terça-feira, 31 de agosto de 2010

:: "é a parte que te cabe neste latifúndio..." ::

Sebastião Salgado. Terra.

"...o Brasil ficou para trás na história e ainda busca uma reforma agrária feita há séculos nos países desenvolvidos. O Brasil é hoje o segundo maior em concentração fundiária, perdendo apenas para o Paraguai. Segundo estudos do MST, 2,8 % das propriedades rurais ocupam 56,7 % de todas as terras cadastradas.

Na Europa, a democratização do uso da terra foi feita ao mesmo tempo em que os centros urbanos começaram a se desenvolver com a Revolução Industrial. A criação e o fortalecimento das pequenas propriedades impediu um êxodo rural excessivo e propiciou um crescimento equilibrado das cidades. Os feudos da Idade Média foram então substituídos por propriedades menores e produtivas. 

Na Inglaterra, a mudança na estrutura agrária foi feita no século 18. Na Alemanha, embora mais lenta, a reforma se deu na mesma época. A Revolução Francesa, iniciada em 1789, transformou os latifúndios da Igreja e da nobreza em propriedades bem menores destinadas aos camponeses. Na Rússia, com a revolução socialista, os latifúndios também foram loteados. 

Nos EUA, a democratização da terra foi feita há mais de cem anos. Pequenos lotes de terra foram formados na medida em que o oeste do país foi tomado e as tribos indígenas que lá viviam, massacradas. 

"Na América Latina, a maioria das tentativas de reforma agrária foi frustrada. Poucos são os exemplos como o de Cuba, que começou a repartição das grandes propriedades com a Revolução Cubana, em 1959, e ainda hoje avança na redução dos latifúndios", diz Correia de Andrade.

No Brasil, a história dos latifúndios tem início na colonização, com a doação de sesmarias a apadrinhados da Coroa. A sesmaria de Pernambuco, uma das mais importantes economicamente, ia da ilha de Itamaracá até o rio São Francisco, no Sertão. Essa política durou mais de trezentos anos. Em 1852, foi instituída uma lei que estabelecia que a relação de posse de terra seria de compra e venda, o que se perpetua até hoje, com poucas modificações. 

Durante todo esse tempo, muitos movimentos foram formados em prol da reforma agrária no Brasil. Antes do MST, o mais expressivo foram as Ligas Camponesas, abafadas com o golpe militar de 1964. Hoje, sob lonas pretas de acampamentos país afora, trabalhadores sem-terra dos mais variados movimentos levam adiante a luta pela democratização do campo. E marcham na direção de um país com menos desigualdades, sem latifúndios."

Mariana Camarotti
CAROS AMIGOS #74, Maio de 2003.

Segundo as estatísticas da ONU, cerca de 930 milhões de pessoas no mundo passam fome. A cada cinco segundos morre  uma criança no planeta devido à subnutrição ou doenças evitáveis - como o "Ponto de Mutação" (livro de Fritjof Capra depois adaptado para o cinema por seu irmão) já denunciava décadas atrás. Umas trinta crianças já morreram desde que você começou a ler este texto. Só no Brasil, segundo o IBGE, nada menos que 11 milhões de famílias padecem de “condições de insegurança alimentar grave”, situação desastrosa que recentemente o Garapa do José Padilha tão bem soube documentar e denunciar.

