Mais uma coletinha exclusiva contendo canções chuvarentas e tempestuosas, ótimas para aqueles dias em que o Sol decide tirar férias e "Raindrops Keep Fallin' On Our Heads". A mixtape inclui: 01) Burt Bacharach/B.J. Thomas; 02) Jimi Hendrix Experience; 03) Ben Harper; 04) Creedence Clearwater Revival; 05) Garbage; 06) Jorge Ben; 07) Bob Dylan; 08) Singing in the Rain Soundtrack; 09) The Who; 10) Irma Thomas; 11) Rauuul; 12) Bob Dylan; 13) Jimi Hendrix. Boa audição!
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sábado, 28 de janeiro de 2012
Mixtape Venusiana
Só cancionetas românticas, das melosas às cacetadas,
das melancólicas às esfuziantes, das bobinhas às profundas...
das melancólicas às esfuziantes, das bobinhas às profundas...
01) Elvis Costello - "Alison"
02) Juliette & The Licks - "Hot Kiss"
03) Wilco - "Whole Love"
04) Black Crowes - "Hard to Handle"
05) Pearl Jam - "Love Boat Captain"
06) Elliott Smith - "Twilight"
07) Dusty Springfiled - "Just a Little Lovin"
08) Cartola - "Alegria"
09) Harry Nilsson - "Without You"
10) Janis Joplin - "Piece Of My Heart"
Pra testar o tal do 8 Tracks.
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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Nos Subsolos do Grunge: raridades do underground de Seattle nos 90
lamento informar que todos os links foram deletados pelo mediafire.
7 Year Bitch - Viva Zapata! - 1994 |
GREEN RIVER - Dry As a Bone / Rehab Doll |
Mother Love Bone - 1992 |
Vários Artistas - Deep Six - 1994 |
Mono Men - Sin & Tonic - 1994 |
TAD - Inhaler - 1993 |
The Gits - Frenching the Bully - 1992 |
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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
"Eu Não Quero Sopa!" (sábia Mafaldita)
"Eles querem transformar a internet em um tubo de mão única, com eles em cima, empurrando o lixo para baixo através do tubo para o resto de nós, consumidores obedientes." - do manifesto do The Pirate Bay, via Diário da Liberdade
Muitas coisas me intrigam nestes recentes episódios que têm sacudido a Internet nos últimos tempos, com a intragável S.O.P.A. (Stop Online Piracy Act) que a toda-poderosa da Indústria do Entretenimento quer fazer descer por nossas goelas abaixo. A primeira das coisas "intrigantes" é: como é que pode uma proposta que ainda não havia sido aprovada pelo Congresso americano, e que tem boas chances de jamais ser, ser posta em prática pelo FBI?
Os tiras yankees usaram como pretexto a ladainha de que o Megaupload é uma empresa "criminosa" cujos satânicos idealizadores e trabalhadores lesaram em U$500 milhões de dólares o ofendidinho do conglomerado corporativo composto por Disney, Warner e o caralho-a-quatro. Quão intrigante é pensar sobre a gênese desse número, sobre os raciocínios que estão por trás desta péssima matemática saída dos cérebros distorcidos desses empresários gananciosos.
Façamos uma reflexão com um exemplo bastante concreto: Avatar, o mega blockbuster de James Cameron, maior bilheteria da história da sétima arte, rendeu nada menos que U$2,782,275,172 (no mundo todo) segundo dados do IMDB (Internet Movie Database). É vero que esta super-produção da 20th Century Fox teve um dos custos de produção mais astronômicos já registrados em Hollywood: estima-se que Avatar tenha custado para fazer uns "meros" 300 milhões. Mas isso equivale a uma merreca, diz aí! Sim: uma baita duma merreca para um filme cujo lucro estrondoso beira os 2 BILHÕES E MEIO DE DÓLARES!
