"O mais urgente é frear a loucura do Sistema", brada um irrequieto Manu Chao às câmeras de Vozes Contra a Globalização, um dos melhores documentários televisivos dos últimos anos. Ali, na companhia de pensadores do quilate de José Saramago e Eduardo Galeano, Chao escancara sua oposição ao capitalismo neo-liberal pseudo-democrático. "Não vivemos numa democracia, mas sim numa Ditadura do Dinheiro" e "Quem 'votou' pela Guerra do Iraque foram os acionistas das petrolíferas texanas" são algumas de suas (plausibilíssimas) teses. Profetizando que o Sistema há de cedo ou tarde entrar em colapso, por ser inviável a longo prazo e por exacerbar tensões e desigualdades sociais, bate o martelo: "este neo-liberalismo selvagem não é uma proposta de futuro".
É este o "espírito" que anima a arte de Chao: uma tendência anti-corporativa e anti-imperialista, inspirada por ícones como Che Guevara e o Subcomandante Marcos (do movimento Zapatista mexicano). Há um esforço consciente de se contrapor ao império G8-FMI-Banco Mundial e os subservientes politiqueiros que são seus paus-mandados. De modo que a música de Chao (tal qual a do Mundo Livre S.A., nas bandas de cá...) acaba por unir inseparavelmente a contra-cultura e o ativismo político. O horizonte de que "um outro mundo é possível", mote alardeado aos sete ventos pelos movimentos sociais a partir do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2001, é o fio condutor que une as "miríades de fronts de resistência" (nas palavras de Jean Ziegler) que combatem a "face atual do capitalismo": o neoliberalismo.
"Um outro mundo não é somente possível, é necessário", afirma Galeano. E "necessário" não no sentido fatalista de que "virá de qualquer maneira, não importa o que façamos ou deixemos de fazer". "Necessário" no sentido de vital e indispensável: ou construimos este outro mundo, ou, para falar sem pudores, como faz Manu Chao, "tudo irá para o caralho".
Afinal de contas, hoje há neste nosso planetinha cerca de um 1 bilhão e 200 milhões de pessoas que sobrevivem (ou não...) com renda de menos de 1 dólar por dia. Cerca de 35 mil crianças morrem todos os dias por causa da desnutrição ou de doenças relacionadas à penúria extrema. Enquanto isso, prosseguem os lucros estratosféricos das grandes multinacionais, com destaque para as petrolíferas (em 2008, a Exxon Mobil lucrou mais U$45 BILHÕES e a Shell mais de U$26 BILHÕES!). Sim: todos os povos do mundo estão convidados para a "Festa da Globalização", mas a maioria deles vai ter que entrar pela porta de serviço.
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Pode parecer bizarro que um homem tão "multi-cultural" quanto Chao - nascido na França, de pais espanhóis, altamente viajado (inclusive por toda a América Latina), poliglota capaz de cantar em 7 línguas... - seja um bastião de resistência contra a Globalização. Ora, mas este legítimo cidadão global e cosmopolita que é Chao protesta não contra o multicuturalismo (o intercâmbio artístico, intelectual e criativo entre os povos do mundo), mas contra a imposição global de um modelo econômico que invade e devasta culturas milenares com seus outdoors, sua junk-food e suas multinacionais.
A biografia da AMG destaca o forte ingrediente world music do Mano Negra, banda outrora capitaneada por Chao: "Multilingual and decidedly multicultural, but with an edge heavily influenced by the punk rock of the Clash, Mano Negra seemed comfortably at home anywhere, be it North Africa or North America...". Ao mesmo tempo inspirada no The Clash e precursora do Planet Hemp, a Mano Negra (nome inspirado numa organização anarquista espanhola) juntava música tradicional francesa, espanhola e latina (com certas pitadas de hip hop) fazendo uma eclética gororoba típica da fase mais makulelê (de London Calling a Sandinista) dos clash-city-rockers.
