sexta-feira, 30 de setembro de 2011

<<< 20 Years of Dischord (BOX-3 CDs) >>>


Com mais de 30 anos de resistência aos modelos corporativos e clichês capitalistóides, a Dischord é um dos selos mais importantes do punk rock norte-americano nas últimas décadas. Seu nome está cravado junto com Sub Pop, Alternative Tentacles, Kill Rock Stars etc. no panteão das gravadoras independentes que mais serviços prestou aos amantes de barulheiras contra-culturais e outras rebeldias sônicas. Lançada em 2002, a caixinha de 3 CDs 20 Years of Dischord coleta sons gravados entre 1980 e 2000. Só punkeiras toscas e frenéticas de bandas como Minor Threat, Teen Idles, Fugazi, Lungfish, Nation of Ulysses, Government Issue, Embrace, Rites of Spring, Shudder to Think, Jawbox, Make-Up, Youth Brigade, dentre outras. O setlist completo você pode conferir aqui.

BOX: 20 YEARS OF DISCHORD (1980-2000)
DISCO 01 . DISCO 02 . DISCO 03

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

<<< Fugazi: Independência ou Morte! >>>

D.I.Y or D.I.E.!

- breve história de uma das mais importantes
bandas punk dos anos 90
-

(por Eduardo Carli de Moraes)

"Se a História for simpática com o Fugazi, os discos da banda não serão obscurecidos pela reputação e métodos de trabalho deles. Ao invés de serem conhecidos por seu ativismo comunitário, shows a cinco dólares, CDs a dez dólares, resistência às ordens do mainstream e folclore fictício cercando seus estilos de vida, eles serão identificados por terem fixado um grande nível para excelência artística que é frequentemente buscado mas raro de ser conquistado. Durante sua existência, o quarteto criou algumas das canções de pós-hardcore mais inteligentes, revigorantes e indubitavelmente musicais já feitas. Lado a lado com sua ética underground - que se baseava mais em pragmatismo e modéstia do que qualquer outra coisa - eles ganharam um culto global numeroso e extremamente leal. Para muitos, o Fugazi significava tanto quanto Bob Dylan tinha significado para seus pais. (...) Mais que qualquer coisa, o Fugazi inspirou; eles mostraram que a arte podia prevalecer sobre o comércio." ALL MUSIC GUIDE


O ideal que rege o trabalho e a concepção de mundo do Fugazi praticamente resume o "Evangelho Indie" que brada "Independência ou Morte!": fuja do mainstream e das majors, funde tua própria gravadora (nesse caso, a já lendária Dischord), venda seus discos a 10 mangos e seus ingressos a 5, dê entrevistas quilométricas para zinões toscos de fundo de quintal enquanto levanta o dedo médio pra Rolling Stone e pra NME, e nunca se esqueça de denunciar toda a podridão que se esconde por trás do Esquema do Pop capitalista e da Sociedade do Espetáculo gerida pelas elites - uma indústria cultural ganancioso, fútil, burra, falsária e alienante (pra dizer o mínimo). Tudo aquilo que procure vincular a música à engrenagem perversa de multiplicação de capital, tudo o que tem a ver com fabricação de estrelas a serem amadas de joelhos nos altares do pop, tudo o que é feito tendo em vista o sucesso e aos bolsos cheios de verdinhas é absolutamente repudiado pelo Fugazi.

A salvação, não cansam de dizer eles, é a Independência ardentemente procurada e conquistada, o do-it-yourself, uma espécie de anarquismo comunista transposto para o punk rock e clama: D.I.Y or DIE! Podem ter certeza que esses caras nunca iriam assinar um contrato escravizante com a Warner Brothers ou Sony, nunca seriam anunciados como hype num Top Of The Pops, nem nunca iriam permitir que seus CDs ou shows custasse mais do que o proletariado pode pagar. Por tudo isso e muito mais, o Fugazi é hoje é matéria de lenda: uma das mais influentes, incendiárias e inspiradoras bandas dos anos 90, cuja música altamente virulenta e empolgante encontra ampla ressonância na práxis concreta e na atitude política.