Agora imaginem os acionistas e CEOs da FOX, no alto de seus arranha-céus chiquérrimos na Califórnia, trocando sussurros conspiratórios dentro de seus Porches blindados e helicópteros, querendo aumentar ainda mais as margens de lucro para que possam dar aquele turbo naquela conta bancária meio "paradona" lá na Suíça... E aí partem para o seguinte raciocínio: há muita gente baixando Avatar de graça na Internet... esses malditos desses sites tipo Rapidshare, The Pirate Bay, Mediafire, Megaupload, tornam possível a aquisição gratuita de nosso produto! Ladrões! Criminosos! Vândalos! Comunistas! Lancemos sobre eles os bulldogs!
Como soltar os cachorros para cima destes sites sem antes "demonstrar" que há um ato criminoso cometido por eles? E assim prosseguem "raciocinando": "hmmm... vejamos... se 100.000 pessoas baixaram Avatar pelo Megaupload, isto significa que estes criminosos são culpados por 100.000 DVDs ou ingressos-de-cinema que deixamos de vender! 100.000 vezes 20 dólares... 2 milhões de prejú!" Ah, sim! Agora entendemos vossa sofística satânica, cara Fox e cia! O que vocês apelidam de prejuízo não passa de... um lucro presumido que não foi ganho! Situação bizarra: uma empresa que lucra 2 BILHÕES e MEIO com um único filme passa a perseguir aqueles que teoricamente a impedem de GANHAR MAIS e MAIS!
É a perversidade do capitalismo americano mostrando seus dentes sem disfarce. É uma ganância cega que não enxerga um palmo diante do nariz - feito a criança na capa de Nevermind, fisgada pelo dólar que um invisível pescador lhe agita na frente dos olhos. Eles agora querem atacar a própria estrutura da Internet, instaurar uma censura global dos conteúdos de que se julgam "donos", sempre com o mesmo batido argumento chatonildo: "lucros, lucros, lucros!" Como se isso fosse argumento e não um papaguear enjoativo duns babacas endinheirados, money junkies do caralho.
O que mais causa revolta e indignação neste ataque ao Megaupload é o seguinte: não é verdade que o conteúdo ali hospedado era essencialmente "posse" das mega-corporações globais. Num site tão rico em conteúdo diversificado, compartilham-se filmes independentes; mini-séries educativas; PDFs de poesia, filosofia, sociologia; documentários de ativismo político; música composta e gravada sem a mínima intrusão de mecanismos comerciais etc. O conteúdo alternativo ali hospedado era imenso - talvez maior até do que o conteúdo mainstream. Como mensurar o dano causado por esta DELETAÇÃO MASSIVA de dados?
(Uma conexão que não me parece inteiramente despropositada me ocorre entre este episódio e um outro, ocorrido muitíssimo tempo atrás (391 d.C.), quando a Biblioteca de Alexandria foi dizimada pelos cristãos. Sobre este assunto, aliás, vale muito a pena conferir o Ágora, o filmaço de Alejandro Amenábar, com Rachel Weisz arrasando!)
Ali nos servidores do Megaupload havia muito conteúdo digníssimo de ser conhecido, interpretado, estudado... havia a discografia do Fugazi e do The Clash, as palestras de Noam Chomsky e Slavoj Zizek, os documentários da Naomi Klein ou do Michael Moore, os livros de Marshall McLuhan e Terence McKenna... O Megaupload, abatido em pleno vôo, não causou o súbito colapso apenas de "toneladas" de conteúdo que a Indústria julga-se "possuidora"; também perdeu-se muito do conteúdo contra-cultural, subversivo, iconoclasta, questionador, rebelde, transformador, revolucionário que ali havia! Qual será a percentagem de conteúdo realmente copyrighted que fluía entre os servidores do Megaupload e seus usuários diariamente? E esta percentagem justifica o extermínio completo do serviço?
