terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Hellbenders: potência do rock goiano lança seu primeiro álbum e videoclip

 HELLBENDERS - "Brand New Fear" (2014)

Furacão arrasa quarteirão

O rock’n’roll goiano, a cada novo festival, dá renovadas provas de sua força descomunal. No Vaca Amarela 2013, no redivivo Centro Cultural Martim Cererê (clássico espaço que enfim reabriu suas portas após anos fechado), o Hellbenders deu mais uma estrondosa demonstração de porque Goiânia Rock City é justamente considerada um dos epicentros do rock’n’roll brazuca. Penúltima das 46 bandas que tocaram na 12ª edição do festival produzido pela Fósforo Cultural, o quarteto fez mais um show arrebatador e impressionante diante de um séquito de fãs entusiásticos. O showzaço rendeu até um destaque para a banda na cobertura realizada pela revista Rolling Stone Brasil.


Integrando o cenário de rock “pauleira” e garageiro de Goiânia junto com MQN, Mechanics, Black Drawing Chalks, Overfuzz, Bang Bang Babies, dentre outros, o Hellbenders, apesar da juventude de seus membros, já tem muitos quilômetros rodados no cenário. Tocam com a segurança de uma banda já experiente, ciente de sua potência e feliz por estar entre amigos, respaldada ao redor do palco pelo apoio empolgado dos aliados. A impressão que fica é a de  uma banda muitíssimo bem ensaiada, mas que ao mesmo tempo sabe soltar a mão do volante do carro que desce a ladeira à toda velocidade: sem deixar que a música perca sua fluência e seu impacto, eles sabem deixar que eventualmente o descontrole tome conta e o caos mostre o seu charme. Afinal, rock and roll que não é sujo e perigoso não tem a mínima graça. O efeito é mais impactante do que assistir a um filme-catástrofe hollywoodiano e o Hellbenders, sem grandes efeitos especiais, soa como um autêntico arrasa-quarteirão.

Brand New Fear (2013), primeiro álbum dos caras, foi produzido pelo gabaritado Carlos Eduardo Miranda e gravado no estúdio Rocklab (o mesmo onde nasceram grandes gravações de Black Drawing Chalks, Macaco Bong, Violins etc.). Com influências de Kyuss, Mastodon, Blue Cheer, Grand Funk Railroad,  Queens of the Stone Age e Motörhead, dentre muitas outras, o disco traz 10 petardos fortes, viscerais, explosivos Mal foi lançado e já é um marco para o rock goiano (e brasileiro) neste jovem século 21. E com potencial de ser reconhecido pelos gringos como um marco também no cenário stoner internacional.

No Vaca Amarela 2013, o Hellbenders contou com participação especial. Diogo (vox), Brazs (vox/gtr) e Rodrigo (batera) foram acompanhados por Augusto (vulgo Chita), guitarrista da finada banda Mugo, que chegou para substituir Vitor Noah em alguns shows.

Tocar com o volume no talo e a distorção no máximo já é meio-caminho andado para uma banda de rock sujo-encardido como o Hellbenders. Mas o que realmente faz a diferença neste caso é a sensacional pegada e garra de que estes caras são dotados. 99% dos jogadores de futebol do mundo, principalmente aqueles que sofrem com excesso de estrelismo, poderiam aprender um bocado vendo um show do Hellbenders: vão com tudo ao ataque, suam a camisa até o último segundo e dão a impressão de que sempre jogam pra ganhar de goleada. Não há ninguém no público que volte para casa com a sensação de que os músicos estavam se economizando, poupando energias, guardando cartas na manga. Cada música é tocada com o ímpeto de quem deseja marcar um golaço.

Hellbenders (da esq. pra dir.): Braz Torres (gtr/vox), Diogo Fleury (gtr/vox), Augusto Scartezini (bass) e Rodrigo Andrade (batera).


Quando Hurricane chegou para encerrar o show galopante da banda, o público viu-se envolvido por uma farra selvagem que realmente se assemelha à passagem de um furacão. O Hellbenders, em cima do palco, é um fenômeno da natureza semelhante a uma tempestade repleta de trovões e relâmpagos: são gigantescas quantias de energias em impressionantes descargas elétricas. Outburst. E não seria exagero dizer que o grupo rivaliza em estrondo com o Katrina – e o melhor é que o público em Goiânia Rock City agradece com entusiasmo pelos cabelos que são desgrenhados e pelos tímpanos que serão avassalados pela passagem desse twister de som (o que não se pode dizer da devastada New Orleans, que clama para jamais voltar a ser tão massacrada quanto foi na catástrofe de 2005).

A banda, à vontade no palco tão familiar do Martim Cererê, apresentou-se no Vaca Amarela 2013 deixando na platéia muitos pescoços aos frangalhos, de tanto headbanging, mas também muitos sorrisos de orelha-a-orelha nos rostos dos presentes. E quase todos saíram dali molhados – de suor, de água ou de cerveja. Tanto que não faltaram líquidos jorrando do palco para o público, e do público para o palco, incluindo cataratas etílicas que caíram sobre a cabeça dos músicos como um refrescante presente do “padrinho” Fabrício Nobre. Eis um show, enfim, que funciona como um rito coletivo onde o rock’n'roll age como uma purificadora catarse e uma tempestade de raw power. Pra resumir a ópera, eu diria que a poderosa massa de som que explode dos alto-falantes em um show do Hellbenders nos faz experimentar sensações similares àquelas que sentiram aqueles que estavam presentes ao concerto do MC5 que gerou o clássico álbum Kick Out The Jams. Poucas bandas no Brasil chutam o balde com tanta classe.