A Dischord, nascida para que o Teen Idles (antiga banda de Ian MacKaye) pudesse auto-lançar seu material, hoje já tem mais de 20 anos de idade e está devidamente consolidada como um pilar fundamental para o rock independente americano nas últimas décadas. "É difícil de imaginar onde milhares de bandas estariam hoje - Rage Against the Machine, Nirvana, Beastie Boys, Sleater-Kinney - se a Dischord não tivesse emergido no horizonte cultural nos anos 80", diz uma matéria na SALON. "Diferente de muitas gravadoras independentes, a Dischord não se comporta como um gravadora major em miniatura. Nenhuma das dezenas de bandas que lançaram discos com MacKaye o fez sob qualquer obrigação contractual com o selo. CDs, vinis e outros lançamentos recebem um preço congruente com os custos de produção e distribuição".

Ou seja, a Dischord é quase uma empresa sem fins lucrativos atuando muito mais por devoção ao punk rock do que por ganância financeira. O próprio MacKaye esclarece: "um aspecto dessa gravadora que resultou em nossa longevidade é que eu odeio a indústria de discos. Eu nunca quis possuir uma gravadora em si. Eu queria lançar discos e eu odiava tanto a indústria que não conseguia suportar a idéia de qualquer outra pessoa lançando os discos... pois eu nunca pude confiar neles." Uma boa amostra do que fez a gravadora nessas duas décadas de vida pode ser encontrado no BOX 20 Years Of Dischord, recentemente lançado nos EUA, que resume em 3 CDs o que de melhor foi gravado nos estúdios do selo.


Além dessa radical tomada de posição anti-capitalista, o Fugazi também é famoso por seguir e "propagandear" o estilo de vida Straight-Edge, filosofia prática que não deve ser familiar àqueles que não estão inteirados com os subterrâneos da cena punk, valendo a pena então dar uma clareada no seu significado: "Straight Edge" é, antes de mais nada, uma música do Minor Threat, a banda de hardcore que Ian MacKaye chefiava na segunda metade dos anos 80, música que serviu para batizar este "movimento comportamental" dentro da cena punk. Os mais fanáticos seguidores vêem nele muito mais do que uma modinha ou do que o nome de uma tribo urbana: para eles, Straight Edge é uma ideologia seguida com uma ortodoxia digna de um religioso fervoroso. Para os detratores, os punks straight-edge representam a parcela mais "puritana" e "moralista" dentre os punks, mas não há poucos que ressaltam o fato de que o straight-edge foi importante para provar que ser um punk, ao contrário do que dizem os reaças, conformistas e fascitóides em geral, não era sinônimo de ser imoral, violento ou vândalo mas, pelo contrário, incluía valores éticos como autonomia, autenticidade, auto-determinação, sensibilidade às desigualdades sociais, engajamento político contra os males do alcoolismo, da dieta carnívora e das políticas conservadoras.

A filosofia straight-edge solicita de seus seguidores que não consumam nenhuma droga (nem mesmo o álcool), que não se entreguem a relações sexuais casuais e promíscuas, que pensem com uma "mentalidade comunitária", que não se deixem nunca dominar pela violência e pelo vandalismo, dentre outros preceitos. Há até mesmo aqueles que se pronunciam convictos vegetarianos (a sub-seita vegan é forte dentro do universo straight-edge). Apesar de haver uma série de bandas underground que se dizem straight-edge, o Fugazi e o Minor Threat permanecerão sempre como as duas bandas-símbolo do movimento e Ian MacKaye, queira ou não, como o messias dessa religião laica...

Não é difícil de simpatizar com a banda só por isso que ficou dito, e não foram poucos os que manifestaram sua empatia com a luta fugaziana (Kurt Cobain, por exemplo, declarou que muito admirava a "integridade" do Fugazi). Mas por enquanto ainda não saímos do domínio da política, do comportamento, da atitude frente ao capitalismo e à indústria cultural, e não chegamos ao que também interessa checar: a música. "Se a História for simpática com o Fugazi, os discos da banda não serão obscurecidos pela reputação e métodos de trabalho deles", diz a bio da banda na AMG. É uma pena o fato da banda ser mais célebre pela ideologia indie ortodoxa e pelo modo-de-vida straight-edge do que pela própria música que fazem.