O FBI, é claro, não conhece essas "sutilezas": pensa e age com uma truculência de gente inculta que odeia a idéia de que as pessoas estão se informando, se cultivando, intercambiando idéias e criações artísticas sem a intermediação de empresas com fins lucrativos. Os dinossauros ficam apavorados com o mundo que a cibercultura está ajudando a parir: um mundo no qual, como a Primavera Árabe provou, as pessoas utilizarão a Internet para escaparem às cegueiras impostas pela mídia, para trocarem informações preciosas sobre os horrores cometidos pelos homens de poder, para se conscientizarem politicamente com um "cosmopolitismo" que só a Aldeia Global possibilita, ou mesmo para organizarem levantes, protestos, passeatas, revoluções...
Tudo isso é um sinal preocupante de que o arrogante Império Americano, que cometeu os escândalos mais grotestos no Iraque e no Afeganistão nos últimos anos, que agora salta sobre o petróleo da Líbia, que tanto apóia Israel contra os palestinos, que tanto perseguiu a Revolução Cubana e tentou gorar os avanços sociais dos rebeldes da Sierra Maestra ("hoje 200 milhões de crianças dormirão nas ruas - nenhuma delas é cubana!"), que fecha o Megaupload mas não se importa se Guantánamo Bay e Abu Ghraib funcionam direitinho, que... enfim, que já está passando dos limites em seu imperialismo autoritário e sua Guerra Contra o Terror, sua Guerra Contra as Drogas, sua Guerra em Prol do Petróleo árabe, sua Guerra contra a Pirataria... Papagaios que só sabem falar em "guerra, guerra, guerra!", "dinheiro, dinheiro, dinheiro!"
Esta guerra, como não podia deixar de ser num país acostumado à ela, chega à Internet. É bom irmos nos acostumando, pois parece ter começado de vez a repressão autoritária dos ianques contra a Internet livre. O compartilhamento de filmes e músicas vai sofrer alguns dos abalos mais sérios de toda a história da Cibercultura, pelo jeito, caso uma grande onda de oposição popular não barre esses planos dos defensores do SOPA e do Protect IP. O Megaupload já foi pro saco, fechado pelo FBI, e é de se suspeitar que Rapidshare, Mediafire e sites similares sejam as próximas vítimas. Qual é o próximo passo: numa nova Inquisição, grandes fogueiras de Servidores "piratas" sendo reduzidos a cinza?!? É a volta do Farenheit 451 de Ray Bradbury - mas agora não são só os livros que eles pretendem incendiar, mas uma vastíssima biblioteca multimídia cujo acesso, segundo eles, só é permitido caso engordemos ainda mais as contas bancárias transbordantes das mega-corporações. Triste!
A minha preocupação é grande: os meus uploads somam 53.64 GIGABITES, num total de 789 arquivos, que já foram downloadados... 715.852 vezes. As autoridades, claro, não dão a mínima para a TRABALHEIRA que foi disponibilizar este conteúdo na Internet nestes últimos 4 ANOS, não tem consciência do trampo de CURADORIA envolvido nisso, e estão pouco se fodendo se estes atos de "Incineração da Pirataria" não atacam um direito fundamental de qualquer cidadão civilizado: o acesso à Cultura, no máximo da diversidade e do baixo custo possível. Se o Mediafire morrer... Depredando is wavin' bye bye. :-(
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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
"...someday our ocean will find its shore..."
Muitas vezes um artista não é o melhor juiz de seu próprio valor. Seja por uma tendência ancestral para a auto-depreciação, seja por uma personalidade marcada por uma insuperável timidez ou uma auto-estima vacilante, seja por uma auto-crítica demasiado corrosiva, o criador pode ruborizar perante suas criaturas, as mesmas que outros podem considerar... preciosíssimas pérolas da criatividade e da sensibilidade humanas. O extremo oposto do artista megalômano, que se acha a última bolacha do pacote, é o artista que cria na angústia de sentir-se desvalido e indigno: Franz Kafka, por exemplo, que pede (ó delírios de auto-mutilação!) à Max Brod que queime toda sua obra, que livre a humanidade desta praga que são seus livros que tantos de nós amamos! (Nossa sorte, é claro, foi que Brod desobedeceu ao amigo e Kafka hoje está entre nós, ao invés de ter sido reduzido à cinzas!)