Stephen Malkmus & The Jicks - ao vivo no Lee's Palace (Toronto), Fevereiro de 2014



A noite estava gelada, com os termômetros bem abaixo de zero e as calçadas escorregadias com tanta neve derretendo, mas me escudei contra a friaca atrás de vários agasalhos e encarei o monstro do inverno canadense pra ir pela primeira vez ao Lee's Palace, na Bloor St., um pub com um certo charme punk e que talvez mereça o título de "O CBGB's de Toronto". Após anos ouvindo e curtindo o som do lendário Pavement - em especial aqueles que considero obras-primas (da banda e do rock alternativo nos 90), "Crooked Rain" e "Wowee Zowee" - era chegada a hora de ver em carne-e-osso uma lenda-viva do indie-rock internacional.

 À frente de sua nova banda, o The Jicks, Stephen Malkmus está não só à vontade e cheio de alegria: ele parece estar entre amigos, curtindo a viagem. O sujeito é tão prolífico, produz novo material com tamanha facilidade, que já gravou mais álbuns de estúdio com o The Jicks do que com o Pavement (que acabou após 5 discos); o clima das duas bandas, porém, é bem semelhante e dá pra dizer que Malkmus oferece "mais do mesmo" - o que não é um problema, se este "mesmo" é algo de extraordinário transformado em experiência cotidiana.

 Malkmus hoje já é um quarentão, mas continua com pique intacto: seus vocais à la Lou Reed prosseguem tendo um certo charme new wave (um certo sabor de Undertones ou de Elvis Costello); as letras espertinhas e cheias de gírias não estão distantes do que o Beck costumava fazer lá na fase Odelay, e Malkmus tem o dom para fazer um "rap de branquelo" por cima de um instrumental de guitarband noventista; e as guitarradas são pra tímpano nenhum botar defeito: ao vivo, Malkmus & The Jicks soam estrondosos como um Dinosaur Jr ou um Built to Spill....

 Bem-humorado e cheio-de-graça, Malkmus também se arrisca como stand-up comedian, e com bons resultados; no show, se derreteu em elogios à terrinha que deu ao mundo "Neil Young, Sloan e a cerveja Moosehead" ("thank you, Canada!"). Quando a bela baixista reclamou que o público da noite era muito masculino, e que só se ouviam marmanjos cantando junto, Malkmus mandou: "Ora, mas somos todos mulheres no indie rock..." Cerca de 1.000 pessoas lotavam o Lee's Palace neste sábado memorável, e com certeza a grande maioria voltou pra casa bem satisfeita com o banquete musical servido por Mr. Malkmus e Cia. Na sequência, compartilho o vídeo que fiz registrando cerca de 15 minutos do show - editado na correria, mas tá valendo como souvenir:

 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Especial Angela Davis: a juventude como força política, o encarceramento em massa nos EUA, a exploração de mão-de-obra barata pelas grandes corporações transnacionais, dentre outros temas...

Power
Art by Shepard Fairey
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Angela Davis
ANGELA DAVIS in The Meaning of Freedom.

