segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Milênios de Uso Medicinal; Décadas de Proibicionismo Autoritário


“Maconha serve de remédio desde sempre. O primeiro tratado de ervas medicinais que se conhece, o Pen Tsao, concebido há 4.700 anos na China, já inclui referência destacada à cannabis, e há registros de usos médicos em praticamente todas as civilizações antigas. Extrato de cannabis era remédio na Índia desde a Antiguidade e, quando os ingleses chegaram lá, logo descobriram suas virtudes medicinais. Por isso, o Império Britânico exportava extrato de cannabis, que era vendido em farmácias do mundo todo, e provavelmente foi o anestésico mais usado contra dor de cabeça até o século XIX, quando a aspirina foi inventada.” 
“No México, faz séculos que é usada por curandeiras nas comunidades rurais, como parte importante da tradicional medicina à base de ervas, indicada para várias doenças, entre elas glaucoma e bronquite.” 
“A planta foi [na história da humanidade, até o alvorescer do século XX e do proibicionismo fundamentalista…] também importantíssima na economia mundial, já que a fibra de seu caule, o cânhamo, era a principal matéria-prima de tecidos e papéis. Tecidos de cânhamos foram empregados nas telas dos pintores da Renascença, nas velas dos barcos das Grandes Navegações e no papel da Declaração de Direitos que fundou os Estados Unidos da América.” 
“Era, talvez até mais que o trigo, uma planta em relação simbiótica com a humanidade, cultivada por muitos povos e utilizada para os mais diversos fins. Era também uma planta em coevolução com a humanidade, cujos genes refletiam as necessidades humanas, porque eram selecionados pelo homem.” 
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 No século XX, o mundo foi planejado para as indústrias, não para as pessoas. As cidades foram construídas para dar espaço para o maior número possível de carros - e, como resultado, o espaço público nunca foi tão sujo, barulhento e perigoso. O modelo de produção e de ocupação passou a consumir recursos naturais e gerar resíduos num ritmo alucinante - o que levou o mundo a um colapso ambiental e está fazendo o clima mudar. E a política tornou-se refém das empresas, que financiam as campanhas - criando uma sensação global de que as pessoas deixaram de ser representadas.
Por causa desses efeitos colaterais, a fé cega na indústria e na tecnologia está vivendo uma grande crise. A crença de que a indústria é sempre superior à natureza acabou resultando na destruição da natureza e no poder excessivo da indústria. No mundo todo, há sinais de que essa visão se esgotou, de que teremos de voltar a valorizar a natureza. 
A proibição ultrarradical da canábis é típica do século XX - uma relíquia de um modo antigo de pensar, da qual ainda não conseguimos nos livrar. No entanto, cada dia que passa o absurdo dessa política se revela mais. É por isso que o mundo está entrando numa onda de revolta contra essa ideologia - uma onda que se manifesta nas marcas da maconha, em protestos generalizados no mundo todo, em brigas judiciais, na crescente polarização do debate, que fica cada vez mais irritado.