O bardo inglês Nick Drake, notório por seu extremado stage fright (que o fazia travar e entrar em pânico diante da perspectiva de se apresentar ao vivo), finado tragicamente com uma overdose de anti-depressivos com meros 26 anos de idade, padeceu por toda sua brevíssima vida com os males da falta de reconhecimento e da fome insatisfeita por aplausos. Talvez não haja artista na história do folk que melhor simbolize o que significa "carência afetiva" e que mais belos frutos tenha feito emergir deste solo sofrido. "I was born to love no one, no one to love me... Only the wind in the long green grass, the frost in a broken tree..." ("I Was Made To Love Magic").
Ironia do destino: a "necrofilia da arte" de que nos fala o Pato Fu também agiu sobre a reputação póstuma de Nick Drake a fim de transformá-lo em um artista mais cultuado e idolatrado depois de morto do que jamais foi em vida. Anos atrás, quando conheci sua obra, ele era incensado em louvores exacerbados, aqui no Brasil, por admiradores como o romancista Daniel Galera e os jornalistas Jonas Lopes e Carlos Eduardo Lima. Queridinho dos críticos, Nick Drake, feito um Velvet Underground, parecia não possuir mais de 100 admiradores, mas todos eles eram altamente entusiásticos e tratavam da obra drakeana como se ela possuísse uma aura de sacralidade... Em tempos onde, segundo Benjamin, o mercantilismo capitalista e o monstruoso desenvolvimento da técnica arrancam a aura de tudo, transformando em mercadoria tudo o que toca, é reconfortante encontrar ao menos algumas obras-de-arte que são reconhecidamente aureolados por enigmáticas auras...
A obra de Nick Drake é uma seminal influência para muito da música "indie" posterior a ele: Belle & Sebastian, Elliott Smith, Iron & Wine, Bon Iver, Devendra Banhart... Ecos drakeanos preenchem muitas das canções do Wilco e de tantos outros representantes do chamado "alt-country": Smog, Lambchop, Uncle Tupelo, Lucero... Poucos compositores e cantores exerceram uma tão profunda reverberação em tudo o que se fez posteriormente em termos de música melancólica, queixosa, pungente, lancinante... Nick Drake: trilha-sonora perfeita para a Geração Prozac.
Drake parece ter passado pelo mundo tão silenciosamente quanto seus álbuns tão plácidos e tranquilos sugerem. Legou-nos apenas três discos de estúdio: Five Leaves Left (1969), Bryter Layter (1970) e Pink Moon (1982). Neles, o cantarolar introspectivo de Drake é um suave veludo que flui sobre um instrumental sempre delicado e discreto, na maioria das vezes pontuado por belos dedilhados ao violão, outras vezes por orquestrações suaves e envolventes, numa música que não soa jamais sentimentalóide ou grandiloquente, mas que nos entristece com uma procissão de sonhos frustrados e sombrias meditações sob o signo de Saturno. Tudo nestas canções recende à introspecção, estoicismo, tristeza suportada com resignação, melancolia sublimada em beleza...
Ouço Nick Drake muito raramente, mas me agrada muito que essa música exista e que eu possa dar um pulo por estes recantos de vez em quando. Em tempos onde a música vomitada pelos mass media torna-se ostensiva e apelativa, quando os posers tomam conta de um mercado musical saturado por marketeiros e interesses comerciais, quando o "batidão" do funk e do poperô invadem nosso espaço auditivo sem a mínima cerimônia, a música de Drake é sempre um refúgio onde podemos entrar em contato com toda uma outra concepção da arte: a arte como manifestação, ainda que trêmula e insegura, da fugaz experiência interior de um mortal que só está entre os vivos por tempo limitado e que não suportaria descer ao túmulo em silêncio.
