domingo, 26 de outubro de 2008

:: Kathryn Williams ::


KATHRYN WILLIAMS


"Her songs possess a magical quality made from sly, artful yet soulful contrasts. Her still, pretty voice delivering words that draw blood. Pastoral pop melodies that look at people with a modernist eye while spinning imagery from the natural world. Songs about liars, dogs, betrayals, depression, confusion and a quiet, seething hatred that pin down the true nature of love. The kind of music that reveals more dimensions with each listen, that stills drunk crowds into reverent silence, that seduces people that thought they'd had enough of singer-songwriters, especially female ones with acoustic guitars and sweet voices." - CRUD MAGAZINE

"It takes a lot of nerve to sing quiet stuff that people have to listen to in a live setting. I've lost my nerve and run a few times but I think there is too much big music around. Everyone wants to be the next big thing - where are the little precious things? The quiet love, the stillness and breathing?" - KATHRYN WILLIAMS

Little precious things. Taí uma ótima expressão para descrever as pérolas de melancólica beleza e tonalidade outonal que Kathryn Williams vem cometendo nestes últimos anos. Músicas de uma lindeza tão cortante e pungente que você se espanta perguntando: como ela tira tanta luz do poço de escuridão?

"What's the day without the night to give it birth?", canta ela no primeiro álbum, Dog Leap Stairs (1999), disco de infinita tristeza, que inaugura uma carreira de uma artista que irá evoluindo em direção a um certo alívio da tensão e de uma serenidade em meio à dor, mas que vai permanecer sempre um tanto cabisbaixa e subnutrida de alegria. Chegando à Revelations, seu álbum de 2004, vê-se o quanto ela alçou vôo: aquela mocinha extremamente insegura, dolorida e carente do primeiro álbum já se mostra bem mais à vontade em sua própria pele, gravando inclusive uma das coisas mais sexies que já se ouviu ("A Guy Who Takes his Time"). Como se sua própria música tivesse sido uma excelente temporada de psicoterapia.

Essa inglesa, nascida em 1974 na cidade dos Beatles, é mais uma esplêndida flor que cresce do solo de Liverpool. Se me perguntarem, Kathryn Williams é, apesar de um tanto obscura, uma das melhores cantoras-compositoras nascidas nesta década - e com uma discografia de meia-dúzia de discos sempre de alta qualidade. Tímida, discreta, sutil, introspectiva, Kathryn faz um folk sépia acizentado, de uma beleza ímpar, que remete a Nick Drake, Joni Mitchell, Nina Simone, Kings of Convenience, Aimee Mann e coisas parecidas. Ela já participou de um tributo à música de Tim e Jeff Buckley, já gravou musiquetas infantis para uma coleta que tem até Franz Ferdinand e Flaming Lips e já soltou um álbum só de covers sensacional.

Gosto de tentar traçar paralelos e encontrar divergências entre as mais brilhantes compositoras atuais. Enquadrar Kathryn Williams na "turma". A Fiona Apple, por exemplo, sempre carrega a mão no drama, no amargor e na catarse de ressentimentos amorosos mau digeridos. A Aimee Mann me parece mais doce, comportada, incapaz de abandonar um clima angelical mesmo quando está despedaçando os homens com palavras cáusticas. Já a Regina Spektor é mestra em ser lúdica, brincalhona e bem-humorada nas letras e na pronúncia das palavras, e sua dor é sempre muito bem canalizada, expressa por alguém de personalidade sólida, segura e difícil de abalar.

Neste quadro, a Kathryn Williams, uma mulher bem menos atraente que todas elas, sem o mínimo sex appeal para brilhar no mainstream belezocêntrico, aparece muito mais como uma deprimida outcast social, daqueles que nunca foi chamada para uma date pelos bonitões da escola e que teve que fabricar um caminho todo próprio para se valorizar. A carência afetiva é o que deixa impregnada de melancolia muitas das músicas dela e que parece ser uma espécie de traço distintivo. Como toda garota que não nasceu com um visual de cheerleader ou de coelhinha da Playboy, Kathryn parece nunca se sentir totalmente à vontade em sua própria pele. As personagens de suas músicas talvez encarnem seus próprios medos e neuroses: como a mocinha de "No One Takes You Home", que por mais que se pinte, se vista com lindas roupas e se perfume, não consegue ser levada para casa. É com um infinito desconsolo que ela canta: "You got to doctors to see if it's a medical problem / Cause no one takes you home." Sem meias palavras, ela traz à tona também o desengonço frente ao desnudamento na frente de um homem ("she thought if she took off her clothes / she could score men by embarassment"). Já em "Toocan", o tom suplicante e infinitamente carente é o que domina versos tão solitários e tão sonhadores - como: "Please, let me wake up one day and find myself found."

Em seu lindíssimo álbum de covers, Relations, ela consegue passear por músicas alheias (de Leonard Cohen, Neil Young, Big Star e Pavement, entre outros) com um raro senso de simultaneamente respeitar/homenagear e fazer-a-música-sua. Em sua releitura de "Candy Says", do Velvet Underground, canta os primeiros versos conseguindo encarná-los melhor do que Lou Reed jamais poderia: "Candy says 'I've come to hate my body / And all that it requires / In this world'." Já na lindíssima cover de "All Apologies", parece que incorpora as palavras imortais de Kurt Cobain de modo que elas soam completamente autênticas - como, quando ela canta, de modo tão tocantemente eficiente, o célebre "I wish I was like you, easily amused...".

E, por falar em Kurt Cobain, apesar de não haver qualquer semelhança sonora entre Nirvana e Kathryn Williams, uma certa proximidade espiritual pode ser percebida, principalmente numa certa melancolia desconsolada à qual Kathryn parece ter se acomodado, como se encarnasse aquele "comfort in being sad" que Kurt dizia sentir saudades de sentir. Por isso definir a música de Kathryn como "triste" seja algo simplista e mutilador: a música dela é capaz, sim, de confortar, aliviar, ninar, espantar, acariciar - e até mesmo alegrar.

Na primeira faixa de sua obra prima Old Low Light, ela se pergunta: "if heaven and hell / were all in the same place / would fences appear?" A grande "sacada" de Kathryn Williams parece ter sido a de que céu e inferno coexistem em todo lugar, inclusive dentro de cada um de nós, e que o artista deve criar a menor quantidade possível de cercas dentro de si, sem condenar ao exílio tudo de sombrio, lacrimejante ou torto que nota em sua galáxia interior - coisas que, na verdade, merecem ser expressadas tanto quanto o que é direito e contente.

(Depredando destaca 4 discos essenciais da discografia da moça:)

1999 - "Dog Leap Stairs"
http://www.mediafire.com/?mc35ew3xqvr


2000 - "Little Black Numbers"
http://www.mediafire.com/?jrnpxxwnj1f
FAIXA A FAIXA comentadas pela própria K.W. aqui.



2002 - "Old Low Light"
http://www.mediafire.com/?ozqreasvc0r



2004 - "Relations"
http://www.mediafire.com/?xmt001hmhod


:: entrevista ::



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Um comentário:

Anônimo disse...

Kathryn: Simplemente fantástica!

Muito obrigado pelo excelente trabalho na divulgação destes conteúdos e parabéns pelo blog!


abraço