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:: STRAVINSKY - "A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA" ::
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Igor Fedorovich Stravinsky tinha um background impecável. Filho de um famoso cantor do Teatro Mariinsky de São Petersburgo, e aluno do respeitado compositor Nikolai Rimsky-Korsakov, estava no auge do sucesso na capital francesa depois de lançar os bailados O Pássaro de Fogo (1910) e Petrushka (1911), ambos coreografados por Michel Fokine e produzidos pelo mestre Sergei Diaghilev. Fechando a trilogia, veio A Sagração da Primavera, agora coreografado pelo famoso bailarino Nijinksy, apadrinhado pelo próprio Diaghilev.
Mas a música de A Sagração da Primavera era tão inovadora, e a coreografia de Nijinksy tão ruim, que o resultado da apresentação foi um verdadeiro motim. Ninguém melhor que o próprio Stravinsky para contar o que aconteceu: "A complexidade da minha partitura exigiu um grande número de ensaios, que Pierre Monteux [o maestro] conduziu com sua habitual habilidade e atenção. Quanto à apresentação final, não posso comentar pois saí do auditório aos primeiros compassos do prelúdio, que provocaram risos imediatos da platéia. Eu estava revoltado. Aquelas demonstrações, inicialmente isoladas, logo se espalharam, provocando contra-demonstrações, e logo havia uma grande algazarra. Durante todo o tempo, estive ao lado de Nijinsky nos bastidores. Ele estava em pé numa cadeira, gritando "16, 17, 18..." - era a marcação para os bailarinos. Naturalmente, os pobres dançarinos nada podiam ouvir por causa do barulho da platéia. Tive que segurar Nijinsky pelas roupas, pois ele estava furioso, pronto para subir ao palco a qualquer momento e criar um escândalo. Diaghilev mandava os eletricistas acenderem e apagarem as luzes sucessivamente, esperando com aquilo parar o barulho. Isto é tudo o que me lembro daquela primeira apresentação. Estranhamente, tínhamos feito um ensaio geral para o qual convidamos, como era costume, vários atores, pintores, músicos, escritores e outros representantes da sociedade culta, e tudo tinha transcorrido pacificamente, o que me deixou ainda mais surpreso com o tumulto da estréia."
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Mas o que havia de tão diferente em A Sagração da Primavera para causar tamanha estranheza em sua noite de estréia? Basicamente, a música era tão inovadora, em tantos aspectos, que o público ainda não estava preparado para a absorver, muito menos para a apreciar. Tudo começa com um solo agudo de fagote, que lembra vagamente o solo de flauta de Prélude à l'après-midi d'un Faune, de Debussy (que, não por acaso, assistiu à triste estréia de A Sagração de Primavera). Vão entrando outros instrumentos de sopro, com fragmentos superpostos e dissonantes, depois as cordas, em acordes batidos e ferozes. A sensação é de caos, mas um caos controlado, planejado. E a percussão agressiva e de ritmos variados vem dar ênfase a tudo isto, realçando a complexidade harmônica e a riqueza da orquestração. Há um vigor primitivo que transmite perfeitamente a idéia que deu origem ao bailado cujo subtítulo é "cenas da Rússia pagã".
O próprio Stravinsky conta como nasceu A Sagração da Primavera: "Um dia, quando eu terminava O Pássaro de Fogo em São Petersburgo, tive uma visão fugidia num momento em que minha mente, surpreendentemente, estava ocupada com várias outras coisas. Imaginei um solene rito pagão: sábios anciãos, sentados em círculo, assistindo uma garota que dança até morrer. Eles a estão sacrificando para apaziguar o deus da primavera. Este é o tema de A Sagração da Primavera."
DOWNLOAD (mp3 de 192kps - 71 MB):
http://www.mediafire.com/?ektmgd9bv33
IMPORTANTE: A OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) toca a Sagração (e mais um concerto de Brahms) nesta semana em Sampa, em 4 ocasiões, na Sala SP. Imperdível! Membros da equipe Depredando estarão no recinto... :) Confira a programação:
18 JUNHO, QUARTA - 21h00
19 JUNHO, QUINTA - 21h00
20 JUNHO, SEXTA - 21h00
21 JUNHO, SÁBADO - 16h30
Eiji Oue - regente
Joaquín Achúcarro - piano
Johannes Brahms - Concerto nº 2 para Piano em Si b maior, Op.83
Igor Stravinsky - A Sagração da Primavera
Um comentário:
depredei o orelhão na Sala São Paulo ontem, ótima dica!
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