quarta-feira, 29 de outubro de 2008

:: WARNING for MALES: assistam de babador! ::



Ai, ai. Que coisinha mais linda. Completa perdição. Uma estrada para o pecado. Um ser humano para contemplação mística apaixonada. Alimento para amores platônicos de infinita intensidade. Quase uma prova da existência de Deus! Se uma linda mulher segurando uma guitarra já é um espetáculo que costuma ser sexy, imagina quando se trata do xuxuzinho da Feist, em Paris, ao vivo e a cores (e que cores!), cantando uma das minhas músicas prediletas: "Secret Heart". Ai, ai.

Secret heart, what are you made of?
What are you so afraid of?
Could it be three simple words?
Or the fear of being overheard?

(What's wrong?) Let em' in on your secret heart!

Secret Heart, why so mysterious?
Why so sacred, Why so serious?
Maybe you're just acting tough.
Maybe you're just not man enough

(What's wrong?) Let em' in on your secret heart!

This very secret that you're trying to conceal
Is the very same one that You're dying to reveal
Go tell him how you feel

Secret heart, come out and share it
This loneliness, few can bear it
Could it have something to do with
Admitting that you just can't go through it alone?

Let em' in on your secret heart

Go out and share it
This very secret heart.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

:: Buddy Guy ::

BUDDY GUY,
Stone Crazy!

por ADALTO ALVES

Eu fiquei alucinado quando ouvi Stone Crazy!, do Buddy Guy, pela primeira vez. Não lembro quando foi, juro. Parece engraçado. Esses choques na medula costumam ser marcantes, a ponto de determinar um ritual de passagem, do tipo eu nunca mais fui o mesmo ou algo parecido. Talvez eu tenha ficado tão atordoado que detalhes insignificantes, como data, horário, país, planeta ou a cotação do dólar tenham sido esquecidos de uma vez por todas.

Mas, se eu não me lembro quando foi que ouvi Stone Crazy! pela primeira vez, uma coisa é certa: eu nunca mais deixei de ouvi-lo. Ouço exatamente agora, enquanto escrevo, procurando, quem sabe, pela circunstância excepcional, recuperar aquela primeira impressão. Não é fácil, tanta água passou debaixo da ponte de lá para cá, tantas transformações ocorreram no mundo, na minha cidade, na minha cabeça, que eu não pareço mais o mesmo. Às vezes, nem sequer me reconheço. Mas a emoção de ouvir Stone Crazy!, se também sofreu mudanças, nunca deixou de ser forte o bastante para me aproximar de Buddy Guy.

Ele é o único sujeito no mundo que eu chamo de ídolo. O que não é pouco. Eu tinha um pôster do Elvis Presley no meu quarto quando era criança, e o primeiro disco da minha vida foi um compacto duplo de Elvis (com "Heartbreak Hotel", "Hound Dog", "Love Me Tender" e "Jailhouse Rock"), que veio encartado no primeiro número da revista Rock Espetacular, que me apresentou, aos 8 anos de idade, no Rio Grande do Sul, as caras e bocas de Bill Haley, Little Richard, The Beatles, Bob Dylan e que tais. A semente estava plantada. E por mais que, com o passar do tempo, eu tenha aprendido a admirar tanta gente boa e, neste caso, citar nomes seria odioso, Buddy Guy tornou-se para mim, a partir de Stone Crazy!, um fenômeno de proporções inquestionáveis. Não importa o que ele faça num disco, qualquer disco, eu estarei lá para aplaudi-lo.

Mas não se preocupem comigo. Eu gosto da música do Buddy Guy. Não sou o tipo do cara que monta fã-clube, faz página virtual para divulgar as curiosidades do artista, guarda álbum com fotos, caça autógrafos (e já estive perto o suficiente), compra bugigangas com a identificação do malandro ou não sabe falar de outra coisa.

Eu não sei se o Buddy Guy é casado, onde mora, quantos filhos tem, se vai ao dentista duas vezes por ano ou em que loja compra suas roupas. Nem quero saber. O que me interessa de verdade é que, aos 60 e tantos anos, ele gravou uma pancada na moleira magistral, chamada Sweet Tea. Mas eu quero falar de Stone Crazy!, que, se não salvou a minha vida a noite passada, me deu vontade de continuar vivo. Se o blues, comumente associado com a tristeza, tem o poder de me deixar feliz, é porque há mistérios na existência que não podem ser resumidos em fórmulas prontas (e gastas). Aprendam isso com o titio, crianças.





Eu cheguei ao Buddy Guy por vias tortas. Culpa do Eric Clapton. Chique, não é? Estava numa fase em que o gargalo do pós-punk, com suas especiarias góticas e apetrechos de brechó acumulados na penteadeira glitter, me dava o impulso de gritar: manera, Frufru, manera. A viadagem daquele tempo não caía muito bem nos ouvidos de quem tinha sido criado na escola do hard rock. Muito menos uma certa pose melancólica, deprimida e suicida, que gerou equívocos monumentais. Aquilo era muito chato. Eu também não tinha rebolado a pança nas pistas das discotecas, de modo que me faltava, como falta, apesar dos esforços em contrário, a sensibilidade adequada para entrar em sintonia com aquelas canções regidas por sintetizadores. Hoje pode soar ridículo, mas, na virada dos anos 70 para os 80, havia uma trincheira que separava os bad boys do heavy metal daqueles rascunhos de metrossexuais que borravam a cara de maquiagem e usavam penteados estrambóticos.

Eu nunca fui de achar o maior barato as guitarras distorcidas, acompanhadas por berros ensurdecedores e marteladas na bateria, ainda mais quando radicalizadas em feições trash, death, black e o diabo a quatro, mas entre as duas escolhas eu me posicionava entre os adeptos dos dedinhos em riste imitando chifrinhos, ai, ai. Que remédio? Não vou entrar na onda de comentar todo aquele período. Esse testo é movido mais pela paixão da lembrança do que pela razão da análise. Mas foi essa confluência básica, que colocava o rock numa encruzilhada (e a gente não imaginava o que viria pela frente), que me levou a procurar alternativas.

