terça-feira, 4 de março de 2008

:: os 10 melhores dos anos 60...- #06 ::

[6º]

THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE
Electric Ladyland (1967)

- por Eduardo Carli de Moraes -


A aparição de Jimi Hendrix, comparável a de um monstro mitológico que emerge d'um pântano coberto de algas e lama, soltando fogo pelas fuças como um vulcão humano em erupção (&*%$#@!), foi um dos marcos supremos do rock psicodélico americano em meados dos '60. E seu primeiro álbum junto ao Experience soava tão revolucionário e explosivo que garantiu para o negão, de cara, o status de um dos guitarristas mais versáteis e virtuosos da história. Poucos símbolos na história da guitarra são mais poderosos do que este: aquele garoto canhoto com seus cabelos black power em desalinho, portando roupas coloridas tipicament hippies, empunhando sua Fender Stracoster virada de cabeça pra baixo, por vezes até fazendo graças como palhetar com a língua, tocar o instrumento nas costas ou botar fogo nele ao fim de shows que, mesmo sem esse gran finale teatral, poderiam sem dúvida merecer o adjetivo “incendiários”... O tamanho do mito e a vastidão das imagens icônicas poderiam soterrar a música e o artista – mas não foi o que aconteceu; a música de Jimi Hendrix vive!

A história colocaria sobre a cabeça de Jimi Hendrix a coroa quase unânime de melhor guitarrista de todos os tempos, aquele que gerou uma profunda impressão sobre músicos de funk e black music (como Sly Stone e George Clinton do Funkadelic), de rock pesado (como Eddie Van Halen e Tom Morello, do Rage Against The Machine), até mesmo de mestres do jazz (como Miles Davis, que planejava gravar algo em contribuição com ele). “Na altura em que Are You Experienced? foi lançado, Jimi Hendrix (americano natural de Seattle que estava expatriado no Reino Unido) já havia enganchado três singles no Top 10 Britânico (“Hey Joe”, “Purple Haze” e “The Wind Cries Mary”) e havia feito um show inesquecível no Festival Pop de Monterey, no Canadá. O êxito na América foi menor, o que não impediu o disco de ser o 15٥ mais vendido de toda a década de 60, segundo a RIAA (4 milhões de cópias).

Criador de alguns dos riffs mais clássicos da história do rock – “Purple Haze”, “Foxy Lady” e “Crosstown Traffic”, por exemplo – Hendrix fez nos anos 60 um som de um peso e uma força incomuns para aqueles tempos, sendo um precursor direto do hard rock que viria na década de 70 guiado pelo Led Zeppelin e pelo Black Sabbath. Sua original mistura de blues clássico (presente em “Red House”, um dos destaques de seu disco de estréia), sonoridades psicodélicas e grooves funkeados influenciou toda uma geração e “sua imagem como um voodoo child psicodélico conjurando forças incontroláveis tornou-se um arquétipo do rock” – como diz a Enciclopédia da Rolling Stone.

Mas não só como guitarrista Jimi fez história, já que seus talentos como compositor e como cantor não são nada desprezíveis. “Hendrix também se revela um exímio vocalista no modo como anima as canções de amor, luxúria, viagens interestelares e desorientação toxicômana”, como comenta Gene Sculatii. Sua carreira foi literalmente meteórica – sua primeira banda, o power trio Experience, só sobreviveu por três álbuns; sua segunda banda, a Band Of Gypsys, se desfez após algumas apresentações ao vivo e não chegou a deixar um disco de estúdio; e, claro, a vida do cantor e guitarrista foi tragicamente interrompida em 1970 com sua morte acidental. Sua influência, porém, permanece ecoando e repercutindo.

Escolher um álbum de Hendrix como o melhor de sua carreira é tarefa das mais árduas, mas Electric Ladyland parece ser a melhor pedida. Are You Experienced? pode ter tido um impacto maior na música pop, mas seu Electric Ladyland, terceiro e último álbum com o Experience, reúne num só disco todas as vertentes e qualidades do caldeirão de feiticeiro hendrixiano. É o mais ambicioso de seus álbuns: pensado para ser um LP duplo numa época em que essa era uma idéia ainda excêntrica, continha músicas quilométricas (como a versão blues de “Voodoo Chile”, que ultrapassa os quinze minutos de duração), longas pirações psicodélico-atmosféricas que certamente soavam ultra-vanguardistas nos anos 60 (como “1983”, que passa dos treze minutos de duração), pop psicodélico altamente beatle (“Little Miss Strange) misturado com ataques guitarrísticos que beiram o hard-rcok (“Crosstown Traffic”).

É um álbum que merece tranquilamente o adjetivo de “épico”. É uma odisséia musical de um músico extremamente ousado e aventureiro, no cume de sua inspiração. A ambição de Electric Ladyland às vezes pode soar desmesurada, mas é uma ambição bem diferente daquela que moveria as punhetas progressivas que começariam a chatear o mundo na década seguinte. É a ambição de um músico extremamente versátil, que caminha com facilidade pelos mais diversos idiomas da música popular, nos dando a nítida sensação de que não havia nada que ele não pudesse fazer. É sentar no magic carpet criado pelas ondas sônicas de Hendrix e embarcar nessa longa, estranha e magnífica viagem final do Experience, pelos prados e pântanos de algum paraíso da psicodelia que podia ser chamado Wonderland ou Terra do Nunca, mas acabou apelidado de Electric Ladyland...

DOWNLOAD (mp3 de 160 kps - 16 músicas - 85MB):
http://www.mediafire.com/?yllmxbm2myy

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom o texto!
obrigado!
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