As mitologias que circulam por aí sobre os membros da banda beiram a lenda folclórica e acabam desviando a atenção pra longe do som: "Uma vez que a banda não dava entrevistas para publicações grandes, alguns jornalistas foram deixados livres para improvisar e optaram por tomar licença criativa. As fofocas entre a base de fãs era igualmente imaginativa. De fato, alguns dos caras que iam aos shows poderiam se surpreender de ver a banda chegar aos locais em vans, e não num comboio de camelos. Aqueles que falavam com membros da banda ficavam surpreendidos de ouvir que eles viviam em casas - e não em monastérios - com calefação funcionando... e que suas dietas não eram estritamente à base de arroz", diz o bem-humorado cara da AMG.

Pois bem: os fatos, depois dos mitos. A banda começou sua caminhada em 1987, na capital americana Washington D.C.c, formada das ruínas de algumas bandas importantes na consolidação do hardcore e do emocore americano. Do Minor Threat, banda de breve carreira que é hoje considerada uma das mais importantes da história do hardcore (lado a lado com os Dead Kennedys, o Husker Du, o Discharge...), saiu o vocalista Ian McKaye. Do Rites Of Spring, o guitarrista e vocalista Guy Picciotto. Foram complementados pelo baixista Joe Lally e pelo baterista Brendan Canty. Através dos anos 90 e 00, lançaram (sempre via Dischord) os seguintes álbuns: 13 Songs (que reúne os dois primeiros EPs lançados pela banda, o auto-entitulado de 1988 e o Margin Walker de 1989), Repeater (1990), Steady Diet Of Nothing (1991), In On The Kill Taker (1993), Red Medicine (1995), Instrument (trilha-sonora, 1998), End Hits (1999) e The Argument (2001). Após o fim da banda, McKaye e sua esposa formaram o duo The Evens, com dois álbuns lançados.

Descrever a música com palavras sempre é tarefa complicada, mas tentemos. O Fugazi sempre me pareceu a irmã menor do Gang Of Four na família que tem por papai o The Clash e por mamãe o pós-punk ao estilo PiL (se bem que com uma violência sônica mais brutal). Como o Gang e o Clash, o Fugazi também é uma banda profundamente política, engajada, militante, mas a analogia não pára por aí. A música do Fugazi compartilha com o Gang of 4 e com o pós-punk em geral alguns elementos clássicos: a preferência dada ao fator rítmico sobre o melódico, a gravidade dos instrumentos solo (que faz com que as guitarras tenham aquele som quase de baixo e que quase nunca saiam fazendo solinhos agudos), a ausência quase completa de lá-lá-lás cantaroláveis. O Fugazi é muito mais um monstro rítmico barulhento do que uma fábrica de doces melódicos, caindo vez ou outra num experimentalismo que beira a atonalidade e o sonic-youthianismo. Bandas como o ...Trail of Dead, o Mission of Burma, o Jesus Lizard, o Jawbox, o Plastic Constellations e o Giddy Motors seguem o mesmo evangelho e são outros parentes próximos na família Fugazi.

Em resumo: tanto pela música empolgante e contagiosa quanto pela atitude muito elogiável, o Fugazi é tipo um MODELO. A heróica banda que segura a bandeira do underground com a mais firme das mãos e que conduz o mastro da Dischord por mares turbulentos sem naufragar. Os corajosos punks que ousaram questionar todos os estereótipos e sugerir que ser punk poderia ser outra coisa que não somente destruição, anarquia e niilismo (e que podia se basear em espírito comunitário, ativismo político, construção de valores alternativos...). Enfim: a banda-emblema dos anos 90 a provar que "a arte podia prevalecer sobre o comércio". Uns HERÓIS, esses caras!