Foi quando encontrei, numa resenha do André Mauro, e aqui faço justiça ao meu guru na crítica de rock (um cara nunca citado, que alimentou a minha cabeça um bom par de anos e me fez pensar, definitivamente, em ser jornalista), uma fala atribuída ao Eric Clapton. Ele, Clapton, dizia que, no começo de carreira, ficava curioso para conhecer aqueles nomes que apareciam nos agradecimentos das contracapas dos discos de rock que chegavam dos Estados Unidos.

Nomes esquisitos como Muddy Waters, Willie Dixon, Howlin' Wolf (para mencionar uma trindade umbilical). E se o Clapton, que eu tinha em alta conta, ficou curioso, eu também fiquei (valeu, André Mauro). Resolvi, àquela altura do campeonato, embolado no meio de campo, correr atrás dos bluesmen. Seria uma forma agradável de gastar meu rico dinheirinho. Já que eu ainda não tinha muita coragem e paciência para mergulhar nas águas turvas do jazz, ficaria pelo menos na pré-história do rock.

Sábia decisão. Depois de atolar os pés nas margens barrentas do rio Mississipi, acabei atolado até o pescoço. Fiquei anos seguidos ouvindo preferencialmente blues de todas as vertentes, inclusive o brasileiro (ou aquele feito no Brasil). Até cheguei, em Goiânia, a manter um programa do gênero numa FM. Foi num disco do Muddy Waters, o fabuloso The Folk Singer, de 1963 (o ano em que eu nasci), "oh, my home is in the delta", que dei de cara com o Buddy Guy, então um moleque magricela, espremido entre o monstro sagrado Waters e o corpanzil de guarda-roupa, equivalente ao baixo acústico, de Willie Dixon, bem na capa. Não dei muita bola para aquele desconhecido. Mas logo na primeira faixa aquele moleque desgraçado aprontou uma comigo que eu nunca esqueci. Me arrepio só de pensar. A 1minuto e 3 segundos, ele começou a modular uma sequência aguda que foi me tirando o fôlego, sob as frases de Waters.


Aquilo foi numa tensão crescente. E eu no barco, boquiaberto. A 1 minuto e 34 s, ele arremata o acorde com uma tirada genial, simples, certeira, inacreditável em sua beleza. Pronto, bastou. Na hora, eu pensei: esse cara é um dos melhores guitarristas que eu conheço no mundo. Por conta de 30 segundos soberbos, espetaculares, que me tiraram do sério. Aos quais eu sempre volto, por Waters, por Dixon, por Buddy Guy, por mim.

O nome de Buddy Guy ficou gravado na memória. Mas ele não desfrutava, como desfruta hoje, da merecida atenção dos brasileiros, como um autêntico embaixador do blues, ao lado de B.B. King. Tarefa iniciada, salvo engano, em 1985, no 150 Night Club, em São Paulo. O esmo bar de um hotel cujo nome escapa pela contramão da lembrança, que também recebeu, suprema dádiva, a iluminada Alberta Hunter.

Quando Buddy Guy lá esteve pela primeira vez, com o chapa inseparável Junior Wells, eu morava em Tucuruí, no Pará. Trabalhava numa estação climatológica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que ficava ao lado da estação repetidora de televisão da verdadeira cidade, construída no meio do nada, para abrigar os trabalhadores das diversas empresas envolvidas na construção do que chamávamos de a maior hidrelétrica do Brasil. Longe demais das capitais.

Não sei por quê, uma bela noite, eu me infiltrava clandestinamente na estação repetidora, com a cumplicidade do amigo de plantão, para ver, creio que na Bandeirantes, imagens do show do Buddy Guy no 150 Night Club. Não lembro por quê, no equipamento privilegiado da estação, nós tínhamos acesso a algo que seria vedado ao comum dos mortais. Mas lembro que, mandando bala numas cervejinhas, eu vi Buddy Guy em ação pela primeira vez. Cara, foi outro choque. O figura não se limitou em ficar no palco. Desceu, soltou a voz no meio da platéia de almofadinhas, biritou nos drinques das mesas, colocou a guitarra no colo de uma mulher e, de sacanagem, fez o intrumento gemer. Sempre sorrindo. Feito maior para meus olhos esbugalhados: começou a solar feito um louco, atravessou o ambiente e entrou no banheiro. As câmeras atrás dele, Buddy Guy foi tocar guitarra para algum maluco chapado. Então descobri que Buddy Guy era meu ídolo.

Quatro anos depois, eu trabalhava como locutor de uma loja de departamento em Goiânia. (Quando fui fazer o teste, e disse que gostava de rock'n'roll, o filho-da-puta do gerente perguntou o nome do disco novo do Pink Floyd e eu não sabia, porque não era mais Pink Floyd, era o combo caça-níqueis do David Gilmour, sem Roger Waters. Como meu teste ficou marcado para mais tarde, eu decorei a porcaria do nome da porcaria do disco, que tinha aquele monte de camas espalhado numa praia, e anunciei, já no microfone, como oferta na discoteca. Consegui o emprego.) Fiquei sabendo então que Buddy Guy seria uma das atrações do primeiro festival internacional de blues de Ribeirão Preto. Pirei.

Cheguei no gerente geral e disse que iria a esse festival de qualquer maneira. Se ele não me desse licença, eu pediria demissão (era solteiro, morava com os pais, e ainda podia me dar ao luxo de ser irresponsável). Para minha imensa surpresa, ele não somente me liberou, como conseguiu ingressos para os cinco dias de shows, de graça, e um barraco para eu dormir, porque ele tinha um imrão, vereador, em Ribeirão Preto. Isso é que é sorte. Gente finíssima, o seu Marçal. Um abraço para ele e minha eterna gratidão (se ainda for vivo e chegar a ler isso).