Já no quesito concentração fundiária, nosso país é a segunda nação mais injusta do mundo, atrás somente do Paraguai. Cerca de 3% de latifundiários detêm mais de 50% das terras do Brasil. E, claro, as tentativas de modificar este quadro normalmente são repudiadas pelos reaças ou banhadas em sangue pelas autoridades: lembremos de todas as campanhas de difamação contra o MST que a Veja e a Rede Globo perpetraram por anos; e lembremos também do massacre de Eldorado dos Carajás (dentre outras chacinas menores...) quando 19 camponeses foram assassinados, "a maioria a golpes de armas brancas ou de coronhadas na cabeça, e vários assassinados depois de presos, dezenas de feridos gravemente, e muitos desaparecidos até hoje." (Stedile)

Entre 01 e 07 de Setembro/2010, acontece o "Plebiscito sobre a Limitação da Propriedade da Terra --- em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar". Faço questão de divulgar por aqui esta iniciativa elogiável e convidá-los a conhecer a campanha e dar um pulo na urna. Para começar a terminar com a festa do agronegócio corporativo e dos latifundiários herdeiros das capitanias hereditárias é preciso ir lá e dizer "basta!" para essa obscena desigualdade que continua, em 2010, a somente fornecer a multidões de camponeses apenas o direito a uma parca terra: o túmulo. "É a parte que te cabe neste latifúndio...".

E é sempre boa hora para relembrar os versos de João Cabral que Chico musicou e o Ilha das Flores de Jorge Furtado - que, na minha opinião, é um dos melhores curtas já feitos aqui.


sábado, 28 de agosto de 2010

:: We Are All Made of Star Stuff... and we harvest starlight! ::


Terminei de ver estes dias o Cosmos de Carl Sagan, aquele instigante seriado do fim dos anos 1970 onde sondam-se os grandes mistérios cosmológicos de nossa galáxia e além.  Recomendo muitíssimo: Sagan nos oferece mui interessantes aulas de ciência e de especulação astronômica e filosófica, sem falar que carrega na manga muitas revelações e descobertas chocantes de tão fantásticas! Por exemplo: todos nós, essas estranhas criaturas de carbono e água que chamamos de homo sapiens, somos de fato... poeira estelar. Tudo o que nos constitui foi gerado no útero das estrelas, há bilhões de anos  no passado e a infindáveis anos-luz de distância... É ou não é um espanto? Outras das impressões e reflexões causadas por esta estranha jornada pela Via Láctea e pelo universo sub-atômico eu postei lá no Depredando o Cinema. Ah! E leia ainda o que Sagan pensava sobre a maconha e como ele relata suas "viagens" sob o efeito do Lado Verde da Força... :)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

:: Coming Atractions! (II) ::


Pra completar o line-up de um 2o semestre recheado com shows gringos de prima, o S.W.U. (o Woodstock-de-Itu) confirmou o que tantos esperavam salivando: vem ae o Queens Of The Stone Age (dia 11/10, junto com Pixies e Incubus) e o Mars Volta (no dia 09/10, mesmo do Rage Against, dos Mutantes e do Black Drawing Chalks). O terceiro lote de ingressos já está a venda pela facadinha no peito de R$ 210 reais a inteira - por dia.



Quanto aos festivais indie, o Porão do Rock anunciou que este ano irá ocorrer num único dia: 11 de Setembro, com as atrações distribuídas em 3 palcos. São elas:

Internacionais: She Wants Revenge (EUA), The Supersuckers (EUA), Los Primitivos (Argentina) e Right Ons (Espanha). Nacionais: André Matos (SP), Autoramas (RJ), Filhos da Judith (RJ), Gangrena Gasosa (RJ), Korzus (SP), Mechanics (GO), Mindflow (SP), Mombojó (PE), Música Diablo (SP), Pato Fu (MG), Sick Sick Sinners (PR) e Zémaria (ES). Brasília: Cassino Supernova, Death Slam, Deceivers, Dynahead, Enema Noise, Galinha Preta, Mork, Soatá, The Squintz, Trampa, Watson e Tributo a Led Zeppelin.

Já o Vaca Amarela acaba de soltar sua programação completa e um site de divulgação bem firmeza. O festival goiano vai rolar entre 15 e 18 de Setembro com palestras, oficinas e os seguintes shows:

SEXTA (16/09):  Lobão, TNY, Edy Star, Umbando, Terra Celta, La Cartelera, Pata de Elefante, Fusile, Mersault e a Máquina de Escrever, Passarinhos do Cerrado, Stereovitrola, Oye!, Novos Vinis, Rádio Carbono, Trivoltz e Chimpanzés de Gaveta.

