- por Frederico DiGiacomo Rocha (*) -
Para a revista Rolling Stone ele é o 33º melhor disco da história. Para qualquer moleque de calça rasgada e all star ele é seu motivo de existir. Um dos pedaços de vinil mais influentes da música pop. Sua duração é de 29:04s. Seu custo total de produção foram míseros U$ 6400, numa época onde, segundo declaração do próprio Joey Ramone, no livro “Mate-me, por favor”, gastava-se meio milhão para produzir um álbum. E esse não era qualquer álbum; ele criou o punk, revolucionou o rock do final dos anos 70 e deu origem a centenas de bandas. Dos Sex Pistols aos Metallica, do Red Hot Chili Peppers aos Ratos de Porão, a influência do primeiro disco dos quatro magrelos de Nova York foi devastadora.
É difícil explicar hoje a importância desse amontoado de 3 acordes tocados com velocidade e paixão, sem riffs difíceis, solos de guitarra ou viradas de bateria. Aqui no Brasil, seria como se os Racionais Mc’s tivessem um som tão agressivo quanto os Ratos de Porão e criassem, em seu primeiro disco, a Bossa Nova ou a Tropicália.
Estávamos nos Estados Unidos, em 1974. O que existia de mais agressivo no rock era o som de MC5, Stooges e New York Dolls. As três bandas tinham um sucesso mediano, mais underground, e seu som era uma transição do hard rock para o que se chamou punk. O que mais lembrava o que o Ramones viria a fazer era o primeiro (e cru) disco dos Stooges. Mas nesse, você encontra uma música de mais de dez minutos (“We Will Fall”) e aqui a música mais comprida tem 2:39s(“I don’t Wanna Go Down to The Basement”).
E as rádios? Eram dominadas pelo progressivo de Yes e Genesis, pelo hard rock virtuoso de Led Zeppelin e pela discoteca do saltitante John Travolta. O sonho hippie tinha acabado, os Beatles também. A América Latina, o leste Europeu e grande parte da Ásia viviam sob ditaduras. O mundo em constante ameaça atômica era uma ressaca claustrofóbica.
A primeira coisa que chama a atenção no disco é a capa. Quatro cabeludos, com jaquetas de couro pretas – como as de Marlon Brando e James Dean – calças rasgadas, tênis surrados e caras desafiadoras estão encostados numa parede pichada. Eles parecem te provocar, loucos pra te dar uma porrada. A única coisa escrita lá é o nome da banda “Ramones” – uma referência ao nome que Paul Mccartney usava para se registrar em hotéis.
O disco começa. A porrada vem em forma de grito de guerra. "Hey ho let’s go!" Um ataque relâmpago, fala da blitzgrieg, estratégia militar que fez os nazistas dominarem metade da Europa no começo da Segunda Guerra Mundial. Ah, vale lembrar, o alemãozinho Dee Dee Ramone tem fascinação pelo nazismo.
O desengonçado Joey Ramone – já internado em clínicas psiquiátricas - berra “espanque o moleque com um taco de beisebol”. De onde vem tanta raiva? Dee Dee foge de uma família problemática, Johnny ralava como pedreiro. O lirismo se esconde nos backing vocals que fazem referência a grupos vocais dos anos 60. “I Wanna Be Your Boyfriend” quebra o clima, uma balada romântica, já pavimenta o caminho que os Buzzcocks, e mais pra frente os emos, vão seguir. “Os punks também amam”.
“Now I Wanna Sniff Some Glue” repete milhares de vezes a mesma frase. Os moleques entediados lá de “1969” de Iggy Pop agora gastam o tempo cheirando cola, arrumando brigas e fazendo barulhos com suas guitarras toscas, ou serras elétricas, em “Chain Saw”. A contagem para todo mundo entrar junto – que se tornou marca registrada do grupo – aparece pela primeira vez em “Listen To My Heart”. “1,2,3,4!”, grita Dee Dee, baixista e principal compositor. Ele vai voltar a urrar em uma das partes de “53rd and 3rd”, uma das mais sérias e tristes do álbum. É sobre o tempo em que o músico ficava nas esquinas de Nova York fazendo michês. O disco ainda traz como destaque o cover “Let’s Dance”(e gravar clássicos do rock ‘n’ roll seria uma marca da banda) e “Today your Love, Tomorrow the World”.
