domingo, 30 de maio de 2010

:: especial BANANADA... parte 4 ::


:: PRA MACACO ALGUM BOTAR DEFEITO ::

"Ao contrário do que gosta de pensar a maioria dos nossos deslumbrados visitantes casuais, acostumada a desembarcar em Goiânia somente na época dos principais festivais, o rock da cidade não é exclusividade das bandas interessadas em distorção, cerveja e... “atitude”. É claro que a popularidade local do garage-rock legitima a fama de que gozamos em outras praças, mas um olhar atento revela muito mais abaixo dessa superfície caótica e barulhenta..." --- HÍGOR COUTINHO, Gyn Rock News

O visitante casual que despenca em Goiânia desavisado, munido só do preconceito babaca de que está "na Terra do Sertanojo", onde "todo mundo" só ouve Zezé di Camargo e Bruno & Marrone, é capaz de se chocar com esta "caótica" e "barulhenta" explosão de "garage-rock" de que fala Higor Coutinho. E garage-rock daquele tipo que é tocado pra tentar explodir a garagem de tanto fazer barulho, fodendo com os tímpanos dos vizinhos e da polícia junto. Daquele tipo que gera no público, em um "mísero" show, uma perda auditiva equivalente à de meter a orelha ao lado de uma britadeira por cerca de uma semana, no stop.

O Goiânia Noise não se chama noise à toa, podem crer: aquilo faz um barulho dos infernos! E até a Wikipedia anda dizendo: "hoje é o maior festival do rock independente do Brasil." E o Bananada, o irmão caçula do Noise, não é menos ruidoso que seu irmão três anos mais velho, e também já recebeu honrarias condignas, como ser eleito pela revista Bravo! o melhor festival de música do país.

Numa cidade que é séria candidata a uma das metrópoles brasileiras mais judiadas pela poluição sonora, o rock que vem se erguendo dos porões e garagens de Goiânia é também poluído, nervoso, catártico, enérgico, cheio de músicas sobre "ódio e vontade de morrer", como cantam os veteranos dos Mechanics (mais de 15 anos na estrada), ou sobre bebedeiras e baladas homéricas e temerárias, repletas de razões para o super-ego se envergonhar, como o hedonismo deslavado dos Black Drawing Chalks nos leva a imaginar.

Mechanics

Desde os anos 90, quando nasceram os seminais MQN, Hang The Supertars e os já citados Mechanics [entrevista], em paralelo com a Monstro Discos, o rock goiano já mostrava uma predileção especial pela distorção e pela sujeira. Levada a tamanho extremo que o muitas vezes parecia ficar a um pulo do metal, ainda que mantivesse um pé no punk e outro no grunge.

De Porto Alegre até surgiram tendências semelhantes, com o Walverdes tentando ser o Nirvana gaúcho, tchê, ou com o Cachorro Grande emulando o The Who e os Kinks. E Sampa também teve seu momento de glória imunda no auge do Thee Butchers Orchestra e Forgotten Boys, que faziam aqueles shows de lavar nossos ossos naqueles pubs fedorentos e horríveis que a gente frequentava na facul, nas quebradas do interior paulista...

E decerto que de aqui e acolá acabam sempre pipocando alguns bons exemplos deste rockão garageiro puído (ou bad ass rock'n'roll, como diria o Fabrício Nobre), tal como o Amp, lá de Recife, mas somente em Goiânia esta tendência, me parece, se organizou em "cena". Além dos grupos  já tão sólidos e consolidados liderados por Nobre e Márcio "Mechanics" Jr, que prosseguem firmes com bandas já em sua segunda década de vida, a cidade hoje pulsa ainda com Bang Bang Babies, Hellbenders, Rockefellers [myspace], Johnny Suxxx & The Fucking Boys, Motherfish, Vícios da Era, Mugo, Diego de Moraes & o Sindicato, Demosonic, Gloom, Black Queen, Space Monkeys, Ultra Vespa, dentre outros...