SÁBADO (17/09): Velhas Virgens, Mugo, Claustrofobia, Nitrominds, Johnny Suxx n’ the Fucking Boys, Necropsy Room, Johnny Hooker & Candeias Rock City, Hellbenders, Baudelaires, Gramofocas, Space Monkeys,  Inimitáveis, Ultravespa, Sunroad, Black Queen, Coerência e Antes do Fim.

O passaporte da alegria pra conferir tudo morre em 40 contos reais.

:: Um texto inspirador! ::



"...em plena era da cultura industrializada, faz-se necessário acentuar o que vale a pena."

(ARTHUR NESTROVSKI)


"Jornalismo cultural", a rigor, é uma contradição de termos. A palavra "jornalismo" vem do latim diurnalis, que significa "do dia", menos no sentido de diurno do que de diário, cotidiano. "Cultural" é um termo figurado, por analogia ao cultivo da terra. Jornalismo é do dia-a-dia; cultural, de longa duração. O jornalismo reage rapidamente aos acidentes; a cultura define a identidade de um grupo, ou de uma sociedade, e só se transforma aos poucos. O jornalismo cultural existe nessa tensão entre o contingente e o permanente, com a balança quase nunca no meio.

Para continuar na veia etimológica: "crítica" vem de uma palavra grega, krinein, que quer dizer "quebrar". A mesma palavra está na raiz de "crise", por exemplo. E a crítica, nalguma medida, faz isso mesmo: quebra uma obra em pedaços, ponde em crise a idéia que se fazia dela. (...) [Ao crítico] cabe identificar o que compõe uma obra; questionar, onde necessário, nossos hábitos de compreensão; e situar suas interpretações no contexto mais amplo da cultura, sem perder o senso de urgência. Isso vale tanto para o crítico mais geral e conceitual quanto para o intérprete mais detalhado das obras. Vale para qualquer um que escreva sobre cultura num jornal - incluindo, naturalmente, o crítico de música.

A crítica musical nasce no início do século 19. Não seria exagero afirmar que surge para dar conta da música de Beethoven. Foi a dificuldade de compreender suas últimas obras - dificuldade que permanece até hoje e não vai deixar de existir nunca, porque faz parte do que elas têm a dizer - que levou um autor como E. T. A. Hoffmann a redigir os primeiros ensaios de interpretação musical. A compreensão, portanto - não o "gosto" -, é o ponto de partida e chegada da crítica.

A crítica expressa, sem dúvida, alguma coisa de gosto pessoal, tanto quanto guarda (ou deveria guardar) algo de objetivo e informativo também. Mas ela é mais do que opinião e reportagem e mais do que a soma dos dois. O crítico não está só defendendo uma escolha; o que interessa é a natureza dessa escolha. A missão da crítica implica construir consenso sobre uma obra, um intérprete, um compositor. Mas não qualquer consenso. O caráter das respostas põe em xeque mais do que opinião que se tem sobre determinada obra, o que não seria pouco.

Contra a instrumentalização da cultura, que parece não ter mais limite, a crítica tem uma função de "desintoxicação", como diz Geoffrey Hartman. Gosto não só se discute, como é importante que seja discutido. Discutir uma obra de arte, pensando bem, não é mais nem menos pessoal do que debater questões da política; e ninguém sugere que "política não se discute" (pelo menos não numa sociedade democrática).

Essa lição é antiga: está na Crítica do Juízo de Kant, escrita em fins do século 18, nas raízes da era moderna. Para que isso não seja mal entendido: não é preciso que a crítica musical envolva temas políticos explícitos para que, de qualquer modo, se abra para um contexto mais amplo, envolvendo noções como liberdade, expressão e individualidade. Ela se abre, precisamente, para a cultura. 