Pronto: menos de meia-hora e a surra acabou. Aqueles punks saídos do filme “O Selvagem”(com Marlon Brando), que soavam como uma canção de Iggy Pop e queriam cantar como se fossem os Beach Boys, devem estar cheirando cola em outro lugar. Seu álbum não fez nenhum sucesso nos EUA. Só foi bem recebido quando o quarteto excursionou pela Europa e influenciou meio mundo – Clash e Sex Pistos incluídos, dando origem ao movimento punk e todo hype em cima da coisa. Dessa árvore cairiam os frutos podres do hardcore, trash, crossover, grunge, emo e outros estilos musicais.
Era isso. Letras diretas sobre o cotidiano do mundo white trash - os brancos pobres e desajustados dos EUA. Som distorcido, rápido e sem firulas. Refrões fortes. Backing vocals melodiosos. E o rock nunca mais seria o mesmo.
É difícil explicar hoje a importância desse amontoado de 3 acordes tocados com velocidade e paixão, sem riffs difíceis, solos de guitarra ou viradas de bateria. Aqui no Brasil, seria como se os Racionais Mc’s tivessem um som tão agressivo quanto os Ratos de Porão e criassem, em seu primeiro disco, a Bossa Nova ou a Tropicália.
Estávamos nos Estados Unidos, em 1974. O que existia de mais agressivo no rock era o som de MC5, Stooges e New York Dolls. As três bandas tinham um sucesso mediano, mais underground, e seu som era uma transição do hard rock para o que se chamou punk. O que mais lembrava o que o Ramones viria a fazer era o primeiro (e cru) disco dos Stooges. Mas nesse, você encontra uma música de mais de dez minutos (“We Will Fall”) e aqui a música mais comprida tem 2:39s(“I don’t Wanna Go Down to The Basement”).
E as rádios? Eram dominadas pelo progressivo de Yes e Genesis, pelo hard rock virtuoso de Led Zeppelin e pela discoteca do saltitante John Travolta. O sonho hippie tinha acabado, os Beatles também. A América Latina, o leste Europeu e grande parte da Ásia viviam sob ditaduras. O mundo em constante ameaça atômica era uma ressaca claustrofóbica.
A primeira coisa que chama a atenção no disco é a capa. Quatro cabeludos, com jaquetas de couro pretas – como as de Marlon Brando e James Dean – calças rasgadas, tênis surrados e caras desafiadoras estão encostados numa parede pichada. Eles parecem te provocar, loucos pra te dar uma porrada. A única coisa escrita lá é o nome da banda “Ramones” – uma referência ao nome que Paul Mccartney usava para se registrar em hotéis.
O disco começa. A porrada vem em forma de grito de guerra. "Hey ho let’s go!" Um ataque relâmpago, fala da blitzgrieg, estratégia militar que fez os nazistas dominarem metade da Europa no começo da Segunda Guerra Mundial. Ah, vale lembrar, o alemãozinho Dee Dee Ramone tem fascinação pelo nazismo.
O desengonçado Joey Ramone – já internado em clínicas psiquiátricas - berra “espanque o moleque com um taco de beisebol”. De onde vem tanta raiva? Dee Dee foge de uma família problemática, Johnny ralava como pedreiro. O lirismo se esconde nos backing vocals que fazem referência a grupos vocais dos anos 60. “I Wanna Be Your Boyfriend” quebra o clima, uma balada romântica, já pavimenta o caminho que os Buzzcocks, e mais pra frente os emos, vão seguir. “Os punks também amam”.
