quarta-feira, 5 de agosto de 2009

:: Marsalis Plays Monk ::


WYNTON MARSALIS
Marsalis Plays Monk

por Arthur Nestrovski


Wynton Marsalis é, por consenso, o maior virtuose do trompete em atividade. Mas sua paixão pela música parece ainda maior do que a paixão pelo instrumento; e neste disco se desdobra em homenagens ao precursor Thelonious Monk (1917-82).

Compositor, intérprete, regente, arranjador, produtor, professor e diretor musical: não há função que Marsalis não tenha dominado, mais cedo ou mais tarde. Geralmente mais cedo: tocava trompete com seis anos e em 1980, com 19, já era membro dos Jazz Messengers de Art Blakey. Em 1984, ganharia de uma vez só dois prêmios Grammy: melhor disco de jazz e melhor de clássico (concertos barrocos, com a New Philharmonia Orchestra). Em 1990, foi nomeado diretor musical do Lincoln Center, onde formou sua própria orquestra.

Autor de peças orquestrais, música para balés e trilhas de filmes, grande divulgador musical em escolas e na televisão, Marsalis assume hoje um papel no jazz semelhante ao que teve Leonard Bernstein na música clássica, ou Pierre Boulez na contemporânea. Talvez não seja, ele mesmo, o centro do mundo; mas está no centro de tudo, e sabe usar essa perspectiva privilegiada a seu favor, e no da música.

Marsalis Plays Monk é o volume 4 da coleção Swinging into the 21st: sete CDs, compondo juntos uma imagem do trompetista em suas várias faces. Aqui ele toca num octeto, em arranjos pensados como reedição das artes de Louis Armstrong, na década de 20. A mistura é inesperada. Armstrong-Monk-Marsalis decerto não soa como a sequência mais natural; mas o resultado soa, sim, naturalmente exato, e inverte, nalguma medida, o vetor da influência.

Nenhum rigor, nenhum virtuosismo, seja individual ou de conjunto - as duas coisas, nesse caso -, poderia fazer páreo ao anarquismo de Monk. Seguidores mais devotados do pianista vão reclamar da beleza controlada desses solos, obviamente ensaiados, e das elegâncias desenhadas de duos, trios e quartetos. Trompete, saxofones e trombone movem-se juntos como bailarinos no palco; e são capazes de provocar o mesmo calafrio de algum gesto complexo descrito ao mesmo tempo por 2 ou 3 ou 4 corpos. Essas vertigens estão muito longe da música original de Monk, um músico de transitoriedades, para quem não existe pensamento musical se não for um pensamento se fazendo.

Traduzida para a bonomia de Marsalis, essa música perde densidade, mas ganha em superfície; e vai se desvelar em outras formas, que são e não são as mesmas do original. Aburguesou-se, nalguma medida; mas também se multiplicou em riquezas e sutilezas, e outras rimas musicais. (...) Marsalis é mais Marsalis nos solos de trompete, em suas recriações de Monk, que ele sempre toca com uma fluência desproporcional à dificuldade que ele mesmo se criou. Ninguém resiste à exibição de semicolcheias em "Four in One", se descarrilhando e recarrilhando para cima e para baixo em alta velocidade, entremeadas de fragmentos de blues. Nesses momentos, o trompete transcende seu próprio senso de ordem, e acende a música de entusiasmo. O prazer físico de tocar serve de imagem e objeto de algum prazer maior, adivinhado. O que ele adivinhou, Monk sabia; e cada um de nós, agora, que tente adivinhar como puder.





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