Ninguém pensa em tudo isso enquanto escuta Bach ou Mozart; e é improvável que mesmo o crítico mais autoconsciente se lembre com clareza desses argumentos ao mesmo tempo que escreve sobre a Missa em mim menor ou A Flauta Mágica. Mas também não se esquece inteiramente deles. Exercer a crítica exige pelo menos uma tentativa de saber onde se está. No nosso caso, estamos todos no Brasil, o que dá à questão outras conotações. 

Informação já é formação, num país tão pobre de escolas. Escolas de música, então, ou música nas escolas, pior. E num momento como este, em que a universidade parece ter perdido boa parte do engajamento que já teve, o jornalismo cultural pode, quem sabe, assumir um papel mais relevante. Desde que não perca o sentido de contexto, a crítica pode vestir, também, o manto da pedagogia. Simplesmente situar um leitor na floresta de nomes e correntes já seria uma ajuda considerável. 

O que não é tão fácil - nem para o leitor, nem para o crítico - é conjugar o aprendizado mais enciclopédico com a experiência direta da música. Duzentos anos de modernismo devem ter servido para nos ensinar que não existe relação direta com obra nenhuma, como não existe relação imediata e transparente com nada neste mundo. Mas a ilusão de imediatez existe; e nalguma medida tem de ser preservada. A crítica pode auxiliar na divulgação e organização do conhecimento musical. Mas não existe "conhecimento" musical divorciado da escuta. Fazer escutar a música: fazer da música algo de vivo, ou mais vivo: reinventar a música, em resposta ao que ela nos dá - tudo isso é um ideal da crítica. Como todo ideal, só se realiza imperfeitamente; mas nem por isso deve ser deixado de lado quando se fala de crítica, música e cultura...










in: ARTHUR NESTROVSKI.
Notas Musicais: Do Barroco Ao Jazz
Ed. Publifolha
, 2000, Pgs. 10-12.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

:: da série: pão quentito! ::

ISOBEL CAMPBELL & MARK LANEGAN Hawk


JAMIE LIDELL Compass

JANELLE MONÁE The Archandroid



EELS Tomorrow Morning




NINA NASTASIA Outlaster




JOHN MELLENCAMP  No Better Than This

domingo, 22 de agosto de 2010

:: Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine ::

De volta à escola
- Bernardo Santana -

Antes de qualquer coisa, o bom e velho serviço de utilidade pública punk para a comunidade: Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine no Brasil, em novembro. Dito isso, à música, então. The Audacity of Hype é o primeiro disco do projeto mais recente de Jello Biafra – que, pra quem não sabe, era o vocalista do Dead Kennedys e, ainda hoje, um dos músicos mais politizados e politicamente ativos do planeta. Ele é o cara que introduziu a ironia e o humor na cena hardcore dos EUA. Ele é o moleque que concorreu à prefeitura de São Francisco em 1979, conseguindo nas urnas um resultado bastante expressivo pra alguém de 21 anos e anarquista confesso (foi 4o lugar). Ele é o tal que fundou um dos selos independentes mais longevos do planeta, o Alternative Tentacles, exemplo até hoje pra quem não fica sentado esperando a bigorna das grandes gravadoras cair na cabeça de suas bandas, projetos e congêneres. Enfim, é um cara a ser ouvido – mesmo que seja em seus discos só de spoken words.

Mas esse não é o caso da primeira bolacha do JB & GSM, graças ao misericordioso Tolstoy. Lançado em 2009, The Audacity... traz um som bastante próximo daquele que os DK fizeram. E, apesar de qualquer bronca inicial com isso, é garantido: se você gosta dos Kennedys, dificilmente vai se entediar com os Schoolers! É a barulheira da antiga banda de Jello, mas com um pouco mais de proto-punk tipo Detroit como ingrediente.