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018_angela_davis_theredlist
"Beware of those leaders and theorists who eloquently rage against white supremacy but identify black gay men and lesbians as evil incarnate. Beware of those leaders who call upon us to protect our young black men but will beat their wives and abuse their children and will not support a woman's right to reproductive autonomy. Beware of those leaders! And beware of those who call for the salvation of black males but will not support the rights of Caribbean, Central American, and Asian immigrants, or who think that struggles in Chiapas or in Northern Ireland are unrelated to black freedom! Beware of those leaders!
Regardless of how effectively (or inneffectively) veteran activists are able to engage with the issues of our times, there is clearly a paucity of young voices associated with black political leadership. The relative invisibility of youth leadership is a crucial example of this crisis in contemporary black social movements. On the other hand, within black popular culture, youth are, for better or for worse, helping to shape the political vision of their contemporaries. Many young black performers are absolutely brilliant. Not only are they musically dazzing, they are also trying to put forth anti-racist and anti-capitalist critiques. I'm thinking, for example, about Nefertiti, Arrested Development, The Fugees, and Michael Franti..."
Listen to Fugee's The Score (Full Album)
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"There are already one million in prison in the United States. This does not include the 500.000 in city and county jails, the 600.000 on parole, and the 3 million people on probation. It also does not include the 60.000 young people in juvenile facilities, which is to say, there are presently more than FIVE MILLION people either incarcerated, on parole, or on probation... Not only is the duration of imprisonment drastically extended, it is rendered more repressive than ever. Within some state prison systems, weights have even been banned. Having spent time in several jails myself, I know how important it is to exercise the body as well as the mind. The barring of higher education and weight sets implies the creation of an incarcerated society of people who are worth little  more than trash to the dominant culture.
Who is benefiting from these ominous new developments? There is already something of a boom in the prison construction industry. New architectural trends that recapitulate old ideas about incarceration such as Jeremy Bentham's panopticon have produced the need to build new jails and prisons - both public and private prisons. And there is the dimension of the profit drive, with its own exploitative, racist component. It's also important to recognize that the steadily growing trend of privatization of U.S. jails and prisons is equally menacing... We therefore ask: How many more black bodies will be sacrified on the altar of law and order?
The prison system as a whole serves as an apparatus of racist and political repression... the fact that virtually everyone behind bars was (and is) poor and that a disproportionate number of them were black and Latino led us [the activists] to think about the more comprehensive impact of punishment on communities of color and poor communities in general. How many rich people are in prison? Perhaps a few here and there, many of whom reside in what we call country club prisons. But the vast majority of prisoners are poor people. A disproportionate number of those poor people were and continue to be people of color, people of African descent, Latinos, and Native Americans.
Some of you may know that the most likely people to go to prison in this country today are young African American men. In 1991, the Sentencing Project released a report indicating that 1 in 4 of all young black men between the ages of 18 and 24 were incarcerated in the United States. 25% is an astonishing figure. That was in 1991. A few years later, the Sentencing Project released a follow-up report revealing that within 3 or 4 years, the percentage had soared to over 32%. In other words, approximately one-third of all young black men in this country are either in prison or directly under the supervision and control of the criminal justice system. Something is clearly wrong."
 (pg. 25, 27 and 38)
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"When a child's life is forever  arrested by one of the gunshots that are heard so frequently in poor black and Latino communities, parents, teachers, and friends parede in demonstrations bearing signs with the slogan 'STOP THE VIOLENCE.' Those who live with the daily violence associated with drug trafficking and increasing use of dangerous weapons by youth are certainly in need of immediate solutions to these problems. But the decades-old law-and-order solutions will hardly bring peace to poor black and Latino communities. Why is there such a paucity of alternatives? Why the readiness to take on a discourse and entertain policies and ideological strategies that are so laden with racism?
Ideological racism has begun to lead a secluded existence. It sequesters itself, for example, within the concept of crime. (...) I, for one, am of the opinion that we will have to renounce jails and prisons as the normal and unquestioned approaches to such social problems as drug abuse, unemployment, homelessness, and illiteracy. (...) When abolitionists raise the possibility of living without prisons, a common reaction is fear - fear provoked by the prospect of criminals pouring out of prisons and returning to communities where they may violently assault people and their property. It is true that abolitionists want to dismantle structures of imprisonment, but not without a process that calls for building alternative institutions. It is not necessary to address the drug problem, for example, within the criminal justice system. It needs to be separated from the criminal justice system. Rehabilitation is not possible within the jail and prison system.
We have to learn how to analyze and resist racism even in contexts where people who are targets and victims of racism commit acts of harm against others. Law-and-order discourse is racist, the existing system of punishment has been deeply defined by historical racism. Police, courts, and prisons are dramatic examples of institutional racism. Yet this is not to suggest that people of color who commits acts of violence against other human beings are therefore innocent. This is true of brothers and sisters out in the streets as well as those in the high-end suites... A victim of racism can also be a perpetrator of sexism. And indeed, a victim of racism can be a perpetrator of racism as well. Victimization can no longer be permitted to function as a halo of innocence."
(pg. 29 - 31)
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A Shepard Fairey exhibition
"Black people have been on the forefront of radical and revolutionary movements in this country for several centuries. (...) Not all of us have given up hope for revolutionary change. Not all of us accept the notion of capitalist inevitability based on the collapse of socialism. Socialism of a certain type did not work because of irreconcilable internal contradictions. Its structures have fallen. But to assume that capitalism is triumphant is to use a simplistic boxing-match paradigm. Despite its failure to build lasting democratic sctructures, socialism nevertheless demonstrated its superiority over capitalism on several accounts: the ability to provide free education, low-cost housing, jobs, free child care, free health care, etc. This is precisely what is needed in U.S. black communities... and among poor people in general. Harlem furnishes us with a dramatic example of the future of late capitalism and compelling evidence of the need to reinvigorate socialist democratic theory and practise - for the sake of our sisters and brothers who otherwise will be thrown into the dungeons of the future, and indeed, for the sake of us all.
During the McCarthy era, communism was established as the enemy of the nation and came to be represented as the enemy of the "free world". During the 1950s, when membership in the Communist Party of U.S.A. was legally criminalized, many members were forced underground and/or were sentenced to many years in prison. In 1969, when I was personally targeted by anti-communist furor, black activists in such organizations as the Black Panther Party were also singled out. As a person who represented both the communist threat and the black revolutionary threat, I became a magnet for many forms of violence... If we can understand how people could be led to fear communism in such a visceral way, it might help us to apprehend the ideological character of the fear of the black criminal today.
The U.S. war in Vietnam lasted as long as it did because it was fueled by a public fear of communism. The government and the media led the public to believe that the Vietnamese were their enemy, as if it were the case that the defeat of the racialized communist enemy in Vietnam would ameliorate U.S. people's lives and make them feel better about themselves..."
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angela-davis-poster
"The connection between the criminalization of young black people and the criminalization of immigrants are not random. In order to understand the structural connections that tie these two forms of criminalization together, we will have to consider the ways in which global capitalism has transformed the world. What we witnessed at the close of the 20th century is the growing power of a circuit of transnational corporations that belong to no particular nation-state, that are not expected to respect the laws of any given nation-state, and that move across borders at will in perpetual search of maximizing profits.
Let me tell you a story about my personal relationship  with one of these transnational corporations - Nike. My first pair of serious running shoes were Nikes. Over the years I became so attached to Nikes that I convinced myself that I could not run without wearing them. But once I learned about the conditions under which these shoes are produced, I could not in good conscience buy another pair of their running shoes. It may be true that Michael Jordan and Tiger Woods had multimillion-dollar contracts with Nike, but in Indonesia and Vietnam Nike has been creating working conditions that, in many respects, resemble slavery.
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Not long ago there was an investigation of the Nike factory in Ho Chi Minh City, and it was discovered that the young women who work in Nike's sweatshops there were paid less than the minimum wage in Vietnam, which is only U$2.50 a day... Consider what you pay for Nikes and the vast differential between the price and the workers' wages. This differential is the basis for Nike's rising profits. (...) If you read the entire report, you will be outraged to learn of the abominable treatment endured by the young women and girls who produce the shoes and the apparel we wear. The details of the report include the fact that during an 8-hour shift, workers are able to use the toilet just once, and they are prohibited from drinking water more than twice. There is sexual harrasment, inadequate health care, and excessive overtime... Perhaps we need to discuss the possibility of an organized boycott... but given the global reach of corporations like Nike, we need to think about a global boycott.
Corporations move to developing countries because it is extremely profitable to pay workers U$2.50 a day or less in wages. That's U$2.50  a day, not U$2.50 a hour, which would still be a pittance. (...) The corporations that have migrated to Mexico, Vietnam, and other Third World countries also often end up wreaking havoc on local economies. They create cash economies that displace subsistence economies and produce artificial unemployment. Overall, the effect of capitalist corporations colonizing Third World countries is one of pauperization. These corporations create poverty as surely as they reap rapacious profits."
(pg. 44-46)
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You might also like:
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meaning
All quotes in this post from...
Angela Y. Davis (1944 - ) 
The Meaning of Freedom
And Other Difficult Dialogues
San Francisco, California. 2012.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Just Do It: A Tale Of Modern-Day Outlaws (Documentário Completo)









