“considerações necessárias
é preciso tirar a poesia da clausura dos concursos, das gaiolas do acaso, do exílio das gavetas, trazê-la para o sabor do consumo rápido e fácil, envolvê-la de popularidade, sem o vulgarismo perigoso do que é descartável, mas também sem a absurda pretensão do que se quer eterno.
poesia para fazer rir e refletir, evoluir e incomodar, propor e decompor. poesia para os botecos, para os gabinetes, para as praças, para os salões de festas, para os mocambos, para as favelas, estúdios, vídeo clipes e palanques.
poesia sem medo, poesia sem trauma, poesia-pão, poesia-sim, poesia-não. pois ia ousar um dia popularizar a poesia.
viva a poesia viva!”
Leminski |
“Pio Vargas tem um “eu” coletivo tão forte que chego a vê-lo muitos. De sua poesia consigo extrair a certeza do que digo, insistente: há uma geração recente que usa e abusa da modernidade, fazendo dela o principal elemento a interferir na criação. Este Pio Vargas me trouxe uma poesia fascinante que não se atrela a falsos modelos de invenção, mas flutua, inventiva, com os mais amplos e possíveis signos do fazer poético.” >>> LEMINSKI
Conta-se sobre sua vida "meteórica" que foi "esgotada na vida boêmia de Goiânia. Ali crepitou nas casas noturnas, principalmente onde reinasse a efervescência cultural." Para quem quiser saber mais, Edival Lourenço, em matéria na revista Bula, revela mais detalhes sobre o amigo. Na sequência, deixo com vocês o belo poema DESPERTÁCULO (belo neologismo que acasalou em êxtase verbal o DESPERTAR e o ESPETÁCULO...), um dos meus prediletos:
Despertáculo
Estou pronto
para a guerra que encontro
quando acordo:
botei vigia nos sentidos
e iludi com comprimidos
outros seres a meu bordo.
Abandonei o vício
de estar sempre
a soletrar ruínas,
dei liberdade a meus detentos
minha pressa diluiu nos passos lentos
e rasguei
meu calendário de rotinas.
Inverti a ordem.
Já não saio por aí
a devorar compromissos,
tomei posse no governo de mim mesmo
e derrotei os meus omissos.
Venci a batalha
de ter que estar sempre por perto,
às vezes voo para dentro
do meu sonho a céu aberto.
Estou pronto:
eu já concordo
com a guerra que encontro
quando acordo.
PIO VARGAS
[+ POESIA:] JOSÉ PAULO PAES
("A posse é-me aventura sem sentido. Só compreendo o pão se divido.")Tweet
2 comentários:
De fato, devo eu admitir que não conhecia Pio Vargas, não conhecia nem mesmo um terço de genialidade. Quem diria que um poeta da terra do pequi e pamonha, carrega em seus versos o esplendor e a magnitude da bela escrita. Isso comprova quão equivocado é o dito "Goiânia é pobre em cultura", ela estava aqui antes, e porque não dizer que ainda está agora, basta encontra-la e aprecia-la. Não precisamos ir tão longe, coisa boa não é só o que vem de fora, ora boras, nos saber fazer pamonha.
Massa que cê curtiu, meu chapa! Poeta de vida breve e fim trágico - morto de overdose antes dos 30... - mas que deixou um belo legado poético, reconhecido até pelo Leminski. De fato, nem só de pequi e pamonha vive Goiânia, terra (eventualmente) de primorosa poesia. :)
Postar um comentário