Eu não apenas vibrei com o show do Buddy Guy (que, em certo momento, trocou toda a sua banda por músicos que o assistiam nos bastidores, saindo de cena, e deu uma tremenda força para o Flávio Guimarães, gaitista do Blues Etílicos, que abriu o festival, chamando-o ao palco), como tive o prazer de ver Junior Wells e Albert Collins, hojé falecidos, Magic Slim e Etta James. André Cristovam, posudo, miou em falso. Nunca mais voltei a um show do Buddy Guy no Brasil, e olha que, vira e mexe, ele aparece. Mas tenho seus discos, às pencas, de muitas fases e descobertas. E o vídeo do The Real Deal, ao vivo, lá no boteco que ele tem em Chicago, o Legends, com o branquelo do G. E. Smith.

Buddy Guy, para mim, é o autêntico responsável pela transição do blues tradicional para o blues moderno. Ele adotou tecnologias sem medo, potencializou o som de sua guitarra, que tem voz própria, identificável à distância, apurou o vocal de shouter e tem uma performance dinâmica e explosiva, sem perder um só segundo a linguagem primordial do blues. Como influência confessa de Jimi Hendrix, ele tem trânsito livre com o pessoal do rock. Depois de gravar com B. B. King e voltar a Robert Johnson, Clapton jura que vai gravar com ele. Passadas as mortes recentes de John Lee Hooker, Stevie Ray Vaughan e Junior Wells, Buddy Guy, com B. B. King, Otis Rush, John Mayall e uns poucos, apresenta-se como um dos últimos bastiões de uma época e de uma linhagem nobre. O blues não vai morrer, penso eu, embora muitos o vejam num beco sem saída. Mas certamente ficará mais pobre com a partida de Buddy Guy.



O que me leva a ressaltar a importância de Stone Crazy!, ainda hoje o meu disco preferido de Buddy Guy, lançado em 1981 pela célebre Alligator Records. "I Smell a Rat", de 9 minutos e meio, pega o ouvinte pelo pescoço. Começa com um urro de Buddy Guy e um imediato solo desenfreado de uma guitarra possessa e desequilibrada. Quando Buddy Guy começa a cantar, é a guitarra do irmão, Phil Guy, que segura o dedilhado e toda a base em todo o disco, para ele alçar vôo tranqüilo.

É bom lembrar que a banda enxuta se sustenta em J. W. Williams (baixo) e Ray Allison (bateria). A produção é de Didier Tricard. São 6 faixas, distribuídas ao longo de pouco mais de 40 minutos, como nos tempos originais do LP. Tudo fruto de uma urgência selvagem e de uma aspereza inqualificáveis. "Are You Losing Your Mind?", pergunta ele na 2a faixa. A resposta é sim, se você continuar espancando a guitarra desse jeito. Buddy Guy solta uivos enquanto sola, exatamente como no palco, onde a posição do microfone não é marca fundamental para mantê-lo parado. A voz atinge graus elevados de convicção absoluta. E pouco importa se você sabe inglês, porra. Eu falo de algo que transcende o bom senso, as boas maneiras e os belos padrões exigidos pelo mercado na hora de fazer sucesso e encantar as multidões (com playbacks, fogos de artifício, coreografias exaustivamente ensaiadas, jogo de luzes e troca de figurinos).

O que temos em Stone Crazy! é um músico extraordinário e um cantor arrebatado pelo blues, incapaz de conter o jorro da adrenalina. Se ele não consegue, por que eu deveria? Experimente você. A menor faixa do disco, "She's Out There Somewhere", dura 4 minutos e 26 segundos. parece que dou muita importância ao cronômetro. Não é verdade. Eu só quero dizer que esse tempo todo é gasto em descargas de alta voltagem, sem nenhuma excrescência. "Outskirts Of Town", que mais se aproxima da idéia pré-concebida que a maioria tem de um blues, por ser lenta e chorosa, transborda urbanidade cosmopolita e desesperada.

Stone Crazy! oscila, em suas características, do silêncio ao barulho enfezado. "When I Left Home" vai do gemido ao grito sem escalas intermediárias. Buddy Guy persegue extremos como não o vi perseguir em outros títulos com tamanhas entrega, sem se poupar. Há passagens em que Stone Crazy! se assemelha a um ensaio da banda, com Allison pontuando as lafas e enfatizando as explosões. Termina com Buddy Guy, num lamento onomatopaico ou péico ou o raio que o parta. Shit! Se eu estou triste, Stone Crazy! levanta meu astral, e se estou alegre, o disco mejoga ainda mais para cima. E dizem, os pobres coitados, que o blues é deprê. Ora, vão ouvir The Cure e me deixem em paz. Buddy Guy é o máximo!

TRACKLIST:

1 - I Smell a Rat (9:13)
2 - Are You Losing Your Mind? (6:37)
3 - You've Been Gone Too Long (5:41)
4 - She's Out There Somewhere (4:33)
5 - Outskirts of Town (8:09)
6 - When I Left Home (8:20)

DOWNLOAD (40 MB):
http://www.mediafire.com/?dwl1n2utkmm

(texto extraído do livro Noite Passada Um Disco Salvou Minha Vida, ed. Geração Editorial, organização de Alexandre Petillo, DIGITADO ARDOROSAMENTE pela Equipe Depredando de Benfeitorias Sônicas. Alguma datilógrafa gostosa quer vir trabalhar pra gente? Pagamos em breja!)

domingo, 26 de outubro de 2008

:: Kathryn Williams ::


KATHRYN WILLIAMS


"Her songs possess a magical quality made from sly, artful yet soulful contrasts. Her still, pretty voice delivering words that draw blood. Pastoral pop melodies that look at people with a modernist eye while spinning imagery from the natural world. Songs about liars, dogs, betrayals, depression, confusion and a quiet, seething hatred that pin down the true nature of love. The kind of music that reveals more dimensions with each listen, that stills drunk crowds into reverent silence, that seduces people that thought they'd had enough of singer-songwriters, especially female ones with acoustic guitars and sweet voices." - CRUD MAGAZINE

"It takes a lot of nerve to sing quiet stuff that people have to listen to in a live setting. I've lost my nerve and run a few times but I think there is too much big music around. Everyone wants to be the next big thing - where are the little precious things? The quiet love, the stillness and breathing?" - KATHRYN WILLIAMS

Little precious things. Taí uma ótima expressão para descrever as pérolas de melancólica beleza e tonalidade outonal que Kathryn Williams vem cometendo nestes últimos anos. Músicas de uma lindeza tão cortante e pungente que você se espanta perguntando: como ela tira tanta luz do poço de escuridão?

