terça-feira, 9 de setembro de 2008

:: Idlewild ::


IDLEWILD
"100 Broken Windows" (2000)

Sem nervinhos e nem gordura.
por Fabricio Boppré


Esse 100 Broken Windows sempre me faz pensar numa virtude que não é todo bom álbum que traz consigo: "não deixar a peteca cair". A expressão é bem conhecida e a analogia, fácil: começar a ouvir o disco e sacar que ali tem música boa logo nos primeiros segundos, e esse momento agradável persistir, renovar-se a cada faixa, até o fim. Sem decepções, sem trechos descartáveis ao longo de todo o tempo que o disco estiver girando.

Coisa para poucos, pois é algo já meio que socialmente e mercadologicamente aceitável, nesta época onde ainda sobrevive (ainda que cada vez mais capenga) o velho conceito do álbum, que tenhamos sempre algo dispensável em meio às tantas músicas que compõem seu formato LP padrão. Uma ou outra música que agrade somente a poucos, algo mais divertido para a banda do que para o público. Momentos de visível falta de inspiração, "porque afinal, temos que encher pelo menos 40 minutos para soltar esse disco logo", pensaram os caras no estúdio. Às vezes até vinhetas.

Normal, não dá de exigir só filé mignon no lote de música nova que uma banda costuma gravar e colocar num LP a cada, sei lá, dois anos, mesmo existindo os singles, EPs e coletâneas de b-sides teoricamente destinados a isso, a abrigar as gordurinhas e satisfazer os fãs que não admitem não ter tudo (e a indústria, que não admite deixar de capitalizar sobre seus contratados). Quase nunca é só filé mignon, tem as gordurinhas, os nervinhos, as sementes, as espinhas, os pedaços queimados demais.

Comparações gastrônomicas à parte, o fato é que discografias seriam reduzidas significativamente se cortássemos do catálogo, mesmo de nossas bandas preferidas, as músicas que não passam pelo crivo de nossas exigentes e limpas orelhas. E isso que nem estou entrando no mérito da subjetividade dos gostos pessoais, que sempre geram divergências nas avaliações dos álbuns, na hora da conversa entre fãs. Enfim, comum e perdoável. Isso nem torna um disco ruim. Às vezes um -- como dizer? -- momento diferente, é até bem-vindo. Gordurinha de picanha, na farinha, tem seu valor.

Por isso há de se valorizar os discos que começam, terminam, e não te fazem desconectar-se da música que emitem nem por um minuto. O segundo disco do Idlewild, 100 Broken Windows, lançado em 2000, é um desses. Não te rouba o sorriso da cara um só instante. Ou, melhor dizendo, não te faz parar de batucar o pé ou balançar a cabeça, já que estamos falando de uma das mais competentes bandas de pop-harcore (não sou bom em rótulos, mas acho que esse é plausível e contextualizante o suficiente) a darem as caras nos anos 90, no vácuo deixado pelo Nirvana.

Como o disco tem como forte o conjunto homogêneo e nivelado bem alto, não faz muito sentido destacar essa ou aquela faixa. É tudo divertido e ultra-empolgante do início ao fim, ótimas músicas sucedendo-se sem intervalos -- porque no fim você realmente fica com a impressão de que nem os segundinhos protocolares entre-músicas foram deixados. Guitarras empunhadas e refrões cantados com gana e excelência melódica tais que dão a impressão que foi tudo gravado numa única sessão, num único fôlego inspiradíssimo de 42 minutos, num arroubo de criatividade florescido após o consumo de substâncias estimulantes extraterrenas. E que os caras poderiam até ter continuado o esforço por outros tantos minutos, gravando um álbum triplo, sem comprometer. Sem deixar a peteca cair.

Mas, como eu não resisto a uma enumeração de favoritas, acrescento que faixas como "Little Discourage", "Roseability", "Idea Track", "Listen To What You've Got", "Mistake Pageant" e "Meet Me At The Harbour" (foi difícil o esforço de escolher menos do que meio tracklist) são daquelas que te fazem pensar que mesmo um monge budista no Tibet não poderia negar que essa é uma música boa demais. Se existir internet nos mosteiros do Tibet, os monges podem tirar a prova com o link abaixo.


2 comentários:

Anônimo disse...

Fala, Fabrício! Bom tê-lo de volta com contribuições aqui no Depredando, diretamente da Europa! Discão esse do Idlewild msmo: o que o emo seria se fosse bom.

E perfeitas as metáforas culinário-esportivas! Esse disco não deixa a peteca cair um segundo pois as gordurinhas e banhas não lhe impedem de correr...

Abraços!

Fabricio C. Boppré disse...

Hahaha, boa sacada!