Esta onda não vai parar de crescer, porque ela se sustenta numa constatação clara: a de que a canábis não é pior que seus concorrentes industriais. Ela causa menos danos mentais e menos dependência que os remédios psicoativos da indústria farmacêutica - antidepressivos, ansiolíticos, soníferos, anestésicos. Gera menos morte e violência que as bebidas alcóolicas industrializadas. E, além disso, tem óbvias vantagens econômicas, ambientais, sociais." (260-61)
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"Do ponto de vista dos riscos envolvidos, o álcool é imensamente mais perigoso do que a maconha, sem dúvida alguma. Enquanto a maconha não mata, não importa a dose, o álcool tem uma margem pequena entre a dose necessária para causar o efeito desejado e a dose suficiente para colocar em risco as funções vitais do corpo. Álcool demais faz com que as áreas do cérebro responsáveis pela respiração e pela consciência se desliguem, o que pode provocar desmaios. Não é incomum que usuários morram afogados no próprio vômito - aliás, o vômito é uma forma do organismo se defender de uma dose venenosa da substância. Álcool causa mais dependência e a síndrome de abstinência ligada a ele é muito mais perigosa, podendo até matar. A substância é bastante tóxica às células humanas e está associada a vários tipos de câncer. Já a maconha, justamente por seu apenas um 'modulador', causa efeitos sutis, que não matam células nem influem no funcionamento dos órgãos vitais.
 Além disso, álcool gera violência e comportamento irresponsável. Uma pesquisa americana de 2003 mostrou que a chance de um homem agredir sua esposa aumenta 8 vezes quando ele está alcoolizado. No Reino Unido, o governo estima que o álcool seja a causa principal de metade dos crimes violentos e de 70% das emergências e dos internamentos por acidentes. Maconha não gera violência. (...) Em 2009, três autores americanos publicaram um livro instigante (FOX, ARMENTANO, TVERT: Marijuana is Safer: So Why Are We Driving People To Drink?) no qual se perguntam se nossa sociedade, ao demonizar a maconha, não está acidentalmente aumentado o consumo de álcool e, em consequência, as taxas de mortes violentas e por intoxicação. "Legalizar a maconha levaria a uma redução da violência doméstica e comunitária. Nós enxergamos um futuro no qual a canábis não apenas seja legal, mas conselheiros domésticos achem apropriado aconselhar maridos abusivos a reduzir ou eliminar o consumo de álcool e consumir maconha como alternativa", diz o livro." (233-234).
 "No Brasil, os grandes fabricantes de cerveja estão entre os maiores investidores em publicidade e, portanto, têm imensa influência sobre a mídia (segundo o Ibope, a Ambev é a quarta maior anunciante do país, à frente do Bradesco, da Volkswagen e da Vivo). Eles estão investindo uma baba na Copa do Mundo de 2014, uma ótima estratégia para associar o álcool à saúde e à diversão e fisgar usuários jovens. Isso, em longo prazo, terá impacto brutal no número de mortes no trânsito, agressões e doenças crônicas. (...) É absurdo que uma droga tão perigosa quanto o álcool tenha tanta liberdade para fazer publicidade claramente focada em jovens, sem controle algum." (262)
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"Pelo que se sabe, o fator mais determinante é 'cultura'. Cultura é o conjunto dos valores, dos anseios, das atitudes de uma sociedade. Hoje, de acordo com nosso sistema, a lei está contra a canábis. Mas a cultura, que é muito mais importante que a lei, está a favor. A tal 'cultura canábica' está por cima, bombando em festas, manifestações de rua e editoriais de jornais. Cada dia que passa, ela fica mais orgulhosa de si própria e ganha mais adeptos. 
Curioso é que a cultura pró-canábica se alimenta das leis anti-canábicas. Quanto mais nosso sistema é injusto, ineficaz, contraprodutivo, violento, estúpido, mais os defensores da canábis se enchem de um senso de indignação e tornam-se orgulhosos de sua causa." (265-266)
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"...só mesmo os utópicos fundamentalistas religiosos podem acreditar em livrar o mundo delas [drogas]. (...) Graças à proibição ultrarradical, atualmente as drogas matam mais, machucam mais e causam mais dano social que em qualquer época da história." (250) (...) "Hoje nossa sociedade atribuiu aos drogofóbicos o trabalho de proteger a sociedade das drogas. (...) Precisamos tirar os histéricos do poder, se queremos alguma racionalidade no mundo." (p. 264)
DENIS RUSSO BURGIERMAN, ex-diretor de redação da revista Superinteressante (Editora Abril),  em seu livro "O fim da Guerra: A Maconha e a Criação de um Novo Sistema Para Lidar com as Drogas" (Editora Leya, 2011).  

Mixtape Depredas #11 - Dezembro '11


Sem firula ou papo furado... aí vai mais uma mixtape recheada de raw power rocker, perfeito para banhar os neurônios com cataratas de eletricidade bruta e energia pulsante... A capinha é em homenagem ao 17º Goiânia Noise, ocorrido neste princípio de Dezembro/2011, que teve como uma de suas atrações o Museu dos Monstros, expositório de lobisómis, bruxas, vampiros e outras criaturas endemoniadas... Suba o volume e boa curtição!

