
Spy Vs. Spy - The Music Of Ornette Coleman (1989)



Byrd In Flight (1960)
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A New Perspective (1963)
Ethiopian Knights (1971)
"Black Byrd" [1972]
"Street Lady" [1973]
Oferecer apoio e amparo à amada, através de uma música, com certeza não é idéia nova: já rendeu, além de cerca de um milhão e 400 mil péssimos pops românticos chicletudos que infestaram os tops-of-the-pops história afora, alguns lindos clássicos do soul, como “Lean On Me”, de Bill Withers, alguns hits irresistíveis de R&B, como “I'll Be There For You”, e alguns belos folks. Mas raras vezes esta promessa, na história da música pop, soou tão crível, e tão apaixonadamente expressa, quando na voz de Chris Robinson.
A primeira estrofe de “By Your Side” parece ironizar os antagonismos humanos, retratando sem dó como a miséria de alguns constrói a riqueza de outros e a dor testemunhada pode gerar em quem a vê secretas alegrias. “When you're lost, then I am found / When you slip, I hold my ground / When I fall, please take a bow / And when you're up, just remember I am down”. Na segunda estrofe, a ironia se transmuta em crítica, quase em lição de moral, quando Chris canta: “People looking for fortune and fame / They don't know that it's all the same / It's like any other game / You know there's a loser, but it's allright”. Quem busca fama e fortuna sabe muito bem que a conquistará ao preço da miséria e do anonimato dos que não as terão e ficarão pelas sarjetas, e que são sempre a imensa maioria. Como um vencedor da medalha de ouro que não sente nem uma lágrima de piedade e tristeza vir a seus olhos ao presenciar o decepcionado sofrimento do lanterninha ou do segundo no pódio.
“Heavy” é uma eufórica celebração de um amor que começa, repleto de encantamento e excitação, quando as incertezas quanto ao vínculo tornam-se uma confortável solidez e os pombinhos podem se dizer com absoluta convicção: “somos um do outro”. E às vezes um deles sai, enlouquecido de tão contente com o início de seu êxtase, com o desencadeamento do pacto que tantas flores e orgasmos lhe trará, e corre para fazer um rock and roll. Surgem assim pérolas como “Heavy”. Se esta "mina" é chamada de “pesada”, não é certamente por ser gorduchinha ou por ser um fardo nos ombros do cara. É "pesada" no sentido de pesar na vida e no coração, como só sabem pesar as coisas que são significativas e transformadoras, benignas e tonificantes. “You're so heavy, heavy, heavy...”, canta Chris, e é um elogio, uma palavra de amor , e não uma punhalada de escárnio ou de um reclamo de irritação. Você pesa para mim: para mim você conta muito, e não tem a leveza necessária para ser arrastada do meu galho como uma folha que qualquer brisa branda faz voar pelos ares. “For the first time, I know you're mine!”, diz o refrão, e é essa alegria extrema de descobrir que pela primeira vez a realidade fulgurante e inegável de um amor sólido o que faz esse foguete em forma de música decolar com tamanho estardalhaço.
Talvez digam que estou "forçando a barra" e transformando versos bestalhões em bela poesia. Pode até ser. Se pegarmos, por exemplo, uma canção tão clichêzenta e com gosto de comida requentada como “Diamond Ring”, vai ser difícil negar que a poesia é tosca e o lirismo pobríssimo: “You're the reason I want to sing / You make me feel like a king / I love the sunshine that you bring / I think I'll buy you a diamond ring!” Esse rompante de consumismo, no final, até nos deixa com medo de que se trate de um eu-lírico ricão tentando comprar o amor da moça com presentes deslumbrantes! Mas certamente não é o caso aqui: a sensação que nos passa a música é de uma embriaguez de alegria tão envolvente que nos faz sair pôr aí passarinhando e assobiando melodias solares, a cantar de felicidade quase sem razão (ora, Ela é a razão!), sentindo-nos como reis, deliciados debaixo das carícias que nos faz o sol - ou seja, todos esses rompantes de euforia que às vezes têm os amantes e os apaixonados e que soam tão abomináveis e irritantes aos solitários e aos deprimidos. Os Black Crowes nunca tiveram medo da felicidade, e é nada menos que felicidade que eles, por vezes, espalham pelo mundo como a peste. There's nowhere to run, nowhere to hide, their bliss is gonna get ya!
"Diamong Ring", pois, pode ter uma letra que soa, lida no papel, como uma imensa bobagem; mas aquelas palavras, quando cantadas, nos contaminam de excitação e alegria até que essa coisa chamada "boa poesia" pareça uma imensa idiotice. E logo já estamos, como aquele eu-lírico, transbordantes de gratidão e querendo sair correndo para comprar o que de mais precioso há na terra para dizer, com ele, à mulher amada, do tamanho do nosso “obrigado”. Há também por ali momentos brilhantes, como “When you smile it should be a crime / And you do it to me everytime”, que lembra o lado extremamente sagaz e espirituoso dos românticos meio sacanas. Chico Buarque já escreveu algo parecido em seu hiário "Tango Do Covil" quando disse: "Sua beleza é quase um crime". E um pouco de sacanagem faz bem a todo bom romântico!
“Only a Fool”, por sua vez, é uma das mais lindas. Não se enganem: é assim que soa, que deveria soar, que não pode deixar de cantar, um homem que é feliz no amor! É essa a canção que cria uma alma masculina que achou seu complemento, seu fermento, sua alegria, seu apoio, numa alma feminina que abraça e por quem é abraçado. “You're my lover, my soul, my best friend / And I don't want this to ever end”, canta Chris. E, mais uma vez, lidas no papel, essas palavras podem parecer bestices e clichês, presentes como parecem estar em mil outras canções que no palco do pop já desfilaram seus 15 minutos de fama. Mas, ouvidas na voz de Chris Robinson, soam como testemunhos muito verdadeiros e acreditáveis de um sentimento interno de potência e força que só o toque do amor é capaz de desencadear.
Já “Go Tell The Congregation” concebe a comunidade religiosa como uma espécie de divã de psicanálise gratuito, onde as pessoas desabafam seus fantasmas e cospem fora seus demônios. Até a visão de religião do Black Crowes é catártica! Não surpreende, pois, que a visão de vida e de arte do Black Crowes seja, pois, pura catarse, e no bom sentido: purificadora, purgadora, higienizadora da alma. É uma música religiosa, no sentido estrito da palavra? Não: pois não é música de pregação, que tenta convencer os incréus a abraçar a fé, nem muito menos uma música em louvor do Criador e sua hoste de anjinhos. É, muito mais, um libelo em favor da solidariedade humana, como se a igreja pudesse gerar certos vínculos sociais úteis às pessoas presentes naquela agremiação. “When you want to lose your blues / When there's nothing left that you can do / When you want to tell the truth / When the devil's gotta a hold on you”, canta ele, e um insistente coral gospel adiciona, ao fim de cada verso, a conclamação imperativa: “Go tell the congregation!” Trata-se da religião como uma espécie de grupo de ajuda mútua , que cria uma rede de solidariedade onde uns possam ouvir os problemas dos outros, apoiando-se uns aos outros, mais ou menos como um encontro da Alcóolatras Anônimos ou das Estupradas Traumatizadas.

