terça-feira, 6 de março de 2012

<<< Woolloongabba-gabba-hey! >>>

Sexta-feira agora (11/05), em mais um evento caliente da Fósforo Cultural, o rock'n'roll etílico e festeiro dos Woolloongabas toma de assalto o Metropolis Retrô (Rua 93). A abertura fica a cargo dos West Bullets e a discotecagem é minha e do Pedro Kurtz. Glue there! Confira a página do evento no Facebook e relembre na seqüência a matéria + entrevista com os caras >>>


 

"O uísque é o melhor amigo do homem.
É o cachorro engarrafado."

 VINÍCIUS DE MORAES


"Whisky para os ouvidos", nome do primeiro EP dos Woolloongabbas, é uma expressão perfeita para definir o rock'n'roll altamente etílico e festeiro deste quinteto goiano. Com um som e um estilo-de-vida inspirados pela boêmia e pelo hedonismo mais deslavados, os Woolloongabbas vêm tocando seu blues-rock com pitadas de punk e de country há cerca de 6 anos e já se apresentaram em todos os grandes festivais de Goiânia: Bananada, Vaca Amarela, Goiânia Noise, Grito Rock e Release Alternativo. Também já tiveram a honra de abrir para a banda gringa Nashville Pussy, em 2007, em show no Martim Cererê.

O álbum de estréia da trupe, Alter Ébrio (2009), gravado no Rock Lab com produção do "mestre" Gustavo Vázquez, reúne 13 canções que lembram o som de Ultraje a Rigor, Matanza, Lynyrd Skynyrd, AC/DC (que eles, aliás, já coverizaram numa edição do Covernation). Os Woolloongabbas até se declaram membros de uma "Cena do Rock Bêbado" que incluiria Velhas Virgens, Faichecleres, Made in Brazil, Zumbis do Espaço, dentre outras bandas desavergonhadamente festeiras.

"Alabama que nada,
meu sotaque é goiano!"

Muitos dos músicos da banda estão ou já estiveram envolvidos com outros projetos: o baixista Juan, que cita como uma de suas principais influências o Les Claypool do Primus, também toca na banda Engravatados. O guitarrista-solo Lucas Mateucci, inspirado por Angus Young, Stevie Ray Vaughan, Allman Brothers e Black Crowes, toca também no Johnny Suxxx & The Fucking Boys. E o batera Hélio, admirador de muitos músicos de Goiânia (como Douglas, do Black Drawing Chalks, e Rodrigo, dos Hellbenders), já segurou as baquetas dos Bang Bang Babies. Os três, somados aos vocalistas Éder Alexandre e Jordão Vilela, formam os Woolloongabbas.

Depois de assistir a um ensaio de alta pressão dos caras num estúdio goianiense, o Depredando o Orelhão foi ao boteco da esquina (onde mais?!?) conversar com os caras e descobrir mais sobre o Universo Woolloongabba. De saída, descubro que a banda não foi batizada em homenagem ao grito-de-guerra dos Ramones, o "Gabba-gabba-hey!", nem é mero nonsense de saborosa sonoridade. Quem explica a verdadeira origem do nome é o batera Hélio: "Quando morei na Austrália, trabalhei num bairro chamado Woolloongabba. Achei que isto dava um nome de banda muito massa e que seria, além disso, uma forma da banda homenagear nossos grandes mestres inspiradores australianos. Aí ficou. A galera até começou a gritar nos nossos shows 'Woolloongabba-gabba-hey!' e tal." Só de gozação, Éder adiciona: "O nome Woolloongabba parece o nome de um Ursinho Carinhoso..." Gargalhadas gerais.

A maioria das letras é composta por Éder e versa sobre bebedeira, estrada, amizade, azaração e temas boêmios em geral: "É muito característica esta temática do ir-pro-bar, encontrar os camaradas, falar mal do chefe... Quando montei a banda, até tentei compor com temas sérios, falar sobre o assassinato de Sandrinha ou a Lei de Murphy, mas num tava rolando. Até que um dia ouvi um CD do Velhas Virgens e o cara só fala de cachaça e mulherada. Aí falei 'pô, eu posso falar disso também!'"

Éder, originalmente de Catalão (GO), já não mora mais em Goiânia, mas pega estrada com frequência, vindo de Araraquara (SP) até a "capital do cerrado" para encontrar os amigos de banda e manter o pavio aceso e queimando. "De dois anos pra cá", explica Éder,  "mudei de Goiânia, primeiro pra Brasília, depois pro interior de São Paulo. Eu saí de Goiânia, mas Goiânia não saiu de mim. Aí comecei a falar nas letras de viagem, de estrada, do quanto é bom voltar pra casa, e esta vai ser a temática do nosso próximo CD, o Woolloongabbas Na Estrada, numa onda cada vez mais próxima da nossa maior influência, o Lynyrd Skynyrd. Só que a gente não vai falar do Alabama, vamos falar de Goiânia, né?" E ele garante: "Distância num vai acabar com a banda não! A gente se ama!"