          MIXTAPE # 11 - DEZEMBRO DE 2011 - PLAYLIST >>> 
01 - AC/DC - Shot Down in Flames (3:26)
02 - Paul Gilbert & Jimi Kidd - Girls Watching (3:46)
03 - Bêbados Habilidosos - Whisky & Blues (5:34)
04 - The Black Keys - Gold on the Ceiling (3:44)
05 - Sahara Hotnights - With or Without Control (3:34)
06 - Them Crooked Vultures - New Fang (3:48)
07 - Saco de Ratos - Boêmios Errantes (4:33)
08 - The Distillers - Ask The Angels (3:11)
09 - Supersuckers - My Kick-Ass Life (2:19)
10 - Forgotten Boys - Cumm On (3:28)
11 - The Detroit Cobras - Hittin' on Nothin' (2:12)
12 - The Kinks - Long Tall Sally (2:15)
13 - Mudhoney - Pump It Up (3:11)
14 - The Hot Rats - Drive My Car (2:23)
15 - Susan Tedeschi - Rock And Roll [featuring Double Trouble] (3:08)
16 - X - Crystal Ship (2:19)
           DOWNLOAD  (91 MB) >>>  http://www.mediafire.com/?tj3jcov5t0rdawv 

           mixtapes anteriores: DEZ ... NOVE ... OITO

           tiragosto / aperitivo:


 - Saco de Ratos - Boêmios Errantes

12 plays


”De pernas pro ar, vivo ao deus-dará,
meu melhor amigo é um balcão de bar
Vivo no perigo, procurando abrigo…
envelhecendo sem criar juízo...
um beat sem estrada mendigando um fim.
E quando for a hora, sei que não demora…
não quero ninguém rezando por mim!”
Mário Bortolotto, o Bukowski da dramaturgia brazuca,
esgoelando um blues boêmio… bem massa!

sábado, 17 de dezembro de 2011

É hoje! (17/12) - Gramofocas + Woolloongabbas


Você que é de Goiânia e arredores, fique ligado! A última festa da Fósforo Cultural em 2011 acontece neste sabadão (17/12) e a noite promete ser repleta de embriaguez, júbilo e empolgação. Os shows da noite são dos brasilienses do Gramofocas (que lançam seu novo álbum No Bar) e dos goianienses Woolloongabbas (que em breve soltam seu novo disco Na Estrada). A partir das 22h30, o som já começa a explodir alto-falantes afora com um DJ set timbrado. Glue there!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Neil Young - Discoteca Básica (Alguns Álbuns Essenciais!!!)


"After Neil Young left the California folk-rock band Buffalo Springfield in 1968, he slowly established himself as one of the most influential and idiosyncratic singer/songwriters of his generation. Young's body of work ranks second only to Bob Dylan in terms of depth, and he was able to sustain his critical reputation, as well as record sales, for a longer period of time than Dylan, partially because of his willfully perverse work ethic. From the beginning of his solo career in the late '60s through to the 21st century, he never stopped writing, recording, and performing; his official catalog only represented a portion of his work, since he kept countless tapes of unreleased songs in his vaults.
Just as importantly, Young continually explored new musical territory, from rockabilly and the blues to electronic music. But these stylistic exercises only gained depth when compared to his two primary styles: gentle folk and country-rock, and crushingly loud electric guitar rock, which he frequently recorded with the Californian garage band Crazy Horse. Throughout his career, Youngalternated between these two extremes, and both proved equally influential; there were just as many singer/songwriters as there were grunge and country-rock bands claiming to be influenced byNeil Young. Despite his enormous catalog and influence, Youngcontinued to move forward, writing new songs and exploring new music. That restless spirit ensured that he was one of the few rock veterans as vital in his old age as he was in his youth." - Stephen Thomas Erlewine (AMG All Music Guide)

DOWNLOAD >>> CLICK ON COVER 









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ENQUETE: Que outro álbum de Neil Young
você gostaria de ver disponibilizado por aqui?

(a) Harvest
(b) Tonight's the Night
(c) Rust Never Sleeps
(d) Freedom
(e) Mirror Ball (c/ Pearl Jam)
(f) outro...

Vote nos comments que corremos atrás de providenciar
aqueles que a voz do povo demandar!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Neil Young na aurora do grunge [Ragged Glory, 1990]


No alvorescer da década do Grunge, Neil Young cometeu um disco seminal: Ragged Glory (1990). Acompanhado pelos comparsas do Cavalo Doido, com quem já tinha gravado algumas das obras mais clássicas do rock setentista (colossos do quilate de Zuma, On The Beach e Everybody Knows This is Nowhere...), o canadense adentrou os anos 90 com esta obra magistral onde convivem várias tendências: a nostalgia e a melancolia, a amargura e o utopismo, a auto-afirmação triunfante e a auto-piedade lamentosa... Como toda obra-de-arte digna desse nome, Ragged Glory é um álbum ambíguo, complexo, irrotulável, fascinante...

