segunda-feira, 21 de abril de 2008

:: Distillers ::

THE DISTILLERS

Discografia Completa


PUNK ROCK NÃO É POLUIÇÃO SONORA!
por Eduardo Carli de Moraes

(Pra mim, que ouvi por anos, e com um tesão que nunca decaiu, essa maravilhosa confraria musical de Agressão Extrema e Insulto Poético, não há dúvida: os Distillers são sem dúvida alguma a melhor banda de punk rock e hardcore desta década de 2000, de longe. Esses 3 discos de Brody Dalle e companhia, todos fuderosamente empolgantes e irrestivelmente pogáveis, compõe uma discografia impecável. Aí embaixo, posto um velho texto, de 2004, sobre o Sing Sing Death House, escrito na fase em que eu tava mais fissurado que nunca na banda. Esse artigo foi riginalmente publicado no extinto e-zine Watchtower.)

Difícil de imaginar que Brody Dalle, a líder dos Distillers, tenha sido o tipo de garota que na infância brincava com ursinhos de pelúcia e vestia as roupinhas em sua Barbie, sonhando um dia ser um modelo da MARIE CLAIRE exibindo um belo penteado e tetas de silicone. Tudo nela é a negação do estereótipo do que uma garota "normal" deveria ser, de acordo com as lógicas machistas sempre vigorantes que pretendem fazer da mulher um animal doméstico bem-comportado e dócil, ou um item de vitrine para a babação dos machos.

As fotos de Brody exibem uma garota da sarjeta, com a pele marcada por tatuagens e piercings, e detentora de penteados excêntricos (um deles é um porco-espinho capilar, com espetos de cabelo que crescem uns dez centímetros acima do crânio). A maquiagem pesada e gótica, despejada sob a pele pálida, conjugada com o vestuário largadão, são outros sinais que deixam claro: eis uma garota durona que num tá tentando ser um charme. Preferiria ser vista como Johnny Rotten do que como Christina Aguilera, sem dúvida. Como tantas outras riot grrrls, abraçou o punk rock da mesma maneira que outros agarram seus crucifixos e fez disso o centro de sua existência. "Tocamos punk rock 'n roll, se não o fizéssemos não teríamos alma", berra ela na primeira faixa do segundo disco dos Distillers.

Recheado com a poesia suja das ruas, a música dos Distillers é um coquetel explosivo de música espetacularmente agressiva e excitante. Nada de realmente original: guitarras distorcidas socam os eternos power chords em músicas de dois minutos de duração num punk rock ortodoxo, sem solos de guitarra e sem firulas ornamentais. Extremamente ofensivo, com hardcores que deixariam Jello Biafra orgulhoso se alternando com hinos riot-punk, o som do trio não tem a pretensão de ser nada além de ser punk rock tradicional tocado com o maior tesão e velô possíveis. Quem estiver procurando por inventividade e revoluções sonoras é melhor procurar em outro lugar; mas quem quiser só um jorro brutal de punk rock no talo e tocado com energia flamejante, pouse nos Distillers sem medo.

Uma das coisas que faz com que a banda se distingua da multidão são as letras que Brody escreve (mesmo que seja difícil compreender de ouvido). A base musical estridente e cacofônica serve para que ela espalhe por cima versos dum lirismo sangrento, exalando palavras de ódio adolescente e poesia maldita. Com sua voz e seu gás incomparáveis, Brody chega como séria candidata ao posto supremo de voz feminina mais marcante do rock atual (competindo com a Courtney Love, a Sleater-Kinney Corin Tucker, a Kathleen Hanna e a moça dos Bellrays). É difícil pensar em alguém - inclusive entre os machos - que se compare a ela em matéria de uma vocalização emocionada, poderosa, que escapa dos pulmões com a força de um vulcão em erupção. Essa vocalista cospe sua voz sobre o mundo sob a forma de lava quente e corrosiva. E o melhor de tudo é que as palavras que ela berra fora - em um ritmo aceleradérrimo! - são excelente poesia subversiva e suburbana como poucas vezes antes se viu em artistas punk.

Brody Dalle vem de Melbourne, Austrália, onde viveu um inferninho intra-familiar. Segundo a NME, "seu pai biológico, espancador de esposas, deixou seu lugar para um padrasto que fez com que ela se sentisse uma estranha em seu próprio lar". Como explica ela na tesudérrima "The Young Crazed Peeling", viu sua mãe chutando o pai de casa e tentando achar um saída da "penúria espiritual", "working single mother in an urban struggle / Blames herself now cause I grew up troubled". Após ter fugido de casa e ido morar nas ruas, acompanhada pelas seringas de heroína, conheceu Tim Armstrong, líder do Rancid, com quem viria a se casar, e se mandou pra Los Angeles. Mais ou menos por aí ela completou 18 anos.

