer uma letra como a de "Papai-Noel": "Papai-Noel, filho da puta/ Rejeita os miseráveis/ Eu quero mata-lo/ Aquele porco capitalista/ Presenteia os ricos/ Cospe nos Pobres." Ou "Vou fazer cocô": "Enquanto você, de paletó e gravata/ Aparece na tv/ E diz coisas que eu não consigo entender/ O que que eu faço?/ Vou fazer cocô."
Não, não, muito sujo, politicamente incorreto, prejudicaria as vendas. Rock sem esse espírito de contestação tem o mesmo valor que axé. Mesmo porque, tanto faz ter na rádio Luan Santana e Exaltasamba ou Restart e Fresno. O lixo é o mesmo, aí talvez até seja melhor o Exaltasamba porque é lixo 100% nacional, os caras das "bandas de pop/rock" de hoje em dia ainda tem a moral de copiar lixo dos gringos. Cada país tem a trilha sonora que merece...
Bom, voltando aos Garotos Podres, seu disco de estréia gravado em 1985 e relançado com a música "Meu Bem" (uma daquelas 3 que tinham ficado "péssimas") é o retrato dos anos 80, conturbados, marcados pelo fim da ditadura (que censurou duas faixas do disco), pelas greves de metalúrgicos (ali perto dos Garotos, que são do ABC) e pela hegemonia do Brock.
Uma história retratada nas 11 faixas desse disco. Uma curiosidade bizarra é a música Füher ("Os imundos querem dominar o mundo, com o poder de suas armas/ Sob suas estrela maldita/ Fanáticos religiosos, assassinos malditos/ Eu quero mata-los"). A letra acabou gerando acusações aos Garotos Podres (socialistas) de nazismo. Essa acusação ainda ecoa nos meios anarcopunks. Em uma entrevista concedida a mim por e-mail, Mau explica o assunto. "A intenção da música é colocar no mesmo saco os nazistas e a extrema direita israelense que defende a matança indiscriminada e a deportação em massa dos palestinos". E a história segue vinte e cinco anos depois do lançamento do disco, os palestinos continuam sendo massacrados pela extrema direita israelense e os Garotos Podres ainda são uma das poucas bandas interessantes do rock nacional...
DWLD: http://www.mediafire.com/?qnmqmi5kydc
[192kps; inclui encarte escanneado, com todas as letras]
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[192kps; inclui encarte escanneado, com todas as letras]
(*) Fred Di Giacomo é jornalista camarada do Depredando, blogueia no Punk Brega e é baixista das bandas paulistas Milhouse e Cuecas Rosas.
6 comentários:
Que orgulho marcar presença em tão ilustre blog.
Lúcio, bota um link do Punk Brega aí. E o Di Giacomo é separado! Valeu, moleque!
Hey Frederick! Sempre um honra ter Vossa Punkidade depredando por aqui! =)
Clássico incontestável do rock brasileiro, assim como o "Pela Paz..." do Cólera. Parabéns pelo texto.
Valeu, BLOB fiz uma resenha do "Pela Paz" também: http://memoriasdeumperdedor.blogspot.com/2009/09/pela-paz-em-todo-mundo-colera-1986.html
abrax
Gente, o endereço do Punk Brega mudou para: www.punkbrega.com.br. Abrax!
Parabens pelo texto. Grande banda e ser confundido com nazi prova a capacidade de leitura e compreensão da maioria dos brasileiros, mesmo os ditos letrados, ridículo.
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