* * * * *


"13 Songs" (1989) - 33 MB
"Repeater" (1990)


"Steady Diet of Nothing" (1991)



"In On The Kill Taker"(1993) - 76 MB



"Red Medicine" (1995) - 60 MB

terça-feira, 27 de setembro de 2011

<<< Joe Lally (do Fugazi) em Goiânia... 08 de Outubro! >>>

É, galerinha, num é pouca porcaria não! Joe Lally, baixista da lendária instituição cultural Fugazi, traz seu trio à Goiânia Rock City no dia 08 de Outubro, sabadão, no Metrópolis Retrô, com abertura do Space Monkeys. Esta é uma realização da Construtora e do Clube Recreativo do Escambo (um salve para nosso chapa Abdala @tapetesirios). Dá pra perder?!? Garanta já seu ingresso (R$ 30) na Ambiente Skate Shop ou Sebo Hocus Pocus. Confira todas as NOVE DATAS do cara no Brasil lá no site da Desmonta

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

<<< Saindo de órbita com Woody Allen... >>>


Estou muito aliviado em saber que o universo, afinal, é explicável. Já estava começando a achar que o problema era comigo. Como agora se sabe, a física, feito um parente chato, tem todas as respostas. O big-bang, os buracos negros e a sopa primordial aparecem toda terça-feira na seção de ciência do Times e, em consequência, minha compreensão da relatividade geral e da mecânica quântica agora se equipara ao conhecimento que tenho de Einstein. O Einstein da loja Einstein Moomjy, o famoso vendedor de tapetes de Nova York. Como é que pude ignorar que existem no universo coisas minúsculas, do “comprimento de Planck”, que têm um milionésimo de um bilionésimo de um bilionésimo de um centímetro? Imagine como será difícil encontrar uma coisa dessa, se você a deixar cair num cinema escuro. E como a gravidade funciona? E se ela cessasse de repente, alguns restaurantes ainda exigiriam o uso de paletó? O que sei de fato sobre a física é que, para um homem parado na margem, o tempo passa mais depressa do que para um homem no barco – ainda mais se o homem no barco estiver com a esposa. O mais recente milagre da física é a teoria da corda, alardeada como TT, ou “Teoria de Tudo”. Isso pode incluir até o incidente da semana passada, narrado a seguir.

Acordei na sexta-feira e, como o universo está em expansão, levei mais tempo do que o habitual para achar o meu roupão. Isso me fez sair tarde para o trabalho e, como a noção de alto e baixo é relativa, o elevador que peguei foi parar no terraço, onde foi difícil conseguir um táxi. Por favor, tenham em mente que um homem dentro de um foguete que se aproxima da velocidade da luz pareceria estar indo na hora para o trabalho – ou até um pouco adiantado, e sem dúvida mais bem vestido. Quando, enfim, cheguei ao escritório e me dirigi ao meu patrão, o senhor Muchnick, a fim de explicar o meu atraso, minha massa aumentou à medida que eu me aproximava, o que meu patrão entendeu como um sinal de insubordinação.

Houve uma conversa bastante ríspida sobre reduzir o meu salário, o qual, medido no parâmetro da velocidade da luz, é de todo modo muito pequeno. A verdade é que, em comparação com a quantidade de átomos da galáxia de Andrômeda, eu de fato ganho muito pouco. Tentei dizer isso ao senhor Muchnick, que respondeu que eu não estava levando em conta que tempo e espaço são a mesma coisa. Jurou que, se a situação mudasse, me daria um aumento. Sublinhei que, uma vez que tempo e espaço são a mesma coisa, e levo 3 horas para fazer algo que no final fica com menos de 18cm de comprimento, não dá pra vender isso por mais de 5 dólares. O lado bom de tempo e espaço serem a mesma coisa é que, se você viaja para as regiões remotas do universo e a viagem leva 3 mil anos terrestres, os seus amigos estarão mortos quando você voltar, mas você não vai precisar de Botox.

De volta ao meu escritório, com a luz do sol entrando com força através da janela, pensei comigo que, se a nossa grande estrela dourada explodisse de repente, este planeta voaria para fora de órbita e sairia zunindo pelo infinito para sempre – mais uma boa razão para a gente levar sempre um telefone celular. Por outro lado, se um dia eu pudesse me mover numa velocidade superior a 300 mil km por segundo e recapturar a luz nascida séculos atrás, será que poderia voltar no tempo para o Egito Antigo ou para a Roma Imperial? Mas o que eu iria fazer lá? Dificilmente acharia alguém conhecido.

