sábado, 26 de janeiro de 2013

Prediletas da Casa em 2012: Um Disco, Uma Música, Um Show...






UM DISCO: TAME IMPALA - Lonerism
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Das drogas psicodélicas legalizadas, o Tame Impala é uma das melhores. O segundo álbum dos australianos, após o magistral disco de estréia, Innerspeaker, oferece ao ouvinte outra viagem memorável e sem risco de bad trip. Somos convidados a atravessar cenários sônicos variados: há um pouco da estética parede-de-som típica do ruidoso guitar-rock do My Bloody Valentine ou do Ride, mesclado com o clima onírico que marca as produções da Elephant 6 (Olivia Tremor Control, Neutral Milk Hotel, Of Montreal...), mas tudo com a marca da singularidade do Impala. 

Se o Primal Scream fez nos anos 90 um clássico da psicodelia na era das raves, de mensagem hedonista e celebratória (“vou viver a vida que amo e vou amar a vida que vivo...”), o Tame Impala cometeu com Lonerism uma espécie de Screamadelica da solidão. O transe induzido pela audição de Lonerism é semelhante àquele de grandes clássicos da psicodelia, ainda que Kevin Parker seja mais introvertido do que a média, por vezes beirando a atitude shoegazer – tanto que sua cantoria às vezes me soa como se Thom Yorke tivesse ouvido muito Beach Boys ou The Zombies. “Everything is changing and there’s nothing I can do”, canta Parker na grudenta “Apocalypse Dreams”, mostrando-se estóico diante de um cosmos movediço como o rio de que fala Heráclito - aquele onde é impossível entrar duas vezes. 

Lonerism é também um rio que arrasta o ouvinte por mudanças surpreendentes e imprevistas, funcionando como um álbum coeso, rico em variações e surpresas, repleto de mistérios nunca desvelados por completo, e que convida a repetidas audições – cada uma, uma nova e acachapante viagem. É só soltar as rédeas e embarcar sem medo!





UMA MÚSICA:  PÓ DE SER - “De Repente”

Batizado com um nome que dá permissão pra experimentar de tudo (e mais um pouco), a banda goiana Pó de Ser faz jus a seu nome com uma música que diz sim às possibilidades novas, às mesclas inéditas. Vale tudo: juntar Itamar Assumpção com Odair José, Tropicália com Sérgio Sampaio, Mutantes com Arrigo Barnabé e enfiar a “viola no rock’n’roll” (como diz outra canção deles, “Bicho Urbano”, um dos melhores retratos de Goiânia compostos nos últimos anos). Como eles mesmos brincaram no papo que tivemos após o show no Vaca Amarela 2012, o Pó de Ser realizou a proeza (dentre outras!) de inventar a “estética dodecafona”. 

Em outros termos: eis aí um experimentalismo tupiniquim aventureiro, sem medo do brega e do excesso, que devora antropofagicamente a música popular brasileira do passado e a recria numa síntese nova. “De Repente”, inspirada canção de Diego de Moraes e Klêuber Garcêz, que integra o recém-lançado EP Tudo Torto em Linha Reta, é a melhor síntese do universo estético do Pó de Ser: é uma pintura do desnorteio que acomete tantos de nós neste princípio de século (“no século 21 sou mais um sem ninguém a me conduzir...”, “entrei num beco-sem-saída, sem porteira nem tramela...”), com versos que descrevem a sensação de ovelha-negra (“desgarrei na contra-mão da boiada...”) e de inquietante insegurança (“lembranças de um tempo remoto em que eu me achava seguro...”). 

Mas o Pó de Ser não aprecia a sensaboria do porto-seguro nem o comodismo do quietismo: prefere navegar na incerteza, com os olhos estarrecidos, feito um “astronauta liberto na Terra / pé no chão e cabeça na Lua / um andróide de carne e desejo / de pão e poesia, na rua...”. O retrato um tanto sombrio dos “7 bilhões de solitários” que ficam “deixando tudo para depois” parece-me, na verdade, uma conclamação, cheia de urgência, para que o ouvinte faça o que sempre recomendaram os sábios: que viva no presente. Pois pode ser que seja ele, o presente, o único tempo em que o Ser existe, em suas eternas mutações, em seu eterno agora...