“Now I Wanna Sniff Some Glue” repete milhares de vezes a mesma frase. Os moleques entediados lá de “1969” de Iggy Pop agora gastam o tempo cheirando cola, arrumando brigas e fazendo barulhos com suas guitarras toscas, ou serras elétricas, em “Chain Saw”. A contagem para todo mundo entrar junto – que se tornou marca registrada do grupo – aparece pela primeira vez em “Listen To My Heart”. “1,2,3,4!”, grita Dee Dee, baixista e principal compositor. Ele vai voltar a urrar em uma das partes de “53rd and 3rd”, uma das mais sérias e tristes do álbum. É sobre o tempo em que o músico ficava nas esquinas de Nova York fazendo michês. O disco ainda traz como destaque o cover “Let’s Dance”(e gravar clássicos do rock ‘n’ roll seria uma marca da banda) e “Today your Love, Tomorrow the World”.
Pronto: menos de meia-hora e a surra acabou. Aqueles punks saídos do filme “O Selvagem”(com Marlon Brando), que soavam como uma canção de Iggy Pop e queriam cantar como se fossem os Beach Boys, devem estar cheirando cola em outro lugar. Seu álbum não fez nenhum sucesso nos EUA. Só foi bem recebido quando o quarteto excursionou pela Europa e influenciou meio mundo – Clash e Sex Pistos incluídos, dando origem ao movimento punk e todo hype em cima da coisa. Dessa árvore cairiam os frutos podres do hardcore, trash, crossover, grunge, emo e outros estilos musicais.
Era isso. Letras diretas sobre o cotidiano do mundo white trash - os brancos pobres e desajustados dos EUA. Som distorcido, rápido e sem firulas. Refrões fortes. Backing vocals melodiosos. E o rock nunca mais seria o mesmo.
DOWNLOAD [192kps - 61 MB - 22 faixas]:
http://www.mediafire.com/?iowmzinylaz
http://www.mediafire.com/?iowmzinylaz
obs: a versão do álbum que disponibilizamos é o relançamento de 2001 da Rhino / Warner Archives, que contêm o primeiro álbum remasterizado e mais 8 bonus tracks - as demos pra lá de tosqueira de "I Wanna Be Your Boyfriend", "Judy Is a Punk", "I Don't Care", "I Can't Be", "Now I Wanna Sniff Some Glue", "I Don't Wanna Be Learned", "You Should Never Have Opened That Door" e a versão single de "Blitzkrieg Bop".
PARA SABER MAIS:
- “Mate-me, por favor”, de Legs McNeil e Gilliam McCain
- “Coração envenenado” – Dee Dee Ramne e Veronica Kofman
- “Mate-me, por favor”, de Legs McNeil e Gilliam McCain
- “Coração envenenado” – Dee Dee Ramne e Veronica Kofman
(*) Fred é jornalista, blogueiro, escrevedor de linhas tortas e baixista das bandas paulistas Milhouse e Cuecas Rosas. Você pode ler mais textos dele no Punk Brega!
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4 comentários:
Ueba! Eu ia mesmo perguntar se minhas resenhas estavam tão ruins que vc nunca ia usá-las aqui!
Quê isso, Fred! Suas resenhas são massa, logo as outras entram aqui! E vê se manda mais!!! =)
Detesto Ramones. Conheço o contexto em que a banda surgiu, o que inspirou sua estética e toda a influência desencadeada por eles. Ainda assim, destesto Ramones.
Não sei, me falta paciência, acho que odeio "repetições".
Não acho que a música deve embasar-se principalmente em técnica, mas a ausência quase que completa dela me irrita.
Isso tudo de lado, fiquei impressionado com a qualidade do texto aqui apresentado. Cativante, completo, inspirado; excelente!
Quase me converteu num apreciador dos Ramones. Quase...
Abç!
Salve, Rodrigo! Essa sua crítica ao Ramones foi um dos melhores elogios que recebi como jornalista. Obrigado! Sobre a crueza dos caras, eu recomendo alguns discos que eles lançaram depois como o "End of Century" que conta com arranjos de cordas, baladas e músicas mais diferentes ou algumas coisas da fase mais pop deles nos anos 80. São álbuns bem menos crus, puxando pro pop que o Joey tanto curtia. No meu blog tem outros textos de bandas menos toscas também. abração e valeu!
http://memoriasdeumperdedor.blogspot.com
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