Brody pinta um retrato sombrio de seu passado: era a garota esquisitona que perambulava pelas ruas "como um cachorro de três pernas", inadequada e inadaptada, com seu coração junkie fervendo numa piscina de ódio. Em "I Understand", canta: "When i was a teen girl i walked real awkward / Like a dog with three legs / I had fought my wars / I was a miss-shape mistake, misfit, untamed, mishap, with a junkie heart...". Olhou a morte nos olhos ("I've stared death down in its chambers, baby, eye to eye", em "Lordy Lordy") e pensou em suicídio ("Attempted suicide / Fucking convulsing and constantly denied / Subcountaing me somewhere inside / Scratching the walls of my glass coffin / Scraping, raping my nails on the glass, on the bottom / Is there an end? / Where does this end? / If i was you, i'd fucking hate me too..." em "Hate Me"). Não tem religião mas precisa suportar o peso de sua cruz: "I'm agnostic but hang in a cross". A seguinte estrofe - de "The Young Crazed Peeling" - é esplendorosa:


My poor heart felt too much from the start
I've seen people come and go,
Living large and living low.
You can build up your walls, sitting on death row
Let the curtain fall on your murdered soul
You can wash it all down, swallow your story
Get smacked off your head, go down in downroll glory
You won't solve it committing self inflicted crime
Go on, pull the trigger, this will be the last time


Em "Sick Of It All", Brody pinta uma retrato da juventude americana com uma descrição de um massacre colegial ao estilo de Columbine. Assume o narrador em primeira pessoa, incorpora a persona duma adolescente rebelada (talvez ela própria como representada por sua memória), vai pra escola com uma oozi em mãos e dispara contra o rosto de um colega. O refrão merece estar escrito junto ao de "Rise Above" do Black Flag, de "Black Generation" do Richard Hell, de "Search and Destroy" dos Stooges e de "Sonic Reducer" dos Dead Boys como um dos mais clássicos e fodões da história do estilo:

We are kiiiiiiiids, we think life is a scam
We come from wasted laaaaaaaand!
We are kiiiiiiiids, we play punk rock and roll!
If we didn't we got no soul!
We are different kids with the same heartbeat
We got one pulse running through the streets
They are our arteries, I am part of this...

É um retrato cruel, mas há uma sugestão de salvação. O quê? O punk rock. Brody faz o retrato de suas desgraças, de sua via-crúcis, da juventude americana caindo aos pedaços, pra surgir frente ao mundo exalando flamas de vida borbulhante. Em meio à porradaça que cria com sua banda, diz: o Punk - não Cristo, não Deus, não a Grana, não as Belas Tetas - salva. Libertada pela música e com suas dores expiadas pela expressão catártica, convoca o mundo a seguir seu caminho de libertação: "Are you ready to be liberated? / On this sad side city streets... / Well the birds have been freed from their cages / I got freedom in my youth..." Sua mensagem para a juventude - nada mais simples e mais punk - é uma conclamação à libertação urgente ("Hey, youth! Time flies by! There's a everlasting battle for eternal life").

Com refrões memoráveis (principalmente "I Am Revenant", "Sick Of It All", "Seneca Falls" e "City Of Angels"), construídos pelo talento gigantesco que Brody (como Kurt Cobain antes dela) possui para criar melodias vocais grudentas em meio à barulheira, os Distillers têm tudo pra estourar no mainstream. Eis uma banda que tem cheiro forte - o mais forte que já senti, acho - de Novo Nirvana. Será interessante ver como a indústria vai se resolver com a banda daqui pra frente e checar se Brody Dalle aceitará ser a versão feminina de Cobain, tacando de volta a sujeira pro ambiente higiênico do mainstream. Coral Fang (2004), o terceiro disco, de dinâmica bem nirvanesca, foi recentemente lançado via Sire. É o mais ambicioso dos álbuns da banda e irá provavelmente realizar a primeira tentativa de tomar de assalto o mundo pop. Mesmo com o selinho de censura - PARENTAL ADVISORY: EXPLICIT LYRICS - colado na capa.

No fim, os Distillers se resumem a isso: canções do coração (e das vísceras), e nada mais. Música que diz sim à vida, por mais horrível que ela seja. Música que exorciza os demônios interiores a partir da catarse sonora (quer coisa mais Cobain que isso?). O punk como o caminho de ascensão para longe da sarjeta.

"Você pode construir suas paredes, sentando no corredor da morte / Pode deixar a cortina cair sobre sua alma assassinada", canta ela, mas "não há decência em ser encaixotado vivo". Brody Dalle é uma fogueira explodindo chamas de vitalidade por todos os poros.

DOWNLOADS:
THE DISTILLERS (2000) - 35 MB
http://www.mediafire.com/?zn2zm2eozjz



SING SING DEATH HOUSE (2001) - 37 MB
http://www.mediafire.com/?2wy24yn4syn




CORAL FANG (2003) - 64 MB
http://www.mediafire.com/?yqjj5ejm26n

6 comentários:

Unknown disse...

Nossa. Espero que você continue firme com o blog. Há tempos não achava um blog tão bom e com tanto conteúdo como este aqui. Parabéns e obrigado pelos "litros" de cultura adquirida.

Anônimo disse...

Valeu aê, Décio! Continuaremos firmes e fortes sim, com ctza, ainda mais com o apoio e os incentivos da galera que visita... Esperamos injetar ainda mais litros de cultura em vossas veias no futuro! =) Volte sempre.

Anônimo disse...

noooooossaaa....
muitooo lokoooo esse comentário ai sobre o The Distillers
caraaaaalho.... até arrepiaaaa
tah d parabens o blog ai cara
falooowww e brigadão por disponibilizar a discografia!

J. R. disse...

Adorei esse comentário sobre a banda. Sempre andarei por qui a procura de "litros" de cultura.
Não tenho palavras pra dizer o quanto amo esse blog *-*.
Parabéns.

Helena disse...

Fantástico seu blog, você escreve muito bem. Amo Distillers e Brody há muito tempo, tremenda banda! Bjs!

Helena disse...

Fantástico seu blog, você escreve muito bem. Amo Distillers e Brody há muito tempo, tremenda banda! Bjs!