UM SHOW: CRIOLO NO CANTO DA PRIMAVERA

Quando Criolo despontou para um público mais vasto, catapultado por esta canção que já fez história que é "Não Existe Amor em SP", ficou claro que qualquer tentativa de domar e domesticar a complexidade desse artista, grudando nele uma etiqueta qualquer (inclusive os óbvios "rapper" e "voz do gueto"), violentava o colorido múltiplo dessa música aventureira, que monta na cabeça do ouvinte um mosaico verbal, um labirinto místico, cheio de sedutoras batidas sobre as quais se derrama um "dialeto suburbano" feito pra dar Nó na Orelha... E nas idéias. 

No Canto da Primavera 2012, diante do maior público de sua carreira e acompanhado por uma banda timbradíssima (que inclui o DJ Ganjaman e Marcelo Cabral, produtores do disco), Criolo fez um show impressionante pelo poder de mobilização do público, pela riqueza de sua expressão corporal-gestual, pela eloquência de sua verborragia sempre sagaz. “O Rap é forte, vagabundo!”, lia-se numa placa empunhada lá do público. Quem ousaria duvidar disso, diante de um show tão poderoso de um artista brasileiro que carrega com tanta responsa a bandeira da independência, da crítica, da insurgência? Como não erguer os punhos junto ao brado de revolta e de resistência que Criolo expressa contra, por exemplo, aquela violência imposta de cima por aqueles que "tem tudo de bom e fornecem o mal pra favela morrer”? 

Poeta lírico que lamenta os males da megalópole que Mário de Andrade apelidou de “Paulicéia Desvairada” (os bares cheios de almas tão vazias, a vaidade e a ganância gerando um “mar de fel”...); cronista da vida suburbana em cenários antropologicamente tão ricos como o “Grajauex” (corruptela da terra natal do Criolo Doido, o Grajaú...); missionário-conselheiro a fazer do microfone um instrumento xamanístico; rapper-hippie que nos conclama a “samplear atitudes de amor”... Criolo é tudo isso, e mais um pouco. 

Impossível encerrá-lo numa fórmula, já que sua fertilidade transbordante não se deixa limitar a um estilo, nem a riqueza de suas letras se deixa domar por fronteiras estreitas. Em suas composições “linkadas” e cheias de inter-conexões, ele remete a Muhammad Ali e Mahatma Gandhi, Fela Kuti e Sabotage, Rappin Hood e Facção Central. Cita a Pasárgada de Manuel Bandeira (em "Bogotá") e evoca em "Sucrilhos" as imagens veneráveis de Di Cavalcanti, Hélio Oiticica e Frida Kahlo, só para sublinhar que eles "tem o mesmo valor que a benzedeira do bairro". 

No Canto da Primavera, festival de música primoroso, Criolo deixou claro que é uma das figuras centrais da Nova Música Brasileira, esta que vai se delineando e se fortalecendo em meio aos agitos fora-do-eixistas - e não é difícil se deixar convencer por ele de que o rap, como canta Criolo em seu disco de estréia, faz "muito mais que religião, presídio e cassetete, irmão."




(Resposta a uma enquete do blog-truta Goiânia Rock News.)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cinephilia Compulsiva: Reflexões e Pitacos sobre Cinema





Galera: Cinephilia Compulsiva é o novo nome de meu velho blog dedicado a assuntos e pitacos cinematográficos. Ele vem para substituir o "Esteticoscopio", que nunca grudou nem engrenou. Estão todos convidados a dar um pulo lá e conferir! 


Dentre as últimas atrações... "Tropicália", de Marcelo Machado; "Febre do Rato", de Claudio Assis; "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha; "O Jardineiro Fiel", de Fernando Meirelles; "É Proibido Proibir", de Jorge Durán; todos os filmes dos BEATLES para assistir on-line; "Poesia", de Lee Chang Dong; "Labirinto do Fauno", de Guillermo del Toro; "Dawson - A Ilha Secreta de Pinochet"... e por aí vai!

