quinta-feira, 8 de abril de 2010

:: Karina Buhr ::


:: DECOLANDO CONTRA A VONTADE DO CHÃO ::
- Por Eduarco Carli de Moraes -

Karina Buhr está bombando. Apesar de estar longe de ter se alçado de súbito a ao céu duvidoso das estrelas do "Mundo Pop", com estouros cintilantes mas efêmeros no Disk MTV e hit nas grandes FMS, no Universo Paralelo que é o Cenário Independente a moça desponta como uma das figuras nacionais que promete marcar este 2010. Com o lançamento de seu álbum-solo de estréia, "Eu Menti Pra Você", Karina têm recebido muitas loas da imprensa escrita em matérias notáveis na Ilustrada e no Estadão, sem falar de destaque na blogosfera em frequentadíssimos points digitais como o Eu Ovo.

Comadre Fulozinha, Karina ao centro.

A carreira pregressa da baiana Karina, que migrou ainda criança para Pernambuco mas mora há cinco anos em São Paulo, possui duas vivências essenciais. A primeira é sua presença na banda de Recife Comadre Fulozinha, dedicada a manter viva a tradição folclórica e musical local numa mistureba de maracatu, baião, ciranda, cantigas-de-roda e outros ritmos regionais --- coletivo no qual Karina canta, "bate um tamborzinho" e toca rabeca. Apesar de desconhecido nos grandes centros do Sudeste, o Comadre é uma força notável no Nordeste, tendo participado de gravações junto com o Mundo Livre S/A e o Eddie, além de ter gozado da "trutagem" de Chico Science.

A segunda das vivências cruciais da jornada de Karina foi sua vinculação ao Teatro Oficina, revolucionário grupo teatral paulista, idealizado por Zé Celso Martinez Côrrea, que provoca e subverte desde 1958. Karina integrou como atriz-cantante a trupe de Zé Celso em um dos momentos mais gloriosos de sua história: a encenação dionisíaca-tempestuosa de "Os Sertões", de Euclides da Cunha.

Depredando o Orelhão esteve no SESC Pompéia para presenciar e registrar em vídeos exclusivos o show de lançamento do álbum de Karina Buhr --- este "pão quentinho" brazuca que promete vir para integrar o panteão dos Novos Talentos da "MPB" (se usarmos a sigla num sentido bem amplo) que já inclui a Céu, a Mariana Aydar, a Bel "Bluebell" Garcia e a Tiê. O show foi um verdadeiro "acontecimento" que "atraiu legião espantosa da cena musical contemporânea", inclusive Céu e Curumin, como conta a matéria de Lauro Lisboa Garcia pro Caderno 2.

Karina, esbanjando a presença de palco que só mesmo uma atriz do Oficina seria capaz de prodigalizar, está longe de ser uma "show-woman" como estamos acostumados no famigerado "show-business" --- veja abaixo, por exemplo, um trechinho de "Avião Aeroporto" em que a cantora pira e entra num "transe" enquanto canta o mantra sado-masô "se bate de leve dói bate que com força mata":



Ter experenciado sua performance pra lá de idiossincrática me deixou uma persistente sensação de que "algo novo", ainda um tanto inefável e vago, difícil de descrever, aconteceu na música brasileira com seu surgimento. Karina Buhr, com todo seu bicho-grilismo e teatralidade genuína, com seu soteque nordestino charmoso e suas letras bizarras, sua simplicidade alegre e simpatia sem esforço, parece vir a somar algo de precioso a uma cena que, felizmente, tem nos dado cada vez mais "mulheres de personalidade". A banda que a acompanhava foi um show à parte: Edgard Scandurra (Ira!) e Fernando Catatau (Cidadão Instigado) nas guitarras, o sensacional "Miles Davis brazuca" Guizado (no trompete), Mau (no baixo) e Bruno Buarque (na batera).

Abaixo compartilhamos mais dois vídeos exclusivos do showzaço: o já hit "Ciranda do Incentivo", talvez a mais cáustica das composições de Karina, em que ela usa de ironia pesada com aqueles que querem "fazer uma ciranda pra colocar no disco / na lei de incentivo à cultura", tudo sob uma base de pancadão-funk/carioca; e a bela "Esperança Cansa", que conta com fodásticos solos de trompete de Guizado. Voilà:





KARINA BUHR - Eu Menti Pra Você

COMADRE FULOZINHA - 1999

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