Sinta um pouco do amor dos caras no ar:



Ao lado de Billy Gould (recentemente saído para voltar ao Faith No More) e de outros amiguinhos, Jello Biafra conseguiu, mais de trinta anos depois de surgir em cena, soltar um libelo do tipo entretenimento-bomba como fazia com maestria quando ainda nem bem tinha saído dos remendados cueiros. As letras dessa vez – e como não podia deixar de ser – tratam de temas atuais pós-Bush, como a insistente orientemediofobia estadunidense, causa número um de distorções bizarras na lei daquele país ainda hoje, e assuntos infelizmente recorrentes desde o início da carreira de JB, como violência policial, estupidez institucionalizada e consumismo.

No entanto, existem momentos de espanto em Audacity mesmo pra aquele macaco mais velho. I Won't Give Up, maior exemplo, merece um parágrafo só pra ela, tanto pela música quanto pela letra. A primeira surpreende por fugir da cartilha tradicional do punk rock – coisa que nem é tão novidade quando se trata de Jello Biafra –, usando um espantoso slide em algumas partes e quase parecendo um hard rock zeppeliano em diversas outras. Vale lembrar que o Lard, outra banda de Jello, soltou um EP chamado 70's Rock Must Die há uns dez anos... Me lembrou o Pagode Nuclear, aquele grupo de samba do Gordo e do Clemente que pagodiava clássicos do punque nacional. Coisa linda! Já a letra é de fazer chorar quem vive num país como o nosso, com um processo eleitoral sério com um episódio dos Trapalhões. Veja se você se identifica com esses versos:

Here's to fear
'Nother circus election year
Clown-didates pretend they're human beings

Here's the ads
We vote and someone wins
That's all we're allowed to really change

(Tradução livre: Um brinde ao cagaço / Mais um ano elegendo um palhaço / Candibobos fingindo que são seres humanos / Chegou a propaganda / A gente vota e um outro manda / É só isso que nos deixam mudar)

E por aí vai...

E aí, vamo?

DOWNLOAD: 82 Mb - 9 faixas

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

:: Woody alfineta o padre e o crente... ::


"O que estou dizendo de fato - e não é oculto, nem esotérico, é claro e simples como água - é que nós temos de aceitar que o universo é sem deus, e a vida é sem sentido, muitas vezes uma experiência brutal e terrível, sem esperança, e que as relações amorosas são muito, muito difíceis, e que ainda precisamos encontrar um jeito não só de suportar, mas de levar uma vida decente e moral... estamos juntos num bote salva-vidas e é preciso tentar e fazer o bote ser o mais decente possível para você e para todo mundo. (...)
Se você admite a terrível verdade da existência humana e escolhe ser um ser humano decente diante dela, em vez de mentir para si mesmo que vai haver alguma recompensa ou algum castigo celestial, ou algum tipo de ganho, e você age bem, então está agindo bem não por esses nobres motivos, os mesmos motivos chamados cristãos. (...) De todo modo, os religiosos não querem admitir a realidade, que contradiz o conto de fadas deles. E se o universo for sem deus (ri baixo) eles perdem o emprego. Interrompe o fluxo de caixa.
Para mim, é uma grande vergonha o universo não ter nenhum Deus ou nenhum sentido, e no entanto só quando se admite isso é que se pode levar o que as pessoas chamam de uma vida cristã - isto é, uma vida moral decente. Você só leva uma vida assim se, para começar, admite o que tem diante de si e joga fora toda a casca de conto de fadas que leva a pessoa a fazer escolhas na vida não por razões morais, mas para marcar pontos no pós-vida... "

[+]? DepOCine!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

:: Porão do Rock & Vaca Amarela ::

Supersuckers!

COMING ATRACTIONS!

