SAUDAÇÃO (Lawrence Ferlinghetti)
A cada animal que abate ou come sua própria
espécie
E cada caçador com rifles montados em
camionetas
E cada miliciano ou atirador particular
com mira telescópica
E cada capataz sulista de botas com seus cães
& espingardas de cano serrado
E cada policial guardião da paz com seus cães
treinados para rastrear & matar
E cada tira à paisana ou agente secreto
com seu coldre oculto cheio de morte
E cada funcionário público que dispara contra o
público ou que alveja-para-matar
criminosos em fuga
E cada Guardia Civil em qualquer pais que
guarda os civis com algemas & carabinas
E cada guarda-fronteiras em tanto faz qual
posto da barreira em tanto faz qual lado de
qual Muro de Berlim cortina de Bambu ou
de Tortilha
E cada soldado de elite patrulheiro rodoviário
em calças de equitação sob medida &
capacete protetor de plástico &
revólver em coldre ornado de prata
E cada radiopatrulha com armas antimotim &
sirenes e cada tanque antimotim com
cassetetes & gás lacrimogênio
E cada piloto de avião com foguetes & napalm
sob as asas
E cada capelão que abençoa bombardeiros que
decolam
E qualquer Departamento de Estado de qualquer
superestado que vende armas aos dois lados
E cada Nacionalista em tanto faz que Nação em
tanto faz qual mundo Preto Pardo ou Branco
que mata por sua Nação
E cada profeta com arma de fogo ou branca e
quem quer que reforce as luzes do espírito
à força ou reforce o poder de qualquer
estado com mais Poder
E a qualquer um e a todos que matam & matam & matam & matam pela Paz
Eu ergo meu dedo médio na única saudação apropriada
(Prisão de Santa Rita, 1968)
[Tradução: Nelson Ascher]
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Foto: manifestação em São Paulo, Av. Paulista, junho de 2013 |
LEI DA VIDA
(Roque Dalton, poeta-guerrilheiro de El Salvador, 1935-1975)
A árvore poderosa começa na semente
e ainda que o amor seja profundo e alto
é também mínima a semente do homem.
O nascimento do arroio do pólen
do ovinho da branca pomba
da pedra que rolou pelo monte nevado
desde sua pequenez chegam ao mar
ao girassol ao vôo interminável
ao planeta de neve que nada deterá.
Na luta social também os grandes rios
nascem dos pequenos olhos d'água
caminham muito mais e crescem
até chegar ao mar.
Na luta social também pela semente
se chega ao fruto
à árvore
ao infinito bosque que o vento fará cantar.
(Tradução de Jeff Vasques | mais poesias de Dalton traduzidas aqui )
UM SORRISO PARA RELEMBRAR
(Charles Bukowski, EUA, 1920-1994)
Nós tínhamos peixes dourados e eles davam voltas e voltas
no aquário sobre a mesa perto da cortina pesada
que cobria a janela panorâmica e
minha mãe, sempre sorrindo, querendo que a gente
ficasse feliz, me dizia: “Alegria, Henry!”
e ela estava certa: é melhor ser feliz se você
pode.
Mas meu pai continuava batendo nela e em mim várias vezes na semana enquanto
se enfurecia em seus 1m e 80, porque não conseguia
entender o que estava atacando ele por dentro.
Minha mãe, pobre peixe,
querendo ser feliz, apanhando duas ou três vezes por
semana, me dizendo para ser feliz: “Henry, sorria!
Por que você nunca sorri?”
E então ela sorria, para me mostrar como, e era o
o sorriso mais triste que eu já vi.
Um dia os dourados morreram, todos os cinco,
eles boiaram na água, assim de lado, seus
olhos abertos ainda,
e quando meu pai chegou em casa ele os jogou pro gato
ali no chão da cozinha e nós assistíamos enquanto minha mãe
sorria.
(tradução de Jeff Vasques | mais poesias de Buk traduzidas aqui)
Todas as poesias foram publicadas pelo Eupassarin: gratidão!
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