segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

:: Dirty Pretty Things ::

A Puta Perdida
- por Bernardo Santana -

Após o final do Libertines, uma das bandas mais adoradas da década na Inglaterra (e das pessoas que queriam ter nascido na Inglaterra…), uma das duas cabeças do monstro saiu do eixo. Ficou louca, doida mesmo, pinel, fora da casinha. No caso, estamos falando do guitarrista/cantor/chave-de-cadeia Pete Doherty, a manchete preferida dos The Suns, News of the Worlds e Daily Stars da vida. Foi em boa parte graças à publicidade gratuita trazida por estes e outros tablóides ingleses, que Doherty conseguiu emplacar uma carreira até que meia boca de sua banda posterior, o Babyshambles. Apesar de ter se mostrado bem aquém do resultado perfeito dos discos do Libertines, os BS logo estavam populando paradas, programas de rádio e a mídia “alternativa” de todo o globo. E infelizmente, também estavam ofuscando o ouro que era o Dirty Pretty Things.



Carl Barât, outra cabeça do tal monstro e fundador dos Things, sempre foi o antipático da turminha. Enquanto Doherty era o loucão, o batera era o simpático e o baixista fazia figuração, Barât esbanjava carranca pra todo lado. Um ótimo exemplo disso foi a passagem apagada do próprio Libertines pelo Brasil. Tanto nos shows que fizeram quanto nas aparições na televisão (Altas Horas com Serginho Groisman!!?), o guitarrista não parecia nem um pouco a fim de estar onde estava. Talvez fosse reflexo da saída ainda recente do amigo Doherty da banda, mas o que se viu era um artista de desempenho frouxo e cantando o cansaço e o desânimo. Nada mais longe da verdade…

Este primeiro disco dos DPT, lançado em 2006, mostra a cara real de Barât. Melancólico e ressentido, sim, mas ainda assim, um puta músico e compositor. Talvez seja injusto dizer que ele fosse a metade criativa de sua banda anterior, mas a julgar pelo trabalho pós-Libertines, seu trampo fica, sim, a anos luz do feito pelo ex-parceiro. Desde as referências ao Clash dos bons (muito mais claras aqui do que nos discos dos “putinhas”), até aquelas guitarras confusas, mas estranhamente carismáticas, está tudo aqui. Punk, pós-punk, um pouco de reggae, e a assinatura indefectível das bandas pós-Strokes, jogados no mesmo balaio.

Ao lado do baixista Didz Hammond, ex-Cooper Temple Clause, Carl Barât compôs este Waterloo To Anywhere espumando pela boca pra provar que era capaz. As letras dão muitas vezes um tom de amargura claramente inspirado no divórcio litigioso que deu fim à sua primeira banda, como no single-chiclete Bang Bang You’re Dead (I knew all along/That I was right at the start/Bout the seeds of the weeds/That grew in your heart/(…)/Well I gave you the Midas touch/Oh you turned round and scratched out my heart).

Mas essa postura ranzinza não contamina o som de jeito nenhum. Muito pelo contrário: o disco é um daqueles raros exemplares de bolachas ensolaradas que passam sem um momento medíocre, seja em nome da “experimentação sem inspiração” ou da incompetência mesmo. Os pontos altos são vários, Doctors and Dealers, com refrão empolgante, o reggae cheio de passagens The Gentry Cove, o punk um pouco mais ortodoxo de You Fucking Love It, o climão de If You Love A Woman… Quaisquer, e QUAISQUER mesmo, das músicas poderia ser colocada aqui como ponto alto.


Infelizmente, o Dirty Pretty Things acabou se tornando (mais) um projeto fracassado de Barât, após um segundo disco menos inspirado. A banda encerrou suas atividades no ano passado, alegando que os membros se dedicariam a “coisas novas que não são o Libertines”. Deixaram como testamento um dos melhores registros de rock da década, sem dúvida, e a torcida para que esse inglês carrancudo mantenha uma constância de qualidade em seu próximo projeto. Porque, seja lá ele qual for, vai valer a pena esperar.

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