Em breve, crítica de "Django Unchained", o novo do Tarantino. Fiquem ligados!

Aproveitando a deixa, deixo aí alguns filmes completos que estão dando sopa no Youtube:



segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

"A publicidade, que constitui o segundo maior orçamento mundial depois da indústria de armamentos, é incrivelmente voraz: mais de 500 bilhões de despesas anuais." (Serge Latouche)



A PUBLICIDADE E OS BENS DE GRANDE FUTILIDADE
por Serge Latouche 
(Professor de Economia da Universidade de Paris)


"Três ingredientes são necessários para que a sociedade de consumo possa prosseguir na sua ronda diabólica: a publicidade, que cria o desejo de consumir; o crédito, que fornece os meios; e a obsolescência acelerada e programada dos produtos, que renova a necessidade deles. Essas três molas propulsoras da sociedade de crescimento são verdadeiras incitações-ao-crime.

A publicidade nos faz desejar o que não temos e desprezar aquilo de que já desfrutamos. Ela cria e recria a insatisfação e a tensão do desejo frustrado. Conforme uma pesquisa realizada entre os presidentes das maiores empresas americanas, 90% deles reconhecem que seria impossível vender um produto novo sem campanha publicitária; 85% declaram que a publicidade persuade "frequentemente" as pessoas a comprar coisas de que elas não precisam; e 51% dizem que a publicidade persuade as pessoas a comprar coisas que elas não desejam de fato (cf. André Gorz, "Capitalisme, socialisme, écologie", Paris, Galilée, 1991, p. 180).

Esquecidos os bens de primeira necessidade, cada vez mais a demanda já não incide sobre bens de grande utilidade, e sim sobre bens de grande futilidade. Elemento essencial do círculo vicioso e suicida do crescimento sem limites, a publicidade, que constitui o segundo maior orçamento mundial depois da indústria de armamentos, é incrivelmente voraz: 103 bilhões de euros nos Estados Unidos em 2003, 15 bilhões na França. No total, considerando o conjunto do globo, mais de 500 bilhões de despesas anuais. Montante colossal de poluição material, visual, auditiva, mental e espiritual!

O sistema publicitário "apossa-se da rua, invade o espaço coletivo - desfigurando-o -, apropria-se de tudo o que tem vocação pública, as estradas, as cidades, os meios de transporte, as estações de trem, os estádios, as praias, as festas. Ele inunda a noite assim como se apossa do dia, ele canibaliza a internet, coloniza os jornais, impondo sua dependência financeira e levando alguns deles a ficar reduzidos a tristes suportes. Com a televisão, ele possui sua arma de destruição em massa, instaurando a ditadura do ibope sobre o principal vetor cultural da época. (...) A agressão se dá em todas as direções, a perseguição é permanente. Poluição mental, poluição visual, poluição sonora." (Jean-Paul Besset, em "Comment ne plus être progressiste... sans dévenir réactionnaire", Paris, Fayard, 2005, p. 251).

Com a obsolescência programada, a sociedade de crescimento possui a arma absoluta do consumismo. Impossível encontrar uma peça de reposição ou alguém que a conserte. Se conseguíssemos pôr a mão na ave rara, custaria mais caro consertá-la do que comprar uma nova (sendo esta hoje fabricada a preço de banana pelo trabalho escravo do sudeste asiático). Assim é que montanhas de computadores se juntam a televisores, geladeiras, lava-louças, leitores de DVD e telefones celulares abarrotando o lixos e locais de descarte com diversos riscos de poluição: 150 milhões de computadores são transportados todos os anos para depósitos de sucata do Terceiro Mundo (500 navios por mês para a Nigéria!), apesar de conterem metais pesados e tóxicos (mercúrio, níquel, cádmio, arsênico e chumbo).