Em Outubro e Novembro, o estado de São Paulo recebe uma enxurrada de atrações internacionais de grande porte (e, claro, de altíssimo cu$to). O S.W.U. já confirmou que aportarão por aqui Rage Against the Machine, Pixies, Incubus, Yo La Tengo, Regina Spektor, Dave Mathews, Kings of Leon, Linkin' Park etc. O Planeta Terra, que ocorre de novo entre as montanhas-russas e elevadores-despencantes do Playcenter, terá Pavement, Smashing Pumpkins, Phoenix, Of Montreal... E o Natura About Us trará ainda Jamiroquai, Air e Snow Patrol.

Mas o mês de Setembro também vem recheado de belas atrações --- desta vez concentradas no Planalto Central --- para quem procura shows bacanas e quer degustar novidades da cena independente. Nos dias 11 e 12/09, vai rolar o já consagrado Porão do Rock, em Brasília, um dos mais expressivos festivais indie do país, que chega ao seu 13º ano e que prossegue (nossos bolsos agradecem!) inteiramente gratuito.

O Porão já confirmou um headliner de peso: o Supersuckers. Os punks-caipiras tão prometendo visita ao Brasil faz tempo (foram oficialmente escalados pro Goiânia Noise do ano passado mas "furaram" por causa de problemas com o visto...), mas agora parece que vai. Já confirmada também a presença do She Wants Revenge e dos espanhóis do The Right-Ons (sonzeira!). Dentre as demais atrações, destaque para Korzus, Mechanics, Gangrena Gasosa, Sick Sick Sinners e os argentinos do Los Primitivos. Ainda há 3 vagas para bandas independentes que terão oportunidade de mostrar seu som no Porão e ainda estão sendo definidas pelas últimas seletivas.


Uma semana depois, em Goiânia, rolam mais dois dias de sonzeira firmeza: é o Vaca Amarela, uma produção da Fósforo Cultural e que é uma espécie de  irmão caçula do Bananada e do Noise. O Vaca já vai chegando à sua pré-adolescência e atinge sua 9ª edição; e vai rolar nos dias 17 e 18/09, no Martin Cererê. Dentre as atrações já confirmadas (segundo o Gyn Rock News) estão Velhas Virgens, Nitrominds, Lobão, Pata de Elefante, Umbando, Mugo, ClaustrofobiaFusile (que a gente já entrevistou aqui no Depredas) e o sensacional Terra Celta (que tem um dos shows mais insanos e diferentes do Brasil). Da gringa, virão ainda os argentinos do La Cartelera Y Sos Limones Domingueros, skazeira latina bem interessante.

O Depredando, é claro, promete estar lá e depois contar como foi direitinho --- com as compreensíveis lacunas, causadas por amnésias (alcóolicas ou canábicas...) e pelas bandas emo, que nós nos recusamos terminantemente a cobrir (a não ser que seja de tomates...). Assim que forem divulgadas as programações completas dos dois festivais que agitam o Planalto Central em Setembro, a gente posta aqui para os interessados se programarem... Por hora, aqueçamos os motores que estes próximos meses prometem ser deliciosamente estrondosos para nossos tímpanos!...

sábado, 14 de agosto de 2010

:: Mitológicas faces ::

THE FACES
- por Eduardo Carli -

"Entre o fato e a lenda, imprima a lenda!" É assim que um personagem de John Ford resume o "credo do jornalista", numa bela frase do crááássico western O Homem Que Matou o Facínora. Quando a matéria é de "jornalismo de rock", então, o preceito parece valer ao dobro. Cabe a nós saber separar o joio do trigo nesta zona mitológica: o que merece de fato os louros e o que é ouro-de-tolo?

Hoje olho com uma certa desconfiança para qualquer tentativa de "mitologização" de artistas: pois me parece que não é mais um eco das aspirações populares genuínas, mas fruto de uma gigantesca "máquina corporativa" que sempre precisa que as bandas "estourem", e precisa que as massas sempre tornem-se desesperamente ávidas pelos produtos que estão à venda, e precisa que tudo se torne obsoleto-de-imediato para que novas modinhas e "ondas" venham e novos produtos possam continuar movimentando as linhas de montagem... "E nada melhor, para um estouro, do que fabricar uma boa mitologia!" - pensam, como eu os imagino, os maquiavélicos donos de grandes gravadoras, mancomunados com a grande mídia, que tratará de fabricar sob encomenda os "hypes" e os "fenômenos"....