Nick Drake canta e encanta pela autenticidade de sua expressão-de-si: sem máscaras nem sorrisos falsos, transforma em música sua alma atormentada. Ouvi-lo é fascinar-se diante do abismo da alteridade e simpatizar com tantos afetos expressos que, ainda que pareçam tão pessoais e idiossincráticos, têm algo de universal e atemporal. Reconhecemo-nos neles como se olhássemos para um espelho que reflete nosso rosto em nossos dias mais nublados.
* * * * *
Five Leaves Left (1969) [download] |
Bryter Layter (1970) [download] |
Time of No Reply (póstumo, 1986) [download] |
Pink Moon (1982) [download] |
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
sábado, 14 de janeiro de 2012
Tori Amos: 20 Anos do Little Earthquakes
por Léo Tavares (@Móbile Azul)
Em 1992, Tori Amos estava lançando a primeira de tantas obras sensacionais que sua visão singular, sensibilidade e talento proporcionaram ao cenário musical. 20 anos depois, Little Earthquakes ainda é lembrado como aquele álbum que, em plena era das guitarras do grunge, trazia uma mulher ao piano tocando e cantando canções de autoria própria, intensas, pessoais, de uma sinceridade por vezes (quase sempre) dolorosa, com uma voz única, abrindo caminho para tantas outras artistas que surgiriam nos próximos anos com trabalhos autorais confessionais e dilacerantes. Quem conhece Tori Amos sabe que Little Earthquakes é um marco a ser relembrado e celebrado.
"Little Earthquakes is all about celebration. Celebrating the ability to laugh,
weep, and scream, particularly if you have been silent for years." (Tori Amos)
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TORI AMOS - Little Eartquakes (1992) [download] |
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Stevie Ray Vaughan - Discografia Selecionada
"With his astonishingly accomplished guitar playing, Stevie Ray Vaughan ignited the blues revival of the '80s. Vaughan drew equally from bluesmen like Albert King, Otis Rush, and Muddy Waters and rock & roll players like Jimi Hendrix and Lonnie Mack, as well as the stray jazz guitarist like Kenny Burrell, developing a uniquely eclectic and fiery style that sounded like no other guitarist, regardless of genre. Vaughan bridged the gap between blues and rock like no other artist had since the late '60s. For the next seven years, Stevie Ray was the leading light in American blues, consistently selling out concerts while his albums regularly went gold. His tragic death in 1990 only emphasized his influence in blues and American rock & roll..."
Soul to Soul (1985) [download] |
Couldn't Stand the Weather (1984) [download] |
Live at Montreux (2 shows - 1982 e 85) [download] |
ALBERT KING & SRV - In Session [download] |
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
O melhor de Ann Peebles (BOX com 3 CDs)
Do blog One Album A Day Keep Death At Bay: "Probably one of the most memorable modern hip-hop samples, Ann Peebles I Can’t Stand the Rain (1974) is a triumph of the high-funk period. Riding the wave of 2nd-wave feminist soul inclinations, Peebles engendered the album with a beautiful fury, capturing the moment like lightning in a bottle. Hot off the heels of such monumental black-American achievements as Wattstax and the emerging West coast funk movement, I Can’t Stand the Rain, with its eponymous title track made Peebles more than synonymous with a certain style and focus that was undeniable groovy, deliciously sexy, and unaccountably timely. “I’m Gonna Tear Your Playhouse Down” is a perfect example of Peebles smooth and sultry delivery, belying a much more pressing and smart agenda. Everything is here: dynamic production, great melodies, and even better vocals courtesy of Peebles. Truly a classic." E na sequência segue uma caixinha de 3 CDs que é excelente introdução ao trabalho da cantora. Boa audição!
