quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

:: John Zorn ::


Zorn(oise)
- por Marco Souza -

A primeira vez que fiquei chocado ao ouvir um disco foi quando comprei (promoção de 3 CDs por 10 reais!) o CD do Mr. Bungle, Disco Volante. Final de 90. Esquisitice das boas, mas na época achei apenas esquisito. Uma mistureba de estilos sonoros e a doidera vocálica de Mike Patton (ex-Faith No More). Há algumas semanas atrás o Mr. Patton e o baixista Trevor Dunn, resquícios de Mr. Bungle, me chocam de novo, mas dessa vez em um grupo comandado por John Zorn.

O grupo em questão é Moonchild (Patton, Dunn e Joey Baron na bateria), até ai tudo bem, um som sujo, hardcore (mais no significado da palavra do que no estilo musical), denso, pesado, como vocês podem conferir no myspace da banda. Baixo distorcido, bateria quebrada e vocal... bem, pra dizer tudo: Mike Patton. O mesmo grupo do álbum Astronome. Ambos tem como compositor John Zorn.

Em Six Litanies to Heliogabalus a coisa chega num grau diferente. Zorn pega seu sax alto, se junta a Moonchild, chama Ikue Mori, compositora e performer de sons eletrônicos, e Jamie Saft, tecladista que já tocou com Beastie Boys, B-52's, além de outros que desconheço, mistura com um trio de vocal lírico composto por Abby Fischer, Martha Cluver, Kirsten Soller (de quem não consegui foto) e resolve compor coisas absurdas.

O resultado é uma barulhenta loucura sonora, uma banda de grindcore tentado jazz em um hospício. Suas ladainhas são o extremo do experimentalismo atual. Há faixas que fogem do rótulo de música, Litany IV por exemplo é um gigante solo (no sentido musical e solitário da palavra) de vocal de Mike Patton, algo que se eu for explicar através de palavras ficaria assim: "TÁ tuctaqdoqtada TÁ tuctaqdoqtada Tá tá schá AAAhhhhhhhhhhhhhhh". No meio disso existem riffs interessantes, mas tudo que foge à menor lembrança em meio a complexidade e textura sonora geral. Litany V parece que terá um padrão quando o vocal lírico a interrrompe e o Sax estridente já desestrutura o padrão musical que montavamos em nossas cabeças. O excelente começo de Litany I parece um dos mais pesados e violentos trash metal existentes, e se completa pela calma induzida pelo vocal lírico, que acaba massacrado pelo baixo monstruoso de Dunn e os teclados de Saft. A maior parte do álbum é assim, algazarras alternadas com pausas e insanidades.

Orações para o Imperador Romano (ou o deus?) Heliogabalos é o conceito do álbum. Há um tom profano e de ironia no som, mesclando a pureza e aura sacral do coro lírico com a frieza dos instrumentos metálicos/eletrônicos e a gritaria sarcástica de Patton.

Six Litanies to Heliogabalus é uma experiência sonora de difícil assimilação. A primeira vez que ouvi achei genial, a segunda não aguentei dois minutos, ouvi pela terceira vez e resolvi apresentar aqui pois sei de pessoas que irão adorar o álbum. A maioria irá odiar.

Recomendado para fãs incondicionais de Mike Patton, pessoas que procuram os sons mais pesados e/ou experimentais possíveis e para aqueles que queiram se chocar. Típico som que dá medo de escutar sozinho.

Download (6 músicas - 68 MB)

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