O C C U P Y
MOVIMENTOS DE PROTESTO
QUE TOMARAM AS RUAS
"O movimento global dos 'ocupas' - acampamentos de estudantes e trabalhadores em áreas públicas de centenas de cidades em todo o mundo - iniciado no 2º semestre de 2011, tem entre suas principais bandeiras a crítica à desigualdade econômica. De fato, a distribuição de renda e patrimônio em várias sociedades é estarrecedoramente desigual: nos Estados Unidos, de acordo com estudos do governo de 2008, 1% da população controla quase 25% da renda. (...) Os 'ocupas' põem na pauta política justamente a discussão de alternativas aos regimes econômicos desiguais e a experimentação do igualitarismo democrático radical."
J. A. PERCHANSKI
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"Os manifestantes são descartados como sonhadores, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar indefinidamente como estão. Todos nós conhecemos a cena clássica dos desenhos animados: o gato chega a um precipício e continua caminhando, ignorando o fato de não haver chão sob suas patas; ele só começa a cair quando olha para baixo e percebe o abismo. O que os manifestantes estão fazendo é apenas lembrar aos que estão no poder de olhar para baixo.
Não faltam anticapitalistas hoje, estamos até mesmo testemunhando uma abundância de críticas aos horrores do capitalismo: livros, investigações jornalísticas aprofundadas e reportagens de TV estão repletos de empresas que poluem cruelmente nosso meio ambiente, de banqueiros corruptos que continuam a receber recompensas gordas enquanto seus bancos têm de ser salvos com dinheiro público, de fábricas clandestinas nas quais crianças fazem hora extra etc. etc. etc.
A razão de os manifestantes saírem às ruas é que estão fartos de um mundo onde reciclar latinhas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar cappucino da Starbucks com 1% da renda revertida para os problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para se sentir bem.
O capitalismo claramente reaparece agora como o nome DO problema."
SLAVOJ ZIZEK
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"No início do século XIX, Napoleão enviou tropas à colônia do Haiti. O objetivo era retomar o poder da mão de escravos rebelados comandados por Toussaint L'Ouverture e, com isso, reinstaurar a escravidão. Num estudo clássico, Os Jacobinos Negros (Editora Boitempo, 2000), Cyril James conta o momento em que os soldados franceses, imbuídos dos ideais da Revolução Francesa, ouvem a "Marselhesa" ser cantada por seus oponentes, os negros. Desnorteados, os franceses se perguntam como era possível ouvir sua própria voz vinda do outro lado do campo de batalha. Afinal, contra quem eles estavam lutando, a não ser contra seus próprios ideais?
Hoje vivemos numa sociedade em que o desencanto e o mal-estar são vistos imediatamente como sintomas de alguma doença que deve ser tratada o mais rápido possível, nem que seja preciso dopar todos com antidepressivos. Mas graças aos 'ocupas', novos laços sociais paulatinamente apareceram, levando em conta a força produtiva do desencanto... O desencanto necessário para explorar, sem medo, a plasticidade do novo. (...) Santiago do Chile colocou 400 mil pessoas nas ruas para pedir educação pública de qualidade e gratuita para todos. Esse é um belo exemplo.
VLADIMIR SAFATLE
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"O Partido de Wall Street controlou os EUA sem dificuldades por tempo demais. Dominou completamente as políticas dos presidentes por pelo menos 4 décadas (pra não dizer mais). Corrompeu legalmente o Congresso por meio da dependência covarde dos políticos de ambos os partidos em relação ao poder do seu dinheiro e ao acesso à mídia comercial que controla. (...) O Partido de Wall Street tem um princípio universal de dominação: não pode haver nenhum adversário sério ao poder absoluto do dinheiro de dominar absolutamente. E esse poder tem de ser exercido com um único objetivo: seus detentores não devem apenas ter o privilégio de acumular riqueza sem fim e à vontade, mas também o direito de herdar o planeta, com domínio direto ou indireto da terra, de todos os seus recursos e das potencialidades produtivas que nela residem, (...) além da liberdade de saquear o meio ambiente para seus benefícios individuais ou de classe.
Que os 20% mais ricos detenham 85% da riqueza é inaceitável. Que a maior parte desse montante seja controlada pelo 1% mais rico é totalmente inaceitável. O que o movimento Occuppy Wall Street propõe é que nós, o povo dos Estados Unidos, nos comprometamos a reverter esse nível de desigualdade e, ainda mais importante, o poder político que essa disparidade gera. (...) O tempo de fazer outra Revolução Americana, como Jefferson sugeriu há muito tempo ser necessário, está se aproximando.
A luta que se criou - o Povo contra o Partido de Wall Street - é crucial para nosso futuro coletivo. A luta é global, mas também local em sua natureza. Reúne estudantes chilenos confinados numa luta de vida ou morte contra o poder político para criar um sistema de educação gratuito e de qualidade para todos e, então, começar a desmantelar o modelo neoliberal que Pinochet impôs tão brutalmente. Engloba os ativistas da praça Tahrir que reconhecem que a queda de Mubarak foi apenas o primeiro passo de uma luta pela emancipação do poder do dinheiro. Inclui os Indignados da Espanha, os trabalhadores em greve na Grécia, a oposição militante que surge em todo o mundo, de Londres a Durban, Buenos Aires, Shenzhen e Mumbai.
O sistema não está só quebrado e exposto, mas também é incapaz de qualquer outra resposta que não a repressão. (...) O Partido de Wall Street teve sua chance e fracassou miseravelmente. Construir uma alternativa em suas ruínas é tanto uma oportunidade inescapável quanto uma obrigação que nenhum de nós pode ou vai querer evitar."
DAVID HARVEY
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"...amplos contingentes de jovens órfãos de futuridade... individualidades pulsantes de indignação e rebeldia criativa... com seus sonhos e pequenas utopias pessoais capazes de dar um sentido à vida por meio da ressignificação do cotidiano como espaço de reivindicação coletiva de direitos usurpados. (...) Talvez eles representem o espectro indefinido e nebuloso do comunismo, que, como o fantasma do pai de Hamlet, anuncia que há algo de podre no Reino da Ordem Burguesa."
GIOVANNI ALVES
Todas as citações foram extraídas do livro "Occupy - Movimentos De Protesto Que Tomaram as Ruas", da Editora Boitempo/Carta Maior, vendido por 10 reais (preço de custo). Quem se interessar em adquirir, ei-lo na Livraria Cultura.
Mais informações / Leituras recomendadas:
- "Occupy Continua Vivo e Forte nos EUA - e em Todo Mundo" (Via Brasil de Fato)
- Alain Badiou fala sobre o filme-catástrofe da crise financeira global (Via A Casa de Vidro)
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