Pobre Joseph Campbell! Ao menos o velho não viveu para ver a mitologia tornar-se esta palhaçada... uma arminha, um mero utensílio, nas mãos de publicitários e "homens de negócios"! Acho que eu gostava mais dos tempos em que a música não era vista somente como uma isca para o consumo, mas ainda conseguia inspirar a sensação de que o músico tinha uma consciência expandida, era um gênio-da-lâmpada, um bruxo em transe, um xamã no tapete voador das harmonias e solos, um destes que estão na vanguarda da cultura, inovadores e altaneiros... Hendrix, Louis Armstrong, Miles Davis, Nina Simone, até hoje assim me soam. Mas isto é mitologia ultrapassada: hoje vige mais a lógica do penteado e da aeróbica. O músico místico, louco de LSD, num "transe" digno de William Blake, expressando-se com seu instrumento como se quisesse animar todo o cosmos com sua melodia, saiu de moda. E hoje somos todos emofílicos na Emolândia... coisa triste!
 


E já que hoje estou com o espírito-de-porco de um tiozão nostálgico (daqueles que só ouve "do Led pra trás"), aproveito para alimentar e veicular uma mitologia que acho bem mais saudável pros ouvidos, se bem que não tanto para o fígado... E assim sigo, do meu jeito, com este breve arremedo de crítica, o mote jornalístico que manda imprimir a lenda, deixá-la fazer seu serviço de alastrar entusiasmo, e deixar os fatos para os bancários e os estatísticos...

Um dia houve, caros amiguinhos, uma bagaça fantástica chamada The Faces! Uma rápida passada de olhos pela biografia sobre eles na All Music Guide nos revela já que eis uma banda envolta numa pesada neblina de mitologia (e da mais clichezenta): "Notorious for their hard-partying, boozy tours and ragged concerts, the Faces lived the rock & roll lifestyle to the extreme". Não seria de se esperar menos de uma banda que depois forneceria novos membros tanto aos Rolling Stones (Ron Wood, que entrou seis anos depois de Mick Taylor ter assumido o posto de Brian Jones [morto por acidente ou não? eis a questão!])  quanto ao The Who (Kenny Jones, que virou comparsa de Townshend e Daltrey após o falecimento de Keith Moon).

Nada mais injusto, porém, que considerar o Faces somente como o mero "jardim de infância" de grandes músicos, que depois se destacariam no cenário mundial de modo muito mais amplo do que em sua primeira banda. Nem somente como a "banda onde cantava o Rod Stewart antes de virar ídolo pop (e dos bem cafas...) nos anos 70". O Faces é peixe-grande; e o que talvez impediu as grandes massas de enxergar isto é a sombra que faz um balão imenso, feito de chumbo, pairando no firmamento como um mamute alado... o Led Zeppelin.

O único defeito sério do Faces é que existe um bagulho chamado Led Zeppelin. Mas não dá pra os culpar muito (seria covardia...) por não serem tão bons quanto Page, Plant, Bonham e Jones. E dá pra curtir, e muito, uma banda (há poucas!) que tem a manha de ir lá e às vezes disputar com eles pau a pau, brigando de igual pra igual com um monstro mítico de envergadura ainda maior... Se o Led é o Moby Dick, o Faces é, pelo menos, o King Kong.

E aí, convenci vocês a experimentar?


