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Para o maestro Rogério Duprat, foi ele o grande criador dentro dos Mutantes, que por sua vez foram os grandes criadores dentro do tropicalismo, e por isso o responsável direto por tudo que ocorreu na música brasileira de 1967 para frente. Para Lobão, compôs um dos 10 melhores álbuns da história da música nacional, Lóki. Já o irmão e mutante Sérgio Dias trata-o com reverência e o defende da acusação de ser um louco-bobo qualquer, destacando a espantosa sensibilidade que possui Arnaldo – e perguntando, provocativo: “quem é louco, Van Gogh ou a gente?”
O fã Sean Lennon, um dos responsáveis pelo “re-despertar” de Arnaldo na mídia após um longo período de ostracismo, chegou a considerá-lo o “Syd Barrett brasileiro”, estabelecendo altos paralelos entre o menino mutante e o genial e esquizofrênico primeiro vocalista do Pink Floyd.
Para o também fã Devendra Banhart, os Mutantes foram melhores do que os Beatles (!) em termos de ousadia, criatividade e capacidade de unir ecletismos radicais dentro da mesma canção. Zélia Duncan, que assumiu o papel de vocalista no revival dos Mutantes, descreve Arnaldo como “a encarnação da ‘Balada do Louco’” por conseguir encontrar um modo de ser genuinamente feliz, mesmo vivendo de seu próprio modo num mundo de fantasia completamente idiossincrático.
Já Kurt Cobain, no auge do sucesso do Nirvana, quando passou pelo Brasil para tocar no Hollywood Rock, derreteu-se em elogios à heróica banda que enfrentou um regime militar perverso a golpes de irreverência e psicodelismo. Escreveu para Arnaldo uma carta, que caiu na Internet e assim se espalhou para o resto do mundo, elogiando o músico, que mal sabia quem era esse tal de Cobain.Os exemplos poderiam se multiplicar... mas só por esse grupo seleto de fãs e admiradores de Arnaldo Baptista já se vê o poder do retrato que Lóki traça. Partindo do passado distante, onde narra rapidamente a infância e a adolescência do artista, o filme chega até tempos mais recentes. O lançamento do disco de inéditas “Let It Bed”, em 2002, produzido por John, do Pato Fu, e distribuído nas bandas de jornal pela revista criada por Lobão, trouxe-o de volta à cena com um álbum elogiado.
Depois, é a hora do filme mostra o quanto o ‘revival’ dos Mutantes foi extremamente bem-sucedido, com DVD gravado em Londres e ovações em Nova York, mostrando ser algo muito maior que uma mera turnê caça-níqueis. Sabe disso quem esteve nos dois brilhantes shows que os novos Mutantes fizeram em São Paulo nos últimos anos: na Virada Cultural, em 2008, e no aniversário da cidade, em 2007, em ambas ocasiões tocando para um público que ultrapassava as 50 mil pessoas. Se foi bom? Como diria Devendra Banhart: “em uma palavra: bompracaralho!”
Já Rita Lee é assunto tabu quando se trata da vida de Arnaldo Baptista. Os dois, de namoradinhos juvenis e casal sacramentado pelos laços do santo matrimônio, passaram a um quase completo afastamento. Rita, como era de se prever, não dá declaração alguma para o filme. Mas Sérgio Dias aponta, sem firulas, que a saída de Rita Lee dos Mutantes, o que daria início à fase prog chatona e viajandona da banda, tem pouco a ver com diferenças musicais. Nada a ver com a suposta falta de virtuosismo instrumental dela, que a tornaria inapta a acompanhar os Mutantes em suas novas viagens nas estratosferas sônicas. Sem meias palavras, Sérgio indica que foi o fim do casamento entre Arnaldo e Rita foi o que causou a saída dela da banda e, assim, o desfazimento do trio mais genial da história do rock nacional.Lóki é um documento histórico de primeira linha que homenageia uma de nossas figuras musicais mais excêntricas, idiossincráticas e doidamente geniais. Como filme, tem a vantagem de não ser uma mera descrição de um percurso pessoal, mas uma panorâmica de uma época cultural efervescente, dominada pela psicodelia, pelo tropicalismo, pelo LSD e pela experimentação vivencial livre e solta.
