Certas bandas têm um papel definido na vida da gente: o mesmo papel que aquele amigo seu de infância tem.
É o amigo que te conhece desde quando você nem tinha peito - ou pinto - crescido, que te acompanhou pela adolescência e pelos ataques de rebeldia infundamentada, pelos amores eternos de dois dias e também esteve do seu lado enquanto outros amigos iam e vinham.
O amigo que era o melhor de todos e depois foi se afastando, abandonando o cargo de parceiro pra tudo, mas que nem por isso saiu do seu caminho, sempre aparecendo pra dar um alozinho, ou ligando pra perguntar como estavam as coisas. Ele sempre faz questão de se fazer presente, seja no seu aniversário - porque catolicamente você sempre o convida - ou naquelas horas que a gente precisa botar os bofes pra fora.
Ouvindo "Rise and Fall, Rage and Grace" o último e ótimo do Offspring é possível que alguns sintam a banda dessa forma: como um amigo de infância que apareceu depois de muito tempo com filhos e esposa, mas com a mesma carinha de menino dizendo que está com saudade. Ele bate na porta da sua casa pra te dar um abraço e apresentar sua nova vida.
Em meia hora de conversa você percebe o quanto ele mudou e o quanto ele ainda é o mesmo. Talvez por causa daquele sorriso que você conhece tão bem ou por causa das manias que parecem nunca ir embora, te deixando intrigado e ao mesmo tempo emocionado por ter ali uma parte da sua vida passada que ainda faz uma puta diferença.
Quando ouvi "Rise and Fall", a primeira faixa do disco, lá estava eu com 14 anos de novo, pulando no meu quarto planejando pintar o cabelo de azul. A sensação veio mais forte quando começou "You gonna go far, Kid", dilacerante no mais puro estilo do clássico e brilhante "Smash", de 1994.
Dexter Holland ainda destrói meu coração quando canta e, além de ter uma voz absolutamente única, é o tal do meu melhor amigo de infância, ainda com o mesmo timbre e as mesmas letras azedas prontas pra te fazer sacudir a cabeça e cantar até ficar rouco no meio da casa.
Mas aí, vem "Kristy, are you doing ok?" e "Fix you". Foi então que eu percebi que o meu amigo tinha realmente se casado, tido filhos e um emprego estável. De certa forma, meu amigo não era mais o mesmo. Mesmo. Tinha se tornado bem comportado, arrumadinho, cheiroso e politicamente correto.
Da mesma forma, The Offspring está bem mais comportado, definitivamente, e não vale a pena entrar em questões como marketing, porque essa parte é bastante chata e não vem ao caso.
Pra dizer a verdade, eu sempre espero das bandas - não só do Offspring - que elas me tragam cds como Smash, um dos melhores sempre. Ou até como o Dookie - do Green Day, outro da lista de paixões devastadoras.
Melancolias a parte, não dá pra esperar que seu amigo de 15 anos atrás ainda esteja se vestindo de calça rasgada, bebendo até cair e rindo da vida à toa. Tudo muda.
As bandas favoritas são como esses amigos aí. Eles mudam, mas você não se atreve a falar mal porque o sentimento aí no meio é verdadeiro demais pra isso.
E Offspring é um desses melhores amigos de infância, agora de terno e gravata.
E All Star no pé.
5 comentários:
arrepiei de ler o texto.
vc descreveu com maestria o sentimento de ouvir novos sons das minhas bandas favoritas de outrora.
perfeito!
valeu!!!
Esse é, na verdade, o sentimento que a gente tem nessas situações. Novos velhos amigos!
precisa de senha p descompactar o arquivo...
;~~
teria como vc's passarem ela?
ficaria grata
e eu adorei o post..
=D
;***
POR FAVOR, ME MANDEM A SENHA.
oh pessoal, desculpa ai!
vai aqui outro link... agora, sem senha.
obrigada.
http://www.mediafire.com/download.php?zyditmbtgbh
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