À bulimia consumista dos fissurados em supermercados e lojas de departamentos corresponde o workaholismo, o vício em trabalho dos executivos, alimentado, em muitos casos, por um consumo excessivo de antidepressivos. (...) Nós, franceses, somos detentores de um triste recorde: compramos, em 2005, 41 milhões de caixas de antidepressivos. (...) Resta-nos apenas assinar embaixo do diagnóstico do professor Dominique Belpomme: "O crescimento tornou-se o câncer da humanidade" (cf. "Avant qu'il ne soit trop tard", p. 211).


LATOUCHE
, S.
"Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno"
Editora Martins Fontes, 1a ed, 2009.
Tradução de Claudia Berliner.

"Existe uma guerra silenciosa sendo travada na internet contra os põem suas cabeças em risco em nome de uma causa: a livre circulação de conteúdos e informações..." (Sobre o suicídio de Aaron Swartz)


Jovem hackerativista que desafiou o mercado acadêmico tem suicídio induzido


"Aaron Swartz (1986-2013) se foi ontem. Ele se enforcou em sua residência, no dia 11 de janeiro de 2013 em New York. De acordo com amigos próximos, ele não admitia a ideia de que poderia pegar até 35 anos de prisão por ter disponibilizado quase 5 milhões de artigos científicos de graça na internet. Isso mesmo: esse hacker distribuiu (e não roubou) 5 milhões de artigos para compartilhamento.

A empresa que processou Aaron foi a JSTOR (acrônimo para "Journal Storage"). Criada em 1995, a JSTOR apareceu no mercado com a missão de vender artigos científicos em formato PDF (Portable Document Format) para instituições de pesquisa e para usuários comuns. Hoje a empresa é uma gigante no setor. Presente em 150 países, mais de 170 instituições assinam o conteúdo desse portal. Os gastos das instituições com essas assinaturas chegam aos milhões de dólares.

Poderia uma empresa declaradamente sem fins lucrativos destruir a vida desse jovem, ao ponto de levá-lo a cometer suicídio? No dia 19 de julho de 2011, Aaron foi indiciado por fraude e roubo em um processo encabeçado pela JSTOR. Apesar de ter se declarado inocente, teve que pagar uma fiança de cem mil dólares para responder o processo em liberdade. Após sérios indícios de que seria condenado, Aaron desistiu e enforcou-se em sua residência. 

Existe uma guerra silenciosa sendo travada na internet. De que lado você está? Posso dizer que uma parte de minha formação acadêmica advém da coragem e da ousadia de jovens hackers que desafiam qualquer lei e põem suas cabeças em risco em nome de uma causa: a livre circulação de conteúdos e informações na internet. Hoje a maior parte dos arquivos baixados por Aaron encontram-se disponíveis em uma plataforma pirata de distribuição de material acadêmico. Esse é um dos seus legados. Mas, e nós que ficamos, o que podemos fazer agora? Meu palpite é claro: seguir compartilhando e construindo um mundo mais justo que não jogaria na cadeia qualquer pessoa que compartilhasse palavras e sonhos. 


Daniel C. Valentim 
Doutorando em Sociologia; 
Membro do Partido Pirata do Brasil

Siga Viagem...


Um dos melhores documentários sobre o tema dos direitos autorais na era da cibercultura:
completo e legendado em português. Site oficial do Steal This Film (Roube este Filme).

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

"Nem todo trajeto é reto, nem o mar é regular..." - A UTOPIA ANTROPOFÁGICA [Coletânea, 10a Edição]



“Nem todo trajeto é reto
Nem o mar é regular…”
METÁ METÁ

Coletânea fresquinha saindo… É o 10º volume da série que congrega em caixinhas digitais de música só as brasileiragens em impudico mélange antropofágico. Nesta edição... 01) Elis Regina & Adoniran Barbosa, “Tiro ao Álvaro”; 02) Metá Metá, “Cobra Rasteira”; 03) Lenine, “Jack Soul Brasileiro”; 04) Guinga, “Par ou Ímpar”; 05) Los Hermanos, “Paquetá”; 06) Chico Buarque, “Noite dos Mascarados”; 07) João Bosco e Aldir Blanc, “Bala com Bala” (com Elis Regina); 08) Mundo Livre S.A., “Quem Tem Bit Tem Tudo”; 09) El Efecto, “O Encontro de Lampião e Eike Batista”; 10) Tulipa Ruiz, “Víbora”.