Foi nesse momento que nossa nova secretária, a senhorita Lola Kelly, entrou. Agora, na polêmica em torno da questão de tudo ser feito de partículas ou de onda, a senhorita Kelly é positivamente feita de ondas. Dá para verificar que ela é feita de ondas toda vez que caminha até o bebedouro de água gelada. Não que ela não tenha boas partículas, mas são as ondas que conseguem para ela as bijuterias da Tiffany. Minha esposa também é mais ondas do que partículas, só que as ondas dela começaram a despencar um pouco. Ou talvez o problema seja que minha esposa tem quarks demais. A verdade é que, ultimamente, ela parece que passou perto demais do horizonte de eventos de um buraco negro e uma parte dela – não toda, de maneira alguma – foi sugada. Isso lhe dá um formato meio gozado, que espero ser remediável mediante a fusão fria. Meu conselho para qualquer pessoa sempre foi evitar buracos negros, porque, uma vez lá dentro, é extremamente difícil conseguir sair e ainda conservar o ouvido para a música. Se por acaso você despencar por um buraco negro e emergir do outro lado, provavelmente vai viver sua vida inteira muitas e muitas vezes, mas vai ficar compactado demais para sair e encontrar garotas.


E assim me aproximei do campo gravitacional da senhorita Kelly e pude sentir minhas cordas vibrarem. A única coisa que sabia era que eu queria embrulhar meus bósons de calibre fraco em volta dos glútons dela, deslizar por um buraco de minhoca e adentrar por um túnel quântico. Foi nessa altura que fiquei impotente em virtude do princípio de incerteza de Heisenberg. Como eu poderia agir se não consegui determinar a posição e a velocidade exatas dela? E se de repente eu causasse uma singularidade – ou seja, uma devastadora ruptura no espaço-tempo? Isso é tão barulhento. Todo mundo ia olhar e eu ia ficar sem graça diante da senhorita Kelly. Ah, mas a mulher tem uma energia escura tão boa. Energia escura, embora hipotética, sempre foi para mim um choque estimulante, sobretudo numa mulher que tem sobremordida. Na minha fantasia, se eu pudesse levá-la para o interior de um acelerador de partículas durante cinco minutos com uma garrafa de Château Lafite, eu estaria ao seu lado com os nossos quanta se aproximando da velocidade da luz, enquanto o seu núcleo colidia com o meu. Claro, exatamente nesse instante caiu um cisco de antimatéria no meu olho e tive que arranjar um cotonete para removê-lo. Eu tinha perdido quase toda a esperança, quando ela se virou para mim e falou:

- Desculpe – disse – Eu ia pedir um café e um bolinho, mas agora parece que não consigo me lembrar da equação de Schrödinger. Não sou mesmo uma tola? Simplesmente se apagou da minha memória.

- Evolução das ondas de probabilidade – falei – E se você vai fazer um pedido ao garçom, eu gostaria muito de um bolinho inglês com múons e chá.

- Com todo prazer – respondeu, sorrindo com ar de coquete e curvando-se numa forma de Calabi-Yau. Pude sentir miha constante de acoplamento invadir o campo fraco da senhorita Kelly à medida que eu pressionava meus lábios nos seus neutrinos molhados. Aparentemente, consegui alcançar uma espécie de fissão, porque o que percebi depois disso foi que eu estava me levantando do chão com um olho roxo do tamanho de uma supernova.

Acho que a física pode explicar tudo, menos o sexo frágil, mesmo assim contei para a minha mulher que fiquei com o olho roxo porque o universo estava em contração, e não em expansão, e na hora eu estava distraído."




WOODY ALLEN
.
Fora de Órbita.

sábado, 24 de setembro de 2011

<<< Radio Birdman (punk australiano '77) discografia >>>


A Austrália, terra abençoada pelos deuses demônios do barulho, possui inúmeras boas opções além de AC/DC e Silverchair para quem aprecia prejudicar os tímpanos com um rock'n'roll tresloucado: caso do The Saints e do Radio Birdman, duas bandas punk da melhor safra: '77.

O Radio Birdman é um sexteto inspirado especialmente pelo proto-punk à la MC5 e Stooges e que faz um róque chuta-baldes que consegue ser ao mesmo tempo visceral e virtuoso. Estes não são músicos tosqueira (cada solo de guitarra lindo!), mas isto não os impede de quebrar-tudo com desenfreada empolgação.