Neste cenário é inegável que são os Black Drawing Chalks [G1, Rolling Stone, Nagulha, Recife Rock, ...] uma das bandas locais que mais estão "bombando", a ponto de já soar estúpido aos meus ouvidos alguém que define os Chalks como uma "banda local". Eles já estão bem maiores que Goiânia, ainda que pareçam muito fiéis à cidade-mãe. Foram eles os grandes headliners do Bananada deste ano, fechando a noite de Sábado (o fecho da véspera tinha ficado à cargo do Violins [2], já veterana e cultuada banda indie nacional, o mais próximo que temos dum Joy Division, eu diria).

E os Chalks não fizeram feio em mais um showzaço, com uma performance previsivelmente regada a riffões de hard-rock, cabelos ao vento molhados de cerveja e headbanging por todo lado. Mais pra Hellacopters que pra Guns'n'Roses (cujo show abriram na última passagem de Axl Rose e sua trupe pelo Brasil, agora em 2010), o som dos caras é inegavelmente poderoso, intenso e tocado com uma empolgação contagiante, infecciosa. São músicos do caralho, com uma química coletiva incomum de ver em qualquer banda por aí, nacional ou gringa.


Agindo ao modo galopante, just-for-fun, dum AC/DC, dum Kiss, do velho Aerosmith, ou mesmo dum Spinal Tap, a banda ao mesmo tempo traz elementos proto-punk, bem Radio Birdman e Stooges [2] circa-Funhouse, e demonstra ainda um certo tropismo pelo stoner (que se escancara também no design visual classudo de todo o material da banda, que parece homenagem à estética do Queens Of The Stone Age circa-Songs For The Deaf). Que as letras recheadas dum hedonismo beberrão batido não tragam nada de novo não impede em nada --- talvez só apimente --- a diversão geral.

Sem o mínimo grão de regionalismo, sotaque do sertão ou flerte com ritmos ou melodias abrasileiradas, o Black Drawing Chalks soa um pouco como uma banda feita para exportação, "de Goiânia para o mundo". A produção classuda do disco, o inglês perfeito e  a estética americanizada certamente deixam a banda com um "potencial comercial" que não se iguala por nenhuma outra banda da cidade, e por poucas (ou nenhuma) no Brasil de hoje, --- ainda que isto possa ser visto pelos  mais radicais mais como um perigo ou um vício (o "estrelismo") do que como uma virtude confiável. O fato é que não é nada temerário apostar que os Chalks tem plenas condições de terem seus dois primeiros álbuns lançadas na gringa (estão prestes a partir, aliás, numa turnê pela Argentina). ou mesmo conseguir, para os futuros discos, uma distribuição internacional que os coloque na trilha da ruidosa repercussão de Krisiun, Angra ou Sepultura, lá fora, mas desta vez mais no gênero do garage-rock que no do metal. 

Os detratores podem até ralhar que os Chalks são uns "americanizados", que seu rock é "prosaico" ou que eles levam mais a sério a famigerada "atitude" do que aquela exigência-de-crítico-de-música-mala conhecida como "expressão artística". Mas nada disso impede que Life Is a Big Holiday For Us seja um disco fodaço de hard-rock brasileiro, pulsante e apaixonado, talvez um dos melhores da história deste subgênero neste país tão fraco nesse quesito (pois cadê nosso AC/DC?!?!). Já "My Favorite Way" virou um "hitzão underground" inegável, até mesmo com suas incursões no mainstream (tendo sido indicado a clipe do ano num V.M.B. da M.T.V. recente). E tudo indica que o Black Drawing Chalks é um foguete em ascensão, que sobe soltando fogo pelas ventas e fazendo um barulho bom pra diabo, daqueles cujo terremoto parece ter a força para arrancar da letargia uma cidade inteira.



:: DOWLOAD
DOS ÁLBUNS COMPLETOS ::

"Life Is a Big Holiday For Us" (2009)
http://www.mediafire.com/?gnnznwcnmyh


"Big Deal" (2007)
http://www.mediafire.com/?tuvzo4zt3o4



2 comentários:

Di Giacomo disse...

Somzera

Lusso Esponja disse...

Ééééé!

p.s.: logo mais entram por aqui tuas palavras sobre os Garotos Podres, Fred!