"What's the day without the night to give it birth?", canta ela no primeiro álbum, Dog Leap Stairs (1999), disco de infinita tristeza, que inaugura uma carreira de uma artista que irá evoluindo em direção a um certo alívio da tensão e de uma serenidade em meio à dor, mas que vai permanecer sempre um tanto cabisbaixa e subnutrida de alegria. Chegando à Revelations, seu álbum de 2004, vê-se o quanto ela alçou vôo: aquela mocinha extremamente insegura, dolorida e carente do primeiro álbum já se mostra bem mais à vontade em sua própria pele, gravando inclusive uma das coisas mais sexies que já se ouviu ("A Guy Who Takes his Time"). Como se sua própria música tivesse sido uma excelente temporada de psicoterapia.

Essa inglesa, nascida em 1974 na cidade dos Beatles, é mais uma esplêndida flor que cresce do solo de Liverpool. Se me perguntarem, Kathryn Williams é, apesar de um tanto obscura, uma das melhores cantoras-compositoras nascidas nesta década - e com uma discografia de meia-dúzia de discos sempre de alta qualidade. Tímida, discreta, sutil, introspectiva, Kathryn faz um folk sépia acizentado, de uma beleza ímpar, que remete a Nick Drake, Joni Mitchell, Nina Simone, Kings of Convenience, Aimee Mann e coisas parecidas. Ela já participou de um tributo à música de Tim e Jeff Buckley, já gravou musiquetas infantis para uma coleta que tem até Franz Ferdinand e Flaming Lips e já soltou um álbum só de covers sensacional.

Gosto de tentar traçar paralelos e encontrar divergências entre as mais brilhantes compositoras atuais. Enquadrar Kathryn Williams na "turma". A Fiona Apple, por exemplo, sempre carrega a mão no drama, no amargor e na catarse de ressentimentos amorosos mau digeridos. A Aimee Mann me parece mais doce, comportada, incapaz de abandonar um clima angelical mesmo quando está despedaçando os homens com palavras cáusticas. Já a Regina Spektor é mestra em ser lúdica, brincalhona e bem-humorada nas letras e na pronúncia das palavras, e sua dor é sempre muito bem canalizada, expressa por alguém de personalidade sólida, segura e difícil de abalar.

Neste quadro, a Kathryn Williams, uma mulher bem menos atraente que todas elas, sem o mínimo sex appeal para brilhar no mainstream belezocêntrico, aparece muito mais como uma deprimida outcast social, daqueles que nunca foi chamada para uma date pelos bonitões da escola e que teve que fabricar um caminho todo próprio para se valorizar. A carência afetiva é o que deixa impregnada de melancolia muitas das músicas dela e que parece ser uma espécie de traço distintivo. Como toda garota que não nasceu com um visual de cheerleader ou de coelhinha da Playboy, Kathryn parece nunca se sentir totalmente à vontade em sua própria pele. As personagens de suas músicas talvez encarnem seus próprios medos e neuroses: como a mocinha de "No One Takes You Home", que por mais que se pinte, se vista com lindas roupas e se perfume, não consegue ser levada para casa. É com um infinito desconsolo que ela canta: "You got to doctors to see if it's a medical problem / Cause no one takes you home." Sem meias palavras, ela traz à tona também o desengonço frente ao desnudamento na frente de um homem ("she thought if she took off her clothes / she could score men by embarassment"). Já em "Toocan", o tom suplicante e infinitamente carente é o que domina versos tão solitários e tão sonhadores - como: "Please, let me wake up one day and find myself found."

Em seu lindíssimo álbum de covers, Relations, ela consegue passear por músicas alheias (de Leonard Cohen, Neil Young, Big Star e Pavement, entre outros) com um raro senso de simultaneamente respeitar/homenagear e fazer-a-música-sua. Em sua releitura de "Candy Says", do Velvet Underground, canta os primeiros versos conseguindo encarná-los melhor do que Lou Reed jamais poderia: "Candy says 'I've come to hate my body / And all that it requires / In this world'." Já na lindíssima cover de "All Apologies", parece que incorpora as palavras imortais de Kurt Cobain de modo que elas soam completamente autênticas - como, quando ela canta, de modo tão tocantemente eficiente, o célebre "I wish I was like you, easily amused...".

E, por falar em Kurt Cobain, apesar de não haver qualquer semelhança sonora entre Nirvana e Kathryn Williams, uma certa proximidade espiritual pode ser percebida, principalmente numa certa melancolia desconsolada à qual Kathryn parece ter se acomodado, como se encarnasse aquele "comfort in being sad" que Kurt dizia sentir saudades de sentir. Por isso definir a música de Kathryn como "triste" seja algo simplista e mutilador: a música dela é capaz, sim, de confortar, aliviar, ninar, espantar, acariciar - e até mesmo alegrar.

