domingo, 13 de dezembro de 2009

:: Terra Celta ::

:: TERRA CELTA ::
Ao Vivo no Bolshoi, Goiânia, 10/12/09

por Eduardo Carli de Moraes


"Somos seis aventureiros em busca de uma terra encantada... onde a cerveja é mais gelada... as donzelas são mais belas... e a alegria impera!" É assim que os malucos do Terra Celta apresentaram-se ao público goiano nesta última quinta-feira, quando transformaram o Bolshoi Pub num barco viking a singrar mares de uísque escocês.

Pode até parecer que um show destes paranaenses de Londrina vale mais pelo interesse "antropológico", ou que só vai agradar à quem tem gosto por freak shows, mas este coletivo quer mais é botar todo mundo pra dançar, festejar e se embebedar. E são muito bem-sucedidos neste intento... tocando música celta! Mas o som que fazem é bem mais rico do que leva a supor este rótulo: embarcar nesta viagem-de-som é ir em turismo por pubs irlandeses, cafés parisienses, festas napolitanas, danças judaicas... Eles são os vândalos-bufões mais empolgados que já vi sobre num palco (não que tenha visto muitos...).

A gangue consegue até meter música brasileira no caldo, realizando a proeza de tocar música celta como se fosse baião - o tipo de som que faria Luís Gonzaga se tivesse nascido no País de Gales e tivesse pancinha de breja Guiness. Apesar dos classudos instrumentos - que incluem violino holandês, gaita de foles, banjo, bandolim, acordeom, rabeca e por aí vai - eles caem por vezes num festão popularzão que chega perto duma forrozera, dum arrasta-pé. Nesta ocasião, não resistiram a zoar o sertanojo, estando na cidade que o celebrizou, mas até tocaram uma música de uma dessas duplas compostas sempre por um asno e um otário, ambos com cara-de-cu e com cãibra embaixo.

Fui vê-los com a caranga ideal: meu Celta imundo, ainda encardido da lama duns 700 quilômetros de BR-153. E carreguei minha carcaça pra lá depois de ter tirado o pó das minhas mp3s do The Pogues e ter vestido a saia-da-namorada que mais se assemelha a um kilt (brincaderinha...). E pasmei: pois esperava um tranquilo desfilar de world music bizarrona e os negos vão e mandam umas chineladas na orelha: como uma do Dropkick Murphys, aquela da trilha d'Os Infiltrados, transformando a beira do palco numa espécie de roda-de-pogo ao modo galês.

O público goiano, que não tem preconceito contra nada, apesar de fazer piada de tudo, pirava e pulava dum modo inimaginável. E nem eram uns metaleiros mala fãs de Blind Guardian ou Blackmore's Night. Tavam mais pra nerdões de óculos que acham Tolkien maior que Shakespeare e sonham com a banda-de-rock que honre O Senhor dos Anéis.


Figuraça e showman nato, o vocalista e o violista Fiddler é desbocado, cafajeste e xavequeiro. Até soltou, pruma mocinha na frente do palco, esta eficientíssima pérola de retórica sexual: "Você é tão linda que, se fosse um sanduíche, se chamaria X-Princesa!" Tão terrível que chega até a ser bom. Aposto que a coisa foi quente nos camarins, depois do show...

O Terra Celta, porém, sofre do mesmo mal que acomete o Móveis Coloniais de Acaju e sua feijoada búlgara: em cima do palco são uma banda muito mais sensacional do que em disco. Não que o debut dos paranenses seja ruim - longe disso. Mas ali, apesar da musicalidade rica e variedade instrumental estarem bem representadas na gravação, falta todo o fascínio e empolgação da experiência coletiva que se sagra ao vivo.

As canções falam sobre marujos bêbados, piratas, vikings, cowboys e outros párias das terras e dos mares. Nada muito original nesta celebração devassa da pilantragem e da embriaguez, mas - oh hell! - os caras sabem como fazer uma festa do capeta. Nos sentimos transportados para a Idade Média, em alguma taverna que escapa aos poderes eclesiásticos e às chaturas morais religiosas, onde homens comuns entregam-se aos prazeres da carne, da bebida e da dança. Como pagãos em torno da fogueira, celebrando o deus Dionísio, gastam suas labaredas, já que nada levaremos para o caixão.

Em irônica chacota à caretice e em apologia escancarada dos excessos, fizeram o Bolshoi inteiro cantar, como se Goiânia tivesse virado Glasgow:

Dizem que comer demais faz mal; parem de comer!
Dizem que beber demais faz mal; parem de beber!
Dizem que fumar demais faz mal; parem de fumar!
Mas se disserem que sexo demais faz mal... PAREM DE ESCUTAR!

Eles parecem tocar no intento de transformar todo dia de todo mês numa Oktoberfest de ebriedades outubrinas. Como dizem na canção que fecha o primeiro álbum, eles não querem ir pro céu... porque no céu não tem cerveja. Que chatura não deve ser, ficar tomando leitinho, ao som de harpas! "In heaven there is no beer / That's why we drink it here!", cantam os meninos, aos lá-lá-lás.

Nada seria mais careta da parte destes corsários do que protestar contra a pirataria depredística; pois então pilhem sem pudor o debut dos caras aí embaixo - também disponível no site oficial dos caras (mas lá ele vem caótico: sem o número das faixas, o que nós aqui, muito mais ordeiros, resolvêmo). E não perca a chance de embarcar neste barco viking se eles passarem por sua cidade: não há Moby Dick capaz de afundar a animação desta nau!



E voilà um vídeo excrusivo, gravado no meio da festança céltica:

4 comentários:

Thaís disse...

Edu, eles vão tocar mesmo do St. Patrick's do O'Malleys? Só de ler seu texto já dá vontade de pular! :o)

Um abraço!

Unknown disse...

nossa.. uma vez eles vieram pra ribeirão tocar no Vila Dionisio e eu nao fui de preconceito. Disse credo, que merda!
Vou queimar no mármore do inferno!

bjos

Unknown disse...

Hey Thaís! Creio eu que esse show no O'Malleys já foi -- usei o poster pra ilustrar a matéria porque é bonitoso, mas ele já é dazantiga. Mas fique de olho que é bem provável que eles aportem em Sampa em algum momento de 2010, para alegria dos saltitantes! =)

* * * * *

Até eu tinha um preconceitinho, Fran -- fui com expectativas baixas e o show superou-as com louvor. Vale mó a pena conferir e se surpreender com a empolgação dos caras e da galera com um estilo musical que se supõe ser tão "mortão"... Acabo de adicionar um videozinho que dá uma idéia do "clima" no show! Vejam ae...

E valeu pelos comments!

Anônimo disse...

Eles são realmente bons.
Ao vivo principalmente.