terça-feira, 27 de novembro de 2012

"A Sociologia é um Esporte de Combate" [Documentário completo sobre Pierre Bourdieu]

"A SOCIOLOGIA É UM ESPORTE DE COMBATE!"


“Weber está de acordo com Marx ao afirmar que a religião cumpre uma função de conservação da ordem social contribuindo para a “legitimação” do poder dos “dominantes” e para a “domesticação dos dominados”. (...) A religião favorece o desenvolvimento de um corpo de especialistas incumbidos da gestão dos bens de salvação. (...) Extremamente raro nas sociedades primitivas, o desenvolvimento de um verdadeiro monoteísmo está ligado à aparição de um corpo de sacerdotes organizado.
Isto significa que o monoteísmo, totalmente ignorado pelas sociedades cuja economia se baseia na coleta, na pesca e/ou na caça, somente se expande nas classes dominantes das sociedades fundadas em uma agricultura já desenvolvida e uma divisão em classes nas quais os progressos da divisão do trabalho se fazem acompanhar por uma divisão correlata, a divisão do trabalho de dominação e, em particular, da divisão do trabalho religioso. 
O corpo de sacerdotes deriva o princípio de sua legitimidade de uma teologia erigida em dogma, cuja validade e perpetuação ele garante. (...) Afirma-se a tendência dos especialistas de fecharem-se na referência autárquica ao saber religioso acumulado... O resultado da monopolização da gestão dos bens de salvação por um corpo de especialistas religiosos, socialmente reconhecidos como os detentores exclusivos desta competência específica, acompanha a desapropriação objetiva daqueles que dele são excluídos e que se transformam por esta razão em "leigos" ou "profanos", destituídos do capital religioso (enquanto trabalho simbólico acumulado).  
Como bem observa Weber, tendo em vista que a visão do mundo proposta pelas grandes religiões universais é o produto de grupos bem definidos (teólogos puritanos, sábios confucionistas, brâmanes hindus, levitas judeus etc.) e até de indivíduos (como os profetas) que falam em nome de grupos determinados, a análise da estrutura interna da mensagem religiosa não pode ignorar impunemente as funções sociologicamente construídas que ela cumpre: primeiro, em favor dos grupos que a produzem e, em seguida, em favor dos grupos que a consomem. 
Um sistema de práticas e crenças está fadado a ser considerado como magia ou como feitiçaria, no sentido de religião inferior, todas as vezes que ocupar uma posição dominada na estrutura das relações de força simbólica. (...) No âmbito de uma mesma formação social, a oposição entre a religião e a magia, entre o sagrado e o profano, dissimula a oposição entre diferenças de competência religiosa que estão ligadas à estrutura de distribuição do capital cultural.  
Pode-se verificar esse fato na relação entre o confucionismo e a religiosidade das classes populares chinesas, relegadas à ordem da magia pelo desprezo e pela suspeita dos letrados que elaboram o ritual refinado da religião do estado e que impõem a dominação e a legitimidade de suas doutrinas e de suas teorias sociais, apesar de algumas vitórias locais e provisórias dos sacerdotes taoístas e budistas cujas doutrinas e práticas estão mais próximas dos interesses das massas. 
Toda prática ou crença dominada está fadada a aparecer como profanadora na medida em que, por sua própria existência e na ausência de qualquer intenção de profanação, constitui uma contestação objetiva do monopólio da gestão do sagrado e, portanto, da legitimidade dos detentores desse monopólio... ” 


PIERRE BOURDIEU
in: "A Economia das Trocas Simbólicas"
Ed. Perspectiva
Pgs 32-45

Saiba mais sobre Bourdieu,
um dos grandes sociólogos do século XX, neste
documentário (completo e legendado em português):

Um comentário:

Anônimo disse...

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