Se você gosta de Hellacopters, Jon Spencer Blues Explosion, The DT'sStreetwalkin' Cheetahs, Flaming Sideburns, garageiras de Detroit em geral, taí uma banda pra você. São dois álbuns clássicos: Radios Appear (1977) e Living Eyes (1981). Depois, longo sumiço, com revival recente: Zeno Beach (2006). 

Aprecie sem moderação e com o volume no talo!


Radios Appear (1977)
download gratuito
Living Eyes (1981)
download gratuito
Zeno Beach (2006)
download gratuito

domingo, 18 de setembro de 2011

<<< HELLBENDERS: Destaques do Vaca Amarela 2011 >>>


A temperatura no interior dos teatros do Martim Cererê já costuma ser venusiana, ameaçando explodir os termômetros e esparramar mercúrio pelo chão. Mas quando os Hellbenders estão em ação, ela (a temperatura) vai além da fervura habitual e chega perto do ponto de ebulição do enxofre. Esta banda é um incêndio! 

Como de praxe, os caras fizeram o X Vaca Amarela ferver com seu stoner rock altamente pilhado, ruidoso e intenso. A galera novamente foi à loucura diante da "fritação" dos Hellbenders. Quem assumiu o baixo para este show, e mostrando-se muito à altura do cargo, foi o Edimar, vocalista e guitarrista do Space Monkeys (outra das bandaças que está despontando em Goiânia), que permanece no posto até o fim do ano. 

Não é à toa que digo que o debut do Hellbenders têm tudo para ser um dos melhores álbuns da história do rock goiano. Quem já assumiu a responsa de produzir o debut dos caras é alguém de cacife respeitável: ninguém menos que Carlos Eduardo Miranda (que já trampou com Raimundos, Skank, Rappa, Móveis, Mundo Livre S.A...). Soma-se a isto um estúdio de primeiríssima linha: as gravações feitas no Rock Lab sempre nos deixam a esperar algo tão poderoso quanto cristalino. Sem falar que, apesar da pouca idade de seus membros, a banda já está pra lá de "rodada", com vasta experiência sobre os palcos, de modo que as músicas já foram testadas e consagradas ao vivo em dúzias de ocasiões. 

Se continuar assim, este tal de “stoner rock” - além dos Black Drawing Chalks - logo terá mais um nome brasileiro escrito em seu panteão dos maiorais. Que o diga a honra recebida pelos Hellbenders, que vão abrir o show brasileiro do redivivo Kyuss, banda mítica do stoner. Será no dia 13 de Novembro, em São Paulo, enquanto rola em Paulínia o 2º dia da SWU.


 E olha lá! Se tocar como tocou no Vaca, o Hellbenders pode até fazer o Kyuss ficar pequenininho diante deste novo gigante.

Ouça "Smashin' Cars, Chasin' Stars"!

(capa na abertura do post)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

<<< Regina Spektor: God can be so hilarious!... >>>

         
"‎No one laughs at God in a hospital. No one laughs at God in a war. No one's laughing at God when they're starving or freezing or so very poor. 
(...) No one laughs at God when the cops knock on their door and they say, "We've got some bad news, sir" No one's laughing at God when there's a famine, fire or flood.
God can be funny. At a cocktail party while listening to a good God-themed joke. Or when the crazies say he hates us and they get so red in the head you think that they're about to choke.
God can be funny. When told he'll give you money if you just pray the right way. And when presented like a genie, who does magic like Houdini. Or grants wishes like Jiminy Cricket and Santa Claus.
God can be so hilarious! (Ha ha)"
REGINA SPEKTOR




"Não há ateus a bordo de aviões turbulentos", reflete a protagonista do romance Medo de Voar, de Erica Jong. Quando bate aquele pavor de que o avião esteja caindo, prestes a se espatifar no chão; quando dispara a taquicardia e suspeitamos que estes podem ser os últimos momentos de nossas vidas; quando a catástrofe parece não só possível, mas próxima e irremediável; então parece haver um mecanismo psicológico que entra em funcionamento quase que à nossa revelia: e nos pegamos orando, em nossa impotência, para que forças maiores nos resgatem da enrascada. Isto me diz muito sobre a religião e das "fontes psíquicas" de onde ela jorra, de dentro do homem, o único animal religioso dentre as milhões de espécies que existem: a angústia, o temor e a esperança são o útero de todos os deuses. Talvez John Lennon tivesse isto em mente quando cantou: "God is a concept by which we measure our pain" [Deus é um conceito através do qual medimos nossa dor].