Os caras já fizeram  duas tours pelo Sul do país: na primeira foram de van até Maringá, Umuarama ("mais conhecida como Mulherama", frisa Jordão) e Londrina, onde lembram-se de shows excelentes na companhia de Nevilton e Família Palin do Norte da Turquia. Na segunda ocasião, rolou quase uma epopéia num Celta 1.0, sem som e lotado de instrumentos, que eles relembram entre muitas risadas: "Nosso show lá no Paraná era na sexta à noite", rememora Éder, "eu, o Jordão e o Lucas saímos de Goiânia na quinta à noite, umas 22h (o Hélio e o Juan já tinham ido de ônibus no dia anterior). Deu 10 minutos de viagem, o Lucas já tava roncando. O Jordão ficou conversando comigo até umas 2h da matina, mas depois também capotou. E aí foi Red Bull comendo solto. Fizemos 800km em 8 horas e tomamos no total umas 17 latas de Red Bull. Chegamos lá às 9h da manhã e já começamos a enxugar as 3 garrafas de uísque que a gente tinha levado. Pra distrair no caminho, fomos cantando, mas a gente só sabia 3 músicas: 'Caminhoneiro' do Roberto Carlos, 'Trem de Araguari' do Leonardo e 'Sweet Home Alabama' do Lynyrd Skynyrd.' Foi uma experiência sensacional!" "Nossos shows são marcados por insanidade, loucura e amnésia no outro dia", descreve Jordão Vilela, com muito conhecimento de causa. "E muita amizade também." 


Dentre os shows mais memoráveis que já fizeram em Goiânia, eles se lembram de um no festival Release Alternativo em 2008. "Ia começar o show e o Martim Cererê ainda tava vazio", relembra Jordão. "Aí o Pablo Kossa falou pra mim 'Vai lá fora e fala que quem quiser pode entrar de graça!' Tinha um monte de mendigos e de putas na pracinha ao lado, fui lá e chamei todo mundo pra entrar. Liberou geral. Aí ficou lotado e foi sensacional! Tinha até um mendigo lá que era a cara do Seu Jorge, até deu uma palhinha..."

Nesta ocasião, rolou até a participação especial de uma stripper, como relembra Éder: "O João Lucas [vulgo Johnny Suxxx, da Fósforo Cultural, organizadora do festival] me deu um toque: falou para eu tocar um blues e convidar quem estivesse afim a subir no palco e fazer um strip-tease. Aí deu 30 segundos de música e 'brotou' no palco, saída do camarim, uma mina toda camuflada com uniforme de exército e... tirou a roupa, cara!" Daí em diante, a presença especial de uma stripper "animando" o palco passou a ser uma possibilidade sempre esperada pela platéia woolloongabbamaníanca. "Depois desse show tivemos também a idéia de confeccionar calcinhas e vender para as nossas fãs. Em várias ocasiões, antes dos shows, elas chegam e nos dizem que estão vestindo a calcinha dos Woolloongabbas. Mas esse lance de groupie não existe no vocabulário dos Woolloongabbas: elas são 'amigas coloridas'."


Apesar de Goiânia Rock City já ser amplamente reconhecida como um dos mais efervescentes centros latino-americanos onde ferve o rock independente, Goiânia prossegue sendo lembrada pelo grande público por ser uma das capitais da Música Sertaneja. Os Woolloongabbas não têm pudor de abraçarem estas duas "tendências" sem o mínimo preconceito: "Todo mundo na banda gosta de música caipira e sertaneja, a gente não esconde isso não, até faz questão de deixar muito claro!" afirma Jordão.

 "Quando eu era pequeno, eu era fã do Chitãozinho e Xororó", relembra Éder, "tinha até um cabelo igual ao deles, pôster dos caras no quarto e um montão de fitinhas K7. Quando faço aniversário e convido a galera do rock pra festa, meu pai começa a tocar sanfona e viola e tem gente que canta todas as músicas caipiras enquanto está lá em casa... Não tem como a gente fugir disso: eu acho que todo goiano tem um pai, um irmão ou um tio que gosta de música caipira, e quase todo goiano quando era pequeno escutou esse tipo de som,  não tem como não te influenciar... especialmente naquele momento quando você toma aquele chifre, tá meio desiludido da vida, cê vai lembrar do Leandro e Leonardo mesmo, não adianta! A música caipira é o blues do Brasil: é música simples feita lá na roça."

Uma banda de rock and roll tipicamente goiana, os Wooloongabbas bradam com orgulho que têm AC/DC e Skynyrd nas veias, mas que nem por isso deixam de lado influências como Milionário e José Rico e Johnny Cash. No último Vaca Amarela, festival que contemplou 10 anos de vida em 2011, Depredando pôde conferir pela primeira vez os caras em cima do palco e comprovou que há poucas bandas brasileiras mais competentes na arte de transformar um show numa festa altamente hedonista e descontrolada. Os caras inebriaram o entusiasmado público que lotou o Martim Cererê com biritas gratuitas de monte, fornecidas pela Cachaçaria Woolloongabbas, e o palco transformado num boteco (com Grazi Reis, Pablo Kossa e João Lucas bebendo umas numa bowa...) As imagens - que o Depredando registrou amadorísticamente mas com muita empolgação - falam por si só. Woolloongabbas é isso: festança rock and roll de alta voltagem que conduz à embriaguez geral. 


WOOLLOONGABBAS - Alter Ébrio (2009)

Um comentário:

Camille Ribeiro disse...

Nooossa, tinha tempo que eu queria achar música deles pra baixar, mas nunca sabia escrever o nome...
Muito bom o som! Eu tava nesse show do vaca amarela.
Nem sabia dessas calcinhas, quero uma.