domingo, 5 de dezembro de 2010

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#09

BLACK MOUNTAIN
"Wilderness Heart"


"In their heart of hearts, Black Mountain are really just peaceful hippies, but ones who aren't afraid to deploy heavy artillery to assert and protect their way of living" - PITCHFORK


"The children are havin' their fun with the blues". Este verso de "The Hair Song", um dos mais empolgantes singles já lançados pelo Black Mountain, serve como um bom cartão de visitas para o som dessas lisérgicas "crianças" canadenses. Mas o blues surge aqui não em seu estado primordial, como era nos tempos em que faziam-se pactos com Satanás na encruzilhada e Robert Johnson só tinha um violãozinho puído para acompanhar seus queixumes.  

O blues, em sua versão-Black Mountain, é algo como um navegante inter-estelar que pousa em 2010 depois de ter atravessado a psicodelia hippie dos 60, o metal-de-raiz dos 70,  o grunge dos 90 e o stoner-de-garagem dos últimos anos. Matematizando a coisa, eu arriscaria dizer que a banda é o resultado da soma Led Zeppelin + Soundgarden, Howlin' Wolf + Queens of the Stone Age, Black Sabbath + Black Rebel Motorcycle Club, Jimi Hendrix + Neil Young...

(Sim, sim: escolhi o jornalismo por ser mó prego em aritmética...)


Wilderness Heart, terceiro álbum da banda de Vancouver, é tão aventureiro, eclético e chapado quanto seus dois precedentes, In The Future (2008) e Black Mountain (2005), mas tem a vantagem de ser mais sintético (nada daquelas jams viajadas de 17 minutos, só curtíveis por quem tomou as drogas propícias para embarcar na onda dos caras...).
O que se destaca de imediato, além dos galopantes riffões à la Page e Iommi que recheiam boa parte das canções (com destaque para a fodástica "Roller Coaster"), é a transa certeira entre os vocais de Stephen McBean (genes-XY) e Amber Webber (XX). A beleza das melodias vocais e o modo como elas se fundem com perfeição na densa massa sonora da banda é acachapante, mesmo para um ouvinte sóbrio. E é difícil não sentir um delicioso arrepio na espinha, por exemplo, quando a linda voz de Amber canta: "I will cradle you beneath my wings / As you tremble in my warmth / I will cradle you beneath my wings / And teach you all my scorn".

Mas "blues" refere-se não só a um estilo musical, mas também a um estado de espírito --- e é este blues da melancolia e do desconsolo que impregna as baladonas soturnas que o Black Mountain nos entrega aqui: "Buried By The Blues" (o nome diz tudo...), "Sadie" (quase um lullaby) e "The Space of Your Mind" (uma espécie de tributo a David Bowie em sua fase "espacial"). Nestas faixas, a banda uiva na madrugada como nas melhores faixas do Howl, do Black Rebel Motorcycle Club, e demonstra que é tão poderosa acústica quanto elétrica. 

Agora resta torcer para que eles retornem em breve ao Brasil: quando vieram em 2008, como uma das atrações internacionais do Goiânia Noise (que naquele ano trouxe também Helmet, Vaselines e Black Lips), não tive a chance de conferi-los ao vivo.  E eis uma banda cujos álbuns me deixam afinzaço de testemunhá-los de perto gerando este chapante roller coaster de peso, blueseira, psicodelia e lirismo.



<<< d >>>

Um comentário:

Eu Ovo disse...

esse disco está mesmo muito foda!
melhor da montanha negra!