A Regina Spektor, nesta instigante composição "Laughing With", soube unir uma meditação profunda sobre a religiosidade humana com um "tempero" lúdico-brincalhão que lhe é tão característico. Esta linda canção, me parece, retrata situações "desgraceira" onde os terráqueos têm a tendência de levarem a sério a idéia de Deus: no hospital ou em meio à guerra; quando há gente faminta, incêndios ou dilúvios; quando os elementos da natureza, em fúria, ameaçam nos destruir com seus terremotos ou tsunamis... Ninguém ri de Deus em situações assim. O problema é que... bem, levar a idéia de Deus demasiado a sério é o que conhecemos por fanatismo, dogmatismo, xiitismo - algo que está na raiz de muitos dos problemas mais sérios que a humanidade enfrenta, há milênios. Vejam, por exemplo, o que diz o escritor israelense Amós Oz em seu excelente livrinho Contra O Fanatismo:

"O fanatismo é mais antigo que o Islã, mais velho que o Cristianismo, que o Judaísmo, que qualquer estado, governo ou sistema político, que qualquer ideologia ou fé no mundo. (…) O fanatismo é, com frequência, intimamente relacionado a uma atmosfera de desespero profundo. Num lugar em que as pessoas sintam que não há nada além de derrota, humilhação e indignidade, podem recorrer a várias formas de violência desesperada.” (…) ”O fanatismo está em quase todos os lugares, e suas formas mais silenciosas, mais civilizadas, estão presentes em nosso entorno, e talvez dentro de nós também. Conheço bem os antitabagistas que o queimarão vivo, se você acender um cigarro perto deles! Conheço bem os vegetarianos que o comerão vivo por comer carne! Conheço bem os pacifistas dispostos a atirar na minha cabeça só porque advogo uma estratégia ligeiramente diferente sobre como fazer a paz com os palestinos. (…) A semente do fanatismo brota ao se adotar uma atitude de superioridade moral que não busca o compromisso.”
Se gosto tanto de Regina Spektor, e dessa música em particular, é não somente pela doçura e pela inteligência de que as canções dela estão repletas, mas também porque ela sabe utilizar o senso-de-humor, a brincadeira poética, o jogo-de-palavras, a onomatopéia e muito mais de modo altamente expressivo, numa atitude totalmente anti-dogmática e anti-fanática, que conduz à reflexão e ao riso sem jamais apelar para qualquer tipo de "pregação". Em "Laughing With", Regina nos convida a ver o lado "cômico" da idéia de Deus: "when presented like a genie, who does magic like Houdini" [quando apresentado como um gênio-da-lâmpada, que faz truques-de-mágica como Houdini], Deus pode ser engraçado. Também é hilário quando é descrito como um Bom Velhinho de barbas brancas sentando nas nuvens e que presenteia nossas preces como se fosse um Papai Noel. "Deus pode ser hilário!", canta Regina. Mas são os delírios da imaginação humana ao imaginá-lo que são tão divertidos. 


Uma das coisas de que o mundo mais precisa, me parece, é de gente tirando sarro da religião, cobrindo de cachota os dogmas e as bulas papais, demonstrando que a pose de "gravidade" das autoridades eclesiásticas não passa de algo meio ridículo e meio obsceno. Quantas guerras e massacres religiosos, quantas Inquisições e Cruzadas, quantos jihads e atentados terroristas e homens-bomba e kamizakes, e só porque leva-se muito a sério a idéia de Deus a ponto de uma seita dizer a outra: "Se você não acredita no meu deus, hei de te cobrir de porrada, de te lançar na fogueira, de queimar todas as estátuas e edifícios da tua civilização!" E não conheço remédio mais eficaz contra os xiitas do que a comédia (ainda que haja o risco da represália truculenta xiita, como ocorreu com aquele chargista dinamarquês que "profanou" a imagem de Maomé...). Gosto do "espírito" de Woody Allen quando diz, por exemplo: "Ah, se Deus pelo menos me desse um simples sinal de sua existência, como abrir uma poupança no meu nome num banco suíço!" Ou o "espírito" das tirinhas do Laerte. Ou aquele da canção do Dieguito de Moraes, "Deus"