É escancarado, em muitos trechos do álbum, um certo ímpeto nostálgico, típico de quem olha para o passado sessentista com doçura e sente falta do "all you need is love" dos Verões-do-Amor de outrora. Duas canções épicas apontam nesta direção - "Love to Burn" e "Love and Only Love" (ambas com mais de 10 min de duração) - nas quais Young celebra em fórmulas simples e marcantes um dos credos elementares da geração Hippie: "love was a winner there... overcoming hate!" Sem vergonha de soar extremadamente otimista, Young anuncia messianicamente que, apesar dos pesares, "love and only love will endure!"

Ecos da utopia hippie dos anos 60 marcam presença também em canções como "Mansion on The Hill", que retrata uma idílica comuna-na-montanha onde "a música psicodélica preenche o ar". "Peace and love live there still", canta Young, saudoso de uma amorosidade fraterna cujo destroçamento Lennon anunciou com seu "the dream is over"Pois Ragged Glory, como seu título sugere, não é apenas uma celebração otimista da Glória, mas também o lamento pelo esfacelamento de um sonho, pelos rasgos no tecido da Utopia outrora forjada em Verões do Amor, em cultos ao Poder da Flor... 

Young está longe de ser ingênuo ao cantar seus louvores ao amor e à paz: seu "romantismo" só é convincente, só soa tão autêntico, pois têm como pano de fundo uma outra tendência, esta bem mais crítica e reprovadora. Logo na primeira música, que ilumina bastante as razões de Young para seu estilo-de-vida um tanto recluso, de eremita em seu rancho, ele aponta sua gratidão por sua "casinha na roça" e pela possibilidade de caminhar por aí e se esquecer na paisagem: "I'm thankful for my country home, it gives me peace of mind. Somewhere I can walk alone and leave myself behind.

                       

Profundamente enraizado na cultura norte-americana mais roots (folk, country, blues; Whitman, Steinbeck, Thoreau...), Neil Young não sente-se bem-adaptado à vida nas grandes metrópoles, estes fervilhantes formigueiros humanos e selvas-de-concreto onde é impossível uma caminhada solitária e contemplativa - e onde as neuroses e a "Síndrome de Porco-Espinho" (Schopenhauer) são bem mais frequentes do que o "ideal" younguiano de peace of mind.



Cerca de 7 anos mais tarde, outro dos álbuns cruciais da década, OK Computer, traria esta sensação de sufocamento e asfixia com a megalópole para um novo paroxismo, com Thom Yorke lamentando-se: "vivo numa cidade onde não se pode sentir o aroma de nada... e andamos tomando cuidado com os cracks na calçada". Neil Young, em sua rancheira celebração da vida "caipira", próxima da terra e da vastidão elementar da Natureza, traz o bucolismo para o calor da hora e confronta, por esta via, o desenvolvimento cheio de efeitos colaterais das sociedades capitalistas/industriais. É só passar um tempinho numa grande cidade, canta Young, e logo vêm um enojamento, uma náusea, uma sensação de que "é preciso pensar para sorrir"... 

Michael Löwy, no seu magistral A Estrela da Manhã - Marxismo e Surrealismo, frisa as conexões que existem entre romantismo e crítica ao capitalismo, tendência que, me parece, estão intimamente vinculadas em Neil Young, este hopeless romantic que simplesmente não aceita engolir o aburguesamento mesquinho da existência. Como diz Löwy, o romanstimo não deve ser compreendido apenas como uma escola literária do século XIX, mas como
 “algo muito mais vasto e profundo: a grande corrente de protesto contra a civilização capitalista/industrial moderna, em nome de valores do passado, que começa no século XVIII com Rousseau e que persiste, passando pela Frühromantik alemã, pelo simbolismo e pelo surrealismo, até os nossos dias. Trata-se, como o próprio Marx já constatara, de uma crítica que acompanha o capitalismo como uma sombra a ser arrastada desde o seu nascimento até o dia (bendito) de sua morte. Como estrutura de sensibilidade, estilo de pensamento, visão do mundo, o romantismo atravessa todos os domínios da cultura – a literatura, a poesia, as artes, a filosofia, a historiografia, a teologia, a política. Dilacerado entre nostalgia do passado e sonho do porvir, ele denuncia as desolações da modernidade burguesa: desencantamento do mundo, mecanização, reificação, quantificação, dissolução da comunidade humana. Apesar da referência permanente à idade de ouro perdida, o romantismo não é necessariamente retrógado: no decorrer de sua longa história, ele conheceu tanto formas reacionárias quanto formas revolucionárias.” (pg. 83) 