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ouça com o volume no talo!
JASON LYTLE [do GRANDADDY] - Yours Truly, The Commuter
PLACEBO - Battle For The Sun
Hansard compôs todas as músicas e em muitas delas contou com Marketa Iglova, a segunda protagonista do filme não menos talentosa. Da parceria nasceu uma obra-prima. Contando desde a dor de amores abortados à perda do que ainda não se teve, toda a trilha de Once tem o peso do vazio e a insatisfação com sentimentos médios.
SUPER FURRY ANIMALS - Dark Days / Light Years
THE MARS VOLTA - Octahedron

"MATE-ME POR FAVOR!", dizia a camiseta dum maluco que andava pelo CBGB's de New York em meados dos anos 70 e que botava lenha na Cena formando bandas, rabiscando poemas, tomando picos e tentando tacar veneno na caixa d'água da cultura americana. A frase que Richard Hell carregava estampada no peito depois se tornaria o nome de um dos mais clássicos livros que conta "A História Sem Censura Do Punk" (organizada por Legs McNeil e Gillian McCain). Sem falar que o próprio Malcolm McLaren muito se influenciou pelo vestuário dele quando começou a bolar as roupas e cabelos que se tornariam a "moda punk". Mas até hoje sua obra ainda permanece cult e desconhecida demais do grande público para um artista de tamanha relevância na constituição do raw power punk na década do prog e da discow.
Richard Hell foi amigo de infância e de adolescência de Tom Verlaine. Eram tão inseparáveis que muitos pensavam que fossem irmãos. Conta-se que os dois, que tavam mais pra outsiders do que pra CDFs, bolavam juntos um meio de realizar uma mini rebelião juvenil e um ficava tentando "pôr pilha um no outro com um plano pra fugir da escola". O que eles de fato fizeram: o pimentinha Richard, expulso pelo diretor por tomar sementes de ipoméia, caiu na estrada junto com Verlaine querendo tudo: ser artista e poeta, virar "rato de praia", comer muitas garotas, experimentar tudo quanto é tipo de psicotrópicos e ser um caroneiro kerouaquiano pela América Selvagem, inclusive sendo um incendiário das paisagens sulistas ("estávamos muito revoltados com o Alabama!", troveja ele em algum ponto de um relato surreal de Mate-Me Por Favor onde conta como pôs fogo numa floresta). Chegou a tocar contra-baixo no que viria a ser o Television, mas saiu da banda antes da gravação de Marquee Moon - um dos grandes álbuns dos anos 70 e marco eterno do que hoje chamamos de "indie" e "guitar rock".
Como não poderia deixar de ser naqueles tempos bem Trainspotting-da-vida-real, o danado não poupou suas veias e, seguindo o zeitgeist, adotou com ardor o estilo-de-vida do junkie/boêmio/artista. "Não tive nenhuma restrição quanto à droga pesada", confessa. "No meu modo de ver, era simplesmente o estado ideal. Não apenas fazia você se sentir fisicamente tão bem quanto é possível - no fim das contas, é um analgésico -, como também parecia ser a realização de todas as minhas fantasias, no sentido de que você sonha, mas dirige seus sonhos como um diretor de filme." (184) Que a junk pudesse ser um armadilha, ele sabia: tanto que mais tarde viu alguns grandes amigos, como Johnny Thunders (com quem fundou os Heartbreakers), perdendo a vida nos trilhos da overdose. Mas, na época, conta Hell, havia uma ilusão de que picar-se não tinha nada de perigoso: "A heroína pareceu muito segura na época, sabe? Porque é verdade que você tem que usar todos os dias por duas ou três semanas para começar a desenvolver o vício. E isto pareceu uma coisa muito fácil de evitar. Como as pessoas podiam ter medo daquilo? Que tipo de risco é este? Risco nenhum - mas é impressionante como te pega." (185) 