Na primeira faixa de sua obra prima Old Low Light, ela se pergunta: "if heaven and hell / were all in the same place / would fences appear?" A grande "sacada" de Kathryn Williams parece ter sido a de que céu e inferno coexistem em todo lugar, inclusive dentro de cada um de nós, e que o artista deve criar a menor quantidade possível de cercas dentro de si, sem condenar ao exílio tudo de sombrio, lacrimejante ou torto que nota em sua galáxia interior - coisas que, na verdade, merecem ser expressadas tanto quanto o que é direito e contente.

(Depredando destaca 4 discos essenciais da discografia da moça:)

1999 - "Dog Leap Stairs"
http://www.mediafire.com/?mc35ew3xqvr


2000 - "Little Black Numbers"
http://www.mediafire.com/?jrnpxxwnj1f
FAIXA A FAIXA comentadas pela própria K.W. aqui.



2002 - "Old Low Light"
http://www.mediafire.com/?ozqreasvc0r



2004 - "Relations"
http://www.mediafire.com/?xmt001hmhod


:: entrevista ::



SAIBA MAIS: MYSPACE --- SITE OFICIAL --- ENTREVISTA NA NICKDRAKE.COM ---

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

:: cérebro eletrônico ::


CÉREBRO ELETRÔNICO
, Pareço Virtual (EP)


"Somos rapazes de família – apenas parecemos modernos – e por essa razão não costumamos dar nada no primeiro encontro. Não se trata de moralismo religioso ou capitalista, apenas de um mecanismo de molas que se contrai para armazenar força e então expandir plenamente. Pois é somente depois de estabelecida certa intimidade que tem início o processo de concessão e abertura de certos limites. O resto é apelido carinhoso, planejamento familiar, contas a pagar e reformas da sala.

Estamos íntimos?

Então agora podemos dar sem receio. Não tudo. Porque não queremos que acabe cedo, antes do terceiro disco. São 8 músicas muito bem selecionadas na plantação recente. Começamos com “Pareço Moderno” e “Dê” (as mais pedidas), descemos o morro com “Mar Morro” e subimos aos céus com “Os Astronautas” em versão ao vivo gravada em Rodoxland (o antro florestal de criação cerebral). As 3 últimas são presentes que ganhamos, remixes feitos por amigos e comparsas. “Antes Eu Tivesse Convivido Só com a Minha Guitarra” feita por AnvilFX, “Dominó Tecnológico” por Macacorama e “Pareço Moderno” remixada por Guab.

Para lançar esse EP optamos por agregar os amigos reais e virtuais. Muitos deles mantém seus BLOGS e então nos perguntamos: “por que não oferecer o arquivo e deixar a galera fazer o que bem entender?”. E foi isso mesmo o que aconteceu. O EP está disponível em blogs camaradas para quem quiser usufruir.

Depois tem mais, ok?

* * * * *

Transcendendo os limites tradicionais de gêneros, a música da banda desafia as simples definições enquanto flutua entre a eletrônica, o rock, o pop e a MPB. Ao contrário de outros artistas que foram atraídos pela idéia de canibalismo musical proposto pelo tropicalismo, o balanceamento eclético de gêneros proposto pelo Cérebro Eletrônico não soa forçado ou autocentrado.

As simples e estranhas melodias, as letras inteligentes, o frescor do som e a elegante produção garantiram ao Cérebro elogios fervorosos da crítica e um público fiel e entusiasta que não pára de crescer. As melodias da banda são diretas, muitas vezes atraídas pela maneira familiar da cultura pop, mas ao mesmo tempo com arranjos não convencionais e surpreendentes. TatáAeroplano, compositor e vocalista da banda, disse em uma entrevista que grande parte da música moderna se parece com os filmes de Hollywood nos quais logo no início você geralmente já sabe o que acontecerá no meio e também prevê e antecipa o final. O Cérebro Eletrônico quer fazer exatamente o oposto com sua música: surpreender o ouvinte.

PHILIP JANDOVSKY

DOWNLOAD (disco + encarte - 37 MB):
http://www.4shared.com/file/67938131/aac1bfe9/Crebro_Eletrnico_-_Pareo_Virtual__EP_.html

MYSPACE: http://myspace.com/cerebroeletronico

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

:: Big Bad Voodoo Daddy ::

BIG BAD VOODOO DADDY, Self-Titled (1998)

Disquin' firmezura pra ficar contente: uma bandaça dos anos 90 tocando jazz de big-band e swing dos anos 40 e 50. Tudo redondinho, empolgante e c'umas metalzeiras tri-legais. Este disco de 98, estréia numa gravadora major, é inteirinho fodástico e deixa animadas até as manhãs de segunda-feira no trabalho. Inclui aquelas musiquinhas esplêndidas e lúgubres que apareciam nos desenhinhos da Betty Boop! Tipo esse crássico episódio banido, ao som de "Minnie The Moocher":


Biography by Stephen Thomas Erlewine (AMG)
Like Squirrel Nut Zippers, Big Bad Voodoo Daddy revived big band music for the '90s. BBVD concentrated on the swinging days of the '40s and '50s, borrowing some of the Rat Pack lingo in addition to the zoot suits. Formed in Los Angeles in 1992, the group quickly built up a following by playing regularly on the local lounge circuit, playing to Gen-Xers enamored with the kitschy charm of the cocktail nation. This burgeoning lounge scene was captured in the hit 1996 indie comedy film Swingers, which featured a song by Big Bad Voodoo Daddy on the soundtrack. By the end of 1997, the band had self-released two albums — Big Bad Voodoo Daddy and Whatchu' Want for Christmas — which were local hits and led to a major-label contract with Capitol Records. In February 1998, Capitol released the group's major-label debut, Big Bad Voodoo Daddy, which was not the same album the group had previously released on their own. This Beautiful Life followed a year later. By the time the band came together for a follow-up, Big Bad Voodoo Daddy had sold over three million albums, performed at Super Bowl XXXIII with Stevie Wonder and Gloria Estefan, and had their music used in over 60 film and TV trailers. Big Bad Voodoo Daddy were unstoppable. Their fifth album Save My Soul was slated for a July 2003 release, five years after their Interscope debut.