Just Do It: A Tale Of Modern-Day Outlaws (2011, 90 min) 
Com legendas em português. Assista na íntegra: 

Neste documentário dirigido por Emily James, e que o Depredando agora sobe para a rede com legendas em português, conheça mais sobre grupos de ativistas da causa ambiental que, na Inglaterra, partiram para a Ação Direta. Como forma de protesto contra a emissão de poluentes, a queima de combustíveis fósseis ou o poderio de grandes empresas transnacionais e mega-bancos, estes modernos "foras-da-lei" bolaram alguns métodos criativos de protesto e manifestação. 

"Just Do It" - um slogan hackeado da Nike... - mostra como alguns ingleses não estão satisfeitos em ficar de braços cruzados bebericando um chá. Assista e conheça gente que põe a mão na massa - mesmo com risco de aprisionamento - em prol de um sistema econômico e político mais sustentável. Enquanto progride o Aquecimento Global e novas tragédias climáticas nos assolam, será cada dia mais necessário - e mais urgente - que mundo afora se organizem contestações do atual estágio ecocida do capitalismo globalizado...

Info in english: "A documentary film by Emily James. To organise a screening, buy the DVD or watch the film online, visit: http://justdoitfilm.com/. Here's the trailer: http://youtu.be/zavTd31qxho. Synopsis: "Just Do It", the acclaimed feature documentary from director Emily James, goes behind the scenes of the world of climate activism. This one-of-a-kind film charts the adventures of the daring troublemakers who have crossed the line to become modern-day outlaws. Documented over a year, Emily James' film follows these activists as they blockade factories, attack coal power stations and glue themselves to the trading floors of international banks despite the very real threat of arrest. 

P.S. This is intended for non-profit commentary and educational purposes. No copyright infringement intended. Copyright Disclaimer Under Section 107 of the Copyright Act 1976, allowance is made for "fair use" for purposes such as criticism, comment, news reporting, teaching, scholarship, and research. Fair use is a use permitted by copyright statute that might otherwise be infringing. Non-profit, educational or personal use tips the balance in favor of fair use.

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O significado e as perspectivas das mobilizações de rua: Entrevista com o líder do MST João Pedro Stédile no auge das manifestações de Junho de 2013


Imagens: Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Salvador
nas manifestações de rua de Junho de 2013.
Veja o álbum completo com mais de 100 fotos.

"É hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no futuro". Essa é uma das avaliações de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre as recentes mobilizações em todo o país. Segundo ele, há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras, provocada por essa etapa do capitalismo financeiro. “As pessoas estão vivendo um inferno nas grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais”, afirma. Para o dirigente do MST, a redução da tarifa interessava muito a todo o povo e esse foi o acerto do Movimento Passe Livre, que soube convocar mobilizações em nome dos interesses do povo.