Além do mais, é uma meditação sobre a loucura, que nos convence, mais uma vez, que não há nada de errado em ter um ou outro parafuso solto e dizer coisas sem pé-nem-cabeça – e que louco mesmo é quem diz que não é feliz. Arnaldo Baptista aparece aqui como uma pessoa no limiar entre a doidice e a genialidade e um convite vivo para que reencontremos a simplicidade da infância perdida.
Arnaldo sempre jurou: “é bem melhor não ser um normal / se posso crer que Deus sou eu”. O filme só traz mais fiéis a este credo. Se Lóki, o filme, servir para deixar os normopatas menos orgulhosos de sua insossa normalidade, já terá feito muito bem. Mas faz mais: ergue um monumento sobre a ascensão, queda e ressurreição desse adorável pimpolho pirado que o Brasil faz muito bem em louvar.
TRAILER:
DOWNLOADS:
Alguns destaques da discografia de Arnaldo pós-Mutantes:
LÓKI
http://www.mediafire.com/?yi0mijguztb
Apesar de o Little Joy ser “vendido”no exterior como o projeto paralelo do “baterista do Strokes” – apesar de, no caso, ele também se arriscar na guitarra, baixo e piano - é Amarante quem assume as rédias. Sua voz, tão criticada na época de Los Hermanos se encaixa perfeitamente nas melosas melodias do trio. Seu característico timbre de guitarra, considerado deplorável por cri-críticos brasileiros soa como uma onda (desculpem a breguice). Outro ponto que vale ser ressaltado é a belíssima “Evaporar”, última música do disco, cantada em bom português e que remete institivamente a…Marcelo Camelo!! Aliás, se gravada por Camelo, “Evaporar” facilmente seria a melhor canção de seu Sou..."
DOWNLOAD (37MB - 11 músicas - 30min):
http://www.mediafire.com/?hdyrjjrmimu
“Era Apocalypse Now na hora em que Marlon Brando sai retalhando porcos e faz sua pintura de guerra. Foi a fase mais claustrofóbica da minha vida”, lembra hoje o cantor. Os arranjos do disco, porém, jogam sempre para cima, para o épico. Somados às letras, eles denotam uma adorável arrogância de Napoleão de hospício.
Poucas vezes uma cozinha (Pattinson e De Freitas) tão limitada tecnicamente rendeu tanto, segura nas variações de dinâmica aprendidas ouvindo Velvet Underground. Raros são encontros como o do guitarrista Will Sergeant (versátil e sempre inventivo – talvez a grande estrela do álbum) com o do violinista indiano L. Shankar, convidado especial.
Em “The Cutter”, com introdução chupada de “Matthew and Son”, de Cat Stevens, até os trompetes sintetizados incluídos por “sugestão” da gravadora funcionam. Essa canção e “The Back Of Love”, encorpada com celos, deram ao Echo os hits que lhe faltavam. Mas o disco tem muitos outros momentos inspirados.
Na dramática “Clay” (“quando eu me fiz em pedaços, não era feito de areia / quando você me arrasou, o barro se esfacelou em minhas mãos”) e na lindíssima “Porcupine”, Ian McCulloch tira o rock do beco-sem-saída pós-punk, recuperando ambições jim-morrisonianas em canções sempre concisas (grande vantagem em relação ao Doors). Seu lirismo atinge o auge na última faixa, a ciranda psicodélica “In Bluer Skies”: “Estou contando com seu coração pesado / Será que ele me impedirá de me dilacerar?”
DOWNLOAD:
http://www.mediafire.com/?m2kmjmzydyk