Neil Young encarna como poucos compositores esta tensão entre a aspiração romântica pela harmonia fraterna e pelo amor entre os homens e a constatação amargurada de que a hostilidade, a guerra e a ganância não cessam de emperrar a concretização das utopias. As promessas de felicidade que não se cumprem conduzem a um estado de espírito que eu chamaria de grungy, uma espécie de rabugência mau-humorada que não é inteiramente desprovida de potencial revolucionário. Em "Fuckin' Up", por exemplo, Young esbraveja com fúria incontida sobre um desnorteio e uma falta de rumo típica de um "mindless drifter on the road" que não pára de se perguntar: "Why do I keep fuckin' up?" As guitarras desvairadas do Crazy Horse acompanham com um pandemônio estes ataques proto-nirvanescos, varrendo o romantismo e água-açúquice e instaurando um clima de catarse e revolta...

Como se pressentisse que um novo terremoto cultural seria deflagrado no rock norte-americano em pouco tempo, Neil Young cometeu em Ragged Glory certos temporais elétricos que "preparavam o terreno" para a tomada-de-assalto que viria, a partir de 1991, com Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden. Não é à toa que anos depois Young seria figurinha reverenciada publicamente por Eddie Vedder & cia, chegando a gravar um álbum inteiro - Mirrorball, de 1995 - tendo o P.J. como banda-de-apoio.


Esta tendência profética e antecipatória, que anuncia a emergência de algo mais bombástico, irado e revoltado nos horizontes da Cultura, às vésperas do estouro de 1991 (the year punk finally broke), é um dos charmes maiores de Ragged Glory. Mas no álbum também há uma faceta melancólica, de quem teme pelo destino da "Mother Earth", submetida aos caprichos insanos de homens-de-poder ególatras e cegos por ambições de enriquecimento... 

Os anos 80, convenhamos, foram uma desgraça para as carreiras de muitos artistas respeitáveis: as discografias de Bob Dylan, convertido ao cristianismo e à música gospel, e de Lou Reed, apostando no barulho arbitrário e na poesia blasé, sofrem uma decadência vertiginosa. Neil Young também não conseguiu manter a qualidade de seus trabalhos dos anos 60 e 70 na década de Reagan e Tatcher. Por isso Ragged Glory é também uma espécie de Triunfo Redentor, que reabilita Neil Young para a nova década e o transforma numa espécie de precursor do grunge. Na aurora do grunge, Neil Young volta a ser o maioral.

É como se Young tivesse chegado aos anos 90 com a vasta experiência acumulada de quem viveu na pele vários 
zeitgeits: a coloridice lúdica e libertária dos sixties, a pretensão megalômana e ególatra do prog, o levante rebelde (e às vezes niilista) do punk, o consumismo descerebrado e cocainômano dos yuppies, e agora estivesse, no limiar de uma renovação cultural iminente, prestando seu testemunho, portando-se como mentor, anunciando um evangelho... 

Neil Young, que sempre se declarou um peregrino "buscador" de um coração dourado ("keep on searchin' for a heart of gold... and I'm getting old..."), atinge com Ragged Glory uma espécie de cume de sua criação artística. Agindo com grande simplicidade e espontaneidade, Young parece deixar emanar de si, com rédeas soltas, versos e melodias, solos e refrões, desprendidos de uma criatura que o ouvinte sensível não falhará em reconhecer como pródigo e generoso, cálido e fraternal... Uma obra cheia de luz e saudade, ferida por eclipses de amargura, polvilhada de urros de fúria, nostálgica e profética em doses equivalentes, em que a glória rasgada de outrora alimenta o sonho de uma glória por vir... Como toda grande obra-de-arte, Ragged Glory soa como a tentativa de um artista objetivar, fora-de-si, uma espécie de síntese de sua sabedoria.


Ragged Glory (1990) [download]

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Susan Tedeschi - Discografia Completa


6 plays

Susan Tedeschi (vox) & Kenny Wayne Sheperd (gtr)
tocando "Rock and Roll" do Led Zeppelin.
Maravilha de sonzeira! E que GOGÓ!