Se ainda não, lembremos aos que não tão nem aí para essas "velharias de tiozão" como Led Zeppelin ("ah, a cegueira da juventude!", diriam Wood & Stock...) que o Faces foi também precursor de algo mais... "arteiro", no sentido mãe-dando-bronca-no-filho da coisa. A Wikipédia, que não é lá essas coisas mas já quebra um galhão, enxerga-os como algo mais do que os sucessores da geração mod ou uma mera banda-ponte na transição entre a psicodelia lisérgica e o rock and roll pé-na-estrada --- enxerga-os como os primeiro punks. Ora, mas não foi a galera do MC5? Os Stooges? O The Who? Os Sonics? Pouco importa decidir: o provável é que todo mundo tenha culpa no cartório. Mas a Rainha podia muito bem ter mandado enforcar, pois, esses "carinhas" de quem Johnny Rotten e seu comparsa-no-crime Sid Viciado tanto gostavam...


"Embora tenham obtido pouca notoriedade em relação aos seus contemporâneos The Who e Rolling Stones, os Faces tiveram um papel primordial no nascimento do que mais tarde se tornaria o punk. Suas apresentações explosivas e seus álbuns de estúdio abriram espaço para o desenvolvimento de bandas como os The Damned, The New York Dolls e particularmente os Sex Pistols, que citavam os Faces como a principal influência tanto em suas canções quanto em suas personalidades. Em seguida ao colapso do movimento punk, a influência dos Faces surgiria em grupos como The Replacements, The Black Crowes e, mais recentemente, nas bandas Pearl Jam, The Charlatans e The Stereophonics"

Mas chega de papo: ouçamos os três primeiros álbuns do The Faces, o que engloba o período de ouro da banda, de 1970 a 1972. E também vale a pena dar um salto atrás no tempo e conhecer também os Small Faces, a banda que lhe deu origem e deixou ao menos um clássico para a história do rock, em 1968: Ogden's Nut Gone Flake, um dos rebentos mais eletrizantes da Era Psicodélica (uma espécie de Sgt. Peppers proto-punk).

Taí uma banda inglesa de primeiríssima linha, saída de um dos mais férteis períodos na história da Inglaterra em matéria de música popular urbana (Beatles, Stones, Kinks, The Who, Bowie, Barrett... vivendo e criando simultaneamente!). Quis o zeitgeit que fosse o Faces uma das únicas bandas que, apesar de muito merecedora, não participou muito amplamente da grande Invasão Britânica que foi ao assalto da América por aqueles tempos, chefiada pelas bandas supra-citadas e mais um ou outro one-hit-wonder... Mas é sempre tempo de fazer justiça, ainda que tardia, aos que a merecem: e estes caras, com certeza, merecem a lenda que os emoldura. E fazem jus ao que qualquer tímpano esperto sabe pedir a um bom rock and roll.

Ouvindo estes discos preciosos é que me lembro de um passado utópico que nunca vivi, que é fruto mais da imaginação idealizada do passado do que uma verdadeira rememoração: uma época em que a mitologia do rock and roll ainda emergia de um solo autêntico (pelo menos em comparação com a atual tirania dos publicitários...) e a música parecia conseguir, descendo pelos ouvidos e encharcando de novas sinapses o cérebro, a fina e misteriosa magia de... infundir vida!


First Step [DWLD]

Long Player [DWLD]

A Nod Is As Good As A Wink...
To a Blind Horse
[DWLD]


Ogden's Nut Gone Flake [DWLD]

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

:: panis! ::

Povo: a vida de fora-da-lei tá embaçada. Foda de driblar a censura. O DOPS da Blogsfera tá matando geral todos os posts que ameaçam o Império Fonográfico e seus lucros estratosféricos (nos últimos anos em declínio abismal...), e o resultado é que nem link postado anônimo nos comments os hómi tão permitindo mais. A solução foi apelar para a nossa comuna no Orkut. Mal ae, mas quem quiser baixar as pepitas abaixo terá que colar lá. Aproveita e entra pra muvuca, que a parada por lá tá mó paradona...