Pois, como diz o Amos Óz no mesmo livro, "senso de humor é uma grande cura. Nunca vi na minha vida um fanático com senso de humor, nem vi uma pessoa com senso de humor tornar-se fanática, a menos que tenha perdido o senso de humor. Os fanáticos são, freqüentemente, muito sarcásticos. Alguns deles têm um senso de sarcasmo muito mordaz, mas não têm humor. O humor inclui a capacidade de rir de nós mesmos. O humor é relativismo, é a aptidão de vermo-nos como os outros podem nos ver, é a capacidade de entender que, por mais cheios de razão que estejamos e por mais terrivelmente equivocados que estejam os outros sobre nós, há sempre um certo aspecto disso tudo que é um pouco engraçado."

Para acabar, convido vocês a refletirem por algumas horas sobre este pensamentinho muito instigante de Ambrose Bierce: "Orar significa pedir que as leis do universo sejam anuladas em favor de um único postulante, e que ainda por cima se confessa indigno."


* * * * *



Bóra explorar as Obras Completas de Miss Regina Spektor?!?

Far (2009) [dwld]

Begin to Hope (2006) [dwld]

Soviet Kitsch (2004) [dwld]

Songs (2002) [dwld]

11:11 (2001) [dwld]

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

<<< Lançamentos imperdíveis de 2011: pães ferventes saindo do forno! >>>

WILD FLAG [2011]
2/3 do Sleater-Kinney,
Carrie Browstein na voz-e-guita!

GILLIAN WELCH [2011]
The Harrow and the Harvest
BLITZEN TRAPPER [2011]
American Goldwing
ST. VINCENT [2011]
Strange Mercy

GIRLS [2011]
Father, Son and Holy Ghost

CAMARONES ORQ. GUITARRÍSTICA [2011]
Espionagem Industrial

MARGINAL(S) [2011]
(Brazilian-Jazz)

Para baixar, cole no nosso Tumblr!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

<<< TEDESCHI TRUCKS BAND, Revelator (2010) - download >>>

TEDESCHI TRUCKS BAND Revelator (2011)
[ download gratuito ]

<<< Blueseira de primeira: Derek Trucks e Susan Tedeschi >>>


Uôu! A bandaça que une a blueswoman Susan Tedeschi e seu maridão, o guitarristaço Derek Trucks, está confirmada como atração da SWU 2011. O festival, que no ano passado foi apelidado de "Woodstock de Itu", migra em 2011 para a cidade de Paulínia, interior de São Paulo, mas promete manter proporções colossais tipicamente ituanas (para quem não sabe, Itu é uma cidade com mania de grandeza, onde tudo parece sofrer de elefantíase, inclusive... os orelhões). Já estão confirmados Faith No More, Alice in Chains, Sonic Youth, Black Rebel Motorcycle Club, Megadeth, Chris Cornell, Stone Temple Pilots, Kanye West, Primus, dentre outros figurões. 

A inserção de Tedeschi e Trucks no line-up vai começando a tornar o dia 13 de Novembro apetitoso, já que nele também tocam Modest Mouse e Corenell (mas nada que se compare com a turma tinindo-e-trincando que está se reunindo no dia 14). Há anos que considero o Just Won't Burn (1998), debut da Susan Tedeschi, como um dos melhores álbuns de blues de sua década. Agora teremos a chance de checar sobre os palcos se a moça é mesmo o furacão de vivacidade, feeling e charme que aquelas gravações concentram. A julgar pelos vídeos, a mulher aguenta muito bem a responsa de tocar diante duns 100 mil. E faz um blues-rock de arena daqueles!



DISCOGRAFIA COMPLETA
DE ÁLBUNS DE ESTÚDIO
(S. TEDESCHI SOLO)

[DOWNLOAD GRATUITO]

Better Days (1995) [baixar]
Just Won't Burn (1998) [baixar]
Wait for Me (2002) [baixar]
Hope and Desire (2005) [baixar]
Back to the River (2008) [baixar]