DISCOGRAFIA quase COMPLETA
(S. TEDESCHI )
Better Days (1995) [baixar]
Just Won't Burn (1998) [baixar]
Wait for Me (2002) [baixar]
Hope and Desire (2005) [baixar]
Back to the River (2008) [baixar]

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Black Keys - Discografia Completa


THE BLACK KEYS


BIOGRAPHY
by Stephen Thomas Erlewine (AMG)

It’s too facile to call the Black Keys counterparts of the White Stripes: they share several surface similarities -- their names are color-coded, they hail from the Midwest, they’re guitar-and-drum blues-rock duos -- but the Black Keys are their own distinct thing, a tougher, rougher rock band with a purist streak that never surfaces in the Stripes. But that’s not to say that the Black Keys are blues traditionalists: even on their 2002 debut, The Big Come Up, they covered the Beatles’ psychedelic classic “She Said She Said,” indicating a fascination with sound and texture that would later take hold on such latter-day albums as 2008’s Attack & Release, where guitarist Dan Auerbach and drummer Patrick Carney teamed up with sonic architect Danger Mouse. In between those two records, the duo established the Black Keys as a rock & roll band with a brutal, primal force, and songwriters of considerable depth, as evidenced on such fine albums as 2003’s Thickfreakness and 2004’s Rubber Factory.

Natives of Akron, Ohio, the Black Keys released their debut, The Big Come Up, in 2002, receiving strong reviews and sales, and leading to a contract with Fat Possum by the end of the year. That label released Thickfreakness, recorded in a 14-hour session, in the spring of 2003, and the Keys supported the album with an opening tour for Sleater-Kinney. The Black Keys' momentum escalated considerably with their 2004 album Rubber Factory, which not only received strong reviews but some high-profile play, including a video for “10 A.M. Automatic” featuring comedian David Cross. The band’s highly touted live act was documented on a 2005 DVD, released the same year as Chulahoma -- an EP of blues covers -- appeared. The Black Keys made the leap to the major labels with 2006’s Magic Potion, a moodier record that continued to build the group’s base. The band capitalized on that moodiness on 2008’s Attack & Release, whose production by Danger Mouse signaled that the Black Keys were hardly just blues-rock purists. Salvaged from sessions intended as a duet album with Ike Turner, who died before the record could be finished, the album was the Black Keys' biggest to date, debuting in the Billboard Top 15 and earning strong reviews. 
Following their second live DVD, the Black Keys spent 2009 on side projects, with Auerbach releasing his solo album Keep It Hid in the beginning of the year, and Carney forming the band Drummer, in which he played bass. At the end of 2009, Blackroc, a rap-rock collaboration between the band and producer Damon Dash, appeared. Brothers, released the following year, saw the Keys returning to their tough blues roots with a new grandness, earning three Grammy Awards, landing on year-end lists from NPR to Rolling Stone, and going gold. The band offered a more straight-ahead rock & roll sound with 2011's El Camino.  


2008 - Attack & Release [dwld]

2010 - Brothers [dwld]

2006 - Magic Potion [dwld]

2002 - The Big Come Up [dwld]

2011 - El Camino [dwld]

2003 - Thickfreakness [dwld]

2004 - The Rubber Factory [dwld]


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Em Cartaz no... http://depredando.tumblr.com






 





As atualizações por aqui estão meio largadas, mas continuam intensas no nosso Tumblr, que já tem mais de 550 posts exploráveis através do nosso Baú de Guardados. Outros tumblrs bacanas que tenho espiado e curtido (recomendo uma conferida...): Abstinência Cerebral, Ghost in the MachineFome de Tudo, SosyalistSenso Crítico, HoneybooNameless Here For EvermoreDubpsychosisRe-discando, Innespeakin, Youth Against Fascism, Heitor Airplane, Poesia Brasileira...

Suor Elétrico


(Atende pelo nome de "Mooney Suzuki" um bando de garageiros descontrolados nova-yorkinos que já devem ter sofrido altas perdas audititivas de tanto tocar com amplis no talo. Electric Sweat, disco de 2002, foi gravado em Detroit ["birthplace of dirty rock'n'roll"], num estúdio por onde já passaram White Stripes e Jon Spencer Blues Explosion, e honra a tradição encardida do MC5 e dos Stooges. Vale conferir! Dica do Pedrin' Bang Bang.)


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