
:: DECOLANDO CONTRA A VONTADE DO CHÃO ::
- Por Eduarco Carli de Moraes -
- Por Eduarco Carli de Moraes -
Karina Buhr está bombando. Apesar de estar longe de ter se alçado de súbito a ao céu duvidoso das estrelas do "Mundo Pop", com estouros cintilantes mas efêmeros no Disk MTV e hit nas grandes FMS, no Universo Paralelo que é o Cenário Independente a moça desponta como uma das figuras nacionais que promete marcar este 2010. Com o lançamento de seu álbum-solo de estréia, "Eu Menti Pra Você", Karina têm recebido muitas loas da imprensa escrita em matérias notáveis na Ilustrada e no Estadão, sem falar de destaque na blogosfera em frequentadíssimos points digitais como o Eu Ovo.
A carreira pregressa da baiana Karina, que migrou ainda criança para Pernambuco mas mora há cinco anos em São Paulo, possui duas vivências essenciais. A primeira é sua presença na banda de Recife Comadre Fulozinha, dedicada a manter viva a tradição folclórica e musical local numa mistureba de maracatu, baião, ciranda, cantigas-de-roda e outros ritmos regionais --- coletivo no qual Karina canta, "bate um tamborzinho" e toca rabeca. Apesar de desconhecido nos grandes centros do Sudeste, o Comadre é uma força notável no Nordeste, tendo participado de gravações junto com o Mundo Livre S/A e o Eddie, além de ter gozado da "trutagem" de Chico Science.A segunda das vivências cruciais da jornada de Karina foi sua vinculação ao Teatro Oficina, revolucionário grupo teatral paulista, idealizado por Zé Celso Martinez Côrrea, que provoca e subverte desde 1958. Karina integrou como atriz-cantante a trupe de Zé Celso em um dos momentos mais gloriosos de sua história: a encenação dionisíaca-tempestuosa de "Os Sertões", de Euclides da Cunha.
Depredando o Orelhão esteve no SESC Pompéia para presenciar e registrar em vídeos exclusivos o show de lançamento do álbum de Karina Buhr --- este "pão quentinho" brazuca que promete vir para integrar o panteão dos Novos Talentos da "MPB" (se usarmos a sigla num sentido bem amplo) que já inclui a Céu, a Mariana Aydar, a Bel "Bluebell" Garcia e a Tiê. O show foi um verdadeiro "acontecimento" que "atraiu legião espantosa da cena musical contemporânea", inclusive Céu e Curumin, como conta a matéria de Lauro Lisboa Garcia pro Caderno 2.
Karina, esbanjando a presença de palco que só mesmo uma atriz do Oficina seria capaz de prodigalizar, está longe de ser uma "show-woman" como estamos acostumados no famigerado "show-business" --- veja abaixo, por exemplo, um trechinho de "Avião Aeroporto" em que a cantora pira e entra num "transe" enquanto canta o mantra sado-masô "se bate de leve dói bate que com força mata":
Ter experenciado sua performance pra lá de idiossincrática me deixou uma persistente sensação de que "algo novo", ainda um tanto inefável e vago, difícil de descrever, aconteceu na música brasileira com seu surgimento. Karina Buhr, com todo seu bicho-grilismo e teatralidade genuína, com seu soteque nordestino charmoso e suas letras bizarras, sua simplicidade alegre e simpatia sem esforço, parece vir a somar algo de precioso a uma cena que, felizmente, tem nos dado cada vez mais "mulheres de personalidade". A banda que a acompanhava foi um show à parte: Edgard Scandurra (Ira!) e Fernando Catatau (Cidadão Instigado) nas guitarras, o sensacional "Miles Davis brazuca" Guizado (no trompete), Mau (no baixo) e Bruno Buarque (na batera).
Abaixo compartilhamos mais dois vídeos exclusivos do showzaço: o já hit "Ciranda do Incentivo", talvez a mais cáustica das composições de Karina, em que ela usa de ironia pesada com aqueles que querem "fazer uma ciranda pra colocar no disco / na lei de incentivo à cultura", tudo sob uma base de pancadão-funk/carioca; e a bela "Esperança Cansa", que conta com fodásticos solos de trompete de Guizado. Voilà:
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