DOWNLOAD (70 MB, 192kps):
http://www.mediafire.com/?12ntnnz5nz2
MYSPACE:
http://www.myspace.com/itsthebigbadvoodoodaddy

Big Bad Voodoo Daddy - Mr. Pinstripe Suit

Sensacionár!

domingo, 19 de outubro de 2008

:: da série PÃO QUENTINHO ::

OKKERVIL RIVER, "The Stand-Ins"

PATTI SMITH e KEVIN SHIELDS, "The Coral Sea"



MERCURY REV, "Snowflake Midnight"
http://www.mediafire.com/?tqozd50zti4



DAVID BYRNE & BRIAN ENO, "Everyhting That Happens..."
http://www.mediafire.com/download.php?ftqj5gmyzol

(vai, Blogger Cuzão! apaga de novo! C-U-Z-Ã-O!)

(só testando a liberdade de expressão na blogosfera... :P)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

:: os 10 dos anos 70 - #09 ::

TELEVISION
Marquee Moon
(1977)


"Television’s first album is a record most adamantly, not fashioned merely for the N.Y. avant-garde rock cognoscenti. It is a record for everyone who boasts a taste for a new exciting music expertly executed, finely in tune, sublimely arranged with a whole new slant on dynamics, chord structures centred around a totally invigorating passionate application to the vision of centre-pin mastermind Tom Verlaine." - NICK KENT


O Television surgiu na hora e no lugar onde o punk americano estava começando a decolar: na metade dos anos 70, na cena que rodeava o CBGB’s, o pub tosco e histórico em Nova York. Foi ali que o grupo liderado pelos guitarristas Tom Verlaine e Richard Lloyd fez sua primeira apresentação ao vivo, para uma dúzia de gatos pingados. Inclusive uma mocinha genial, Patti Smith, que sairia dali se dizendo absolutamente apaixonada pelo vocalista de voz fanha e pretensões poéticas, de rara ambição, que começava a despontar em Verlaine. Billy Ficca, batera de orientação jazzística, e o baixista Fred Smith, substituto do membro-original Richard Hell, completavam a trupe.

Apesar de estarem no epicentro na ceninha punk que começava a pegar fogo, a banda se vinculava pouco ou nada ao estilo que se notabilizou por três acordes toscos, bateria frenética e gritaria primal com os Ramones, os Pistols e o Clash. O Television sempre teve uma aura mais cult, um virtuosismo instrumental mais refinado e um clima de intelectualidade e experimentação que tornava a banda in-rotulável como punk. Tinham mais afinidade com a estética do Velvet Underground ou com o som de certas bandas do rock clássico como o Lynyrd Skynyrd e o Grateful Dead, sem falar em grupos de fusion e progressivo. “Verlaine citava os Rolling Stones, o compositor clássico Maurice Ravel e os mestres do jazz Miles Davis e Albert Ayler como influências”.

Os duelos guitarrísticos (que por vezes se estendiam em improvisos quilométricos - "Marquee Moon", a música, tem 10 minutos de duração...), e as letras poéticas e um tanto surreais de Tom Verlaine (que tem um sobrenome imponente para um pretendente a poeta...) tornavam o Television uma banda radicalmente distinta de outros atos mais viscerais e primitivos que seriam depois rotulados como punk, que apostavam num minimalismo proposital.


Extremamente influente, apesar do sucesso comercial inexistente, o Television é o tipo de banda que precisou somente de um álbum, incrivelmente clássico, para entrar na história. O segundo disco, Adventure, foi um fiasco, e nada daquilo que fariam no futuro chegaria aos pés de Marquee Moon, um dos debuts mais finos da história do rock.

"Não muita gente conhece o Television, mas eles estão em todo lugar. Estão nas guitarras desconstruídas do Sonic Youth, nas notas sincopadas e garageiras dos Strokes, nos solos improvisados do Queens of the Stone Age, na crueza de PJ Harvey...", escreveu o Tiago Ney na Folha de São Paulo. Pois é: eis aí mais um caso de banda que marcou mais por influência em outras bandas do que por sucesso popular.

Com uma voz semi-anasalada e bastante incomum para um rockstar, Verlaine, que tinha nome e alma de poeta, construía painéis impressionistas e estranhos em suas letras – não é a toa que a jovem Patti Smith caiu de amores por ele e logo eles dividiram a autoria de um livreto de poesias. Outro paralelo entre ambos foi a escolha de fotos de Robert Mapplethorpe para a capa dos dois álbuns – Marquee Moon e Horses. Quando, logo na primeira música, Verlaine canta que “entendo todos os instintos destrutivos / eles parecem tão perfeitos / eu não vejo mal”, é como se estivesse defendendo o punk. Com quem ele tinha, talvez, uma ligação mais espiritual do que propriamente musical – e que estava presente numa certa despreocupação e numa falta de pudor de exibir aquela voz tão feia sem rubores.

Eterno queridinho da crítica musical, Marquee Moon compensa sua baixíssima vendagem e sucesso popular com uma pagação de pau por parte dos "entendidos" que é realmente digna de nota. Em 2003, foi considerado pelo semanário britânico NME o 3º melhor álbum de todos os tempos. Está entre os 25 melhores discos já lançados tanto no Rate Your Music quanto no Acclaimed Music. Nick Kent, um dos maiorais da crítica musical ao lado de Lester Bangs, carregou a mão quando escreveu suas loas em louvor ao álbum. Já a respeitadíssima Pitchfork o considerou o 3º melhor disco da década de 70.






terça-feira, 14 de outubro de 2008

:: tá osso! ::



Ééé, povo! Tá osso! O povinho graúdo tá armando gangue para acabar com a anarquia digitár! E o Depredando tá na mira dos patrulheiros do copyright, e só tomando bala. Mas eles num sabem que somos que nem o Chuck Norris!