Nesta entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Stedile fala sobre o caráter dessas mobilizações, e faz um chamamento: devemos ter consciência da natureza dessas manifestações e irmos todos para a rua disputar corações e mentes para politizar essa juventude que não tem experiência da luta de classes. “A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil”, constata...






Alguns trechos:

"Houve uma enorme especulação imobiliária que elevou os preços dos aluguéis e dos terrenos em 150% nos últimos três anos. O capital financiou – sem nenhum controle governamental – a venda de automóveis para enviar dinheiro para o exterior e transformou nosso trânsito num caos. E, nos últimos dez anos, não houve investimento em transporte público. O programa habitacional Minha casa, minha vida empurrou os pobres para as periferias, sem condições de infraestrutura. Tudo isso gerou uma crise estrutural, em que as pessoas estão vivendo um inferno nas grandes cidades."

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"Os 15 anos de neoliberalismo e mais os últimos dez anos de um governo de composição de classes transformou a forma de fazer política em refém apenas dos interesses do capital. Os partidos ficaram velhos em suas práticas e se transformaram em meras siglas que aglutinam, em sua maioria, oportunistas para ascender a cargos públicos ou disputar recursos públicos para seus interesses. Toda a juventude nascida depois das Diretas Já não teve oportunidade de participar da política. Hoje, para disputar qualquer cargo, por exemplo, o de vereador, o sujeito precisa ter mais de um milhão de reais. O de deputado custa ao redor de dez milhões de reais. Os capitalistas pagam e depois os políticos os obedecem. A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil."

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"A Rede Globo recebeu do governo do estado do Rio de Janeiro e da prefeitura R$ 20 milhões do dinheiro público para organizar o showzinho de apenas duas horas do sorteio dos jogos da Copa das Confederações. O estádio de Brasília custou R$ 1,4 bilhão e não tem ônibus na cidade! A ditadura explícita e as maracutaias que a Fifa/CBF impuseram e que os governos se submeteram. A reinauguração do Maracanã foi um tapa no povo brasileiro. As fotos eram claras, no maior templo do futebol mundial não havia nenhum negro ou mestiço! E aí o aumento das tarifas de ônibus foi apenas a faísca para acender o sentimento generalizado de revolta, de indignação. A gasolina para a faísca veio do governo tucano Geraldo Alckmin, que protegido pela mídia paulista que ele financia, e acostumado a bater no povo impunemente – como fez no Pinheirinho e em outros despejos rurais e urbanos – jogou sua polícia para a barbárie. Aí todo mundo reagiu. Ainda bem que a juventude acordou. E nisso houve o mérito do Movimento Passe Livre, que soube capitalizar essa insatisfação popular e organizou os protestos na hora certa."

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"A burguesia, através de suas televisões, tem usado a tática de assustar o povo colocando apenas a propaganda dos baderneiros e quebra-quebra. São minoritários e insignificantes diante das milhares de pessoas que se mobilizaram. Para a direita, interessa colocar no imaginário da população que isso é apenas bagunça e no final, se tiver caos, colocar a culpa no governo e exigir a presença das Forças Armadas. Espero que o governo não cometa essa besteira de chamar a guarda nacional e as Forças Armadas para reprimir as manifestações. É tudo o que a direita sonha! Quem está provocando as cenas de violência é a forma de intervenção da Policia Militar. A PM foi preparada desde a ditadura militar para tratar o povo sempre como inimigo. E nos estados governados pelos tucanos (SP, RJ e MG, por exemplo), ainda tem a promessa de impunidade. Há grupos direitistas organizados com orientação de fazer provocações e saques. Em São Paulo, atuaram grupos fascistas e leões de chácaras contratados. No Rio de Janeiro, atuaram as milícias organizadas que protegem seus políticos conservadores. E claro, há também um substrato de lumpesinato que aparece em qualquer mobilização popular, seja nos estádios, carnaval, até em festa de igreja, tentando tirar seus proveitos."

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"Precisamos explicar para o povo quem são os principais inimigos do povo. E agora são os bancos, as empresas transnacionais que tomaram conta de nossa economia, os latifundiários do agronegócio e os especuladores. Precisamos tomar a iniciativa de pautar o debate na sociedade e exigir a aprovação do projeto de redução da jornada de trabalho para 40 horas; exigir que a prioridade de investimentos públicos seja em saúde, educação, reforma agrária. Mas para isso, o governo precisa cortar juros e deslocar os recursos do superávit primário, aqueles R$ 200 bilhões que todo ano vão para apenas 20 mil ricos, rentistas, credores de uma dívida interna que nunca fizemos, deslocar para investimentos produtivos e sociais. É isso que a luta de classes coloca para o governo Dilma: os recursos públicos irão para a burguesia rentista ou para resolver os problemas do povo?"

