quarta-feira, 12 de maio de 2010

O dia em que fui enganado por Mike Flowers

Existem instituições da vida moderna das quais não podemos sequer imaginar seu ocaso. Listando de forma bem pouco ortodoxa: a internet, sem comentários; na mesma seara, a música digitalmente acessível, também sem comentários; métodos de pagamento rápidos e inconsequentes, como sistemas de débito e crédito, desisti de tecer quaisquer comentários; coca-cola e sua carga providencial de cafeína; batata feita de qualquer jeito; e Wonderwall.

De prima, coisa que nem era de se imaginar, já que a musiquinha de amorzinho do Oasis figurou como hit dentro do seriado ad eternum Malhação – em tempo, palco de algumas aberrações sonoras nem um pouco dignas de nota. E mesmo assim, as frases megaclichês (tenho tanto pra te dizer, mas não sei como? Bá!), acopladas a uma bateria difícil de imitar nas mais sofisticadas técnicas de air drums, a terceira faixa do disco “(What’s the Story) Morning Glory?”, de 1995, ergueu-se naquela década fria e desolada como um dos grandes pilares do mundo pop. Falando em exageros, há quem diga que foi “Wonderwall” a grande responsável pelo revival da mais antiga forma de agrado sentimental, depois do café na cama: a serenata.

Deu-se a desgraça em uma tranquila noite de sexta-feira, enquanto confabulava sozinho sobre qual seria o melhor dos filmes do Batman. Em segundo plano, aquele canal de TV em que passam clipes, e que ninguém mais presta atenção – até então. A icônica legenda anuncia que um tal de Mike Flowers, junto de sua bandinha de araque, vai começar a mostrar seu clipe. “Wonderwall”. Até onde ententi, é um programa de faixas temáticas, e essa em singular chama-se “disco”. Coisa velha? E devem, claro, existir cerca de noventa e sete músicas no mundo com esse nome. Mas com um clipe que começa com a imagem surgindo no meio de um vinil, bem naquela parte central, “To-day”...

Biltres! O tal Flores era então o verdadeiro dono da instituição que os Gallagher ousaram apoderar-se, criando-a anos e anos antes? Pior: enganaram toda uma geração que hoje vive sem rumo na vida, em função das coisas bonitas que teriam dito com ares de ineditismo? A esposa de Noel (namorada, afins) era apenas uma farsa? Todo aquele álbum não passava de uma serenata anacrônica? Naquele dia, não dormi. Assisti a todas as corridas de cavalo que pude, e achei a coisa mais insuportável do universo conhecido. Queria estar errado. Não sobre as corridas, mas sobre “Wonderwall”.

Bom que estava! Depois de consultar diversos oráculos, descobri que: 1. Eu não era O Escolhido. 2. Aquele Mike Flowers era um fanfarrão. “The Mike Flowers Pops” é uma bandinha de pouco mais de 340 pessoas, bem no estilo Titãs ou Negritude Júnior, que foi convidada a fazer covers para um programa de rádio. Até então, sem problemas. A grande confusão sessão-da-tarde aconteceu quando o hit-cover “Wonderwall” foi executada de forma “jocosa” (tradução livre, expontânea e equivocada para “joking”) como se fosse a original, em outro programa de rádio, obrigando cerca de três ou quatro desinformados em todo o mundo, eu incluso, a consultar o Google sobre a veracidade dos fatos. Não contente, Miguel Flores fez vários outros covers, indo de Doors, passado por Björk e sossegando, quem sabe, em Madonna. Segue o princípio da discórdia:


4 comentários:

Vernardo Santana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vernardo Santana disse...

Por que não clichê? "Aí, meninão, nunca sei quando você tá falando sééério..."

Interprete.

Timothy Leary disse...

Cara... o Richard Cheese dá de 1000 a 0 nesse tal de Mike flowers.

Na boa.

Unknown disse...

Hilário o post, Mininôncio! Muito criativo. Lembro de ter visto este clipzito ae anos e anos atrás, na época em que a ême-tê-vê ainda valia a pena e tinha largas porções da programação votadas à chacota. E na época que a banda Oásis era tão megalomaníaca com seus papos de "somos os novos Beatles" que bem mereciam uma zoeirinha, pois mais fodas que fossem aqueles 3 primeiros álbuns... E do Weird Al Yankovic, rei dos "parodistas do pop" na era do grunge, cê lembra? (Do fundo do baú!)