Como vocês bem notaram, os últimos pães quentinhos aqui postados foram dizimados sem dó pelo Blogger - num sobrou nem migalha. Recebi depois um e-mail tenebroso dos hómi e fiquei até com medo de ir em cana ou ter que pagar multa. Estamos enquadrados como BANDIDOS DIGITAIS DE ALTA PERICULOSIDADE (hehe!) de acordo com o Digital Millennium Copyright Act (DMCA), lei do Império Americano que visa parar essa zona toda da orgia mp3trística.

Tudo isso por postar um disco do Oasis?! Carai, hein... Esses Gallagher são msmo uns encrenqueiros... Daqui pra frente, pois, vamos ter que pegar leve nos lançamentos de gente-grande pra num dar zica nem com o Blogger nem com o Mediafire. Mas Depredando continua, firme e forte, msmo q seja na clandestinididade, metralhado e judiado, levantando a bandeira do copy-left e da música-livre. É dura a vida dos anarquistas cibernéticos, viu... ;)

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Na nova edição da Revista O Grito!, tem um ótimo texto sobre a questão dos blogues de mp3. Vê lá!

sábado, 4 de outubro de 2008

:: PET SOUNDS PROJECT - vol. 5 ::

SONS DE ESTIMAÇÃO - VOL. V
por FRED DI GIACOMO

(vocalista e baixista do Milhouse,
o cara de óclinho azul e camiseta do Nietzche.)



01) "Samba do Arnesto" - Adoniran Barbosa
Acho que foi daí que surgiu meu gosto pelo humor na música. O Adoniran era sambista e comediante e, entre outros clássicos ("Trem das Onze", "Saudosa Maloca"), ele compôs "Samba do Arnesto" que eu e meus irmãos adorávamos quando éramos crianças. O Little Quail regravou numa versão rock 'n' roll suja anos depois.

2) "Maracatu Atômico" - Chico Science e Nação Zumbi
Tem um monte de música do Chico Science e Nação Zumbi que eu adoro. Resolvi escolher pelo valor sentimental mesmo. Essa foi a primeira música que grudou no meu ouvido em 1996, ano que a banda lançou o "Afrociberdelia", disco que mudou minha vida. Meu pai deu de aniversário pra minha mãe e eu não consegui parar de ouvir. Foi daí que começou minha obsessão com a música e nesse disco estavam os limites que ela deveria ter: nenhum limite. Um ano depois meu primeiro fanzine chamou-se Afrociberdelia.

3) "Roots" - Sepultura
Foi outro disco que fez minha cabeçea em 1996, quando eu tinha 12 anos e me jogou pro som pesado. Meu pai comprou porque tinha "músicas com índios". Eu e meu irmão viramos fãs e a patir daí começamos a ouvir "Black Sabbath", "Ratos de Porão" e outras bandas de rock pesado

4) "O Dotadão Deve Morrer" - Ratos de Porão
Essa foi a segunda mudança na minha vida. Eu já gostava de música e começara a tocar violão. Mas quand ouvi o "Feijoada Acidente?" do RDP em 1998 resolvi virar punk, espetar o cabelo e tocar baixo. Essa música, uma versão da original dos gaúchos do Cascavelletes, tinha um solo de baixo do Pica-Pau que me fez querer tocar o instrumento, uma letra engraçada e uma pegada nervosa. A partir dai as calças se rasgaram, os zines brotaram e as bandas se formaram.

5) "Mantenha o Respeito" - Planet Hemp
Das bandas de rock nacional dos anos 90 o que eu mais gostava eram os mangueboys, o escracho do "Funk Fuckers" e o "Planet Hemp". Especialmente o primeiro disco "Usuário" que era mais rock 'n' roll. "Mantenha o respeito" era uma música que todas bandas de gararem em Penápolis tentaram tocar em algum momento. E o "Planet Hemp" era a banda que unia a maloquerada fossem maconheiros, skatistas, roqueiros ou rappers

6) "Periferia é Periferia" - Racionais Mc's
Ouvi Racionais Mc's a primeira vez no rádio. "Homem na Estrada" ou "Fim de Semana no Parque". Ganhei o "Sobrevivendo no Inferno" logo que saiu e escutei muito o disco. A primeira audição foi cuidadosa, prestando atenção a cada verso como se fosse um filme. Só fui sentir o mesmo impacto quando assisti "Cidade de Deus" anos depois. Gostava de ficar imaginando "Periferia é Periferia" na minha cabeça quando andava pelas ruas esburacadas da minha rua suburbana em Penápolis.

7) "Aneurysm" - Nirvana
Um dos primeiros shows de rock que assisti foi de uma banda do colégio chamada Dr Ratazana. A banda de abertura tocou Aneursym do Nirvana. Parecia uma música simplesmente perfeita. A raiva, a bateria animal, o vocal gritado, a guitarra suja. Na minha adolescência Nirvana tinha a mesma importância que Beatles.

8) "Around The World" - Red Hot Chili Peppers
Eu já era punk e tocava baixo quando minha prima me deu o Californication do Red Hot Chilli Peppers em 1999. Nunca tinha prestado atenção direito nos pimentinhas, mas esse disco me fez querer tocar que nem o Flea. Seus slaps e linhas grooveadas, sem perder a agressividade, foram meus professores nas 4 cordas. Lembro de ficar assistindo um VHS da banda ao vivo pra aprender a fazer slap.

9) "Papai-Noel" - Garotos Podres
Foi o primeiro hit que minha primeira banda, "Andarilhos" tocou. Ouvi essa música milhares de vezes na versão do RDP e do Garotos. Toquei ela por uns 3 ou 4 anos. Tinha um rebeldia misturada com humor que parecia a combinação ideal. Quando a tocávamos, arremsávamos uma cabeça de papai noel de papel e algodão pra galera destroir.