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Fotos do CONGRESSO MST 2014 em Brasília (via Mídia Ninja):








segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Grandes álbuns de 2014 - 1ª Edição - TEMPLES, "Sun Structures"


folder

TEMPLES - Sun Structures (2014) Download: http://bit.ly/NaQAQB
Psychedelic Rock / UK MP3 - 320 kbps 00:52:55
"After a steady build up of stateside buzz and support, Kettering, England’s favorite psychedelic sons Temples are announcing their debut full-length, Sun Structures, out February 11th on Fat Possum. It's a record that's destined to set out the band's stall as Britain's premier retro-futurists, with influences ranging from '60s psychedelia to Motown, glam, and Krautrock, all viewed through a very modern kaleidoscope – and always keeping the song at the heart of it all. Recorded in the box-room of guitarist/vocalist James Bagshaw’s home, the aim was “Jack Nitzsche on a DIY budget,” and with one listen to first single off the record, “Mesmerize,” it’s pretty clear that they’ve succeeded." - Read the whole bio at Fat Possum
Tracklist: 01 - Shelter Song [00:03:10] 02 - Sun Structures [00:05:13] 03 - The Golden Throne [00:04:10] 04 - Keep In The Dark [00:04:36] 05 - Mesmerise [00:03:42] 06 - Move With The Season [00:05:10] 07 - Colours To Life [00:05:11] 08 - A Question Isn't Answered [00:05:11] 09 - The Guesser [00:04:06] 10 - Test Of Time [00:03:53] 11 - Sand Dance [00:06:31] 12 - Fragment's Light [00:01:57].

Toronto Now: "It would be easy to write off Temples as retro-loving hippies who likely don’t own any records released later than 1969. Their recent singles teem with kaleidoscopic psychedelia and Beatles harmonies, and their November set at the Horseshoe was too brief to show much well-roundedness. Their velvet blazers, turtlenecks and wild hair, meanwhile, only added to the throwback vibe. What a surprise, then, that not only does the Kettering, England, four-piece’s debut album give us close to an hour of music, but, like Tame Impala records, it delivers retro influences through an overwhelmingly modern filter. Temples have been called “production-obsessed,” and their attention to detail comes through in the dense but sensitive layers of cosmic effects, groovy rhythms and oh-so-hooky melodies. The songwriting is outstanding: striking and smart, concise and full, and James Bagshaw sings superbly throughout. The Golden Throne sounds a bit like caper film music. The bong-worthy A Question Isn’t Answered and Sand Dance bring in Eastern influences, while Keep In The Dark is buoyant psychedelic pop." 



"Pussy Riot: Uma Oração Punk" - Saiba mais sobre o documentário e assista-o na íntegra

PussyRiot-DVD-F
PUSSY RIOT: A PUNK PRAYER 
Directed by Mike Lerner and Maxim Pozdorovkin (2013, 1h 28 min) 
Assista o filme completo: http://youtu.be/iEF440_k-Og

"Art is not a mirror to reflect the world,  
but a hammer with which to shape it."

BERTOLT BRECHT



Provocativo, excitante, instigante, indignante, hilário... esses são alguns dos adjetivos que acodem à mente para descrever este documentário sobre o Pussy Riot. Veja cenas explícitas e sem-censura das performances do grupo - incluindo "Orgia No Museu" e "Occupy Praça Vermelha". E saiba mais sobre o contexto do aprisionamento das garotas, que foram condenadas a 2 anos de prisão por terem entrado em uma catedral de Moscow e berrado um punk-rock desafinado contra o "ditador Vladimir Putin".

As garotas do Pussy Riot transformaram a performance artística, o teatro improvisado e a provocação punk em um espetáculo-freak que sacudiu a Rússia inteira e inflamou o debate sobre liberdade de expressão, fanatismo religioso, perseguição política contra dissidentes. O caso ecoou mundo afora, e até figuras como Yoko Ono e Madonna saíram em defesa do "Levante da Buceta".

Segundo o diretor Maxim Pozdorovkin, todo o bafafá e polêmica causados pelas riot grrrrls do Pussy Riot equivale ao fuzuê que ocorreu na Inglaterra, circa-1977, com a explosão dos Sex Pistols, cuspindo na cara da Rainha, da EMI e do caralho-a-quatro. As cenas do julgamento do Pussy Riot indicam claramente que o processo criminal contra as garotas tem a ver com outra causa além da liberdade de expressão e o direito do artista de se manifestar sua discórdia com o status quo: o que está em questão também é o Estado Laico, ou melhor, sua ausência na Rússia de Putin, onde o Estado e a Igreja Ortodoxa agem em estreitas e íntimas ligações.

O Pussy Riot só foi em cana por causa da "blasfêmia" que foi entrar numa Catedral e botar a boca no trombone contra o governo Putinesco e suas frequentes violações da laicidade do estado (que era um dos ideais da Revolução bolchevique de outubro de 1917). Enfim... vale a pena embarcar neste filmaço que relata como o punk rock feminista e a arte de protesto sacudiram a Rússia e desnudaram a faceta autoritária e repressiva da era Putinesca (com suas leis homofóbicas e suas gulags na Sibéria para artistas blasfemos...).

Pussy Riot 4

Pussy Riot 5

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NOW magazine (Toronto):

"Note to authoritarian regimes: don’t think you can mount a show trial if the defendants are more media-savvy than you are. This and about a dozen other ideas – including the value of performance art and the power of Putin – are behind this kick-ass doc about Russian punk art collective Pussy Riot and the trial that ensued after the group put on a guerrilla performance – playing an anti-Putin anthem – in Moscow’s central cathedral. Charismatic arrestees Masha (Maria Alyokhina), Katia (Yekaterina Samutsevich) and especially Nadia (Nadezhda Tolokonnikova) and coverage of the trial and demonstrations both for and against Pussy Riot give this pic electrifying energy. See it."
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Maxim Pozdorovkin, director of "A Punk Prayer" Maxim Pozdorovkin, director of "A Punk Prayer"

Hail Pussy Riot. But, says doc director, learn some basic history first. 
By SUSAN G. COLE

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Ah, Pussy Riot! Instinctively, we love them – especially given their home country’s human rights record – but many of our assumptions about the brazen Russian art activists are false.

