Enquanto um colocava a bateria abaixo a baquetadas certeiras, o outro fazia tremer o chão com os graves. Também tinha os riffs guitarrísticos junto às frases matematicamente tocadas no teclado e um vocalista pronto pra demolir o estúdio cantando uma canção chamada "Don't Break My Heart". Estava formada uma das bandas indies mais admiráveis da Austrália que já ganhou a América, Canadá e UK, rodando o resto do mundo numa turnê pelas Nações Unidas. Chiqueza.
Nada espantoso ou novo até o ponto em que se olha mais a fundo esse sexteto nascido das águas alternativas de Melbourne, que viaja com doações e patrocínios de empresas e pessoas.
Repare. Cinco deles são considerados mentalmente ou fisicamente incapacitados, incluindo aí autistas, uma portadora de síndrome de Down e outras síndromes graves, cegos e por aí vai. O sexto membro, o guitarrista e backing vocal, é o terapeuta Rohan Brooks, conhecido como o maluco que colocou deficientes pra fazer um som de responsa como terapia e acabou transformando-os em rockstars, propriamente dito.
Rudely Interrupted é uma daquelas coisas que, quando ouvimos - e vemos - é capaz de encher nosso peito com um sentimento grandioso e que vaza pelos poros como se não se coubesse em si, nos dizendo que a música é senhora do universo e que nela, sim, tudo pode.
Alguns críticos australianos definiram a música de Rudely Interrupted como uma das mais originais e enérgicas do rock'n'roll underground do país e, jogando mais confete no carnaval desses meninos, eles foram a atração principal do dia do deficiente em New York, dezembro passado. Pronto, ganharam a atenção da mídia, o reconhecimento do público e o queixo caído dos incrédulos.
Conhecer música nova já é coisa demasiado prazerosa. Conhecer música boa surgida em meio aos espinhos do impossível, é quase uma experiência transcendental. Assistir à banda e sentir o poder de acordes montados com amor sublime é obrigatório, nem que seja pelo You Tube.
Rory Burnside (21) canta como se todas as suas agonias se desfizessem ali mesmo e pra isso, ele nem precisa dos olhos que a natureza lhe privou de ter. O baterista diz que desenvolveu seu senso ritmo ouvindo rádio em casa e treinando com panelas e baldes. Todos, sem exceção, amam estar no palco e fazer música de forma simples e complexa ao mesmo tempo, ora viajando entre tons de Joy Division, às vezes passando pela loucura do Foo Fighters. They rock, é fato.
"Green lights" é minha canção preferida. Uma narrativa de como eles se sentem com as luzes coloridas. Frio com o azul, quentinho com o laranja. Tão isso, tão simples.
Coisa que só dá pra acreditar vendo. Ou ouvindo. Melhor dizendo, sentindo.
Vá lá --> http://www.myspace.com/rudelyinterruptedTweet