Disco 01 [download] Disco 02 [download] Disco 03 [download] |
domingo, 8 de janeiro de 2012
"O torcer é parente do orar..." (por Eduardo Giannetti)
"O futebol foi a religião da minha infância. O Cruzeiro de Tostão, Piazza e Dirceu Lopes - como esquecer a glória daquele time? - era o santuário. Eu narrava o futebol de botão jogado a sós no assoalho de casa, colecionava figurinhas de craques e torcia pela Raposa com um fervor de devoção mais intenso do que quando ia à missa e comungava. A memória do drama íntimo de certos jogos é das lembranças mais remotas que tenho de estar vivo. Se o sofrimento é a única causa da consciência de si, como diz o homem subterrâneo de Dostoiévski, então a paixão sofredora do torcedor mirim foi o berço da minha vida consciente.
Taça Brasil, anos 60. Chegou a tarde da grande final. Tenho cinco ou seis anos e estou grudado ao pé de uma radiovitrola Telefunken. O Cruzeiro perde do Santos por dois a zero - Pelé endiabrado em campo. Termina o primeiro tempo: silêncio e consternação. Bate o desespero, começo a chorar. O tempo corre, e a reação não vem; passo a chorar convulsivamente. Os adultos ficam preocupados com o meu estado. Quando mamãe faz menção de desligar o rádio e pôr um fim à agonia, o meu pai, Cruzeiro roxo, desautoriza-a secamente e me fulmina com seu olhar-fuzil. "Homem não chora!"
Súbito, porém, ressurge a esperança: Tostão marca e Dirceu Lopes logo empata. O jogo prossegue, mas não paro de chorar. "Por que agora?", perguntam todos. Já não há razão, não há o que dizer. A angústia da decisão por pênaltis me sufoca. Então o milagre acontece. O ponta Natal faz o gol da virada! Os céus explodem. O meu choro, misturado à balbúrdia, já não perturba ninguém. Do ponto extremo da dor, como num parto, rompe a alegria. Hoje ainda, quando penso naquela tarde de aflição e júbilo, os gritos do locutor - "Natal! Natal!" - ressoam nas dobras do ouvido interno; a entonação, o timbre esganiçado, o desafogo da voz deixaram marcas indeléveis no meu cérebro de menino.
O Cruzeiro de hoje não é o da minha infância: mudou o futebol, e mudei eu. Assisto aos jogos na TV; torço e vibro por meu time (e pela seleção, é claro); estico cada fibra da alma quando chegamos às finais, mas perdi o dom da entrega daqueles tempos. Não há drama futebolístico concebível que me transporte aos píncaros do desespero e da alegria como no passado. Foi-se o vigor da pulsão furiosa, a seiva enérgica das origens; tornei-me um torcedor maduro, amarrado, incapaz de ir até o fim no desatino. O tempo esfria a alma. Não sou metade do que fui de nascença e a vida esgarçou.
Mas o que é, afinal, torcer por alguma coisa? A mesma madureza que esfria trouxe uma certa distância, como que um olhar externo do que vai por mim. É estranho: todos estes anos torcendo, milhares de jogos na bagagem, decisões de vida ou morte, e nunca antes cheguei a me perguntar: o que se passa comigo enquanto estou torcendo? Cada um, é claro, vive e sente as coisas do gramado à sua maneira. O jogo jogado é o mesmo para todos: o placar final tem a solidez do granito. Mas, quando se trata do jogo vivido, tudo se transfigura. Qual o segredo do arrebatamento a que nos abandonamos na agonia de torcer? Que tramas e surtos da mais singular subjetividade não se filtram pelos olhos e mentes grudados aos volteios da bola numa tela de TV?
Há toda uma metafísica da mais remota origem embutida na alma torcedora. A palavra torcer, bem compreendida, capta o essencial. Torcer é se contorcer e remoer por dentro. É a sensação de esticar e distender os músculos e tendões dos nossos desejos e vontades: enfiar-se com as emoções campo adentro como se estivessem misturadas aos pés dos atletas e às trajetórias caprichosas da bola. As contorções faciais e os gestos do torcedor são apenas o sinal visível da ginástica interna que o consome.