The case of the female threesome who became a worldwide cause célèbre when they were charged with hooliganism and jailed after their anti-Putin performance in a church is badly misunderstood.

So claims Maxim Pozdorovkin, co-director of Pussy Riot: A Punk Prayer.

For starters, Pussy Riot isn’t a punk band. The arrested women are members – though their standing among their comrades is in question now that they’ve blown up worldwide – of a loose collective of artists, filmmakers and journalists working to create a different iconography for protest.

“They see themselves as contemporary artists determined to bring theatre into life,” says the hyper-articulate director on the phone from New York City. He’s there on the eve of an Amnesty International benefit, where recently released activists Maria Alyokhina and Nadezhda Tolokonnikova are set to appear – introduced by Madonna. He’s hanging out with them and planning to make a short film of the event.

“I always said that the story was misrepresented in Russia and in the West – I’m not sure where it was worse,” Pozdorovkin declares.

In Russia, they’re wrongly accused of being anti-religion, he claims.

“And in the West, it’s assumed that because they were a punk band singing an anti-Putin song, they went to jail. That’s nonsense. If they’d sung the song outside of the church, or anywhere else, no one would have cared.

“They had done so many things before that you’d think would’ve landed them in jail. In the U.S., for example, you couldn’t do the orgy in the National History Museum [explicitly shown in the film] and not go to jail.”

Pozdorovkin, who grew up in Moscow, played in punk bands and has a PhD from Harvard in found-footage filmmaking, is almost apoplectic at the idea that Putin’s regime can be compared to even the lighter anti-gay side of Stalinism. He sees more chaos than control in the new Russia.

“One of the biggest mistakes Westerners make is seeing the oppressive aspects of the arrest and trial as somehow organized and coming from the top down. That’s simply not the case.”

It was the women themselves – not the Russian authorities – who requested in a motion that the trial be filmed. The motion was granted, resulting in some of the doc’s most mesmerizing footage. A Russian news agency did the shooting, and Pozdorovkin, blown away by the quality of the initial rushes, then set the project in motion.

Though he allows that Pussy Riot are incredibly media-savvy, he says they weren’t totally aware of what they were getting into by making their statement inside a church.

“They didn’t mean to offend people. They felt they had the right to do what they did, and that maybe they’d be fined for, say, trespassing, but not be criminally charged. There’s something about the story that’s anachronistic, beautiful, idealistic.”

But the radical troupe is changing the way people look at performance and politics, which was precisely Pussy Riot’s intention. Soviet culture had never before been confronted by punk ideals and conceptual art on a mass level.

“The public awareness that you got with [the Sex Pistols’] God Save The Queen, that never happened in Russia until Pussy Riot.”

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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Veja que lixo...


Reproduzo o escrito por Ricardo Targino, cineasta:

"E ASSIM NOS TORNAMOS BRASILEIROS

Depois de Emma, o 'Capitão Gancho' decidiu escolher uma nova vítima, prendê-la ao poste e passar a tranca. Mais uma vez, o 'boletim oficial' do pior conservadorismo, aquele que melhor condensa o atraso de formação intelectual e humana da elite brasileira, contra-ataca a revolta popular para tentar derrotar a luta por DIREITOS aberta desde junho no Brasil através da desqualificação e da demonização criminalizadora.

A DIREITA mais inescrupulosa não hesita em escolher uma jovem MULHER, sem sólida formação política ou estofo intelectual, sem organização política que lhe dê suporte, que não exerce liderança ou goza de autoridade política sobre as ruas e junto aos movimentos sociais justamente por acreditar ser o alvo mais frágil e portanto mais destrutível. É a velha máquina de destruir vidas.

O que mais assusta é ausência de horizonte ético e humano e a incapacidade absoluta de mensurar o estrago que uma campanha destas pode causar na VIDA PESSOAL desta jovem. Que MAL faz Elisa ao PAÍS? O que há de tão perigoso nela? 

No Brasil real, há segredos escondidos que nos ajudariam a CRESCER como sociedade. Os segredos da POLÍCIA, seus cemitérios clandestinos e valas comuns onde certamente estão centenas de Amarildos. Os segredos dos lobistas que privatizam a vida pública transformando os partidos em meros executores do interesse privado. Os segredos das redações da grande mídia e sua relação promíscuas com as máfias que operam livremente. 

A revista que jamais te contou os segredos de CARLINHOS CACHOEIRA ou de DEMÓSTENES TORRES e suas inescrupulosas relações com o Grupo Abril agora quer destruir a VIDA PRIVADA, a saúde emocional e as relações sociais de uma garota cujo maior delito foi acreditar que era possível inventar uma EXISTÊNCIA POLÍTICA para si própria, enquanto o Brasil inventa pra si uma nova geração de lutadores em meio à mais absurda incompreensão daqueles que deveriam ajudar esta geração a ler o mundo de modo mais complexo para nele melhor atuar.

