R.E.M.
"MURMUR"
por
Carlos Eduardo Lima (Discoteca Básica Rock Press - ano v, #24)
Estamos caminhando pelas alamedas da Universidade de Georgia. É o fim da década de 70, mais precisamente o ano de 1978. Michael Stipe sai apressado de uma de suas aulas do curso de pintura e fotografia. Hoje ele pretende comprar alguns discos na cidade. Após revirar as prateleiras da Wustry Records, em Athens, sua cidade natal, atrás de coisas como Television, Patti Smith, Velvet Underground e Sex Pistols, Stipe é atendido por um vendedor com cara de nerd. O cara gostava das mesmas coisas que ele e dali eles trocaram telefones e endereços.
Michael Stipe e o vendedor (e guitarrista amador) Peter Buck formaram neste dia a medula óssea do R.E.M. Dias depois conheceram a outra metade da vindoura banda, Bill Berry e Mike Mills, numa festa e formaram de fato o grupo. Ensaiaram durante dois anos até o primeiro show, realizado em uma igreja nos arredores de Athens. A partir daí, o R.E.M. (sigla de rapid eye movement, nome dado ao movimento dos globos oculares durante os sonhos) passou a frequentar o circuito alternativo da cidade e dos arredores, tocando em todos os lugares possíveis.
Nesta via crúcis, comum a todas as bandas iniciantes, o R.E.M. tocava suas primeiras composições, mas também atendia às solicitações das platéias, que poderiam varias de "Anarchy In The UK" dos Pistols a "All I Have To Do Is Dream", dos Everly Brothers. No ano seguinte, eles resolvem gastar suas economias na produção de um single, "Radio Free Europe", que disparou nas paradas independentes, chegando a ser considerado o single do ano pelo jornal Village Voice.
De volta ao circuito de shows, passaram a ser observados pelos executivos de selos indepentes, entre eles o dono da IRS, Miles Copeland, que ficou tão impressionado com a performance de Stipe e cia que assinou com eles ali mesmo, no camarim. Copeland bancaria a distribuição do recém-lançado EP Chronic Town e colocaria os rapazes em estúdio imediatamente. Assim foi feito. Murmur foi gravado em janeiro de 1983 no estúdio Reflection, em Charlotte, na Carolina do Norte, sob a batuta de Don Dixon e Mitch Easter, o mesmo produtor de Chronic Town.
Poucas vezes uma banda foi tão bem sucedida em uma estréia. Não que Murmur seja de fato o debut do R.E.M. em disco, mas certamente foi seu primeiro LP (lembram-se dessa sigla?). O crossover de folk, new wave e atitude punk desceu redondo nas gargantas alternativas. Bill Berry tinha o polimento dos bateristas new wave, econômico e eficaz; Mills, o homem do baixo, faz de seu instrumento uma espécie de violão mais grave, enquanto Buck conseguia um mix de Roger McGuinn (ex-Byrds) e Alex Chilton (ex-Box Tops e Big Star), com jeito de Neil Young. Stipe já destilava seu quase incompreensível sotaque sulista, chegando a soar quase ininteligível em alguns momentos.
Como se não bastasse esse background sonoro, as letras de Stipe eram inteligentes o bastante para fundir latim, citações da mitologia grega, em "Talking About the Passion", e libelos anti-conformistas, como a própria "Radio Free Europe", sobre famosa rádio aliada que transmitia mensagens anti-nazismo e, posteriormente, anti-comunismo na Europa dos anos 40.
Miles Copeland gostou tanto do resultado que chamou seu irmão, um certo baterista de nome Stewart Copeland, para assistir um de seus shows. O sujeito ficou tão impressionado que levou os novatos para abrirem as apresentações de sua própria banda, um certo trio chamado The Police, nos EUA.
Murmur acabou sendo, pelos motivos certos, um divisor de águas no som jovem americano, além de ter sido o marco zero do que se convencionou chamar de "rock alternativo", "college rock" e afins.
'Murmur' [1983] (63 MB - 192 kps):
http://www.mediafire.com/?myztwm2nw2w
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"RECKONING"
por Matt LeMay
(Pitchforkmedia, Julho de 2009)
It may be R.E.M.'s insistence upon operating as a fully democratic entity that has allowed them to shapeshift so completely and convincingly. Whether crafting a subdued folk song or an over-the-top glam rock stomper, R.E.M. have always embraced their chosen approach completely, even if it means former drummer Bill Berry laying low for an acoustic number or singer Michael Stipe handing off a lead vocal to bassist Mike Mills. On their sophomore LP, Reckoning, those polymorphous tendencies find root as palpable, electrifying, yet-unexplored potential. (...) Reckoning couples the energy of Murmur with the experience of a group that has spent a few years touring and recording, documenting that crucial moment when a band's ideas and ambitions are overtaken by the unique chemistry of its players.
Many of the best songs on Reckoning follow the formula set forth on this debut track: a methodical verse followed by a sly turnaround into a cathartic chorus. Bill Berry's drum parts are at times virtually indistinguishable from song to song, and Michael Stipe tends to sing verses and choruses in the same respective registers. But Reckoning is far from formulaic-- instead, it is host to a kind of determined minimalism, each song building via subtle variations in performance and instrumentation. "Discipline" is not a word that gets thrown around a lot when discussing rock music, but it is key to Reckoning's success.
Case in point: As with countless songs written before and after it, "So. Central Rain" takes up the simple phrase "I'm sorry" as its chorus. But the combination of Stipe's strong-yet-unmistakably-fragile voice, Berry's nervous drumming, and the melodic interplay of Mills' bass and Peter Buck's guitar imbue these well-worn words with remarkable force and meaning. For all the arty, pretentious gestures the band was given to, Reckoning shows that they were not afraid to embrace the universal, to transfigure clichés rather than ham-fistedly avoiding them (see also "Everybody Hurts").
As with its predecessor, Reckoning finds R.E.M. touching upon different styles while working within a fairly consistent aesthetic. The latter half veers a bit towards Americana, without sacrificing any of the momentum built over the album's stunning opening tracks. Slight embellishments go a long way towards highlighting the band's versatility-- a propulsive piano line in "(Don't Go Back to) Rockville" elevates the homespun whimsy of Stipe's voice, and hand percussion on "Time After Time (Annelise)" hints at the more understated turn the band would take with Fables of the Reconstruction.
Declaring Reckoning to be R.E.M.'s "best" album sells short just how many different kinds of great albums R.E.M. have released. But, more so than any other R.E.M. record, Reckoning is unified and energized by the very restlessness that has driven the band to explore so many different ideas and identities. It is this paradoxical engine of transparency and mystery that has made the band so unique, regardless of the particular approach they choose to take for a given record. Any way you look at it, this is R.E.M.
'Reckoning' [1984] (57 MB - 192 kps):
http://www.mediafire.com/?hhnytyyt3zt
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