10) "My Brain Is Hanging Upside Down (Bonzo Goes to Bitburg)" - Ramones
Escolher uma música do Ramones é difícil. Eles foram uma das minhas bandas favoritas por muito tempo. Lembro que em Penápolis tinha um cara que se auto-intitulava "André Ramone" e fazia um monte de perguntas para qualquer um que usasse uma camisa do Ramones ou do RDP. Era como se você tivese que se esforçar para pertencer àquele seleto e empolgante clube de moleques com camisetas pretas ouvindo punk rock, discutindo qual era a melhor formação do Ramones e tentando entender a história do filme B que eles estrelaram (Rock n' Roll High School) com áudio em inglês e legendas em japonês (!!!). Depois dos Ramones, qualquer um podia montar uma banda e ser roqueiro, mesmo se você fosse um caipira esquecido numa cidade minúscula chamada Penápolis.

11) "Concrete Jungle" - Bob Marley and The Wailers
Minha mãe ouvia bastante Bob Marley, mas eu só prestei atenção no reggae quando entrei na faculdade e meu tio me deu o vinil do "Catch a Fire". Aquela primeira música, "Concrete Jungle", tinha um sentimento que eu só havia encontrado nas músicas dos Racionais. Um grito de dor e sobrevivência, embalado por um riff grudento, baixo balançante e vocais suaves.

12) "Search and Destroy" - Iggy And The Stooges
Depois que entrei na faculdade deixei de só ouvir punk rock puro e comecei a escutar MPB e bandas de garagem. Entre as bandas de garagem a que eu fiquei fã foi o proto-punk dos Stooges. "Search and Destroy" é o exemplo de canção de rock perfeita, que eu queria ter escrito. Riff selvagem, vocal gritado e a sensação de liberdade que entra pelo seu ouvido junto com a distorção de guitarra.

13) "Lugar do Caralho" - Júpiter Maçã
O rock gaúcho foi uma das principais inspirações para o meu lado "punk brega". Sempre me liguei nas letras e as do Júpiter Maçã eram muito boas em "A sétima efervescência"(um dos melhores discos do nosso BROck) Alguns anos depois descobri outra banda de Júpiter, Cascavelletes, e o impacto foi semelhante.

14) "Guiné Bissau, Moçambique e Angola" - Tim Maia
Muita gente pirou no Tim Maia Racional durante a universidade e eu fui um deles. Fui descobrindo música por música, desde "O Caminho do Bem" presente na trilha sonora de Cidade de Deus, até baixar os dois discos inteiros. A sonoridade presente nessas duas bolachas é simplesmente genial. E a percurssão e linha de baixo de "Guiné Bissau", são hipinotizantes. A partir desse disco passei a ser mais um atrás do groove perfeito.

15) "Rap é Compromisso" - Sabotage
Depois dos Racionais, o único rapper que realmente me enfeitiçou foi Sabotage. Além de ser uma figura cativante, Sabota era dono de uma musicalidade única que infelizmente não pode ser totalmente explorada devido a sua morte prematura. Ouvi muito esse disco durante anos.

16) "Take It Easy My Brother Charles" - Jorge Ben
Jorge Ben sempre teve pra mim o sabor de felicidade. Desde pequeno ouvindo seus vinis às festas dançando até o sol raiar suas músicas swingadas. Influenciou diretamente meu jeito de compor e minha tentativa de reproduzir seu swing na mão direita. Pra mim a mistura ideal era a agressividade do punk, o swing de Ben e as letras do Roberto.

17) "Detalhes" - Roberto Carlos
Roberto e Erasmo Carlos são dois compositores geniais, que conseguem pinçar cenas do cotiano e transformá-las em poesia, com a qual qualquer pessoa se identifica. De todos os compositores que podem ser chamados de "românticos" ou "bregas" Roberto é o que mais me influenciou. Para mim os grandes modelos de composições pop perfeitas são as músicas dos Beatles e do Roberto.

18) "Preciso me Encontrar" - Cartola
Toda vez que ouço essa música do Cartola sinto-me emocionado. Acho que esse tipo de música é mágico, te leva para algum lugar nostálgico, como um dia de chuva que desperta lembranças boas.

19) "Bachiana nº 5" - Villa-Lobos
Não sou muio fã de música clássica, mas essa peça em especial se tornou uma das minhas músicas preferidas. A primeira vez que ela me chamou a atenção foi numa versão do grupo mineiro "Uakti". E aquele tipo de música que quando toca te faz sentir bem.

20) "Canto de Ossanha" - Baden Powell & Vinícius de Moraes
Depois dos 22 anos, os acordes do punk rock para mim, foram dividindo seu espaço com algumas das canções de música brasileira, especialmente as músicas com raízes negras. "Canto de Ossanha" tem uma sequência de acordes que me chama a atenção desde que a ouvi no sampler de Marcelo D2 na música "1967". O documentário sobre Vinícius é para mim um grande exemplo de amor à música e à vida.

21) "O Tempo" - Cidadão Instigado
Compus uma música ("De que vale um real?") na primeira vez que assisti ao show do "Cidadão Instigado", em São Paulo. È uma das bandas recentes que mais me agradam. Sua mistura de rock setentista com música romântica é algo que inspira minhas composições no Milhouse. E a guitarra de Catatau é um show a parte.

DOWNLOAD: http://www.mediafire.com/?5tjxyzminin

Bônus:

"Balada do Corno" - Os Milhouse
Balada do Corno - banda Milhouse 2.0



Como bônus uma música do Milhouse. Compus "Balada do Corno" com meu irmão Gabriel sentando na minha cama, numa tarde em São Paulo. Tínhamos nos reunido para escrever "Velho Veado", e a "Balada do Corno" acabou vindo de bônus. Não demos muita bola na época, mas acabou se tornado um dos "crássicos" do Cuecas Rosas, virou hit do "Milhouse" e ganhou uma versão até do humorista Marcelo Adnet. Gostaria de consguir escrever algo tão simples e eficiente como essa música de novo.