Mais uma vez a CAPA da Veja é criminosa. De novo toca o fundo do poço do desespero daqueles que não conseguem acreditar que 8 meses depois de junho o Brasil siga determinado em ser mais DEMOCRÁTICO e ampliar DIREITOS rumo a uma realidade de JUSTIÇA SOCIAL que tanto assusta a Veja, essa revista que não quer crescer e insiste em nos enojar com sua leitura PEQUENA e MANIQUEÍSTA do mundo. "Pois assim se ganha mais dinheiro".




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Veja: faz tempo, um panfleto em prol do tucanato... e de Collor!



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Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo:

E então só se fala de Sininho, a ativista nascida no Rio Grande de Sul e radicada no Rio de Janeiro.

A Globo e a Veja estão massacrando Sininho, e isto leva a crer que a garota tem virtudes.

Sininho, 28 anos, cineasta, é essencialmente uma jovem inconformada com o “sistema”.

Que jovem idealista não estaria, diante das circunstâncias?

Você vê índios sendo mortos, operários se destruindo nas obras da Copa, brasileiros miseráveis sendo removidos de suas casas precárias por causa do Mundial – e vai ficar conformado, se tem sensibilidade social?

A cidade em que vive Sininho ajuda também a entender seu inconformismo: como aturar, sentado no sofá, o desgoverno de Cabral?

“Ah, não vamos para a rua porque Cabral é chapa do Lula”: quem diria isso?

E então os jovens vão às ruas e são recebidos pela polícia predadora de Cabral, sob a omissão de um governo federal que não podia mexer nos brios de seu aliado.

Ora, condenar Sininho é farisaico.

Ela representa o espírito do tempo. Seus pais, segundo ela, participaram da fundação do PT.

Mas para ela, e para muitos outros jovens da mesma geração, o PT acabou por se transformar no sistema.

Ou você quer que Sininho veja Lula abraçado a Maluf e Sarney ou Dilma comprometida com os ruralistas e se sinta representada?

Querer transformar os black blocs em terroristas é uma falácia, um gesto cínico e indefensável.

Que a direita faça isso, entende-se por seu apego a privilégios e medo de tudo que represente oposição a regalias ancestrais.

Mas o PT?

As acusações são bizarras. Eles são atacados porque são “mascarados”. E daí? Tentaram matar uma família num carro quando tudo que ocorreu foi que um motorista assustado tentou passar com seu Fusca baixo sobre um colchão em chamas.

Mataram o cinegrafista e conseguiram seu primeiro cadáver.

Ora, foi um acidente lastimável, triste, mas foi exatamente isto: um acidente. Ninguém pegou uma arma e atirou contra Santiago.

Coube a Sininho mesma trazer um pouco de lógica ao debate ao perguntar: por que a Band não deu um capacete para proteger seu cinegrafista? Em áreas conflagradas mundo afora, isso acontece: dar proteção aos jornalistas que cobrem protestos perigosos.

O DCM é visceralmente antiviolência. Somos franciscanos na essência. Andamos com passarinhos nos ombros, e ficamos maravilhados com o Papa Francisco, nosso ídolo. Gandhi e Luther King estão em nossos corações.

Agora: a violência nos protestos do Rio é obra da polícia. Em algum momento, os black blocs entraram em cena para proteger os manifestantes.

Eles são uma reação à truculência policial.

Não fosse a violência policial, altamente estimulada pela mídia com sua pregação contra os “vândalos” e “baderneiros”, eles provavelmente nem tivessem surgido no Brasil.

Agora mesmo: a direção da empresa jornalística alemã Deutsche Welle manifestou formalmente à embaixada brasileira na Alemanha seu protesto contra as cacetadas que seu correspondente levou no protesto em que morreu Santiago. Ninguém prestou atenção nisso, exceto, modéstia à parte, o DCM. O relato do correspondente conta tudo: uma manifestação pacífica virou um campo de guerra por causa da polícia.

Repito: por causa da polícia.

E em vez de dar um basta à violência policial, os crucificados são os black blocs, por pura conveniência e oportunismo político.

Vamos encarar os fatos: o PT detesta os black blocs por dois motivos. Um: eles não obedecem ao partido. Sequer respeitam. Dois: os protestos podem por em risco, na visão petista, a eleição fácil de Dilma.

O segundo item é uma fantasia. Dilma, com ou sem black blocs, caminha para uma reeleição fácil, dada a fragilidade excepcional da oposição.

Não surgiu, com envergadura, partido nenhum que represente uma nova ordem social menos injusta. É uma tremenda sorte para o PT — e um enorme azar para o país — que do lado de lá estejam fósseis políticos como Aécio, Serra, FHC, Marina, Eduardo Campos etc. Um partido envelhecido como o PT parece jovem diante de rivais encarquilhados.

A não ser que o PT se reinvente, o que parece difícil, no futuro o espaço estará aberto a um partido que realmente interprete a raiva das ruas contra tantos absurdos.

A mensagem de Sininho, no fundo, é esta: o Brasil tem que ser melhor do que é.

Como discordar?



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