Edições anteriores: 09 - 08 (*) - 07 - 06 - 05 - 04 - 03 - 02 - 01.

 (*) #8 = Especial Torquato Neto

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Tropicália Revisitada

(de Marcelo Machado, 2012, 89min. Trailer.)

"O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais. 
Os tropicalistas deram um histórico passo à frente no meio musical brasileiro. A música brasileira pós-Bossa Nova e a definição da “qualidade musical” no País estavam cada vez mais dominadas pelas posições tradicionais ou nacionalistas de movimentos ligados à esquerda. Contra essas tendências, o grupo baiano e seus colaboradores procuram universalizar a linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica. 
Ao mesmo tempo, sintonizaram a eletricidade com as informações da vanguarda erudita por meio dos inovadores arranjos de maestros como Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Damiano Cozzela. Ao unir o popular, o pop e o experimentalismo estético, as idéias tropicalistas acabaram impulsionando a modernização não só da música, mas da própria cultura nacional. 
Clássico estudo de Favaretto
Seguindo a melhor das tradições dos grandes compositores da Bossa Nova e incorporando novas informações e referências de seu tempo, o Tropicalismo renovou radicalmente a letra de música. Letristas e poetas, Torquato Neto e Capinan compuseram com Gilberto Gil e Caetano Veloso trabalhos cuja complexidade e qualidade foram marcantes para diferentes gerações. Os diálogos com obras literárias como as de Oswald de Andrade ou dos poetas concretistas elevaram algumas composições tropicalistas ao status de poesia. Suas canções compunham um quadro crítico e complexo do País – uma conjunção do Brasil arcaico e suas tradições, do Brasil moderno e sua cultura de massa e até de um Brasil futurista, com astronautas e discos voadores. Elas sofisticaram o repertório de nossa música popular, instaurando em discos comerciais procedimentos e questões até então associados apenas ao campo das vanguardas conceituais. 
Sincrético e inovador, aberto e incorporador, o Tropicalismo misturou rock mais bossa nova, mais samba, mais rumba, mais bolero, mais baião. Sua atuação quebrou as rígidas barreiras que permaneciam no País. Pop x folclore. Alta cultura x cultura de massas. Tradição x vanguarda. Essa ruptura estratégica aprofundou o contato com formas populares ao mesmo tempo em que assumiu atitudes experimentais para a época. 
Discos antológicos foram produzidos, como a obra coletiva Tropicália ou Panis et Circensis e os primeiros discos de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Enquanto Caetano entra em estúdio ao lado dos maestros Júlio Medaglia e Damiano Cozzela, Gil grava seu disco com os arranjos de Rogério Duprat e da banda os Mutantes. Nesses discos, se registrariam vários clássicos, como as canções-manifesto “Tropicália” (Caetano) e “Geléia Geral” (Gil e Torquato). A televisão foi outro meio fundamental de atuação do grupo – principalmente os festivais de música popular da época. A eclosão do movimento deu-se com as ruidosas apresentações, em arranjos eletrificados, da marcha “Alegria, alegria”, de Caetano, e da cantiga de capoeira “Domingo no parque”, de Gilberto Gil, no III Festival de MPB da TV Record, em 1967. 
Irreverente, a Tropicália transformou os critérios de gosto vigentes, não só quanto à música e à política, mas também à moral e ao comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. A contracultura hippie foi assimilada, com a adoção da moda dos cabelos longos encaracolados e das roupas escandalosamente coloridas. 
O movimento, libertário por excelência, durou pouco mais de um ano e acabou reprimido pelo governo militar. Seu fim começou com a prisão de Gil e Caetano, em dezembro de 1968. A cultura do País, porém, já estava marcada para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos." (Via Tropicalia.com.br)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013