A biografia da AMG destaca o forte ingrediente world music do Mano Negra, banda outrora capitaneada por Chao: "Multilingual and decidedly multicultural, but with an edge heavily influenced by the punk rock of the Clash, Mano Negra seemed comfortably at home anywhere, be it North Africa or North America...". Ao mesmo tempo inspirada no The Clash e precursora do Planet Hemp, a Mano Negra (nome inspirado numa organização anarquista espanhola) juntava música tradicional francesa, espanhola e latina (com certas pitadas de hip hop) fazendo uma eclética gororoba típica da fase mais makulelê (de London Calling a Sandinista) dos clash-city-rockers.
Gibizim Francês |
Em sua carreira solo, Chao prosseguiu na abordagem multi-cultural e anti-neo-liberal: seu grande hit, o folk vira-lata e despojado "Clandestino", relata a dura sina dos imigrantes ilegais que são obrigados a abandonar seus lares em busca de trabalho a centenas (ou milhares) de quilômetros de distância. É uma canção que encontra profunda ressonância na alma das multidões que atravessam, dia a dia, La Migra (a fronteira entre o México e os EUA), ou que velejam pelo Mediterrâneo, saídos da África ou do Oriente Médio, buscando melhores dias na Europa. "A fome vem, o homem se vai", canta Chao.
Em Vozes Contra a Globalização, Chao mostrou ter profundo conhecimento prático sobre essas realidades, destacando que para as mega-empresas, sedentas por reduzir os custos de produção e turbinar ainda mais seus ganhos, é excelente negócio empregar com salários de miséria alguns gringos desperados, ainda que à custa do aumento do desemprego dos nativos e da exacerbação de conflitos e xenofobias (como ocorre, por exemplo, na França de hoje em dia, com um fantasma chamado Le Pen assombrando o cenário político....).
Em Vozes Contra a Globalização, Chao mostrou ter profundo conhecimento prático sobre essas realidades, destacando que para as mega-empresas, sedentas por reduzir os custos de produção e turbinar ainda mais seus ganhos, é excelente negócio empregar com salários de miséria alguns gringos desperados, ainda que à custa do aumento do desemprego dos nativos e da exacerbação de conflitos e xenofobias (como ocorre, por exemplo, na França de hoje em dia, com um fantasma chamado Le Pen assombrando o cenário político....).
Em suma: considero que a música de Manu Chao ganha muito se for ouvida tendo todo este contexto em mente. (E ganha bastante, também, se o ouvinte for adepto de uma consciência cannabicamente esfumaçada, o que auxilia demais a... hmmm... deleitação intuitiva da obra).
No próximo dia 18 de Junho, estarei lá no show do cara na Cidade de Goiás, durante o XIII FICA (Festival Internacional de Cinema Ambiental) - que recebe ainda Maria Rita, Rita Lee e vários artistas goianos bacanas - e volto logo mais com relatos e impressões direto do front. Enquanto isso, a quem interessar possa, disponibilizamos abaixo vasto material para quem quer contestar a pseudo-Ordem neo-liberal ao mergulhar nos Chaos!
E aí: nos vemos lá no FICA?
CLANDESTINO http://www.mediafire.com/?z0sdh5b9kn0c7rz |
LA RADIOLINA http://www.mediafire.com/?2bf8fch2dh2afr3 |
PRÓXIMA ESTACION... ESPERANZA http://www.mediafire.com/?csbbqj4njqqx4nv |
CASA BABYLON http://www.mediafire.com/?8avf6y6hceb86ov |
THE BEST OF MANO NEGRA http://www.mediafire.com/?639jlkko5no895l |
2 comentários:
Eu tinha um CDzinho dele ao vivo, "Radio Remba Sound System" ou algo assim... muito bom! Vi um show dele no Ibirapuera em Sampa uma vez e é muito massa. Ele acelera o ritmo das músicas e faz um showzaço de ska sem perder o fôlego.
O problema é aguentar ficar pulando com os pulmões cannabicamente esfumaçados...
Que massa, cara! Bem lembrado esse Radio Bemba... vô up-ar pra compartilhar aqui tb. Pô, e esse show no Ibirapuera deve ter sido sensacional!!!
Lembro aos goianos que Manu Chao toca em Goiás no próximo sábado, 22h, durante o FICA, com abertura do Gloom: imperdível.
http://catracalivre.folha.uol.com.br/2011/06/xiii-fica-traz-programacao-de-cinema-alem-de-shows-com-a-presenca-de-manu-chao/
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