Mas não é só. O contorcionismo subjetivo do torcer está ligado a uma crença espontânea indissociável da inclinação torcedora - um modo mágico de pensar e sentir que irrompe na mente com o ímpeto de uma planta selvagem. Torcer é entregar-se à vivência primária e avassaladora de que as contorções que agitam e devoram a alma torcerão o curso dos acontecimentos na direção desejada. A explosão do gol - ou de um pênalti defendido - é a confirmação da potência do meu bruto querer.
O torcer é parente do orar, só que sem rodeios e intermediários. Na reza, o devoto se concentra e abre o canal da interlocução pela oração: ele se dirige ao santo ou deus da sua predileção, rogando-lhe que interceda a seu favor. Promessas e sacrifícios podem facilitar o trâmite, mas a eficácia da prece não é fruto da vontade crua do devoto. Ela depende de um despacho da autoridade invocada. O torcedor, é claro, também reza e promete, mas no calor da hora ele vai direto ao ponto. Não é algo consciente ou que se possa escolher e evitar. É um processo mental involuntário, de origem arcaica, e que nos transporta para um mundo mítico onde os nossos desejos e emoções gozam de poder causal sobre o enredo aberto e imprevisível do que está em jogo.
O banco de reservas interiores do torcedor entra em campo, desvia a bola perigosa, corta o passe, mata no peito, cruza o escanteio, espalma e cabeceia, vibra no momento exato em que a sua onipotência se confirma na catarse do gol. Uma teia de medos e desejos, temores e esperanças cerca cada lance e afeta cada movimento da bola. Não é à toa que o verdadeiro torcedor se descobre extenuado no final do jogo.
No fundo, a fé selvagem de quem torce é a crença de que podemos domar e torcer o curso natural das coisas - coagir o futuro - por meio da força bruta do nosso querer. O mundo, berra em silêncio a alma torcedora, não é surdo e indiferente ao meu desejo. O devir se rende à minha vontade soberana. É por isso que saber de antemão o resultado de uma partida a cujo videoteipe se assiste mina a possibilidade de torcer.
A torcida diante da bola é um caso extremo de família numerosa. Torcemos para que alguém se recupere de uma doença grave; para que o avião vença a turbulência; para que o tempo melhore; para que os bons triunfem e os calhordas afundem; para que o telefone toque ou o e-mail chegue. Diante de um futuro aberto com desfecho incerto, o animal humano não se rende à sua impotência e desamparo cósmicos. Como um apostador inveterado, ele crê na sua vontade como causa de efeitos reais e investe o que pode na roleta mágica do seu louco querer: quando eu me contorço por dentro, o mundo se torce a meu favor. A psicologia do torcer é um escândalo da razão - fé animista que me habita em segredo."
in: GIANNETTI, Eduardo
A Ilusão da Alma
Editora Cia das Letras
Cap. 26, pg. 121-125
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Mais um mosaico da nova música brasileira...
Fusile - "Combat Samba" (Minas Gerais)
Los Porongas - "Ao Cruzeiro" (Acre)
Maglore - "Tão Além" (Bahia)
Apanhador Só - "O Rei e o Zé" (Rio Grande do Sul)
Orquestra Imperial - "Sem Compromisso" (Rio de Janeiro)
Wado e o Realismo Fantástico - "Tormenta" (Alagoas)
Graveola e o Lixo Polifônico - "Blues Via Satélite" (Minas Gerais)
Tulipa Ruiz - "Efêmera" (Minas Gerais/São Paulo)
Umbando - "Capiau do Cosmos" (Goiás)
Plano Próximo - "Eu Só Queria Conhecer Teu Cachorro" (São Paulo)
Space Monkeys - "Under Arrest" (Goiás)
INI - "Cru" (São Paulo)
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Ella Fitzgerald cantando blues...
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